Os primeiros seres vivos multicelulares

Propaganda
Os primeiros seres vivos multicelulares
Existem muitas maneiras de dividir o universo dos seres vivos. Vegetais e animais, eucariotos e procariotos, e
assim por diante. Uma das maneiras mais informativas é dividi-los em unicelulares e multicelulares. Os
unicelulares são aqueles constituídos por uma única célula, como a maioria das bactérias, muitas algas e um
número enorme de protozoários. As amebas que infectam nosso intestino são um bom exemplo. Os organismos
multicelulares são compostos por mais de uma célula, desde os muitos simples como algumas bactérias até os
mais complexos como as árvores, as formigas e o ser humano. Seres multicelulares podem dividir as funções do
corpo entre células de diferentes tipos, cada uma exercendo um papel específico. É o nosso caso. Possuímos
neurônios em nossos cérebros, células musculares em nosso coração e espermatozóides nos testículos.
Organismos multicelulares simples possuem dois ou três tipos de células, enquanto que os mais complexos, como
os mamíferos, possuem centenas de tipos de células. Os primeiros seres vivos que apareceram na Terra,
provavelmente 3 bilhões de anos atrás, eram unicelulares e até recentemente se acreditava que os seres
multicelulares só haviam aparecido muito mais tarde. Agora, fósseis encontrados no Gabão, sugerem que os seres
multicelulares surgiram muito antes, por volta de 2,1 bilhões de anos atrás, e estavam envolvidos na produção de
oxigênio.
Três bilhões de anos é muito tempo. A civilização humana tem somente alguns milhares de anos, o homem surgiu
no planeta faz 1 milhão de anos e os fósseis de animais mais antigos tem menos de 500 milhões de anos. Quando
a vida surgiu não havia oxigênio na atmosfera e as concentrações de gás carbônico eram muito altas. Foi somente
com o surgimento das algas unicelulares, capazes de fazer fotossíntese, por volta de 2,3 bilhões de anos atrás, que
se iniciou a produção de oxigênio. Ao longo de mais de um bilhão de anos nossos ancestrais exerceram o papel
hoje reservado às plantas, consumir gás carbônico liberando oxigênio. Ao poucos a concentração de oxigênio nos
mares e na atmosfera subiu 100.000 vezes, atingindo os níveis atuais. Somente então puderam aparecer os
organismos que necessitam de oxigênio para viver, por volta de 700 milhões de anos atrás. Mas ainda foram
necessários 699 milhões de anos para surgir o primeiro ser humano. Agora, nos últimos 50 anos, tudo indica que o
ser humano esta revertendo lentamente este processo, liberando quantidades crescentes do gás carbônico e
destruindo os seres vivos que produzem oxigênio.
As rochas no Gabão, onde foram encontrados estes novos fósseis, datam de aproximadamente 2,1 bilhões de anos
atrás, uma época em que o acúmulo de oxigênio na atmosfera já havia se iniciado. Neste período os mares ainda
continham uma quantidade enorme de enxofre e a atmosfera possuía menos que 1% da quantidade atual de
oxigênio. Peixes, mamíferos e a quase totalidade das formas de vida existentes hoje não sobreviveriam 5 minutos
naquele ambiente. Foram nestas rochas que um grupo de cientistas descobriu os fósseis destes seres vivos de até
12 centímetro de comprimentos. Eles parecem discos, compostos por múltiplas camadas muito finas, como uma
massa folheada. Os discos possuem estruturas radiais que partem do centro e chegam às beiradas. O centro do
disco é mais grosso que as beiradas, possui uma estrutura interna. As beiradas que são finas e onduladas. Os
cientistas acreditam que estas estruturas representam enormes grupos de células organizadas em colônias. É
impossível saber se todas as células presentes nestes organismos eram idênticas ou se já havia especialização entre
elas. Mas sem duvida, cada uma destas estruturas, e foram encontradas centenas delas nas rochas do Gabão,
possuía uma estrutura interna organizada, o necessário para podermos classificar estes seres vivos como
multicelulares.
A descoberta desse nosso ancestral sugere que os seres vivos multicelulares surgiram muito antes do que os
cientistas imaginavam, e que eles contribuíram para construir a atmosfera que respiramos hoje.
Mais informações: Large colonial organisms with coordinated growth in oxygenated environments 2.1 Gyr ago.
Nature vol. 466 pag. 100 2010
Fernando Reinach ([email protected])
Download