Estranhas amizades

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Correio Braziliense/DF, 01 de novembro de 2009
Colunas e editoriais
Estranhas amizades
OPINIÃO
Maurício Corrêa
dias em que seu povo poderá se libertar dos grilhões
da atonia.
Advogado
Situa-se o Brasil numa boa quadra de sua história. O
desempenho da economia se mostra em sensível progresso. Tanto que tem até recebido elogios da crítica
internacional. Se o deficit social é ainda grande, não
se pode negar que, mesmo com modestos avanços, se
apresenta com feição melhorada. É evidente que a
atuação está distante do nível desejado, mas já dá sinais de evolução. Alguns fatores se reúnem na constatação do fenômeno. Entre eles está a existência de
embaraços no sistema legal, inclusive, em alguns aspectos, na própria Constituição de 1988. Tais
obstáculos começaram a ser afastados a partir do governo Itamar Franco e ganharam substância no de
Fernando Henrique Cardoso. Graças à absorção dessas políticas pelo atual governo e, felizmente,
sustentadas, o Brasil adquiriu contextura física que
já lhe assegura a colheita de frutos.
Se hoje o setor do agronegócio produz para o país divisas nada desprezíveis, tudo indica que em futuro
próximo muitas outras lhes serão acrescidas. Não é só
nessa atividade econômica que há sinais de crescimento. O comércio exterior se fortalece não só com
as exportações de grãos, de suco de laranja, de carne e
de minério de ferro, mas com uma gama de itens manufaturados. Não é sem razão que o país já possui algumas empresas multinacionais que se projetam no
mercado internacional. As descobertas em águas do
litoral brasileiro de farta província petrolífera dimensionam o quadro favorável da economia. Descobertas que vão proporcionar à nação condições de
ingresso no privilegiado grupo dos países exportadores de petróleo. As divisas que advirão dessa
nova fonte são inesgotáveis. A reviravolta que se opera na vida econômica brasileira prenuncia, sem
ufanismos desmedidos, que o Brasil começa a pôr os
pés no acelerador do crescimento. São próximos os
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Coincidentemente, as promissoras perspectivas do
futuro brasileiro se abrem no presente governo. O
melhor programa da plataforma da campanha eleitoral de seu chefe nunca esteve escrito em panfletos,
diretrizes e discursos preestabelecidos. Mas, sim, na
circunstância de admitir que o melhor a fazer seria
não fazer o que prometera fazer. O maior descortino
está em ter deixado que o país prosseguisse com o
programa econômico encontrado e destinado à arrumação da casa. Teve juízo suficiente de consentir
que o país caminhasse e não interrompesse a trajetória
dos programas instituídos para saneamento da economia. Teve a sorte de sair ileso do maior escândalo
do governo, o mensalão, embora um dos principais
protagonistas dos acontecimentos. Passou por toda a
tempestade sem nem sequer se submeter a qualquer
processo por crime de responsabilidade, ainda que
por omissão. De lá para cá, tudo que se diz do presidente não é verdade, porque nada contra ele pega,
ainda mais que Comissões Parlamentares de Inquérito ( CPIs) por desmandos morrem prematuras
no nascedouro.
As características pessoais do presidente, suas origens, modo de agir, falar, encaminhar ideias, sustentar posições, tudo faz dele personagem de singular
comportamento. As constantes viagens promovidas
ao redor do mundo acabaram levando com ele a imagem do Brasil. Adquiriu até um jato novinho em folha, despendendo milhões de reais do povo, para a
consecução do prazer de conhecer o mundo. Cercado
da imunidade fiscalizadora de que goza, até mesmo a
embaixada brasileira em Honduras serve de hospedagem ao presidente Zelaya, após tentativa de frustrado golpe à Constituição. As despesas com o
hóspede e sua comitiva, os incômodos gerados e a barafunda diplomática causada, certamente ficarão por
isso mesmo.
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Correio Braziliense/DF, 01 de novembro de 2009
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Continuação: Estranhas amizades
O Brasil precisa manter boas relações comerciais
com todos os países do planeta. Notadamente, com
os vizinhos sul-americanos, entre os quais a Venezuela. O estranho é o exagerado acumpliciamento
moral com Hugo Chávez, cuja conduta como dirigente maior do país tem se notabilizado pela perseguição a adversários políticos, aos meios de
comunicação e à iniciativa privada, que lá se vê paulatinamente ameaçada. No grupo bolivariano de
Chávez já se acham alinhados a Bolívia e o Equador,
e, na América Central, a Nicarágua. Como o figurino
ideológico dos presidentes dos países preconiza, ao
fim e ao cabo, governos totalitários, basta à hipótese
o exemplo da história de que resultou a Segunda
Guerra Mundial.
dou do tom socializante no fim da última campanha
eleitoral, guardando, porém, mesmo que, moderadamente, a índole originária. O Brasil não pode
correr riscos com a malícia alheia. Ainda que se trate
de amizade pessoal a Chávez, o que, em princípio,
ninguém tem nada a ver, acaba por envolver implicitamente o próprio país. Aí está o mal que a ambígua parceria pode trazer a um mandatário que tem
compromissos com a democracia.
Não se sabe se o presidente nutre opção por alguma
ideologia política. As atividades de líder sindicalista
nos arredores de São Paulo indicavam que sim. Mu-
( Opinião/ 21)
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Se, antes, já havia conquistado status de isenção por
ilícitos perpetrados, não se sabe até onde pode chegar
agora com as perspectivas concretas do crescimento
nacional. Crescimento que se deve a muitos, menos a
Chávez e seus comparsas.
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