Mafalda Nuñez Teixeira de Oliveira Manifestações Orais associadas ao consumo da droga de abuso MDMA Universidade Fernando Pessoa Faculdade Ciências da Saúde Porto, 2016 Mafalda Nuñez Teixeira de Oliveira Manifestações Orais associadas ao consumo da droga de abuso MDMA Universidade Fernando Pessoa Faculdade Ciências da Saúde Porto, 2016 Mafalda Nuñez Teixeira de Oliveira Manifestações Orais associadas ao consumo da droga de abuso MDMA “Trabalho apresentado à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Medicina Dentária.” ______________________________________ Resumo O uso para fins ou meios festivos de lazer da droga ilícita MDMA, também chamado de Ecstasy ou Moly, tem vindo a aumentar drasticamente em Portugal e no Mundo. Esta situação desafia os profissionais de saúde para vários parâmetros na saúde oral e geral. O objetivo desta dissertação visa avaliar e descrever as lesões e patologias na cavidade oral que estão relacionadas com o consumo da substância ilícita MDMA. As consequências para a cavidade oral podem ser a xerostomia, o bruxismo, as cáries rampantes, a doença periodontal, o desgaste e a erosão dentária, e as lesões dos tecidos moles. Os indivíduos consumidores podem apresentar carências nutricionais e um estímulo aumentado à dor. A gestão do prognóstico e o tratamento realizado aos consumidores de MDMA, pois afeta vários órgãos e sistemas no corpo humano, requer uma abordagem multidisciplinar que inclui educação, prevenção e tratamento integrados. Esta revisão bibliográfica teve com base artigos publicados em revistas científicos e monografias disponíveis em vários motores de busca. As palavras-chave usadas foram: “ecstasy”, “MDMA”, “oral manifestations”, “oral health”, “substance abuse”, ”overdose treatment”, “xerostomia” e “methamenfetamine” e a sua conjugação. As situações orais, perante as mais prevalentes comorbidades patogénicas relacionadas com o MDMA e outras dependências ilícitas, necessitam de mais atenção e reforço em relação à prática clínica e aos serviços de saúde. Uma das dificuldades para o tratamento correto destes indivíduos é a falta de informação sobre o assunto referente à prática na clínica dentária. A omissão sobre o consumo por parte do paciente bem como de uma recaída no uso, apresentam dúvidas sobre o fator em causa ou até mesmo no diagnóstico. São, muitas vezes, os Médicos Dentistas os primeiros a terem a oportunidade de diagnosticar o aparecimento de possíveis alterações surgidas em virtude do consumo de MDMA. v Abstract Use for purposes or festive leisure facilities of illicit drug MDMA, also called Ecstasy or Moly has been increasing constantly and sharply in Portugal and the World. This challenges health professionals to various parameters in the oral and general health. This work aimed to make a detailed review of the literature based on oral complications or manifestations associated with illicit drug MDMA. The consequences for the oral cavity may be xerostomia, bruxism, the rampant caries, periodontal disease, wear and dental erosion, the soft tissue injuries and oro-facial problems. Individuals’ consumers may have nutritional deficiencies and an increased incentive to pain. The management of the prognosis and treatment addressed to MDMA consumers because it affects various organs and systems in the human body requires a multidisciplinary approach that includes education, integrated prevention and treatment. This literature review was based on articles published in scientific journals and monographs available in various search engines. The key words used were: "ecstasy", "MDMA", "oral manifestations", "oral health", "substance abuse", "treatment overdose", "dry mouth" and "methamenfetamine", and their combination. Oral situations before the most prevalent pathogenic comorbidities related to MDMA and other illicit dependencies require more attention and strengthening in relation to clinical practice and health services. One of the difficulties for the correct treatment of these individuals is the lack of information on the subject related to the practice in the dental clinic. Omitting the consumption by the patient as well as the use of a relapse, have questions about the factor in question or even at diagnosis. However, they will often be dentists the first to have the opportunity to diagnose the onset of possible changes arising due to the consumption of MDMA. vi Dedicatória Tributo este trabalho às pessoas mais importantes da minha vida, Por tudo o que me ensinaram e guiaram, Pelo apoio incondicional e infindável. vii Agradecimentos À minha professora Inês Guimarães, por toda a dedicação e apoio para a construção deste trabalho. Aos restantes professores por todo o trabalho dedicado aos seus alunos durante o meu percurso académico. E em principal, à minha família e amigos por todo o apoio irrestrito viii Índice Geral I. Introdução .................................................................................................................. 1 II. Revisão da Literatura ................................................................................................. 5 1. Materiais e Métodos .............................................................................................. 5 2. Perspetiva Histórica e prevalência do MDMA...................................................... 5 3. Efeitos farmacológicos e a sua Toxicidade ........................................................... 8 i. Mecanismos de acção no Sistema Nervoso Central .............................................. 8 ii. Farmacocinética e formas de apresentação ........................................................... 9 iii. Neurotoxicidade em humanos ............................................................................. 10 4. Manifestações e Patologias Orais devido ao consumo de MDMA ..................... 13 i. Xerostomia e erosão dentária .............................................................................. 14 ii. Bruxismo e atrição dentária................................................................................. 16 iii. Mucosa Oral ........................................................................................................ 18 iv. Sistema salivar .................................................................................................... 18 v. Cárie Rampante ................................................................................................... 19 vi. Periodontite associada à gengivite ...................................................................... 20 vii. Outros aspectos orofaciais................................................................................... 21 5. Gravidez e o consumo excessivo do MDMA ...................................................... 21 6. Tratamento abordado na clínica dentária associada à Saúde Oral ...................... 23 III. Conclusão ................................................................................................................ 29 IV. Referências Bibliográficas ....................................................................................... 31 ix Índice de Abreviaturas ADHD: Attention Deficit Hyperactivity Disorder – Transtorno de Défice de Atenção e Hiperatividade. ATM: Atriculação Temporomandibular. BHE: Barreira Hematoencefálica. Cmáx: Concentração máxima. DA: Dopamina. DAT: Transportador da dopamina. EMCDDA: European Monitoring Centre for Drugs and drug Addiction. 5-HT: 5-hidroxitriptamina, serotonina. 5-HTT: Transportador da serotonina. MAO: Monoamina oxidase. MDMA: 3,4-metilenodioximetanfetamina. NE: Noradrenalina, norepinefrina. NET: Transportador da noradrenalina. SNC: Sistema Nervoso Central SNP: Sistema Nervoso Periférico TPH: Enzima Triptofano Hidroxilase. UNODC: United Nations Office on Drugs and Crime. VMAT Transportador vesicular monoaminérgico. x Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA I. Introdução De acordo com Organização Mundial de Saúde, qualquer substância considerada como “droga de abuso”, que inserida no sistema por uma indeterminada via de administração, vai modificar uma ou mais das suas funções, podendo provocar uma adulteração da atividade natural do Sistema Nervoso Central (SNC) sendo esta capaz de criar tolerância, dependência psicológica, física ou ambas. A legislação atual define as várias drogas como legais e ilegais, independentemente das alterações que estas provoquem ao corpo humano (Muñoz,et al., 2005). O uso compulsivo de fármacos ou substâncias ilícitas torna-se numa perturbação complexa, determinada por uma procura irrefreável, e por vezes descontrolada dos mesmos. No entanto, o seu hábito persiste mesmo defronte dos efeitos negativos. Estudos epidemiológicos indicam que este fenómeno tem obtido um dilema dimensional na saúde pública. Entre as complicações e patologias mais influentes na Saúde Oral deparamos com as doenças associadas a substâncias ilícitas (Barros & Pillon, 2006; Alves, Nai& Parizi, 2013). Qualquer fármaco utilizado de forma legal ou ilegal, possui uma capacidade perturbadora sobre os tecidos orais (Colodel et al., 2008; Alves, Nai, & Parizi, 2013). As complicações para a Saúde Oral, entre os consumidores de substâncias ilícitas, englobam uma gravidade e importância tal, que necessitam de abranger programas de cuidados dentários, considerando os serviços de saúde em geral (Shekarchizadeh et al., 2013). Contudo estes sistemas necessitam de várias abordagens, tais como, educação, prevenção e tratamento. Porém, tanto no recebimento de serviços como no fornecimento destes, expõe múltiplos desafios (Charnock et al., 2004; Robinson, Acquah& Gibson, 2005; Shekarchizadeh et al., 2013). Desta forma e conforme Alves, Nai & Parizi, 2013, relata que existe uma escassa falta de conhecimento em relação à área da medicina dentária, para auxiliar o procedimento dos especialistas “frente a um dos maiores problemas de