Mantendo a vigilância

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Quarta-feira, 7 junho de 2006
VIDA&
Mantendo a vigilância
Fernando Reinach*
O que todos temiam aconteceu. Foi constatado pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) o que pode ser o primeiro caso de transmissão
da gripe aviária entre humanos. A boa notícia é que o foco parece ter
sido controlado.
Tudo começou no dia 24 de abril, na pequena vila de Kubu Simbelang,
em Sumatra (Indonésia). Uma mulher de 37 anos, que trabalhava em um
mercado onde eram comercializadas galinhas vivas, apresentou os
sintomas da gripe aviária. Quatro dias depois, nove familiares passaram
a noite em um pequeno quarto com a mulher, que tossia muito. Ela
piorou e foi internada no dia 2 de maio, morrendo dois dias depois. Nos
dias 3 e 4 de maio, a doença acometeu seis dos nove familiares que
pernoitaram com a doente: dois dos seus filhos, o sobrinho que morava
na casa ao lado, a irmã que vivia na vizinhança e seu filho, além de um
irmão que morava na vila de Kabanjahe a 10 km dali e tinha vindo
visitá-la. Os seis foram internados.
Acredita-se que muito provavelmente todas as seis pessoas foram
contaminadas na noite do dia 29 de abril. Um outro irmão da mulher
desenvolveu a doença no dia 15 de maio, após ter passado entre os dias
9 e 13 daquele mês no hospital cuidando do filho. Ele morreu no dia 22
de maio após ter recusado tratamento e ter circulado com sua mulher
por diversas vilas da região. De oito infectados, sete morreram.
Desde 22 de maio nenhum outro caso foi detectado. Outros 54 membros
da família, assim como a esposa da última vítima, estão em quarentena
voluntária em suas casas, recebendo doses profiláticas de antiretrovirais. Outras 400 famílias da mesma vila estão sob observação. Foi
confirmado que o vírus responsável pelas mortes é muito semelhante ao
que vem atacando aves e humanos na mesma região.
Apesar desta variante do vírus ser capaz de passar de uma pessoa para
outra, o pequeno número de pessoas afetadas e o fato de não terem
ocorrido infecções no hospital onde os doentes foram assistidos sugerem
que o vírus ainda não é capaz de se espalhar de maneira eficiente. Por
outro lado a altíssima taxa de mortalidade neste grupo de pessoas é
preocupante. A OMS não vê motivos para alterar o nível de alerta por
causa desta única ocorrência, que continua no nível 3.
Essa primeira provável ocorrência entre humanos pode servir de
exemplo do que podemos esperar se ocorrer uma epidemia de gripe
causada pelo vírus H5N1: alta mortalidade entre os infectados, pessoas
recusando tratamento, dezenas de pessoas isoladas e tratadas
profilaticamente com anti-retrovirais.
Como consolo, é importante lembrar que os cientistas estão divididos,
muitos ainda acreditam que o H5N1 não será capaz de causar uma
pandemia. Espero que eles estejam certos. Por enquanto, a única coisa a
fazer é continuar a estudar o vírus, manter a vigilância, e esperar. Mais
informações em www.who.int/csr/don/2006_05_31/.
*[email protected]
Biólogo
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