CERTIFICAÇÃO DE CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS. UM

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CERTIFICAÇÃO DE CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS. UM ESTUDO DE
CASO EM UMA OBRA DE GRANDE PORTE NA CIDADE DE UBERLÂNDIA,
MG.
JÚNIOR,
Avelino
Nicolau
Araújo
(Unitri,
aluno;
junior-
professora;
nathalia-
[email protected]).
SÁ,
Nathália
Assunção
de
Souza
(Unitri,
[email protected]).
RESUMO
O setor da construção é, nos dias de hoje, um dos principais
responsáveis pelo aumento da poluição que contribui para a degradação do
ambiente. O aumento não controlado do consumo de recursos naturais, o
modo como são utilizados e as elevadas emissões poluentes que estes
originam, obrigam a que se estudem e implementem medidas e processos que
contribuam para garantir um futuro sustentável para todo o planeta. O
surgimento dos sistemas de avaliação e certificação da construção em
diferentes partes do mundo veio possibilitar que se reduzam os impactos
negativos que o setor da construção origina. Contudo, este artigo apresenta
uma discussão sobre alguns parâmetros, procedimentos e tecnologias
propostas em uma obra, na cidade de Uberlândia a fim de se obter a
certificação AQUA de construção sustentável. Desenvolveu-se um estudo de
caso correlacionando sete critérios, utilizados na avaliação do sistema de
gestão ambiental, com a realidade da obra. Ressalta-se aqui que tais critérios
avaliados fazem parte da fase de Programa do projeto. Este estudo preliminar
indicou um alto potencial de certificação da referida obra, que atende em sua
grande parte, as diretrizes preconizadas pelo sistema. Neste sentido, este
trabalho pretende realçar a importância da avaliação e certificação na
2
construção como modo de garantir o nível de eficiência dos edifícios no que diz
respeito ao consumo de recursos naturais e ao conforto ambiental.
Palavras chave: Sustentabilidade, Construções sustentáveis, Certificação,
Uberlândia.
1. INTRODUÇÃO
A primeira definição do conceito “desenvolvimento sustentável” foi
tratada pelo
Relatório de Brundtland, em 1987, enfatizando que o
desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do
presente, sem comprometer o atendimento às necessidades das gerações
futuras. Nas décadas seguintes, outras grandes conferências mundiais tais
como a Rio’92, no Rio de Janeiro, em 1992, e a Rio+10, em Johanesburgo, em
2002, foram realizadas. Nestas reuniões, protocolos internacionais foram
firmados a fim de rever as metas e elaborar mecanismos para o
desenvolvimento sustentável. (OLIVEIRA, 2009)
O setor da construção civil tem papel fundamental para a realização dos
objetivos globais preconizados pelo desenvolvimento sustentável. O Conselho
Internacional da Construção – CIB (2015) aponta a indústria da construção
como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e
utiliza energia de forma intensiva, gerando consideráveis impactos ambientais.
Além dos impactos acima anteriormente relacionados, há aqueles associados à
geração de resíduos sólidos, efluentes líquidos e efluentes gasosos. Segundo o
Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2015) estima-se que mais de 50% dos
resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas sejam
provenientes da construção civil. Tais aspectos ambientais, somados à
qualidade de vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam as
relações entre construção e meio ambiente.
Na busca de minimizar os impactos ambientais provocados pela
construção, surge o paradigma da construção sustentável. Seu conceito
baseia-se no desenvolvimento de modelos que permitam à construção civil
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enfrentar e propor soluções aos principais problemas ambientais de nossa
época, sem renunciar à moderna tecnologia e a criação de edificações que
atendam às necessidades de seus usuários.
Neste contexto, este trabalho fará uma associação e aplicação dos
conceitos de construção civil, em forma de “estudo de caso”. Serão analisadas
algumas tecnologias adotadas por uma grande empresa na cidade de
Uberlândia a fim de conquistar a Certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental)
do seu empreendimento.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE
O
termo
Desenvolvimento
Sustentável,
proposto
por
GroHarlemBrundtland (chefe da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento) fora criado para alertar os governos da urgência de se criar
um modelo de desenvolvimento que não apenas considerasse o aumento do
consumo e da produção sempre como principal resultado, tal como
conhecemos, mas que também incluísse uma forma de recompor os recursos
naturais do planeta. Nesses termos, o termo fora instituído com a definição de
“a forma com as atuais gerações satisfazem as suas necessidades sem, no
entanto, comprometer a capacidade de gerações futuras satisfazerem as suas
próprias necessidades” (BRUNDTLAND apud SCHARF, 2004, p.19).