saúde pública, que afeta tanto diretamente quanto indiretamente a qualidade de vida dos usuários e seus familiares”. A substância de abuso ilícita, 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA; “Ecstasy”, “Molly”) provém de uma anfetamina psicoativa sintética, usada no presente, para fins lúdicos em vários países (UNODC, 2013). São psicostimulantes que atuam no SNC e 1 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA podem conduzir a consequências drásticas tanto ao nível do comportamento fisiológico, como psicológico (Itzhak & Achat-Mendes, 2004). Esta substância foi patenteada em 1914 pela empresa farmacêutica alemã Merck (Brand, Dun, & Niew Amerongen, 2008). Sendo esta, submetida como um anorexigénio. Não foi sintetizada com propósitos de “party drugs” até à sua recreação nos anos 80 (Asser & Taba, 2015). No entanto, estas substâncias eram aproveitadas para tratar em abundância perturbações, incluindo depressões, distúrbios de humor, congestão nasal, obesidade, e transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (ADHD) (Asser & Taba,2015) da narcolepsia e da obesidade (Advokat, 2007; Leite, 2011) ou até mesmo autismo (Danforth et al., 2015). Durante os anos 70 e 80 a produção ilegal de MDMA iniciou-se na Califórnia (Estados Unidos da América), sendo esta cada vez mais popular e mais comum entre os jovens, em festas ocasionais, ou seja, para uso recreativo (Cole & Sumnall, 2003; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008). Vários psicostimulantes originam consequências no mecanismo patofisiológico, incluindo “alteração do sistema monoaminérgico, stress oxidativo, disfunção mitocondrial e excitotocicidade,neuroinflamacão,problemas na barreira hematoencefálica, e um dano na formação do tecido nervoso” (Gonçalves, Baptista, & Silva, 2014; Asser & Taba,2015). O MDMA é consumido oralmente ou invulgarmente na forma inalada ou injetada, podendo provocando “euforia, alucinações, ansiedade, inquietação, distúrbios na marcha, síndrome das pernas inquietas, encerramento da mandíbula e ausência de apetite. Os efeitos somem normalmente após 24h porém em usos prolongados, afeta o desempenho da memória e concentração, doença mental, depressão, ansiedade, tremores e perda de peso” (Asser & Taba,2015). As manifestações orais causadas pelo uso de MDMA, de importância na área da Medicina Dentária, são maioritariamente o bruxismo, o espasmo muscular, as lesões de tecidos moles e duros, assim como a xerostomia e a doença periodontal. No entanto, em conjunto com álcool, pode levar a uma disfunção no Sistema Imunológico (Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008; Alves et al., 2013). Estes efeitos nocivos levam a consequências resultantes num nível elevado de índice de CPOd (dentes cariados, perdidos ou obturados por dente), halitose, estomatite, queilite angular, gengivite ou distúrbios periodontais severos, que aparentam estar relacionados 2 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA com carências nutricionais e descuido de higiene pessoal (Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008; Alves et al., 2013). Estas situações apresentam-se então devido a um retrato de um autocuidado negligenciado e, embora se torne comum entre os toxicodependentes, desprezam os cuidados de saúde em geral. São situações em que os indivíduos permitem um avanço no estágio da doença, com a apresentação de sintomas graves, arriscando a agravar o procedimento/tratamento de eleição (Santolaria-Fernández et al., 1995; Robinson, Acquah& Gibson, 2005; Shekarchizadeh et al., 2013). Também é importante salientar que a exposição do MDMA em mães gestantes, na condição pré-natal, aumenta o risco de desenvolver graves problemas em crianças até aos 12 meses de gestação, tal como, um débil desenvolvimento a nível motor e mental (Asser & Taba, 2015; Singer et al., 2012). O objetivo deste artigo monográfico visa avaliar e concluir as condições e patologias na cavidade oral, estabelecendo uma relação com o consumo da substância ilícita - o MDMA. A escassez nos cuidados de higiene oral, a má alimentação, e os problemas psicológicos e sociais dos toxicodependentes amplia o processo de degradação física e mental do indivíduo, trazendo problemas que influenciam a autoestima. É nas clínicas, centros de saúde e consultórios dentários, que se deve iniciar quer a prevenção e a motivação, quer os tratamentos a pessoas toxicodependentes. Tendo em conta, a informação obtida atualmente, não podemos “fechar os olhos” a estes tipos de causas e consequências demonstradas pelas drogas de abuso, no geral. Sendo o meio oral, um dos locais mais acometidos destes problemas, saber qual é a melhor forma de atuação, é mais um passo importante para a sua reabilitação oral e concomitantemente para a saúde em geral. Esta droga ilícita afeta vários mecanismos, sistemas e funções no organismo molecular e celular biológico, tendo já sido documentados estudos em animais, e estudos em humanos, em vários contextos. Este trabalho abrange a realização de um estudo aprofundado em literatura e pesquisas bibliográficas, tendo em consideração as publicações científicas mais recentes. A revisão bibliográfica apresenta uma síntese em geral, de aspetos históricos, do mecanismo de ação desta substância, bem como as suas formas de apresentação e farmacocinética, complementado por uma exploração mais profunda sobre as 3 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA manifestações orais apresentadas por estes consumidores, do tratamento adequado e as melhores formas de atuação clínica no consultório dentário. 4 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA II. Revisão da Literatura 1. Materiais e Métodos Esta tese monográfica fundamenta-se na investigação bibliográfica de artigos publicados em diversas revistas e jornais, disponíveis em motores de busca on line nomeadamente Pubmed, Science Direct e Rcaapbem como o Bdigital.ufp, utilizando as palavras chave “ecstasy”, “MDMA”, “oral manifestations”, “oral health”, “substance abuse”,”overdose treatment”, “xerostomia” e “methamenfetamine” e a sua combinação. Foram analisados artigos científicos de revisão bibliográfica, revisão sistemática, metaanálise e estudos observacionais, investigados praticamente na língua inglesa, espanhola e portuguesa. No sentido de alcançar um esclarecimento o mais atualizado possível, por parte dos investigadores, a pesquisa concluída foi abordada numa forma ampla relativamente à informação de notória acuidade em referência ao tema, por motivo também de muita informação não ser esclarecedora ou a existência de omissão em vários aspetos. Dos vários artigos pesquisados, estes foram selecionados pelo título, depois pela leitura do resumo e por último pela leitura do artigo na íntegra. Após estes critérios foram selecionados alguns artigos para a elaboração desta tese, por serem os mais relacionados com o tema. Os critérios de exclusão foram os que não contemplaram informação relevante para o tema, os que estavam em idiomas diferentes daqueles definidos anteriormente ou os que não estavam disponíveis na sua íntegra. No total foram obtidos 142artigos. Destes, com base na leitura do título e respetivo resumo, foram incluídos 105 artigos. Após a leitura dos artigos selecionados na íntegra foram ainda excluídos 37 artigos, por não se enquadrarem nos objetivos deste trabalho ou por não ser possível ter acesso. 2. Perspetiva Histórica e prevalência do MDMA De acordo com Danforth et al., 2015 (cit. in Grob and Poland, 1995), o MDMA, conhecida como uma droga de rua Ecstasy ou Molly é um composto psicoativo com estruturas similares às anfetaminas em conjunto com alucinogénio. É uma substância sintetizada em laboratório que não existe organicamente na natureza. 5 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA “Há cerca de 5 milénios que as propriedades estimulantes da efedrina, alcalóide extraído da planta Ephdra vulgaris, eram reconhecidas e descritas pela medicina chinesa“ (Cho, 1990; Leite, 2011). Já são longas as décadas que as propriedades estimulantes das finilsopropilaminas são dominadas, este constituinte envolve a efedrina, a anfetamina e seus análogos. Através de uma procura de derivados sintéticos paralelos aos da efedrina, a indústria farmacêutica sintetizou a anfetamina (Silva & Tavares,1999; Leite, 2011). A 3,4 -metilenodioximetanfetamina, foi sintetizada quimicamente pela primeira vez na Alemanha, em 1912. Concebida pela firma farmacêutica Merck que a designou como “metilsafrilamina”, e patenteada em 1914 como um subproduto químico, que foi encontrado enquanto a Merck estava tentando desenvolver um vasoconstritor para estancar o sangramento (Freudenmann, Öxler&Bernschneider-Reif, 2006; Leite, 2011). Os primeiros indícios farmacológicos aprovados, analogamente ao MDMA, sucederam no ano 1927 nos laboratórios da Merck, sendo este estudado novamente mais tarde, em 1953, mas apenas em animais. Os primeiros estudos relatados em humanos referentes a esta substância, só se administraram mais tarde em 1978, em relatórios sobre a química, a dosagem, cinética e efeitos psicotrópicos (Leite, 2011; Freudenmann, Öxler & Bernschneider-Reif, 2006). Durante a 2.ª Guerra Mundial, era entregue as tropas dos Aliados e Japoneses, quantidades de anfetaminas para aumentar resistência, desempenho e estado de alerta dos soldados, uma vez que lhes reduzia o apetite, aumentava os reflexos e retirava o sono ou cansaço de querer dormir (Leite, 2011). No final dos anos 70, o químico Alexander Shulgin sintetizou a MDMA no laboratório e relatou pela primeira vez os efeitos psicostimulantes, psicotrópicos e cinéticos desta substância experimentados nele próprio, (Green et al., 2003; Freudenmann, Öxler&Bernschneider-Reif, 2006) na sua obra “phenetylamines i have known and loved”, descreve os efeitos e como sintetizar MDMA, em quantidades ingeridas de 120mg. Em 1977 no reino unido a MDMA foi classificada como droga de classe A e grau I, simbolizando a ilegalidade de produção, vender ou fornecer (Capela et al., 2009; Leite, 2011). No início doa anos 80, num estudo científico sobre os efeitos do MDMA, publicado pelo Dr. Shulgin e o Dr. David Nicholas, estes mostraram que o uso de MDMA como auxiliar na psicoterapia se iniciou por volta de 1980, estimando-se que mais de mil psicoterapeutas, na prática privada, estavam usando MDMA no decurso do tratamento. 