educação do campo reflexões e ações para a formação

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EDUCAÇÃO DO CAMPO: REFLEXÕES E AÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
Dra. Marta Chaves1.
Dra. Rosângela Célia Faustino2.
Dra. Maria Christine Berdusco Menezes3.
Me. Vinícius Stein4.
Resumo: O presente texto apresenta o relato sobre a vivência dos integrantes do Grupo de
Pesquisa e Estudos em Educação Infantil - GEEI, juntamente com os estudantes do curso de
Pedagogia para Educadores do Campo da Universidade Estadual de Maringá - UEM, Paraná,
Brasil, que integram o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, na
participação e organização da Ciranda Infantil Sementes da Esperança, durante a 13ª Jornada
de Agroecologia realizada na Escola Milton Santos, Maringá, Paraná, Brasil. Por meio desta
vivência organizamos propostas para crianças com idades entre os primeiros meses até os 12
anos, em um contexto próprio ao da educação no campo, refletindo sobre a realização de
intervenções pedagógicas adequadas àquela ocasião. Por meio das intervenções empreendidas
na Ciranda, proporcionamos às crianças propostas educativas tendo como referência os
estudos da Teoria Histórico-Cultural. Concluímos que vivências como a que tivemos são
essenciais nos cursos de formação de professores, seja de graduação ou formação continuada,
pois consistem em um exercício onde os estudos e discussões são intencionalmente
sistematizados e apresentados às crianças em forma de recursos didáticos, estratégias para
organização do tempo e espaço e intervenções pedagógicas.
Palavras chave: Educação do campo. Formação de professores. Teoria Histórico-Cultural.
Intervenções pedagógicas.
1
Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected]
2
Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected].
3
Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected].
4
Universidade Estadual de Maringá. E-mail: [email protected].
717
718
Introdução
A organização do espaço e do tempo em um contexto educacional constitui-se em uma
temática relevante para a formação de educadores. Em nosso entendimento, a organização
intencional e criteriosa do espaço educativo pode favorecer o desenvolvimento das crianças.
Essa compreensão decorre de nossos estudos fundamentados na Teoria Histórico-Cultural,
por meio das obras de Vigotski (2009) e Leontiev (19--), em autores da pedagogia soviética
como Makarenko (1981), Krupskaia (1973) e Vigotskii, Luria e Leontiev (2001), além de
pesquisadores que versam sobre a organização da rotina e defendem a necessidade de
pesquisas relativas a esse tema, como Chaves (2011), Horn (2004) e Hoffmann (1995).
Neste sentido, ao refletirmos sobre a organização da rotina, compartilhamos
especialmente das reflexões de Chaves (2011), pois em seu entendimento as instituições
educativas só se justificam se, em todos os espaços e em todo tempo, ocuparem-se do desafio
de disponibilizar as crianças às máximas elaborações humanas.
Chaves (2011) analisa que a organização do tempo e do espaço justifica-se para
favorecer ou instrumentalizar intervenções educativas capazes de promover a aprendizagem e
o desenvolvimento dos escolares de diferente idades. Ainda sobre este aspecto Giraldi e
Ferreira afirmam (2013, p.79):
Acreditamos que o espaço educativo deve estar planejado para aconteça o
máximo de experiências físicas, sensoriais e sociais, pois a organização do
ambiente traduz a concepção de infância e as intencionalidades da prática
educativa. Com isto, para que haja uma ação educativa de qualidade é de
fundamental que o ambiente seja planejado e organizado levando em
consideração a especificidades dessa faixa etária, ou seja, tudo deve ser
planejado para que eu favoreça o desenvolvimento, a autonomia e a
descoberta de novas interações.
Dessa maneira, entendemos que os espaços educativos devem ser organizados com
diversas cores, formas geométricas, letras, números, ilustrações advindas da arte, de autores e
personagens da Literatura Infantil (CHAVES, 2011). Assim, a organização da rotina, portanto
do tempo e do espaço5, deve favorecer as vivências estéticas elaboradas, porque estas se
mostram essenciais à aprendizagem e ao desenvolvimento.