CAMARGO (2003), p.43, complementa o conceito ora apresentado com
a seguinte definição:
Em essência, o desenvolvimento sustentável é um
processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a
direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento
tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam
o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades
e aspirações humanas.
4
CORRÊA (2009) ressalta que, mediante a aprovação por todos os
países presentes à Rio 92, criou-se a Comissão de Desenvolvimento
Sustentável (CDS), ligada ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
(Ecosoc). A CDS tem como foco principal acompanhar e cooperar com os
países na criação e implementação das agendas nacionais. No entanto, dentre
os países de maior economia e maior influência política, apenas a China
concluiu o processo de elaboração e iniciou a implementação da mesma.
Portanto, pelo que se apresenta, a sustentabilidade deve integrar os
ambientes sociais, energéticos, econômicos e ambientais. A incansável busca
por maneiras de recomposição dos recursos naturais e, principalmente, a
preocupação com a qualidade de vida dos nossos sucessores, foram questões
fundamentais para o surgimento da consciência sustentável. É de grande
importância que haja um equilíbrio entre esses dois aspectos, haja vista que
cada
um
apresenta
variáveis
que
devem
ser
tratadas de
maneira
independente. (PINHEIRO, 2006)
2.2 CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2015), o termo
Construções sustentáveis, de maneira ampla, é entendido como o emprego de
técnicas arquitetônicas e de engenharia que visam à utilização dos recursos
disponíveis de forma racional e sustentável. Tais técnicas buscam garantir o
conforto, reduzindo o consumo de energia, o consumo de materiais e o
desperdício dos mesmos.
Segundo CHARLES KIBERT (citado por Pinheiro, 2006) construção
sustentável é a “criação e gestão responsável de um ambiente construído
saudável, tendo em consideração os princípios ecológicos (para evitar danos
ambientais) e a utilização eficiente dos recursos".
A opção por uma construção sustentável implica em minimizar tanto o
impacto causado por esses empreendimentos quanto os resíduos gerados nas
obras, além de garantir o mínimo consumo energético quando da sua utilização
e posterior manutenção do empreendimento.
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Segundo Santo (2010), grande parte do consumo mundial de
combustíveis fósseis e da produção de gases de efeito de estufa, bem como
grande parte da geração de resíduos sólidos, estão associados à construção
de edifícios e sua utilização.
Scillag (2016) destaca que, atualmente, aproximadamente 40% da
energia mundial é consumida pelos edifícios. O referido autor também aponta
que o consumo energético nas edificações ocorre em dois momentos distintos,
inicialmente na etapa pré-operacional ou de energia embutida, que consiste na
extração e fabricação de materiais, transporte até a obra e da construção do
edifício; e em uma segunda etapa, na fase de ocupação do edifício, fase que
se destaca por ser a que mais consome energia.
Para Goulart (2007), um projeto de construção sustentável deve ser
ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável. Ele
também lista algumas técnicas de engenharia e arquitetura, associada à sua
respectiva dimensão ambiental, que caracterizam estratégias que devem ser
adotadas nos projetos de construção sustentável.
 Água
 Permeabilidade do solo;
 Utilização de águas pluviais;
 Limitação do uso de água tratada para irrigação e descarga;
 Redução na geração de esgoto e a demanda de água tratada;
 Introdução de equipamentos economizadores de água.
 Energia
 Otimização do desempenho energético, através do bom desempenho
térmico da edificação, uso de aparelhos energeticamente eficientes; e uso
da iluminação natural e sistemas de iluminação eficientes;
 Uso de energia renovável;
 Minimização dos problemas de ilhas de calor e impacto no micro-clima;
 Estratégias de ventilação natural;
 Conforto térmico.
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 Seleção de materiais
 Reuso da edificação
 Gestão de resíduos da construção;
 Reuso de recursos;
 Conteúdo reciclado;
 Uso de materiais regionais;
 Materiais de rápida renovação;
 Uso de madeira certificada;
 Uso de materiais de baixa emissão de gases.
Além das técnicas citadas acima, se pode avaliar também a redução de
perdas nas edificações, a sua vida útil e os impactos causados pelo canteiro de
obras.