6 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA O nome "Adam" foi criado pela primeira vez em referência ao MDMA em contextos clínicos, de forma que os seus protetores asseguram que a sua aplicação em síntese terapêutica controlada, amplifica a capacidade de auto-observação e induz sensações de confiança e empatia entre pacientes e terapeutas (Green et al., 2003; Carvalho, 2007). Essas qualidades levaram à categorização do MDMA como uma molécula referente a uma nova classe farmacológica: os “entactogeno” (do grego “contacto com o íntimo”). Em 1984, no desfecho da “época de ouro”, o MDMA não lucra só como adjunto terapêutico, mas também era amplamente utilizada pelos jovens norte-americanos como droga recreativa (Cuomo et al, 1994; Almeida & Silva, 2000). A sua semelhança, comparativamente a um alto componente de neurotoxicidade, conduziu a que, em 1985, a “Drug enforcement Administration” (DeA) dos Estados Unidos da América convocasse uma comissão de emergência para enquadrar e qualificar o MDMA como uma substância na categoria de grau1 de substâncias controladas, que inclui drogas de alto potencial de abuso; sem qualquer aproveitamento ou benefício terapêutico/médico; e cujo uso é inseguro mesmo sob supervisão médica (Burgess, O´Donohoe & Gill, 2000;Carvalho, 2007). Vários estudos realizados tanto na Europa como nos Estados Unidos demonstram que, apesar da ilegalidade do MDMA, o número de consumidores têm sido cada vez maior (Cuomo et al., 1994; Almeida & Silva, 2000), embora a ilegalidade desta substância tenha terminado com o uso terapêutico. Ainda se alega que era preciso concluir mais procuras para rejeitar a sua prática na medicina psiquiátrica (Holland, 1999; Almeida & Silva, 2000). Neste sentido, devido a um número alto de perfil de mortes relatadas devido ao consumo do MDMA, na década de 1990 houve um incremento na criação de iniciativas de restrição de danos, abrangendo programas mais seguros de animação noturna e planos de teste à substância (EMCDDA, 2016). No início do séc. XXI, com o aparecimento e integração da música de dança eletrónica fez com que houvesse uma escassez de produção de qualidade da substância no mercado, devido à limitada disponibilidade de percursores. Este facto proporcionou que muitos comprimidos no mercado possuíssem pouco ou nenhum MDMA, com substituição por piperazinas, catinonas e outras substâncias inovadoras psicoactivas, em 2010 houve uma mudança com novos progressos de qualidade do MDMA no mercado 7 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA (EMCDDA, 2016). 3. Efeitos farmacológicos e a sua Toxicidade i. Mecanismos de acção no Sistema Nervoso Central O MDMA afeta as funções do Sistema Nervoso Central (SNC) e do Sistema Nervoso Periférico (SNP), atuando principalmente no sistema monoaminérgico. O MDMA promove a libertação de neurotransmissores das vesículas dos terminais nervosos monoaminérgicos e da medula supra-renal, nomeadamente de serotonina (5hidroxitriptamina; 5-HT) e das catecolaminas noradrenalina (NE, norepinefrina) e dopamina (DA), que produz um estado excitatório (Advokat, 2007), cuja intensidade e duração é proporcional à dose e via de administração (Schmidt,& Taylor, 1987). Em estados fisiológicos normais, estes neurotransmissores, são libertados no terminal neuronal para a fenda sináptica com a vinda de um potencial de acção. Futuramente, podem ser recaptados no terminal neuronal através de sistemas de transporte que funcionam em série. Um recapta as monoaminas para o interior de vesículas, onde se conservam em grandes quantidades. Este último é representado como um transporte vesícular das monoaminas- Vmat. (Advokat, 2007; Capela et al., 2009). A anfetamina propriamente dita, provoca efeitos mais realçados em neurónios dopaminérgicos, uma vez que possui maior afinidade para os transportadores de dopamina (DAT). Por sua vez, o MDMA possui maior afinidade para neurónios serotoninérgicos devido a possuir o anel metilenodioxi na sua estrutura química. A presença deste anel faz com que a afinidade de ligação aos transportadores serotoninérgicos (5-HTT) amplie, enquanto reduz a afinidade de ligação aos transportadores dopaminérgicos (DAT) e noradrenégicos (NET) (Capela et al., 2009). A libertação de monoaminas após ingestão de MDMA não foi analisada em humanos nem em primatas não humanos, mas os dados obtidos com outros animais de laboratório, nomeadamente com ratos, provaram que o MDMA atua como agonista monoaminérgico indireto (Schmidt,& Taylor, 1987). O principal modo de ação do MDMA é muito similar ao da anfetamina. Vai bloquear os transportadores responsáveis pela recaptação das monoaminas, particularmente, os transportadores de noradrenalina (NET), dopamina (DAT) e serotonina (5-HTT), o que afeta a quantidade de noradrenalina (NE), dopamina (DA) e serotonina (5-HT) disponível na fenda sináptica, aumentando-a. Contudo, esta substância sintética constrói 8 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA efeitos mais salientados nos neurónios serotoninérgicos por apresentar maior afinidade para os 5-HTT, do mesmo modo que se apresenta como um agonista dos recetores póssinápticos da serotonina, 5-HT2A (Capela et al., 2009;Leite, 2011). Segundo Schmidt e Taylor, 1987, o MDMA, no interior da célula, também se correlaciona com a TPH e com a MAO-B. A TPH é a enzima triptofano-hidroxilase, responsável pela síntese de 5-HT, que na presença do MDMA, há um decréscimo na atividade da enzima. Relativamente à MAO-B, esta é responsável pela metabolização e degradação das monoaminas, levando a uma atividade parcialmente inibida pelo MDMA (Leite, 2011). Este mecanismo que interfere com a atividade enzimática TPH é de causa não identificada. Uma das hipóteses levantadas é esta substância obter um efeito oxidativo nos terminais nervosos, o que pode levar à desativação da TPH (McKenna & Peroutka,1990; Rattray, 1991; Almeida & Silva 2000). Todas as consequências causadas pela substância sintética, bem como o bloqueio dos Vmat, a inibição da TPH e inibição da MAO-B emergem um esgotamento intraneuronal de 5-HT, levando a um aumento anormal, na concentração citoplasmática de 5-HT, o que faz com que haja libertação para a fenda sináptica por transporte reverso através dos 5-HTT. Isto leva a uma concentração aumentada anormal de 5-HT na fenda sináptica (Capela et al., 2009; Leite, 2011). Depois de uma única toma a escassez de 5-HT é rápido, ocorrendo entre uma a três horas após a sua administração. Estudos em ratos apresentam reduções na concentração de 5-HT e do seu metabólito até 80% em 3 horas (McKenna & Peroutka,1990; Almeida & Silva 2000). O MDMA atua diretamente como agonista dos receptores de 5-HT do tipo 2A (5-HT2A), facto que é responsável pelas suas propriedades farmacológicas alucinogénicas. Atualmente é aceite que os alucinogénios exercem os seus efeitos através da activação deste tipo de receptores (Sadzot et al., 1989). ii. Farmacocinética e formas de apresentação As anfetaminas, de uma forma geral, são substâncias com baixa ligação a proteínas plasmáticas, o que significa que, a sua biodisponibilidade é próxima dos 100% na concentração plasmática, esta consequência pode levar à difusão das anfetaminas para o 9 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA espaço extravascular, distribuindo-se pelos tecidos (de la Torre et al., 2000; de la Torre et al., 2004a). Tal como outros derivados da anfetamina, o MDMA é uma base fraca apresentando um pka de 9,9, baixo peso molecular e grande volume de distribuição, estas propriedades conferem o MDMA a facilidade em difundir-se através de membranas celulares, camadas lipídicas e barreiras biológicas, como a BHE, bem como difundir-se para tecidos e matrizes desde que possuam um pH inferior ao do sangue (de la Torre et al., 2000; de la Torre et al., 2004a). Os efeitos psicostimulantes da substância 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA, 3,4-metilenodioxi-N-metanfetamina), com a representante fórmula química C11H15NO2 (Shulgin, 1986; Jerome 2007), são observados 20 a 60 minutos após ingestão de quantidades moderadas (75 a 100 mg) e pode permanecer por 2 a 4 horas. É administrada normalmente por via oral, sendo esta absorvida a nível gastrointestinal, com a forma de apresentação mais comum em comprimidos, barras, cápsulas, pó ou “pastilhas”. Os comprimidos podem apresentar diversos aspectos, tamanhos e cores, de forma a tornarem-se mais atractivos e comerciais (de la Torre, 2000; Xavier et al., 2008). No entanto, refere Xavier et al., 2008 (cit. in Laranjeiras et al., 1996), a alta concentração no plasma sucede entre 1 a 3 horas após a ingestão da substância, e os níveis residuais são encontrados 24 horas após a última dose. O tempo de meia-vida biológica no plasma depende da dose atribuída, mas em média é de 7 a 9 horas (de la Torre et al., 2004), sendo o resto distribuído por todo o organismo. (De Letter et al., 2004; Jerome 2007). A excreção da substância depende parcialmente do metabolismo hepático (Schifano, 2004; Xavier et al., 2008), cerca de 80% do MDMA consumido é metabolizado pelo fígado, e cerca de 20% é excretado através da urina sem sofrer alteração (metabolização). A velocidade de excreção urinária depende da administração das diferentes doses (de la Torre et al., 2004a). Sabendo que esta droga sintetizada é clandestina, a dose e o grau de pureza variam consideravelmente, mas em média cada comprimido contém entre 80 