Efeito do uso de tela antigranizo em pomares comerciais de macieira na Serra Catarinense Bruno Zanete Nesi1 Julio Cesar de Oliveira Nunes 2 Celso Lopes de Albuquerque Junior 3 RESUMO - A cobertura do pomar com telas de náilon é uma opção de combate ao granizo, principalmente em pequenas áreas. Avaliou-se o efeito do sombreamento provocado pela tela antigranizo com nível de sombreamento de 17% sobre os fatores de produção na macieira, cvs. Gala e Fuji. O número e a altura média de ramos ladrões foi maior nos tratamentos com tela antigranizo e o número de sementes por frutos foi menor quando utilizado a tela. Já para as variáveis diâmetro dos ramos e número de gemas com potencial florífero não houve diferença entre os tratamentos. Termos para sombreamento. indexação: Malus domestica, proteção a granizo, INTRODUÇÃO A cultura da macieira é destaque na economia catarinense. O Estado vem se mantendo como maior produtor brasileiro há vários anos (Icepa, 2008). A região de Urupema/SC, localizada a aproximadamente 1450 m de altitude, possui como principal característica suas baixas temperaturas, sendo considerada uma das cidades mais frias do Brasil. Dessa forma, consolidou-se nesse município a fruticultura de clima temperado, tendo como destaque a cultura da macieira que é representada principalmente pelas variedades Gala e Fuji, onde possuem características superiores cultivadas nessa região devido as baixas temperaturas no inverno e a alta amplitude térmica no verão, que conferem às frutas uma boa coloração, assim como características organolépticas específicas. Devido à alta incidência de granizo nessa região, principalmente no verão, época de maturação de frutos, muitos produtores vem se precavendo com a utilização de telas anti-granizo para evitar danos nos frutos e plantas, e 1 Acadêmico do Curso de Agronomia/Universidade do Sul de Santa Catarina. Eng. Agr. M.Sc. Cooperativa Regional Agropecuária Serrana. 3 Prof. M.Sc. Curso de Agronomia/Universidade do Sul de Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 conseqüentemente terem perdas significativas na safra. Contudo, ainda se tem poucos estudos sob o comportamento morfofisiológico de plantas e frutos sob essas condições, o que merece destaque para que se possam produzir frutos de qualidade nessa situação. O dano provocado pelo granizo é variável, dependendo do tamanho das pedras, densidade por área, duração, velocidade de queda, idade das plantas e época de ocorrência (MOTA, 1981). Em macieira, se o fruto for atingido logo após a floração, as frutas ficam deformadas, depreciando sua qualidade. Em frutos maiores, os danos por granizo resultam em lesões que favorecem a entrada de patógenos, impossibilitando, muitas vezes, sua comercialização. Quando em intensidade alta, o granizo pode comprometer produções futuras devido ao dano causado nos ramos e nas folhas das plantas, favorecendo o desenvolvimento de fungos que causam cancro nos ramos. Estima-se que as perdas anuais por granizo podem chegar a 20% da produção de maçãs no Sul do Brasil (ABPM, 1995). Berenhauser et al. (2002) observaram que plantas sob a tela apresentaram menos gemas floríferas do que as plantas sem tela. Esse fator segundo os autores pode indicar uma redução da diferenciação floral provocada pelo efeito de sombreamento da tela, ou algum problema de polinização, podendo também estar relacionada à produção de gemas floríferas mais fracas, o que dificultaria a fecundação e a menor atividade das abelhas. O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito da tela antigranizo sob o comportamento morfo-fisiológico em plantas de macieira das cultivares Gala e Fuji na região de Urupema/SC. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido nos pomares do Sr. Maurides Nesi, em Urupema-SC, com as cvs. Gala e Fuji durante o ciclo 2008/2009. Os tratamentos consistiram de um nível de sombreamento (tela de 17%) mais o controle, sem tela para as cvs. Gala e Fuji. Utilizou-se tela de coloração preta. Foram escolhidas 6 plantas ao acaso para cada tratamento (com sombreamento e sem cobertura). Em cada planta, foram previamente marcados dois ramos, um em cada lado, sendo colhidos todos os frutos para análise. As variáveis inicialmente analisadas foram: número de ramos ladrões, altura média dos ramos ladrões, diâmetro dos ramos, número de gemas com potencial florífero e número de sementes por frutos. Medidas de temperatura do ar foram realizadas utilizando-se de termômetros de máxima e mínima. As variáveis estudadas foram submetidas à análise de variância e as médias de tratamentos. As variáveis peso de frutos e calibre de frutos não serão discutidas nesse trabalho devido ao não tempo hábil para a realização dessas análises, esses resultados serão incluídos no próximo artigo, onde pretende-se compilar os dados de dois anos do experimento. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante esse primeiro ano de avaliação, não foi observado, nas duas cultivares testadas, Gala e Fuji, efeito do sombreamento nas seguintes variáveis: diâmetro dos ramos e número de gemas com potencial florífero. O número e altura de ramos ladrões foram maiores nos tratamentos com tela para as duas cultivares estudadas, sendo mais acentuado na cv. Gala. O número de sementes por frutos foi menor nos tratamentos com tela. Isso pode ter ocorrido devido à influência da tela sobre a atividade das abelhas na polinização e conseqüentemente na fertilização. Berenhauser et al. (2002) observaram que o número de abelhas/planta/minuto apresentou tendência a ser menor nas plantas sob tela, levando a crer que a presença da tela possa ser um empecilho à atividade das abelhas, comprometendo deste modo a polinização. TABELA 1. Estudo morfológico da influência da tela anti-granizo (Sombrite 17%) sobre as variedades Gala e Fuji na região de Urupema/SC Parâmetros Avaliados Nº Ramos ladrões Altura média dos ramos ladrões (cm) Diâmetro dos ramos (cm) Nº gemas c/ potencial florífero Nº sementes nos frutos Gala Tela Normal 26 a 14 c 62 a 38 b 1,4 a 1,2 a 258 a 275 a 4,0 b 6,0 a Fuji Tela Normal 19 b 12 c 56 a 36 b 1,0 a 0,8 a 190 b 198 b 3,0 b 6,0 a As médias possuem diferenças significativas pelo modelo de Tukey a 5% de probabilidade. As temperaturas sob a tela antigranizo ficaram entre 0,5oC e 1,0oC mais baixas do que nas áreas sem tela, medidas através de termômetros de máxima e mínima, no horário entre 10 e 14 horas. 20 18 16 14 12 Temp. ºC 10 8 6 4 TºC Fora da tela TºC Embaixo da tela 2 0 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 Mês FIGURA 1- Temperaturas médias obtidas nos tratamentos com e sem tela antigranizo durante o ciclo 2008/2009, Urupema, SC. CONCLUSÕES - O número e a altura média de ramos ladrões foi maior nos tratamentos com tela antigranizo. - O número de sementes por frutos foi menor quando utilizado a tela. - O diâmetro dos ramos e número de gemas com potencial florífero não foram alterados pelo uso da tela antigranizo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ICEPA, Síntese anual da agricultura de Santa Catarina, disponível em http://cepa.epagri.sc.gov.br/Publicacoes/sintese_2008/Sintese_2008.pdf acesso em 12 de maio de 2009. LEITE, GABRIEL BERENHAUSER ; PETRI, JOSÉ LUÍS ; MONDARDO, M. . Efeito da tela anti-granizo em algumas caracteristicas dos frutos de macieira. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 24, n. 3, p. 714-716, 2002. MOTA, F.S. Meteorologia agrícola. São Paulo: Livraria Nobel, 1981, 376 p.