De acordo com as recomendações básicas para projeto de arquitetura
sustentável da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura - AsBEA
(2014), os princípios técnicos norteadores de um projeto sustentável são:
 Aproveitamento de condições naturais do local, implantação e análise do
entorno, que também são premissas da arquitetura bioclimática que
considera a edificação parte do ecossistema;
 Utilização de técnicas construtivas mais econômicas, menos poluentes e
com melhor impacto ambiental;
 Busca de qualidade ambiental interna e externa;
 Redução do consumo energético priorizando a iluminação e ventilação
natural e uso de fontes alternativas de aquecimento de água e geração de
energia;
 Redução do consumo de água através do uso de equipamentos com
tecnologias de racionalização da água, sistema de reuso, captação e
aproveitamento das águas pluviais;
 Promoção da reciclagem, reutilização e redução dos resíduos sólidos;
 Utilização de materiais certificados e renováveis, verificando processos de
extração da matéria prima, beneficiamento, produção, armazenamento,
transporte e condições dos trabalhadores;
 Inovação e criação de novas técnicas e elementos projetuais.
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Contudo, a AsBEA também indica que a escolha dos materiais deve
estar disponível no entorno do empreendimento em um raio de até 200 km.
Porém, como nem tudo é encontrado nos arredores, é possível compensar esta
carência com o processo de reciclagem dos resíduos da obra.
2.3 TECNOLOGIA PARA A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
O objetivo de qualquer edificação é garantir os requisitos exigidos pelos
clientes, a citar: a funcionalidade, segurança e a durabilidade. No entanto, o
produto ainda deve ser coerente com o preço estimado pelo proprietário, deve
atender às exigências estéticas e acima de tudo minimizar cada vez mais os
impactos ambientais. Uma vez que essas etapas são controladas e usando o
bom senso e as tecnologias disponíveis, é possível construir de forma
sustentável.
Ricardo Mateus (2004) afirma que a maior preocupação no mercado da
construção civil é a questão econômica e que muitas vezes a durabilidade dos
edifícios e as preocupações com o meio ambiente são deixadas de lado.
A construção sustentável se resume em técnicas redutivas dos impactos
ambientais através da aplicação da política dos três R’s: a reutilização, a
reciclagem e a redução. Tal política, na prática, trata da utilização de
tecnologias limpas e de materiais recicláveis e reutilizáveis. Além disso,
enfatiza necessidade de diminuição dos resíduos gerados quando no processo
executivo e na reutilização dos mesmos na forma de agregados secundários.
(AGOSTINHO, 2008)
Araújo (2007) lista nove etapas que devem ser consideradas e
executadas quando no projeto de uma construção sustentável, a citar:
 Planejamento sustentável da obra: É o ponto mais importante no decorrer da
execução de uma obra amiga do meio ambiente. A função deste princípio é
um bom planejamento das práticas que irão integrar a obra ao meio
ambiente.
Os pontos principais para um planejamento sustentável são a análise da
obra e do local de implantação. Uma vez que também será feito a Análise do
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Ciclo de Vida (ACV) para ser feito as orientações necessárias no próprio
projeto, resultando, assim, na determinação dos materiais e tecnologias. No
entanto, também deve ser feito analise de projeto e intervenções, materiais e
tecnologias, projeto de arquitetura, o planejamento geral de todo o projeto,
estudo de consumo de energia e materiais e também do solo (geotecnia).
 Aproveitamento passivo dos recursos naturais: É importante que seja
analisado o clima local, utilizando todos os recursos locais e naturais para
uma melhor integração com o meio, realizando planejamento do local para
utilizar as energias naturais ali disponíveis. É de grande importância que o
local de implantação da obra seja analisado, evitando qualquer tipo de
incômodo aos moradores naquela proximidade. É importante lembrar
também de priorizar a iluminação natural, além da redução de água e
energia elétrica.
 Eficiência energética: Nesse ponto é abordado o uso racional da energia,
conseguindo os mesmos resultados, porém, utilizando uma porcentagem
menor da mesma. Esse princípio busca por fontes renováveis (painéis
fotovoltaicos), ou seja, gerar a energia para seu consumo, controlar as
emissões eletromagnéticas, e controlar o calor gerado no ambiente
construído. A eficiência energética é primordial para se ter uma construção
sustentável.