e 150mg de MDMA. (Capela et al., 2009). iii. Neurotoxicidade em humanos No que concerne ao uso de MDMA em humanos, este, desafia várias consequências que expõem elevados riscos de desenvolver distúrbios psicopatológicos classificados em, efeitos de curto prazo (ocorrem nas primeiras 24 horas), subagudos (frequentemente são 10 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA observados 24 horas a 1 mês depois do uso) e efeitos a longo prazo, (que conseguem durar até 12 meses) (McKenna & Peroutka, 1990; Almeida & Silva 2000). Relativamente aos efeitos psicológicos e comportamentais de curto prazo, estão propriamente interligados ao estímulo serotoninérgico, enquanto, os efeitos somáticos a longo prazo provocam consequências relacionadas a uma evolução de neurotoxicidade serotoninérgica (McKenna & Peroutka,1990; Almeida & Silva 2000). Deparamo-nos atualmente com uma exploração bem documentada sobre os efeitos neurotóxicos do MDMA em modelos animais, mas em contrapartida não há clareza nem precisão que consiga presumir o potencial neurotóxico nos consumidores desta substância sintética. Evidentemente, estes estudos empregam doses elevadas, em diferentes vias de administração, apresentando diferenças na farmacocinética. Não obstante destas limitações, os resultados obtidos em modelos animais são de enorme importância para avaliar a ação neurotóxica do MDMA (Capela et al., 2009; Leite, 2011). Devido à inconstância na frequência e na dose de consumo do MDMA, a atuação dos efeitos desta droga em humanos é ainda mais dificultada, além deste fator, a idade e o género também conseguem cooperar para uma distinta resposta às ações da substância. (Capela et al., 2009; Leite, 2011). Nos efeitos imediatos psicológicos, encontramos uma variedade de sintomas tais como: euforia e diminuição da ansiedade, bom humor, aumento da autoconfiança, despreocupação, insónias, e sensibilidade aumentada (Solowij, Hall& Lee, 1992; Cohen, 1995). Os efeitos adversos a curto prazo após a ingestão do MDMA, conduzem a um aumento da pressão sanguínea e arritmias, náuseas, midríase, sudorese, tremores, ataxia (descoordenação motora), bruxismo, boca seca, híper-reflexia, incontinência urinária, tensão muscular, sensação de frio e calor e nistagmos, complicações em executar tarefas mentais e físicas (70%), diminuição do apetite (65%) e trismo muscular (65%) constituem os efeitos adversos mais frequentes (Morgan, 2000; Xavier et al., 2008). Um dos efeitos mais destacados da toxicidade aguda incutida pelo uso do MDMA é a hipertermia ou síndrome da hiperpirexia, quadro clínico no qual o consumidor pode chegar a temperaturas corporais superiores a 43oC (Ferigolo et al., 2003; Xavier et al., 2008). De acordo com Xavier et al., 2008 (cit. in Milas, 2000), as complicações subagudas incluem depressão, ansiedade, náuseas, tonturas, irritabilidade, dores musculares, 11 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA flashbacks, inapetência e falta de energia (Solowij, Hall& Lee, 1992; Cohen, 1995; Almeida & Silva, 2000). Outras complicações orgânicas que podem levar a doenças crónicas são: hipertermia, insuficiência renal aguda, insuficiência hepática aguda, convulsões/crises epilépticas, ou até hemorragia cerebral (Hall & Henry, 2006). Muitos dos efeitos tóxicos crónicos do MDMA envolvem primariamente o sistema serotonérgico, com degeneração dos neurónios serotonérgicos em várias espécies animais, incluindo primatas e humanos. (Ricaurte et al., 1988; Xavier et al., 2008). Os efeitos neuropsiquiátricos a longo prazo incluem alterações na perceção do tempo e na perceção visual, empatia, aumento da energia emocional e física, transtornos de pânico e psicoses, atribuído a características psicoestimulantes da droga, também como insónia, fadiga, humor deprimido. Outros efeitos no SNC incluem alterações na cognição, comportamento bizarro, psicoses e alucinações. As mudanças de perceção e alucinações aparecem devido a casos de intoxicação com altas doses (300mg) (Siegel, 1986; Liester et al., 1992; Morgan, 2000; Xavier et al., 2008). Os efeitos de longo prazo normalmente aparecem após 7 a 9 semanas de uso crónico, neles e incluem anemia aplástica e alterações faciais que são secundárias ao trismo muscular e bruxismo (distúrbios temporomandibulares, erosão dental e dor miofascial) e da má nutrição (Marsh et al., 1994; Xavier et al., 2008). Um dos aspetos mais importantes do uso do ecstasy a longo prazo é o risco de efeitos neuropsiquiátricos irreversíveis (Ferigolo et al., 2003;Xavier, 2008). Os efeitos a longo prazo apresentam reduções persistentes nos níveis cerebrais de 5-HT, em alguns casos permanecendo por mais de 12 meses (McKenna & Peroutka, 1990; Rattray, 1991; Green et al., 1995; Almeida & Silva, 2000). Como consequência crónica da administração do MDMA a diminuição da atividade da TPH, indica um potencial de neurotoxicidade, devido à atividade cortical permanecer claramente reduzida uma semana após a sua toma., o que indica uma irreversibilidade da desativação da TPH devido ao MDMA, em que o seu restabelecimento depende da síntese de uma nova enzima (Green et al., 1995;Almeida & Silva, 2000). A causa de morte por overdose do MDMA acontece devido à existência de arritmias ou hipertensão, podendo estar associado com broncospasmos agudos, reações alérgicas, hipertermia maligna, convulsões, transtorno de pânico, coagulação intravascular disseminada, rabdomiólise, insuficiência hepática, síndrome da serotonina, edema cerebral, e até falência múltipla de órgãos (Colado et al., 1997; Hall & Henry; Xavier 2008). 12 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA 4. Manifestações e Patologias Orais devido ao consumo de MDMA Dependentes de substâncias ilícitas apresentam cuidados com a saúde geral e oral normalmente reduzido, uma vez que o consumo de drogas provoca alterações de comportamento a nível social, perda de autoestima e constantes alterações de humor. Além disso, a sua persistente interacção com substâncias ilícitas leva a uma alteração constante do estado psicológico, não lhes permitindo ter o cuidado pessoal devido (Bhaskar et al., 2014; Silva, 2015). Frequentemente os Médicos Dentistas deparam-se com problemas para identificar se um indivíduo tem problemas relacionados com o uso de drogas ilícitas. Pois, nem sempre o indivíduo indica esse facto na história clínica, levando a cabo a obrigação exigida aos profissionais de saúde, em observar os sinais transmitidos pelos mesmos. Há alguns sinais com que se deve dar uma maior importância, tais como, modificações comportamentais, alterações de atitude ou reações impulsivas, transtornos a nível intelectual, dificuldades de atenção e alterações afetivas como alterações de humor e desmotivação ou alterações nas relações sociais, mas nem sempre é fácil (De-Carolis et al., 2015; Silva 2015). Segundo Reece, 2007, indivíduos dependentes de substâncias químicas têm um efeito nocivo na saúde oral, sendo estas mudanças rápidas e severas. Estudos recentes demonstraram que a existência de infeção oral crónica ou lesões orais pode levar a problemas sistémicos, como as doenças sexualmente transmissíveis, Diabetes Mellitus Tipo II, lesões orais carcinogénicas que podem perceder outro tipo de situações como carcinoma das células escamosas, herpes simplex tipo I e doenças periodontais.(MSN, 2005; Percy, 2008). No decorrer dos anos, tem aumentado a noção de que as repercussões na saúde oral destes consumidores são o produto de uma analogia complexa de múltiplos fatores. A negligência com a saúde em geral, um baixo nível socioeconómico, concomitantemente com uma dieta rica em carbohidratos, podem potenciar problemas orais. A xerostomia é um sintoma muitas vezes descrito por estes indivíduos, consegue provocar uma alteração na placa bacteriana, tornando-a mais cariogénica sobretudo na presença de açúcares. Os efeitos a nível periodontal advêm de uma combinação de situações, a xerostomia aliada à escassez de higiene oral provoca uma elevada acumulação de placa 13 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA e o poder imunodepressor deste grupo de fármacos amplia a suscetibilidade a infeções (Brondani & Park, 2011; Silva, 2015). Esta droga é muitas vezes apresentada como uma droga ilícita para fins recreativos, em uitas vezes consumida juntamente com outras drogas ou bebidas alcoólicas, podendo ser responsável por sintomas de bruxismo e xerostomia, que aumentam a suscetibilidade para o aparecimento da doença cárie a problemas articulares e também, embora descritos pelos menos consumidores parestesias em redor dos lábios (Shekarchizadeh et al., 2013; Silva, 2015). Os estimulantes acarretam efeitos nocivos para a saúde oral, em peculiar para, os tecidos periodontais, uma vez que um dos seus efeitos colaterais é a vasoconstrição que não possibilita que o periodonto e as peças dentárias possuam o aporte sanguíneo necessário para permanecerem saudáveis, conduzindo assim à perda óssea. Igualmente a minoração da capacidade imunitária provoca uma baixa resistência a infeções, afetando odesenvolvimento da doença periodontal (Amaral &Guimarães, 2012). Contudo, a apresentação das várias manifestações orais devido a esta substância de abuso, pode levar ao aparecimento de patologias orais. Entre as lesões alegadas, as mais implícitas são: xerostomia, erosão e atrição dentária, bruxismo, espasmo maxilar com encerramento forte dos dentes, cáries rompantes e consequentemente doença periodontal. Estas consequências a longo prazo trazem problemas mais acrescidos como por exemplo, halitose, estomatite, queilite angular, ulcerações da mucosa entre outros. i. Xerostomia e erosão dentária A xerostomia, provém do grego Xéro (seco) e stome (boca), sendo esta, uma condição de queixa muito frequente nos consultórios dentários, relatada como uma “sensação de boca seca” estimulada por vários fatores (Barboza et al., 2011; Pereira, 2016). Esta síndrome abrange uma combinação de sinais e sintomas associados à falta ou diminuição de produção de saliva (Guggenheimer & Moore, 2003; Miranda-Rius 2015), má higiene oral ou desidratação. (Barboza et al., 2011; Pereira, 2016), tal como o uso de medicamentos xerogénicos, radiação da cabeça e pescoço, ou mesmo a síndrome de Sjögren. É completamente aceite que a xerostomia resulta numa diminuição na qualidade de vida em todos os pacientes afetados (Guggenheimer & Moore, 2003; Miranda-Rius 2015). Conquanto, apesar destas múltiplas causas, a indução por drogas ou fármacos lícitos são o fator mais comum (Fávaro et al., 2006). 