5
Destacamos os seguintes títulos da literatura educacional brasileira, nos quais podemos encontrar a
discussão sobre a organização do tempo e do espaço no contexto da Educação Infantil: “Ação
educativa na creche” (HOFFMANN, 1995); “Organização do espaço e do tempo na escola infantil”
(BARBOSA e HORN, 2001); “A solidária parceria entre espaço e educador” (HORN, 2004); “As
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Com base nisto, o presente trabalho tem como objetivo relatar elementos afetos à
organização da Ciranda Infantil Sementes da Esperança, bem como apresentar reflexões sobre
a formação em agroecologia na Ciranda Infantil, entendendo que esta tem sido parte da
formação das crianças Sem Terra, nos processos formais e não formais de educação do
Movimento Sem Terra (MST), ao mesmo tempo em que é uma das bandeiras de luta dos
Movimentos Sociais Populares do Campo. Na sequência apresentaremos propostas para a
organização do tempo e do espaço realizadas junto a Ciranda Infantil Sementes da Esperança.
Possibilidades de aprendizagem e encantos na educação do campo: organização do
tempo e do espaço
A realização da Ciranda Infantil Sementes da Esperança ocorreu durante a 13ª Jornada
de Agroecologia, no período de 04 a 07 de junho de 2014, no município de Paiçandu, Paraná,
Brasil. Os integrantes do Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Infantil - GEEI e
estudantes do curso de Pedagogia para Educadores do Campo da Universidade Estadual de
Maringá - UEM, que integram o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência –
PIBID, atuaram em estudos, planejamentos e elaboração de intervenções educativas nessa
Jornada.
Segundo Tardin (2009), a Jornada de Agroecologia tem acontecido no estado do
Paraná desde 2001 e é resultante de um amplo processo dialógico dos Movimentos Sociais do
Campo e Organizações Não-Governamentais que desde os anos 80 têm impulsionado a luta
pela Terra, pela Reforma Agrária e a Agroecologia.
Desta forma, a organização do espaço na Ciranda Infantil efetivou-se, como referimos,
a partir do referencial teórico-metodológico da Teoria Histórico-Cultural. Em nossa análise,
contribuições de Leontiev e Blagonadezhina para a organização do tempo e do espaço na Educação
Infantil” (CHAVES, 2012); “Organização do espaço: encantos e aprendizagens para as crianças “
(CHAVES; BITTENCOURT e LUPPI, 2012); “ As rotinas diárias” (ABRAMOWICZ e WAJSKOP,
1999); “Os espaços físicos” (ABRAMOWICZ e WAJSKOP, 1995); “Por amor e por força: rotinas na
educação infantil” (BARBOSA, 2006); “A organização das atividades no tempo: rotina”
(DORNELLES e BARBOSA, 1998); “Educação infantil: espaços e experiências” (GUIMARÃES,
2009); “Convivendo com crianças de zero a seis anos” (JUNQUEIRA FILHO.; KAERCHER e
CUNHA, 2004); “Organização do trabalho pedagógico em turma de primeiro ano” (NÖRNBERG;
LAWALL.; URMERSBAC e GEDRAT, 2009); “A organização do tempo e do espaço de atividades”
(OLIVEIRA, 1992); “A vida cotidiana na creche” (BANDIOLI e GARIBOLDI, 2012); “A rotina
como âncora do cotidiano na educação infantil” (PROENÇA, 2004) e “Ideias orientadoras para a
creche: a qualidade negociada” (BECCHI; BONDIOLI; FERRARI e GARIBOLDI, 2012).
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esse referencial expressa condição de amparo para uma proposta de formação e atuação junto
às crianças em uma perspectiva de humanização e emancipação. Assim, para que os
procedimentos didáticos sejam repletos de significado e afetividade, a comunicação, as
diversas formas de linguagem e a escolha de recursos e procedimentos devem figurar como
características essenciais no processo de ensino e aprendizagem em situações de formalidade
e em outras vivências, assim como podem ocorrer nas Cirandas Infantis.
Assim este estudo adquire sentido e significado se for pensada a partir dos
pressupostos da Teoria Histórico-Cultural, uma vez que para este referencial todo espaço deve
ser organizado e planejado, pois toda ação é educativa. Neste âmbito, a organização do meio e
do espaço em um contexto de educação formal adquire relevância, uma vez que “[...] o
melhor estímulo para a criação infantil é uma organização da vida e do ambiente das crianças
que permita gerar necessidades e possibilidades para tal” (VIGOTSKI, 2009, p. 92).