 Gestão e economia da água: A água é um dos maiores recursos naturais do
planeta, com um volume aproximadamente de 1.386 milhões km³. No
entanto, se encontra dividida desta forma: 97,5% da água total do planeta
estão nos mares e oceanos; 1,7% estão nas geleiras e calotas polares; 0,7%
nos aqüíferos subterrâneos; e aproximadamente 0,01% nos rios, lagos e
reservatórios e ainda uma porcentagem bem pequena em forma de vapor
está na atmosfera. Sendo assim, o foco principal é reduzir os níveis de
consumo e o desperdício de água infiltrada. O melhor que se pode fazer é o
reaproveitamento dela, principalmente a água das chuvas.
 Gestão dos resíduos na edificação: A gestão dos resíduos é essencial para
se ter uma obra sustentável, o principal objetivo desse tópico, é separar e
reciclar qualquer tipo de resíduo, tanto causado pela obra quanto de uso
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doméstico. Atualmente a maioria das cidades se dispõe de Ecopontos, que é
o local adequado para a destinação desses tipos de resíduos.
 Qualidade do ar e ambiente interno: Numa construção que preza pela
sustentabilidade deve criar ambientes interno e externo sem nenhum
impacto aos seres vivos que ali estão presentes, é importante identificar
poluição interna da obra (água, ar, temperatura, umidade e materiais) e
evitar a entrada sobre a saúde dos seres vivos. Na busca por uma melhor
qualidade no interior de um empreendimento o proprietário do mesmo deve
optar por algumas medidas para proteger o ar de poluentes.
 Conforto termo-acústico: Para um melhor conforto termo-acústico, deve ser
estudada a isolação e a ventilação local. O uso adequado dessas práticas e
a adoção de tecnologias de resfriamento irão colaborar de forma positiva
com o conforto térmico. O uso de materiais também influencia bastante na
efetividade desse conforto acústico.
 Uso racional de materiais: É importante que todos os materiais sejam
analisados individualmente para entender a sua funcionalidade e a sua
aderência ao meio ambiente, levando em consideração suas especificações
e seu ciclo de vida. Deve ser analisado desde a sua origem até a sua
aplicação final.
 Uso de produtos e tecnologias ambientais: Quando se fala de uma obra
sustentável, a mesma deve basear-se totalmente em uso de materiais
ecologicamente viável, que não seja poluente, tóxico, e não agrida o meio
ambiente e a vida dos seres vivos, contribuindo assim com o meio natural.
2.4 SELOS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
A construção civil enfrenta um processo de busca da sustentabilidade,
tanto no processo construtivo como nos padrões de seu produto final: o
edifício.
Uma maneira de as empresas começarem um processo de inovação via
sustentabilidade é por meio da busca pela certificação de seus produtos e
serviços. A adoção de certificações ambientais para a construção civil é uma
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das formas de incentivar essa busca e seu uso cresce ao longo dos anos,
inclusive no Brasil, onde alguns processos/certificados já se destacam: o Selo
LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), o Selo AQUA (Alta
Qualidade Ambiental), o Selo CASA AZUL (Caixa Econômica Federal), o Selo
BREEAM
(BuildingResearch
Establishment
Environmental
AssessmentMethod), o Selo PROCEL (Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica) e o Selo QUALIVERDE.
Os certificados incentivam o uso de práticas mais sustentáveis na
construção civil, mas vale ressaltar que não garantem o melhor desempenho
durante o uso do edifício. Tais certificados normalmente estabelecem
exigências que promovem a diferenciação e a fácil identificação por parte dos
consumidores. Além disso, estes selos adquiriram uma forte conotação
comercial, pois servem como diferencial de mercado. Esta característica não se
constitui numa desvantagem, mas deve ser considerada, pois influenciará no
desenvolvimento do modelo de avaliação ambiental para a construção civil.
2.4.1 Selo AQUA (ALTA QUALIDADE AMBIENTAL)
O processo de certificação AQUA está em vigor no país desde 2008 e é
a primeira certificação de caráter nacional no Brasil. Seus referenciais são
elaborados pela Fundação Vanzolini – instituição vinculada à Universidade de
São Paulo (USP). A certificação possui três fases: Programa, Concepção e
Realização, que ocorrem de acordo à fase do desenvolvimento do
empreendimento. Além disso, o processo AQUA permite certificar a fase de
Operação da obra construída.