14 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA Através de vários estudos demonstrou-se que 93 a 99% dos consumidores de MDMA, apresentaram a sensação de “boca seca” durante a ingestão da substância (Redfearn, Agrawal & Mair, 1998; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008).O MDMA, sendo um agente adrenérgico consegue atuar direta ou indiretamente num número considerado de recetores, incluindo o recetor a2-adenérgico (Miranda-Rius, Brunet-Llobet & LahorSoler, 2009; Miranda-Rius 2015). A xerostomia consegue persistir até 48h após o consumo da do MDMA, particularmente no género feminino (Liechti, Gamma& Vollenweider, 2001; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). Contudo, a ocorrência da secura da boca não difere entre consumidores que ingeriram uma só vez ou de toxicodependentes crónicos (Solowij, Hall & Lee, 1992; Brand, Dun& Niew Amerongen,2008), o risco de haver xerostomia aguda aparenta estar relacionada com a dose incutida. Estudos relataram que doses de 0.5 mg/kg de MDMA, em voluntários saudáveis, após duas horas do consumo apresentaram 25% de secura da boca ou garganta enquanto em doses de 1.5 mg/kg apresentam 88% de secura após a toma (Harris et al., 2002; Brand, Dun& Niew Amerongen,2008). Devido ao défice de fluxo salivar, o paciente pode manifestar halitose, dificuldade em deglutir, dificuldade na fonação, aumento de cáries, doenças periodontais, redução na capacidade protetora da saliva, tal como o efeito tampão e a remineralização (Popoff et al., 2010; Pereira, 2016). A xerostomia, a hipertermia e adesidratação aquando do consumo do MDMA, associadas ao consumo de bebidas acidificadas açucaradas, que podem levar a consequências como cáries e erosão dentária (Brazier et al., 2003; Brand, Dun, & Niew Amerongen, 2008). O risco de erosão no esmalte é reforçado devido à redução de saliva e falta de capacidade tamponante (Milosevic et al., 1999; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). Em relação à erosão dentária, muitas das situações encontradas, não são consideradas automaticamente como uma causa, aquando do uso do MDMA mas sim, devido ao excesso de consumo de bebidas acidificadas ou açucaradas. Sabendo que há indivíduosque não consomem substâncias ilícitas, mas por outro lado, consomem excessivamente bebidas açucaradas ou ácidas, os Médicos Dentistas podem induzir“falsos” diagnósticos ou dificuldades em identificar o fator causal da lesão,o que pode levar à progressiva e irreversível de tecido duro dentário por processo químico sem envolvimento de acção bacteriana (Bassiouny, 2012). 15 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA Para a obtenção de um diagnóstico preciso sobre a erosão dentária, as manifestações clínicas apresentadas devem ser diferenciadas, e em conjunto, a relação entre a causa, a sua etiologia e os factores agravantes associados a doenças do tecido duro dentário, devem de ser bem avaliados (Bassiouny, 2012). Porém, consumidores de ecstasy relatam efeitos colaterais como náuseas e vómitos, que podem atacar o esmalte, levando à erosão dentária (Solowij, Hall, & Lee,1992; Brand, Dun, & Niew Amerongen,2008). Para reduzir o risco de erosão dentária pode-se usar bochechos de flúor ou pastilhas sem açúcar (Duxbury 1993; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). ii. Bruxismo e atrição dentária O bruxismo é considerado uma atividade parafuncional noturna involuntária apresentada pelos músculos mastigatórios, ao contrário da atrição dentária que é considerada uma parafunção diurna que inclui a mesma musculatura facial, embora também possa suceder durante a noite (Branco et al., 2008; Pereira, 2016). Vários estudos mencionam que o bruxismo é também considerado um distúrbio neuropsicológico de excursões mandibulares, podendo este distúrbio ser rítmico, na intercuspidação máxima ou em posições excêntricas. Considera-se como um início de uma parafunção que progressivamente destrói e desgasta os tecidos dentários, através de distúrbios na oclusão que danificam estruturas da musculatura cervio-cranial, dentária e principalmente a ATM (Contrerias, 2015; Pereira, 2016). Esta parafunção é definida através de movimentos estereotipados e frequentes envolvendo o “ranger” de dentes, resultantes da contração rítmica dos músculos masséteres durante o sono (Thorpy, 1997; Figueiredo, 2015).Observações concluídas sugerem que doses alargadas de ecstasy estão relacionadas com o “ranger” dos dentes (Solowij, Hall& Lee, 1992; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). Este tipo de distúrbio, em indivíduos que consomem anfetaminas, é característico a realização de movimentos mandibulares contínuos e típicos de, deglutição, encerramento forte da mandíbula e fricção com a língua na área dos lábios, qualificando o bruxismo como um efeito adverso deste mesmo uso (Winocur et al., 2003). O bruxismo do sono é descrito como, primário ou secundário. O bruxismo primário é considerado quando não há evidências de causa médica, sistémica ou psiquiátrica, o secundário, caracteriza-se por um transtorno clínico associado, podendo ser neurológico, psiquiátrico, relacionado com fatores iatrogénicos (uso repetido de 16 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA substâncias ou medicamentos) ou com qualquer outro transtorno do sono (Alóe et al., 2003; Figueiredo, 2015). A administração de uma dose única ou repetida de MDMA em ratos, incutiu um reflexo de retraimento parcial da mandíbula, apesar de ocorrer pesquisas com base em dados reduzidos ou limitados, estão indiretamente relacionados com o encerramento ou “ranger” da mandíbula relatados durante o consumo de ecstasy (50%-89%) (Cohen, 1995; Redfearn, Agrawal & Mair, 1998; Milosevic et al., 1999; Liechti, Gamma & Vollenweider, 2001; Harris et al., 2002; Brand, Dun & Niew Amerongen,2008). Diversos consumidores também alegaram ter sensação de dor ou sensibilidade nos músculos mandibulares (McGrath & Chan, 2005; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). Em casos mais graves de consumo do MDMA, para reduzir o trismo muscular e o bruxismo, os consumidores normalmente usam, palhinhas, pastilhas para mascar, ou mesmo chupetas de crianças (Doyon, 2001; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008). O bruxismo é a principal causa de lesão traumática do periodonto e de hipermobilidade dentária, os bruxómanos normalmente expõem sinais de desgaste dentário com faces polidas ou exposição da dentina, mas cerca de 40% dos bruxómanos são assintomáticos (Alöe, et al., 2003). A atrição dentária observada em vários estudos ataca predominantemente a região molar e pré-molar, especialmente no primeiro molar inferior (Redfearn, Agrawal & Mair, 1998; Milosevic et al., 1999; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008). A sensibilidade dentária, provocada pelo calor ou pelo frio pode estar presente, assim como fraturas dentárias ou em restaurações podem ser analisados em indivíduos bruxómanos (Alóe et al., 2003; Balasubramaniam et al., 2014). Estes indivíduos apresentam um maior risco de disfunção da ATM qualificada por dor articular, estalidos, crepitação e trismos com limitação dolorosa na abertura da boca. A palpação da musculatura mandibular e o exame visual em posição de intercuspidação, no diagnóstico da disfunção da ATM podem revelar dor e/ou hipertrofia muscular abaixo da curvatura zigomática (Alóe et al., 2003; Balasubramaniam et al., 2014). A conclusão de tratamento a extenso prazo mais conveniente para o controlo do bruxismo é a convenção de goteiras estabilizadoras agrupadas com estratégias cognitivo-comportamentais (relaxamento, biofeedback, instrução) e abordagens farmacológicas, as quais devem ser consideradas de forma geral (Kato et al., 2001; Pereira, 2016). 17 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA iii. Mucosa Oral Vários estudos em adolescentes, relatam lesões em vários constituintes da mucosa oral, sendo estes levados a cabo de abordarem diversos casos clínicos, em que consta numa apresentação de lesões nos tecidos moles devido ao contacto direto íntimo com a substância química (Brazier et al., 2003; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008). Estas situações conduziram a um diagnóstico clínico de, edemas gengivais, fenestrações nas tábuas ósseas na gengiva inserida, gengivite necrosante ou ulcerações, relacionada ao consumo de MDMA, também como, edemas extensos que afetam vários locais na mucosa oral. O tratamento explícito para estes efeitos foi a abordagem de um tratamento conservador, através da instrução da higiene oral, ou, em situações de edemas mais graves, aplicação medicamentosa através de corticosteroides, antibiótico e bochechos de clorexidina, eliminando o fator em causa (Brazier et al., 2003; Ahmed Ahmed, Islam& Hoffman, 2007; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). Contudo, os comprimidos de MDMA podem conter uma pureza de grau variável, incluindo aditivos relacionados com revestimentos e, casualmente compostos psicoativos, não concluindo certezas nos sintomas se relacionarem com a substância química (Ahmed, Islam, & Hoffman, 2007). iv. Sistema salivar A saliva apresenta-se como um exemplo biológico opcional em testes a drogas ilícitas, incluindo benefícios sobre as matrizes convencionais, tais como a recolha de sangue e/ou urina (Pichini et al., 2002; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). As bases fracas, como se apresenta o MDMA (pka:0,9), têm tendência a concentrar-se na saliva, pois o seu pH é geralmente mais ácido do que o pH do plasma. A vantagem mais relevante da saliva é a simplicidade na recolha da amostra e, dispositivos peculiares foram recentemente apresentados que admitem a análise da saliva no local da colheita da amostra (Pichini et al., 2002). Comercialmente os aparelhos que se encontram disponíveis apresentam-se com os nomes de MultiTest, que abrange o Cozart Rapidscan® (Abingdon) e o Avitar OralScreen® (Avitar Inc), e um dispositivo visual-teste único, a Drugwipe® (SECURETEC). Desses mecanismos todos, a Drugwipe é o exclusivo exame no local em relação à saliva em que têm sido reportados estudos clínicos (Pichini et al., 2002; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). 