Um dos propósitos das Cirandas é contribuir para o processo educativo e formativo
das crianças Sem Terra enquanto seus pais participam de uma agenda específica de trabalhos.
De acordo com o MST (2004, p. 25), “a Ciranda Infantil é um espaço educativo da vivência
de ser criança sem terrinha, de brincar, jogar, cantar, cultivar a mística, a pertença ao MST, os
valores, a formação, a construção de uma nova geração.”.
Durante as reuniões de planejamento, discutirmos sobre a necessidade de adequar os
espaços a fim de que mobilizassem a aprendizagem e desenvolvimento da criança
contemplando as suas diferentes idades e especificidades. Com base nisto, o grupo foi
organizado em quatro faixas etárias – dos primeiros meses aos 2 anos, de 2 a 4 anos, de 4 a 6
anos e de 6 a 12 anos -. No credenciamento os familiares preencheram uma ficha com
informações básicas sobre a criança, como por exemplo, nome, idade e cuidados especiais, e
também receberam uma pulseira com o nome para a identificação pessoal. Este momento do
credenciamento é importante para que os educadores estabelecessem o contato com a criança
e a família para melhor atendê-la.
Como mencionamos anteriormente, a organização do espaço também foi considerada
durante o planejamento. A exemplo disso, os espaços para as crianças da faixa etária entre os
primeiros meses e 2 anos foram planejadas com o objetivo contribuir no desenvolvimento de
capacidades como a atenção, a linguagem e a imaginação. Para a composição, realizamos um
ambiente que propiciasse a oportunidade de experiências e ao mesmo tempo permitisse a
criança estabelecer uma relação de segurança.
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As crianças puderam passear pelas barracas de artesanatos, brincar no parque e ouvir
histórias. Cabe enfatizar que todas as atividades organizadas no espaço foram previamente
realizados em conjunto e com base em estudos sobre o desenvolvimento da criança, para que
sua presença na Ciranda se constituísse espaço e tempo de aprendizagem.
Nesse propósito de organização, recorremos à ideia de que os sentimentos estéticos se
desenvolvem efetivamente quando na rotina das crianças se apresentam versos especialmente
escritos para elas, com desenhos, música e poemas. Nesse sentido, a organização da rotina,
portanto do tempo e do espaço, deve favorecer as vivências estéticas elaboradas, porque estas
se mostram essenciais à aprendizagem e ao desenvolvimento (CHAVES, 2011).
Destacamos ainda a proposta intitulada “Bomba de Sementes”, realizada com as
crianças entre 6 a 12 anos. O objetivo desta proposta era demonstrar a importância da
coletividade e os princípios da Agroecologia.
Por meio desta proposta, reafirmamos a
necessidade da intencionalidade da ação educativa e da figura do professor com aquele que
sistematiza o ensino. Neste sentido Facci (2004), a partir dos estudos de Saviani (2003),
assevera que a especificidade da educação se refere à mediação dos conhecimentos, ideias,
valores, atitudes e hábitos necessários à formação da humanidade em cada indivíduo singular,
através de relações pedagógicas historicamente determinadas. Em sua análise o conteúdo da
educação é determinado pela sociedade, mas ele também interfere nela, podendo ser um
instrumento de transformação social. De acordo com Facci (2004), a proposta pedagógica
baseada na nos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural tem como ponto de referência a
transformação da sociedade e não sua manutenção.
Mobilizados por estes estudos, iniciamos a propostas “Bomba de sementes” com uma
ação para integrar as crianças e educadores, por meio da dinâmica intitulada “Mistureba”.
Fizemos uma roda e orientamos para que as crianças andassem em círculo. Na medida em que
caminhavam, o educador fazia pausas e perguntava para cada uma das crianças: “você é uma
semente ou uma árvore?”. As crianças que respondiam “sou semente” representavam uma
semente brotando; as que respondiam “sou árvore” representavam uma árvore com frutos ou
sem frutos. O objetivo da dinâmica foi promover a interação das crianças e mobilizá-las para
o trabalho que posteriormente foi realizado.