O atendimento aos critérios da presente
certificação
assegurar
tem
por
meta
a
qualidade
ambiental
do
empreendimento, considerando aspectos de conforto ambiental e a saúde dos
usuários, reduzindo o impacto ambiental causado pela construção do
empreendimento.
O processo AQUA para a certificação do edifício tem como base o
“Referencial Técnico de Certificação - Edifícios do setor de serviços”, destinado
a escritórios e edifícios escolares, de outubro de 2007, da Fundação Vanzolini.
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Para obter a certificação AQUA, o projeto deve empregar dois
instrumentos principais: o Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) - que
estabelece o sistema de gestão ambiental total do projeto e obra, desde a fase
Programa até a Realização - e a Qualidade Ambiental do Edifício (QAE) - que
avalia o desempenho arquitetônico e técnico da construção, também nas três
fases do empreendimento. Os critérios de desempenho do QAE se distribuem
em 14 categorias, listadas a seguir no quadro (1).
Quadro 1. Categorias processo AQUA.
Fonte: Adaptado de FCAV, 2007.
Cada uma das 14 categorias possui três níveis de desempenho: BOM,
SUPERIOR E EXCELENTE. O desempenho mínimo do empreendimento para
obter a certificação AQUA é obter um mínimo de 3 categorias em nível
EXCELENTE e no máximo 7 categorias em nível BOM. O atendimento aos
critérios do Referencial Técnico Processo AQUA é feito por meio de auditorias
presenciais, seguidas de análise técnica pela equipe da Fundação Vanzolini e
acompanhados da equipe de Consultoria para a Certificação AQUA. Os
certificados são emitidos, caso atendidos os critérios do Referencial Técnico,
pela Fundação Vanzolini, na conclusão de cada etapa do empreendimento.
Devido a expansão do Processo AQUA no Brasil, já podemos contar
com 235 empreendimentos certificados, sendo 8 bairros/loteamentos, 104
residenciais, 117 não residenciais, 1 porto e 5 hospitais. Edifícios já são 395,
onde são 225 residenciais e 170 não residenciais. Empreendedores AQUA,
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temos a Even Construtora e Incorporadora e Rio Verde Engenharia e
Construções. (CORRÊA, 2009)
3. ESTUDO DE CASO
Este trabalho desenvolverá uma pesquisa na forma Estudo de Caso
Exploratório, para a qual o universo da mesma compreenderá uma obra de
grande porte localizada na cidade de Uberlândia, MG, que objetiva a obtenção
da Certificação AQUA.
O desenvolvimento deste estudo de caso pretende diagnosticar o
potencial da referida construção para obter a certificação AQUA, delineando
algumas técnicas e procedimentos adotados pela empresa responsável, na
fase de “programa”. Este estudo se pautará em uma correlação de sete dos
quatorze critérios que avaliam a gestão ambiental das obras e suas
especificidades técnicas, como se cita:
 Eco-construção
 Relação do edifício com o seu entorno;
 Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos;
 Canteiro de obras com baixo impacto ambiental.
 Gestão
 Da energia;
 Da água;
 Dos resíduos de uso e operação do edifício;
 Manutenção: permanência do desempenho ambiental.
Os demais critérios: Conforto (higrotérmico, acústico, visual e olfativo) e
Saúde (qualidade sanitária dos ambientes, do ar e da água) não serão
avaliados neste estudo de caso por entender que exigem dados e métodos
mais precisos de análise.
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Para tal, serão delimitadas as seguintes etapas, a fim de discutir os
resultados e principais conclusões delimitados neste trabalho.
 Coleta das informações sobre o projeto e processo executivo da obra;
 Visitas periódicas à obra e demais setores correlacionados à mesma, a fim
de desenvolver registros fotográficos e uma correlação das medidas
construtivas e procedimentos sustentáveis, adotados pela obra, com os
conceitos da Certificação AQUA. Dessa forma, far-se-á a análise das
práticas sustentáveis adotadas pela empresa, no que tange os projetos e
técnicas de engenharia;
 Análise de documentos referentes à Certificação AQUA, guias e livros com
conceitos fundamentais de certificação elaborada pela Fundação Vanzolini,
a fim de determinar os critérios e suas características que estão
relacionadas à Certificação em questão e correlacionar com a realidade da
obra objeto deste estudo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O projeto em questão trata de uma nova sede administrativa e pretende
ser uma referência em boas práticas de sustentabilidade. Esta edificação, de
aproximadamente 8.000 m² é composta por três pavimentos, e abrigará, além
das funções da instituição, atividades didáticas e culturais. A seguir serão
discutidas algumas das categorias da QAE (Qualidade Ambiental do Edifício),
para atendimento da Fase Programa do Empreendimento.