18 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA A colheita salivar apresenta benefícios em relação à recolha de sangue ou urina, evidentemente é recolhido com facilidade, de aplicação indolor não invasivo e sem risco de infeção (Veerman et al., 1996; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008).O pico de Cmáx (concentração máxima) do MDMA na saliva, encontra-se duas a quarto horas após o consumo (Samyn et al., 2002; Brand, Dun, & Niew Amerongen, 2008). O teste imunoquímico Drugwipe®, é executado no modo em que se emprega uma fita ou tira precisamente sobre a língua, ou, através da aplicação de saliva dentro de um tubo de ensaio e aplicar a tira em imersão a saliva coletada (Pichinni, 2002; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). Existem algumas desvantagens em relação ao teste imunoquímico, ao haver um consumo de MDMA por administração oral, vai levar a altos picos de concentração salivar que não seencontra relacionada com o estado de intoxicação grave (Morterier et al., 2002; Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). A concentração de MDMA afeta naturalmente a taxa de secreção e do pH salivar (Navarro et al., 2001), ambas são importantes para a finalização do método de colheita pretendido, proporcionando a uma estimulação salivar não adequada para a colheita (Samyn et al., 2002; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008). A deteção de MDMA através da colheita salivar concerne em ser uma boa alternativa às várias recolhas convencionais para esta finalidade, tal como a recolha de urina e sangue (Brand, Dun& Niew Amerongen, 2008). v. Cárie Rampante Segundo Amaral & Guimarães, 2012, a frequência de xerostomia aumenta o risco de cárie, erosão do esmalte e doenças periodontais que acoplados a uma negligência na higiene oral, consumos elevados de hidratos de carbono e a ocorrência de regurgitação gastrointestinal, podem levar a consequências orais (Amaral & Guimarães, 2012; Pereira, 2016). As cáries observáveis em consumidores crónicos desta anfetamina são equivalentes a cáries induzidas por outras drogas fortes ou radiação (Goodchild & Donaldson, 2007; Amaral & Guimarães, 2012). As superfícies dentárias lisas vestibulares maxilares e mandibulares de dentes posteriores, bem como as faces interproximais de dentes anteriores, são precocemente afetadas por completo todas as arcadas, observando-se cronicamente só a raiz do dente na cavidade oral (Shaner et al., 2006; Amaral & Guimarães, 2012). 19 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA A destruição dentária é alternada com períodos de rápida e lenta progressão, devido aos períodos de abstinência em que o indivíduo tem mais cuidado com a higiene oral (Goodchild & Donaldson, 2007; Amaral & Guimarães, 2012). vi. Periodontite associada à gengivite Os consumidores de substâncias ilícitas, por norma, não apresentam uma incorreta higiene oral crónica, que gera consequências como a gengivite e doença periodontal (Pereira, 2016; Amaral & Guimarães, 2012). Segundo um estudo da U.S. Department of Health and Human Services, 2000, o Dr. Satcher mencionou que uma doença periodontal crónica afetada por o comprometimento de medicamentos, é a doença inflamatória mais comum que está completamente relacionada com os sistemas de saúde e com um fator provável contribuição em doenças como, adiabetes mellitus, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias e complicações na gestação. Em situações de gengivite ulcerativa necrosante (GUN), o tratamento é realizado através de raspagem e polimento para remoção de biofilme e cálculo de acordo com a tolerância do pacienta á dor, e instrução de utilização de antissépticos orais como coadjuvante do controle mecânico, tal como a clorohexidina 0,12% duas vezes ao dia. Se ocorrer comprometimento sistémico, tenciona-se administrar antibióticos sistémicos (Pereira, 2016 cit. in Carvalho et al., 2015). A terapêutica adequada diminui os sintomas em curto tempo, mas se o processo se tornar crónico, os procedimentos de raspagem, orientação e motivação de higiene oral devem ser intensificados, visando o tratamento da gengivite (Pereira, 2016 cit. in Carvalho et al., 2015). Já outra patologia encontrada é a periodontite do adulto, como causa da progressão de gengivite, sendo esta uma inflamação e infeção dos tecidos de suporte dos dentes. Igualmente pode ser essencial cirurgia para cuidar o problema, pois bolsas periodontais muito profundas nas gengivas podem necessitar de serem limpas, e dentes com mobilidade podem carecer de suporte e tratamento. O sangramento e o aumento do volume gengival desaparecemem várias semanas após início de tratamento (Sousa, Garzon, & Sampaio, 2003;Pereira, 2016). O agente etiológico principal causal é a placa bacteriana, resultado de uma reação entre microrganismos potencialmente patogénicos e eficiência na resposta do hospedeiro. As cáries dentárias rampantes e doenças periodontais são mais prevalentes em 20 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA consumidores de drogas ilícitas do que na população em geral (Cho, Hirsch, & Johnstone, 2005; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008; Saini, Gupta & Prabhat 2013). A placa bacteriana pode levar a consequências de cáries rampantes que afetam a parte cervical de um ou mais dentes, sangramento gengival, alta incidência de doenças periodontais com depósitos de cálculo severo ou perda de inserção. A maioria dos consumidores apresenta esta alta taxa de placa de acumulação bacteriana e depósitos de cálculo decorrente da negligência da higiene oral, xerostomia ou alteração do pH oral (Malhora et al., 2010; Molendijk et al., 1996; Saini, Gupta & Prabhat 2013). vii. Outros aspectos orofaciais Consumidores de MDMA apresentam uma persistência de artromialgia na ATM, ou seja, contração involuntária dos maxilares (trismo muscular) assemelhando a indivíduos que usam outras drogas ilícitas (McGrath & Chan, 2005; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008). No mesmo estudo foi manifestado um incremento da sensibilidade dental, língua, bochechas e lábios devido às mordidas involuntárias ou encerramento dos dentes (McGrath & Chan, 2005; Brand, Dun & Niew Amerongen,2008). Metade dos consumidores de MDMA reporta uma alteração na fala, palpitações, agitação, ansiedade, tremuras, vómitos e sudação (Liesteret al., 1992; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008), apresentando-se com menor frequência, nystagmus, espasmos motores ou tremores faciais, visão alterada e midríase (5 a 10%) (Liester et al., 1992). A ocorrência de parestesias, que se adquire à volta dos lábios, parece estar relacionada com a porção de dose de MDMA consumida. A severidade das consequências orais estáinteiramente correlacionada com a dose ministrada e com a assiduidade do uso (Solowij, Hall, & Lee, 1992). 5. Gravidez e o consumo excessivo do MDMA É notório que, a maioria dos consumidores de MDMA são jovens dentro das suas fases reprodutivas, é bem plausível que haja indivíduos do género feminino com probabilidade de encontrar-se em gestação ao longo o uso da substância química tóxica, irrefletida ou propositadamente levando a uma perceção de um fármaco seguro (Lieb, 2002). A administração de MDMA durante a gravidez, alcança alta preocupação no desenvolvimento do feto, estudos comportamentais em animais e humanos descobriram 21 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA efeitos adversos amplificados e importantes, atingindo no risco de mal deformações após nascença do feto associado a fissuras, anomalias cardíacas, deformações no crescimento fetal, de memória e aprendizagem (Plessinger, 1998; Lieb, 2002). Independentemente de nos depararmos com estudos eloquentes sobre o efeito adverso da substância tóxica, distintos estudos em humanos e animais não são persuasivos ou evidentes, em geral, parece que os efeitos à exposição do MDMA na fase pré-natal 12 Porém, é imprescindível mais investigação para restringir quais os efeitos do MDMA no sistema nervoso central do feto humano, mas o facto verídico baseia-se em que uma mulher gestante não deve consumir esta substância tóxica. Alguns estudos também exibemum aumento significativo músculo-esquelético do feto na fase pré-natal quando é exposto ao MDMA (Mc Elhatton et al., 1999; Ho, Kamimi-Tabesh & Gideon, 2001; Piper & Meyer, 2006). Realizaram-se dois estudos envolvendo consumidores de MDMA, além de estes estudos não se apresentarem satisfatórios para tirar conclusões, as afinidades estruturais entre a farmacologia da anfetamina e o MDMA, alçaram a hipótese de o MDMA conseguir originar malformações idênticas. Estudos em animais descreveram poucos efeitos adversos na fase pré-natal ou no recém-nascido, mas contudo, em estudos recente de ratos demonstrou que a exposição a doses-dependentes repetidas incutia prejuízos na aprendizagem e memória (McElhatton et al., 1999). Estudos de mulheres em gestação com exposição ao MDMA ou relacionado com outros hábitos toxicológicos, expõem carência na saúde oral e geral, anomalias congénitas, prematuridades fetais, cancro, doenças cardiovasculares, diabetes, depressão ou até a supressão do sistema imune (McElhatton et al., 1999;Ho, Kamimi-Tabesh & Gideon, 2001). Ainda neste estudo, uma alta proporção de mulheres consumidoras de MDMA expuseram uma preocupação psicológica incluindo, depressão, ansiedade, insónias e fobia social, agrupando outros fatores de risco a longo prazo para o feto (Ho, KamimiTabesh & Gideon, 2001). Autonomamente da administração de drogas de abuso fortes ou os sintomas clínicos referidos é muito árduo antecipar as implicações anestésicas, tanto a local como a regional ou geral, nos consumidores ou a gestantes. Em situações de traumas, pode obrigara procedimentos cirúrgicos maxilofaciais de emergência em mulheres grávidas que consomem diariamente substâncias químicas, na qual a administração de 22 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA anestésicos em geral, deve de ser categórica e preponderante devido a efeitos graves para a saúde tanto da mãe como do feto (Saini, Gupta& Prabhat, 2013). 