O segundo momento consistiu em dialogar com as crianças sobre sua história de vida,
questionando-as sobre as experiências no campo. Após este diálogo, organizamos dois grupos
e iniciamos o preparo da “Bomba de Sementes”. A técnica Bomba de Sementes trabalha com
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a recuperação e a preservação do solo, principalmente em áreas degradadas, constitui-se uma
ação que se harmoniza com os propósitos de agroecologia militante (GUTERRES, 2006).
Fazem-se círculos (alvos) em uma determinada área e se arremessam as “bombas”. A ideia é
bombardear com o máximo de sementes o solo a ser recuperado (ECOPEDAGOGIA, 2011).
Para fazê-las utilizamos terra, sementes de adubação verde e água. Misturamos para dar
consistência e formar pequenas esferas. Em seguida, preparamos os alvos em formato de
círculos com galhos, podas de árvores, e cobertura vegetal.
Posteriormente iniciamos o arremesso das bombas nos alvos. Percebemos a
participação ativa das crianças na atividade.
A continuidade da experiência (manejo e
plantio) ocorreu após a Jornada, com as crianças moradoras da Escola Milton Santos e
educadores da Pedagogia do Campo que integram o PIBID.
Estas propostas, em nosso entendimento, expressam que as ações educativas devem
promover a socialização do saber objetivo produzido historicamente pelo homem,
ressaltando-se o educador, por contribuir para a prática social dos alunos. Logo, em nossa
análise, a curiosidade e o interesse motivados pelos recursos didáticos e o ambiente
mobilizaram as crianças e favoreceram o desenvolvimento de habilidades como memória,
atenção, concentração e linguagem.
Considerações Finais
Consideramos que a vivência junto ao Projeto Ciranda propiciou o entendimento de
que todo tempo e espaço devem ser acolhedores e aconchegantes, repletos de cores, sons,
desenhos, formas geométricas, letras, números, ilustrações da Arte, de autores de músicas,
histórias e poesias. A luta pela socialização dos bens culturais da humanidade pode ser
ensinada às crianças e estas podem, desde a tenra idade, desenvolver o espírito de pertença.
Ao refletirmos sobre essas questões, enfatizamos que devemos considerar o cenário
político, econômico e social no qual a Pedagogia do Campo está inserida, condição decisiva
na organização do trabalho pedagógico. Entretanto, esse fato não possibilita nossa atuação
junto às crianças; por meio das intervenções realizadas na Ciranda Infantil, intencionamos
proporcionar às crianças propostas educativas de excelência e trabalhando a partir das
máximas elaborações humanas.
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Foi importante ainda, para fortalecer e aprimorar nossos estudos e pesquisas.
Compreendemos que é possível sim, oferecer as crianças aquilo que há de mais elaborado, o
que há de mais belo, pois elas aprendem e desenvolvem além das capacidades humanas
superiores, o senso estético, o apreço pela leitura, a criatividade e a curiosidade.
Consideramos que vivenciar estes momentos, favorecer nossa compreensão de que
todo tempo e espaço devem estar repletos de coloridos e sons, aconchegante, acolhedor,
desenhos, formas geométricas, letras, números, ilustrações advindas da arte, de autores e
personagens da Literatura Infantil.
A importância de estudos consequentes e contínuos acerca da organização do ensino, o
que significa dizer da organização da rotina, pode favorecer a avaliação e recondução da
prática educativa, o que implica levar à discussão a função da escola em uma perspectiva de
emancipação. Perspectiva a partir da qual pode a Teoria Histórico-Cultural contribuir de
forma decisiva, no sentido de que a atividade criadora do homem o torna capaz de projetar –
como afirmam Leontiev (2001) e Vigotski (2009) – fazer o futuro, modificar o presente;
elementos que fazem com que esse referencial teórico se apresente na condição de
humanizador e capaz de oferecer respostas aos desafios e enfrentamentos da atualidade, pois
torna possível a condição de nos instrumentalizar, mesmo em situação adversa, para
vislumbrar uma educação plena para todos. Assim, estudar e refletir sobre a organização da
rotina na Educação Infantil, se configura enquanto necessidade à formação e atuação do
Pedagogo.
Tendo como princípio os elementos supracitados, pensamos que é essencial para o
desenvolvimento das crianças, um espaço externo que seja planejado para que possam brincar
e ao mesmo tempo desenvolver senso estético, bem como as relações com seus pares, e ainda
as capacidades humanas superiores, como atenção, raciocínio e memória.
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