4.1. ANÁLISES DOS CRITÉRIOS CONSIDERADOS PELA CERTIFICAÇÃO
AQUA
4.1.1. ECO CONSTRUÇÃO – RELAÇÃO DO EDIFÍCIO COM SEU ENTORNO
O empreendimento está localizado no município de Uberlândia, MG, na
Avenida Gov. Rondon Pacheco, conforme ilustra a figura (1).
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Figura 1. Planta de situação do empreendimento (em roxo).
Fonte: Google Maps, 2014 – adaptado pelo autor.
De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do solo do município, o terreno
está inserido na ZM (Zona Mista) e a implantação deste tipo de obra é
plenamente aceitável quanto às restrições urbanísticas do local. A Avenida
Governador Rondon Pacheco é a principal de Uberlândia. O bairro é bem
servido de equipamentos públicos, dentre os quais podemos citar: Teatro
Municipal, como equipamento de cultura, uma Unidade de Atendimento
Integrado (UAI), como equipamento de saúde e por escolas da rede pública,
como equipamentos educacionais.
O local é servido de redes de água, esgoto e drenagem, eletricidade,
coleta de lixo domiciliar e coleta seletiva. Contudo, há perspectiva de uma
exploração racional das redes e recursos disponíveis localmente e da geração
do mínimo impacto na comunidade local.
Em relação aos meios de transporte, o local apresenta fácil acesso e
uma boa conectividade urbana em relação ao transporte público. Além disso,
na Avenida Gov. Rondon Pacheco, há duas pistas de ciclovias, incentivando o
acesso por transporte não motorizado ao local do empreendimento.
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Sobre os riscos hidrográficos, observa-se que a rodovia Rondon
Pacheco, próxima ao empreendimento, caracteriza-se como fundo de vale, o
que faz com que as águas de chuvas que caem nos bairros do entorno escoem
para esta via, causando enchentes. A fim de mitigar tal situação, o referido
projeto prevê a manutenção de parte das áreas permeáveis originais,
conservando parte da permeabilidade inicial existente e favorecendo, assim, a
infiltração da água e a redução da vazão de escoamento do terreno. Além
disso,
utilizará
concreto
permeável
e
concregrama
nas
áreas
de
estacionamento, e parte da cobertura será vegetada, elementos que também
contribuem para a retenção e infiltração da água. Também haverá a captação
de águas pluviais pela cobertura, o que diminui o escoamento de águas
pluviais. Esta água passará por processo de tratamento e será utilizada para
lavagem de pátios.
Em relação à qualidade dos espaços exteriores para os usuários, o
projeto consegue atender os seguintes quesitos: conforto ambiental, acústico e
visual satisfatórios com o exterior. Além disso, assegura à vizinhança o direito
ao sol, à luminosidade e às vistas.
Tais ações, em conjunto proporcionam um atendimento às expectativas
de desenvolvimento sustentável da comunidade.
4.1.2. ESCOLHA INTEGRADA DE PRODUTOS, SISTEMA E PROCESSOS
CONSTRUTIVOS
Os produtos, sistemas e processos da obra serão compatíveis com a
vida útil longa (50 a 100 anos), como é o caso da escolha pelos sistemas de
estrutura metálica em steel deck (uma telha de aço galvanizado e uma camada
de concreto) e de concreto pré-moldado, como mostrado na figura (2). Tal
sistema garante, portanto a desmontabilidade e separabilidade do sistema. As
estruturas metálicas poderão ser desmontadas, bem como as de concreto prémoldado. O restante da obra bruta, elementos em sua maioria de concreto,
podem ser britados.
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Figura 2. Modelo de laje em steel deck, laje composta por telha de aço
galvanizado e camada de concreto.
Fonte: Portal Metálica, 2013.
As vedações internas também poderão ser desmontadas e se mostrarão
adequadas à vida útil pretendida. Por não serem estruturais, poderão ser
desmontadas independentemente do edifício como um todo, permitindo maior
flexibilidade interna. Além disso, esquadrias, venezianas, portas, portões,
brises,
corrimões
e
telhamento
também
poderão
ser
separados
e
desmontados.