6. Tratamento abordado na clínica dentária associada à Saúde Oral A importância de um tratamento, como padrão em cuidados orais, torna-se evidente quando há combinação de dois factores (MSN, 2005): a. A necessidade da manutenção da saúde oral para o beneficio da saúde em geral (U.S. Department of Health and Human Services, 2000), e; b. O impacto negativo da substância química sobre a saúde oral (Saini, Gupta& Prabhat, 2013). O consumo de ecstasy incomoda e obstaculiza o tratamento dentário em várias circunstâncias, um deles é a pequena interação com inibidores de monoaminaoxidase e antidepressivos tricíclicos, que podem ser prescritos em tratamentos de dor na ATM (Duxbury, 1993; Brazier, 2003; Brand, Dun, & Niew Amerongen, 2008). O Médico Dentista deve constatar ou reconhecer que está a efetuar um procedimento a um paciente que consumiu MDMA, o técnico de saúde deve se apresentar cauteloso na administração de anestésico local que contenha epinefrina, pois o MDMA incute um aumento da pressão sanguínea ao qual pode ser potenciado pelo presente vasoconstritor ou stress pré-tratamento (Goodchild, & Donaldson, 2007). Porém, um problema é que os pacientes são capazes de não mencionar o consumo de MDMA, é essencial aplicar uma história clínica sem através de um valor de juízo unânime nas questões em relação ao uso MDMA (Birnbach, 2003; Brand, Dun & Niew Amerongen, 2008). Em acréscimo, os toxicodependentes em geral, aplicam uma baixa prioridade sobre a saúde oral (Charnock et al., 2004), o que apresenta uma escassa demanda para o cuidado dental não emergencial e de serviços clínicos dentários (Sheridan, Aggleton & Carson, 2001; Robinson, Acquah, & Gibson,2005). A carência de políticas adaptadas na melhora do acesso a serviços de saúde oral (Metsch et al., 2002; Shekarchizadeh et al., 2013), e a falta de colaboração na prestação dos serviços a toxicodependentes entre os serviços da saúde oral em geral, transferem elevados obstáculos para a eficiência na intervenção (Sheridan, Aggleton & Carson, 2001). 23 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA Um notável diagnóstico precoce clínico em toxicodependentes é sempre fundamental para alcançar qualidade e prevenção após prognóstico e tratamento final, este, consta numa boa avaliação objetiva e subjectiva (Shekarchizadeh et al., 2013). O exame subjetivo compreende numa boa anamnese através de questionários e inquéritos que abordam a identificação e queixa principal, história da doença atual, história clínica dentária, história médica, antecedentes familiares e hábitos de risco, com o objetivo no controlo de qualidade de vida e eliminação de hábitos de risco (Shekarchizadeh et al., 2013). O exame objetivo, abrange um bom diagnóstico clínico e visual, que serve para reconhecer padrões particulares de condições orais relacionadas com os hábitos tóxicos, definido através de índices dentários adaptados com visa a investigar a saúde oral dos consumidores nomeando cumprimentos de protocolos de tratamento dos hábitos tóxicos na sua condição oral (Shekarchizadeh et al., 2013). A avaliação visual, no exame extra-oral, consegue determinar, se há presença de placa bacteriana, a falta ou perda de dentes (Morio et al., 2008), origem da dor ,se esta existir, edemas, tumefacções ou adenopatias cervicais ou submandibulares, bem como a visualização, inspecção e palpação dos tecidos moles peri-orais. No exame intra-oral, é fundamental considerar também a inspeção e palpação dos tecidos moles observando a coloração, inflamação, ulceração, formação de fístulas, bem como a observação dos tecidos duros através de instrumentos, exames complementares, e testes de diagnóstico (sensibilidade e vitalidade pulpar, precursão, mobilidade). O Médico Dentista, ao fazer o exame intra-oral, deve saber reconhecer as características clínicas de uma alteração nos tecidos moles. A sequência da descrição de uma alteração começa a partir da sua localização, do tipo de lesão (mácula, pápula, nódulo, vesícula, bolha, úlcera, erosão), considerando também o tamanho, forma, cor e temperatura, dor e dor à palpação, consistência e margens das lesões estabelecidas. As intervenções a cuidados de saúde oral em indivíduos dependentes de substâncias tóxicas, envolve nomeadamente instrução e motivação da higiene oral, providência de complicações orais e controlo da ansiedade e dor, sugerindo que o paciente acompanhe as máximas consultas possíveis, se for possível até à fase de manutenção e controlo (Shekarchizadeh et al., 2013). Certas particularidades conseguem ajudar o Médico Dentista a identificar pacientes acometidos a dependências lícitas ou ilícitas, tais como: lesões endurecidas, ulceradas, hiperpigmentadas ou não-cicatrizantes nos membros periféricos, abcessos, celulite, 24 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA infecções na pele e aparência envelhecida e subnutrida, assim como hiperatividade ou irritabilidade (Saini, Gupta & Prabhat 2013, Amaral & Guimarães, 2012). Segundo Mehta & Langford, 2006, a recetividade aumentada à dor associada aos receptores de hipersensibilidade, pode estar a ser gerada ou criada pela substância de abuso. A dor, ao ser tratada deve seguir o protocolo da dor e incutir ao mais curto de tempo possível. Se o Médico Dentista prescrever um medicamento para a dor, os pacientes com dependência devem seguir restritamente as directivas do médico (Salinas, Wilde & Maldve, 2006). O tratamento da xerostomia consiste na eliminação das suas causas, desde que seja possível, e o uso de substâncias que confiram ao paciente conforto e alivio dos sintomas, que apenas podem ser controlados. Segundo Miranda-Rius et al., 2015, existem diversos tratamentos para xerostomia, tais como: fármacos sialogogas, agentes imunológicos e protectores das glândulas salivares, medicação tópica, como substitutos salivares, estimulantes mecânicos/gustatórios salivares que atuam no local, lubrificantes e protectores, regeneração glandular e procedimentos cirúrgicos ou por fim, medicina alternativa e complementar (ervas medicinais ou acupunctura), identicamente foram citados como meio de tratamento da xerostomia (Miranda-Rius et al., 2015; Paterson et al., 2015¸Pereira, 2016). Conforme Paterson et al., 2015 refere, os estimulantes e os substitutos da saliva amenizam meramente, sem modificar o fluxo salivar. Já os agentes sistémicos além de atenuar a xerostomia, restringem também os problemas orais agrupados à hipofunção das glândulas salivares, através do aumento do fluxo salivar (Paterson et al., 2015; Pereira, 2016). Os fármacos sialogogos, são substâncias concebidas para estimular a secreção salivar, produzindo um efeito na circulação sistémica. São substâncias que atuam em vários grupos de receptores dependentes da causa. A pilocarpina usada para tratamentos de ressecamento de boca, pele e olhos, sendo também eficiente em pacientes que foram submetidos a radiação ou transplante de medula óssea (Fox, et al., 1986;Valdez, et al., 1993; Miranda-Rius et al.,2015). A sua concentração de dose varia entre 5 a 10mg/kg, a sua toma é 1hora antes das refeições, 3 vezes por dia. O hidrocoleto de cevimelina, é outro sialogogo, aprovado pela Food and Drug Administration – USA, em que a dose recomendada é de 30 mg, 3 vezes por dia, via 25 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA oral. Serve mais para atuar nas glândulas salivares e lacrimais e inclui menos efeitos adversos severos (Fife, et al., 2002;Miranda-Rius et al.,2015). O uso de medicação tópica para a xerostomia, inclui pastas de dentes, colutórios, gel hidratante, pastilhas de mascar, ou comprimidos para estimulação do fluxo salivar. É usado como tratamento paliativo, para pacientes com disfunção do parênquima glandular, ou quando outro medicamento sialogogo produz alergia ou é inadequado (Miranda-Rius et al.,2015). No tratamento da xerostomia, os substitutos salivares ou saliva artificial, compostos por carboximetilcelulose e hidroximetilcelulose, não são muito concretos, pois não se preservam na cavidade oral o tempo necessário (Hamamoto & Rhodus, 2009; Amaral & Guimarães, 2012), mastigar pastilha elástica sem açúcar que inclua xilitol poderá ser usada pelo menos 3 vezes por dia durante 20 minutos, o xilitol vai minorar o progresso de cárie, resistir à fermentação de bactérias, restringir a formação de placa bacteriana e ampliar o fluxo salivar (Hamamoto & Rhodus, 2009; Saini et al., 2005; Amaral & Guimarães, 2012). O tratamento paliativo da xerostomia baseia-se em minimizar os sintomas e prevenção de complicações orais (Miranda-Rius et al., 2015). Ou seja: eliminação de possíveis fatores em causa, tal como antissépticos orais com álcool, consumo de sacarose e os hábitos tóxicos como o tabaco e o álcool; tratamento preventivo para