Apresentação O projeto Transfiguração do Mito propõe um encontro da Commedia Dell’Arte com a Cultura Popular Brasileira através da criação do novo espetáculo do Grupo Teatral Moitará juntamente com Enrico Bonavera, diretor e ator italiano, do Piccolo Teatro de Milão. Enrico é um dos maiores conhecedores da Commedia dell'Arte e, há mais de cinco anos, vem mantendo relação de intercâmbio, realizando colaboração técnica e artística com o Grupo Moitará. Esta parceria tem proporcionado ao Moitará os alicerces necessários para o aprofundamento de sua pesquisa na criação de personagens-tipo brasileiros relacionados aos arquétipos da Commedia dell’Arte. A partir desta investigação, foram realizados os dois últimos espetáculos do Moitará: “Quiprocó” e “Acorda Zé!”. Nestes trabalhos, encontram-se máscaras criadas especificamente a partir da pesquisa, como “Zé di Riba”, que é uma mistura de Malazarte, Mateus, João Grilo, Macunaíma, personagens do universo popular brasileiro em paralelo ao Arlequim da Commedia dell’Arte. Ainda que estas montagens tenham obtido grande reconhecimento, naturalmente, a pesquisa relacionada a temas da cultura brasileira com a linguagem da máscara é infindável, pois ainda há muito a ser explorado para a sua evolução. Em face do amadurecimento do trabalho desenvolvido entre Enrico Bonavera e o Grupo Moitará, fez-se necessária a criação de um novo espetáculo construído com base nas pesquisas já iniciadas, tendo, agora, como mote, as tramas da farsa europeia relacionadas à morte. Este tema deu origem ao célebre “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, como também ao canovaccio1 “A que foi dada por morta”, de Flaminio Scala. O espetáculo propõe a convergência deste canovaccio com o conto popular brasileiro de tradição oral “O Vaqueiro que não sabia mentir”, encontrado nos registros de Câmara Cascudo e Silvio Romero, que tem como trama o compromisso de um empregado com a verdade acima de qualquer circunstância. Ao mesclar a tradição popular europeia com a brasileira, formando assim o argumento “confusões entre a morte e a honestidade”, será iniciado o trabalho com a criação das máscaras das personagens, a serem confeccionadas por Donato Sartori, diretor do Centro Maschere e Strutture Gestuali (Padova – Itália). Sartori é um dos importantes colaboradores para o renascimento da máscara no teatro contemporâneo (após a segunda guerra mundial). O artista vem, desde 1990, contribuindo com a pesquisa de linguagem desenvolvida pelo Moitará. Seguindo a metodologia de criação de espetáculo do Grupo, elaborada ao longo dos seus 26 anos, será realizado um treinamento dos atores com as máscaras, dando vida a estes “personagens-tipo” e incluindo-os em contextos da trama, de forma que os próprios atores, por meio das personagens, construam suas falas e sejam também co-autores do texto. Assim será desenvolvida a dramaturgia, tendo como referências as características culturais brasileiras. É válido notar que os diversos "Brasis" já foram expressos por muitos segmentos artísticos, inclusive dentro do próprio contexto teatral. Porém, ainda é imprescindível para a consolidação de um teatro com identificação popular uma abordagem com personagens-tipo brasileiros representados pela linguagem da máscara teatral, que sintetize, em suas características, uma visão particular e universal, como é, por exemplo, o caso do Arlequim e 1 Base dramática da Commedia dell’Arte todos os personagens da Commedia dell’Arte. Este projeto tem a intenção de transfigurar esse mito.