O projeto arquitetônico prevê futuras ampliações e a estrutura metálica é
adequada a esta função, permitindo melhor adaptabilidade do edifício ao longo
de sua vida útil.
Para a estrutura portante vertical, estrutura portante horizontal,
fundações, revestimentos externos, telhados e coberturas e esquadrias
voltadas para o exterior prevê-se a opção por produtos que possuam
aprovação técnica de órgão reguladores de qualidade dos materiais, a citar:
IPT, SINAT do PBQP-H e Inmetro.
4.1.3. CANTEIRO DE OBRAS
No início da construção da edificação o terreno encontrava-se vazio,
necessitando apenas de uma limpeza inicial, como mostra a figura (3). Não
houve, portanto, atividades de desconstrução.
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Figura 3. Terraplanagem do local de implantação do empreendimento.
Fonte: Prefeitura Municipal de Uberlândia, 2015.
Já nas atividades de execução, a minimização da produção de resíduos
durante a construção é garantida pela própria escolha do sistema construtivo
(estrutura metálica e concreto pré-moldado), ilustrado na figura (4). O fato de
que as estruturas cheguem pré-fabricadas à obra geram menos resíduos no
canteiro. Além disso, a modularidade acarreta menor desperdício de materiais,
o que também será verdadeiro para os materiais de vedação, divisórias e pisos
escolhidos. Serão escolhidos produtos cujas embalagens gerem o mínimo de
resíduos possível.
Figura 4. Estrutura executada.
Fonte: Próprio autor.
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Além disso, os funcionários da construtora responsável pela execução
são periodicamente treinados de maneira a implantar medidas para diminuir a
geração de resíduos, como exemplo, procedimentos para limitar quebras de
materiais.
Um Plano de Gerenciamento de Resíduos na Construção Civil (PGRCC)
fora elaborado na fase de execução da obra, de forma a estabelecer as
diretrizes
a
serem
seguidas
no
canteiro.
Os
resíduos
inertes
são
reaproveitados, dentro do possível, no próprio terreno, ou em aterros
qualificados para recebê-los. No caso dos demais resíduos, a destinação será
estabelecida no PGRCC.
4.1.4. GESTÃO DA ENERGIA
A envoltória energética foi projetada com elementos que auxiliam na
diminuição das necessidades energéticas do projeto, sem prejudicar o conforto
térmico do usuário.
Com relação ao projeto arquitetônico, as seguintes estratégias foram
desenvolvidas, visando reduzir as necessidades energéticas:
 Aproveitamento da ventilação e iluminação natural através de aberturas nas
fachadas externas ou para os pátios internos;
 Materiais com adequado desempenho térmicos frente ao clima do local de
implantação;
 Adoção de proteção solar sempre que necessário;
 Disposições arquitetônicas para melhor conforto térmico.
Os banheiros e vestiários serão dotados de sensores de presença
fotoelétricos, contribuindo na redução de consumo de energia elétrica com a
iluminação artificial destes ambientes. Além disso, o projeto apresentará
coletores solares para suprir a demanda de água quente do edifício.
4.1.5. GESTÃO DA ÁGUA
O projeto irá apresentar soluções economizadoras de água, tais como:
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 Bacias sanitárias com descarga de duplo fluxo;
 Mictórios com ciclo de fechamento automático;
 Torneiras com ciclo de fechamento automático nos banheiros;
 Chuveiros com redutor de vazão.
Além das estratégias acima citadas, o projeto contará com o
reaproveitamento e tratamento de águas pluviais para sua utilização na limpeza
de pátios. Desta forma, o consumo de água potável do edifício será reduzido.
4.1.6. GESTÃO DOS RESÍDUOS DE USO E OPERAÇÃO DO EDIFÍCIO
O novo edifício incentivará a reciclagem de resíduos, com coleta seletiva
interna considerando a separação entre recicláveis e não recicláveis, o que
facilita o trabalho das empresas de coleta e/ou cooperativas de reciclagem.
Serão construídos dois abrigos, um para resíduos orgânicos e outro para
inorgânicos, com dimensões suficientes para abrigar a quantidade de resíduos
gerados pelo edifício em sua respectiva freqüência. Estes abrigos serão ainda
construídos prevendo uma possível expansão da geração de resíduos em
relação à prevista inicialmente.