várias complicações, se a xerostomia persistir como uma consequência de um tratamento farmacológico (Sreebny & Schwartz, 1986; Miranda-Rius et al., 2015); deve-se considerar tratamento de medicação alternativa com a atuação de diferentes mecanismos de acção; a redução da dosagem prescrita, em alguns casos, aumenta o fluido salivar; há uma variedade frequente de substâncias farmacológicas e estratégias clínicas administradas para este género de pacientes: drogas sialogogas, que estimulam o aumento de fluxo de secreção salivar, agentes imunilógicos, medicação tópica e/ou medicina complementar alternativa (Bültzingslöwen et al., 2007; MirandaRius et al., 2015). A administração de substâncias por via parentérica, torna-se não usual com o MDMA, mas, nestes casos raros, a resposta a um anestésico consegue ser reduzida (Friedlander 26 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA & Mils, 1985), implicando o uso de maiores quantidades de anestesia (sem vasoconstritor) para a dor dentária (Rees, 1992). As anestesias gerais devem de ser evitadas e as anestesias locais que apresentam dosagem de epinefrina devem ser usadas com precaução para prevenir o aprimoramento dos efeitos simpatomiméticos da substância. Uma especial preocupação, evita efeitos no sistema cardiovascular, como crises de taquicardia ou cardiopatia isquémica (Rees, 1992). Em relação ao tratamento e diagnóstico do bruxismo, este, pode ser diagnosticado clinicamente quando houver sinais de desgaste dentário anormal, ruídos de ranger de dentes e desconforto muscular mandibular, através da anamnese, exame orofacial e avaliação dentária (Lavigne, Rompre &. Montplaisir, 1996; Thorpy, 2012). Não existe presentemente uma estratégia concreta para o tratamento do bruxismo, inclui-se o tratamento comportamental da ansiedade e stress, tratamento clínico dentário, farmacológico, e as suas combinações, de acordo com o perfil do paciente para alivio de sintomas. O tratamento primário é baseado nos mecanismos fisiopatológicos subjacentes da doença, enquanto o secundário, é dirigido à causa específica (Thorpy, 2012). Para o tratamento dentário em bruxómaros é recomendável, o ajuste oclusal, restauro das superfícies dentárias com colocação de coroas, pontes, etc., correcção ortodôntica e o uso imperativo de dispositivos intra-orais (goteiras). As goteiras podem ser rígidas ou flexíveis e têm como objectivo o alívio da dor e a prevenção de lesões nas estruturas orofaciais e na disfunção da ATM (Bader & Lavigne, 2000). O protetor oral flexível é recomendado para uso de pouco tempo, devido à rápida degradação do material, enquanto o protetor rígido de estabilização é mais indicado para uso de longo prazo (Bader & Lavigne, 2000). É de destacar os cuidados e obrigações de primeiro nível, tal como habilitar dentistas e profissionais de saúde em circunstâncias de reabilitação a toxicodependentes, para facultar educação e prevenção apresentando materiais educacionais (folhetos, cartazes, brochuras) para aprecauçãode situações complicadas e cuidados orais. Em relação aos cuidados a segundo nível: a. Os serviços de saúde necessitam de ser instituídos em centros de reabilitação de dependência para convalescer o acesso ao tratamento dentário; b. A aptidão concedida pelo Médico Dentista em relação à precisão de tratamentos adequados em toxicodependentes deve conter: 27 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA Um correcto diagnóstico e tratamento clínico de situações orais em toxicodependentes; Gestão de perturbações sistémicas mencionadas aos hábitos durante os tratamentos dentários; Motivação do paciente, com abordagem de atitudespositiva; Controlo de infecção cruzada de transmissão por doenças sistémicas. (Shekarchizadeh et al., 2013). O profissional de saúde têm de estar habilitado para aconselhar e encaminhar o paciente para outros profissionais que o assistam no abandono do consumo, a mudar e a melhorar os hábitos nutricionais, assim como a promover hábitos de vida saudáveis (Saini, Gupta & Prabhat 2013; Amaral & Guimarães, 2012). O consumo de drogas não é, por si só reflectido no aparecimento de consequências dentárias, do mesmo modo que o ambiente social, comportamentos e efeitos secundários ao consumo de drogas são factores envolvidos no processo de início de manifestações orais (Amaral & Guimarães, 2012). Relativamente à situação dentária, deve-se instruir a estes consumidores frequentemente uma higiene oral cuidada, com pasta dentífricas fluoretada, pouco abrasiva. É de preferência, as pastas com fluoreto de sódio, em vez de fluoreto de estanho, pois este pode provocar um sabor metálico ou sensação de queimadura, assim como coloração dentária (Shaner et al., 2006; Amaral & Guimarães, 2012). O consumo do MDMA segue o padrão de muitas outras substâncias de abuso, e, mesmo não sendo uma droga nova, a grande maioria de profissionais de saúde desconhece seus efeitos ou complicações decorrentes do uso (Xavier et al., 2008). Por fim e em argumento geral, a pesquisa ao atendimento clínico dentário é na maior parte das vezes omitida ou negligenciado. Para providência de problemas futuros físicos ou psicológicos em latentes ou crianças, é de primazia evitar ou excluir por completo a (as) substância (as) tóxica (as) (Saini, Gupta & Prabhat, 2013). 28 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA III. Conclusão Perante a revisão de literatura realizada, conclui-se que a dependência de substâncias tóxicas apresenta consequências graves na saúde oral, em consumidores de qualquer grupo etário e que varia com o tipo de substâncias. É de referenciar, a conclusão de vários estudos em mulheres gestantes, em que o efeito ou o consumo permanente do MDMA traz malformações e anomalias congénitas ao feto, em qualquer trimestre de gestação, incluindo ou não outras substâncias tóxicas como hábitos. Diante as complicações associadas ao uso de MDMA, é fundamental a implantação de um tratamento de emergência, abordado por vários profissionais de saúde, com medidas de suporte e tratamento médico para cada uma das situações. É fundamental que os profissionais de saúde conheçam os efeitos e sintomas das complicações associadas ao uso de MDMA, para um correcto diagnóstico e prognóstico, no entanto, são necessários mais estudos sobre a fisiopatologia e farmacologia dos efeitos agudos tóxicos do MDMA, principalmente na acção do mecanismo de neurotoxicidade e no tratamento em casos de intoxicação. É claro que vários sistemas neuroendócrinos podem ser afectados e que, a variedade dos efeitos colaterais pode depender de uma variedade de factores múltiplos, ambos ambientais e farmacogenéticos, inclusive o dano permanente na via neurológica serotoninérgica. Atua completamente no SNC, aumentando os níveis de serotonina, dopamina e noradrenalina em neurónios pré-sinápticos e bloqueia a degradação desses neurotransmissores que seriam metabolizados pela enzima monoamina oxidase. O aumento de síntese de dopamina ativa os recetores dependentes de dopamina que esta interligado a recetores de emoção e prazer no cérebro. Os efeitos adversos podem ser classificados de acordo com a quantidade de dose tomada ou de acordo com o mecanismo de acção e dos sistemas afectados. Em vários estudos é reportado os comportamentos dos consumidores como fator de risco, englobando problemas na saúde oral, estes factores podem ser considerados primários, caso sejam efeitos diretos das substâncias, ou secundários provenientes dos efeitos diretos, como a euforia ou estados psicológicos que podem variar consoante a concentração de dose tomada ou de acordo com o mecanismo de acção e dos sistemas afectados. 29 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA O escasso cuidado sobre a higiene oral e os seus hábitos alimentares à base de açúcares envolvendo a má nutrição, são as questões mais preocupantes que devem de ser modificadas através de medidas cautelosas. Estes comportamentos provocam manifestações orais, ou efeitos directamente relacionados com a ação da droga ilícita no organismo, como a xerostomia e o bruxismo, que provocam desgaste dentário, dores na ATM, sensibilidade dentária, cáries e acumulo de placa bacteriana. Pondera-se que o MDMA possua efeitos nocivos a nível do SNC. Os profissionais de saúde devem fortalecer o conhecimento científico e empírico para, a presença de conformidade na toma de decisão critica, preponderante e intuitiva, bem como, uma prestação de cuidados de saúde que aumenta a qualidade de vida e contribui para uma intervenção adequada em contexto geral. Não obstante das suas restrições, admite-se que este trabalho viabiliza através da reflexão a que impôs, um melhor conhecimento da dependência tóxica na prática clínica, consistindo num amparo para a formação pessoal e profissional e, também um desafio enriquecedor para um bom desempenho futuro por parte do profissional de saúde. É importante de aludir os riscos entre o Médico Dentista e o paciente, comumente muitos pacientes deste reportório, não consomem devidamente e só uma substância ilícita, indivíduos dependentes de drogas trazem manifestações sistémicas devido a contaminações por objectos (injecções) ou pessoas (DST, Herpes, Hepatite B) (Carter, 1978). O profissional de saúde deve-se precaver antes de qualquer procedimento dentário, através da profilaxia bacteriana. A elevada incidência de hepatite B tem sido considerada como um risco grave, e se esta em conjunto com historia antecedente clínica de icterícia, também se deve proceder a uma profilaxia à endocardite bacteriana (Carter, 1978). 30 Manifestações Orais relacionadas com a droga de abuso MDMA IV. Referências Bibliográficas 1. Advokat, C., (2007). Update on amphetamine neurotoxicity and its relevance to the treatment of ADHD, Journal Attention Disorder, vol.10 (MAIO), pp.1-9. 2. Ahmed, M., S. Islam, & Hoffman G. R. (2007). 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