4.1.7. MANUTENÇÃO – PERMANÊNCIA DO DESEMPENHO AMBIENTAL
O projeto apresenta disposições arquitetônicas e escolha de produtos e
equipamentos relacionados aos sistemas de
aquecimento/resfriamento,
ventilação e iluminação artificiais que garantem a simplicidade de concepção.
Algumas medidas podem ser listadas, a citar:
 Simplicidade e concepção setorizada das referidas redes possibilitando a
intervenção apenas no ponto necessário;
 Simplicidade dos produtos e equipamentos que garantam o fornecimento
dos componentes de reposição sem dificuldade (sem atrasos significativos)
ou que permitam a realização das trocas de componentes, de modo a limitar
a duração destes eventos;
 Manutenção factível sem incomodar os ocupantes ou deles depender;
20
 Dimensionamento correto dos acessos e das zonas de realização das
intervenções, em torno dos equipamentos, de modo a permitir a substituição
de elementos do sistema de climatização de ar;
 Presença de iluminação e de pontos de alimentação de energia nos locais
previstos para as práticas de conservação / manutenção.
5. CONCLUSÃO
O processo de certificação da construção tem o intuito de avaliar a
conformidade das técnicas e dos processos de construção, com a finalidade de
contribuir para o desenvolvimento sustentável das sociedades. Este trabalho
avaliou alguns sistemas e procedimentos, projetados e postos em prática por
uma obra da cidade de Uberlândia, a fim de garantir técnicas para uma
construção sustentável e conseqüentemente, receber a certificação AQUA.
Em relação ao critério dito como “eco-construção”, pode se concluir que
o bem servido de redes de água, esgoto e drenagem, eletricidade, coleta de
lixo domiciliar e coleta seletiva, implicando em uma exploração racional das
redes e recursos disponíveis localmente, além da geração do mínimo impacto
na comunidade local. Em relação aos meios de transporte, o local apresenta
fácil acesso e uma boa conectividade urbana em relação ao transporte público.
Em relação ao projeto de drenagem, o projeto prevê a manutenção de
parte das áreas permeáveis originais, conservando parte da permeabilidade
inicial existente e favorecendo, assim, a infiltração da água e a redução da
vazão de escoamento do terreno. Além disso, utilizará materiais de
revestimento permeável nas áreas de estacionamento, e parte da cobertura
contribuindo para a retenção e infiltração da água. Outro projeto que se
destaca é em relação ao reuso de águas pluviais no âmbito da edificação. Tal
projeto poderá diminuir o volume de escoamento de águas pluviais e reduzir o
consumo de água potável no empreendimento.
Quanto
ao
sistema
construtivo,
o
projeto
será
construído
primordialmente em estrutura metálica. Tal sistema garante a desmontabilidade
e separabilidade da obra, a qualquer tempo.
21
Em relação ao item “canteiro de obras” há a perspectiva de minimização
da produção de resíduos durante a construção devido à própria escolha do
sistema construtivo. Além disso, serão escolhidos produtos cujas embalagens
gerem o mínimo de resíduos possível, e os funcionários da construtora são
periodicamente treinados de maneira a implantar medidas para diminuir a
geração de resíduos, como exemplo, procedimentos para limitar quebras de
materiais.
Quanto aos procedimentos de gestão da energia e gestão da água, o
projeto prevê elementos que auxiliam na diminuição destes recursos sem
prejudicar o conforto do usuário.
Em relação aos resíduos sólidos gerados durante o uso da edificação, o
novo edifício prevê a coleta seletiva interna considerando a separação entre
recicláveis e não recicláveis, facilitando assim o trabalho das empresas de
coleta e/ou cooperativas de reciclagem.
Por fim, em relação ao planejamento das futuras manutenções prediais,
o
projeto
apresenta
disposições
arquitetônicas
e
prevê
produtos
e
equipamentos que garantem a simplicidade da manutenção preditiva.
Contudo, as análises acima discutidas direcionam ao entendimento de
que o projeto em questão apresenta considerável potencial de certificação
AQUA. Neste contexto, vale ressaltar a importância de trabalhos como este
que discutem preceitos e divulgam a necessidade de um maior cuidado em
relação às questões ambientais. Contudo, a certificação é uma forma de
impulsionar o desenvolvimento da construção civil em busca de práticas mais
sustentáveis, levando à melhoria na gestão ambiental da obra.
22
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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