42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 1 CORRELAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE URINA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O DIAGNÓSTICO DE INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO EM CÃES. CORRELATION BETWEEN METHODS OF URINE DIAGNOSIS AND IT IS IMPORTANCE TO THE DIAGNOSIS TO DOG URINARY INFECTIONS. PRISCILA PEREIRA¹, WELLINGTON AUGUSTO SINHORINI¹, LUCIANA WOLFRAN², AMANADA VOLTARELLI GOMES², ALEXANDRE LESEUR DOS SANTOS⁴ ,MÔNICA KANASHIRO OYAFUSO⁴ . 1 Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal do Paraná – Setor Palotina 2 Aluna de graduação de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná – Setor Palotina 3 Medico Veterinário do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná – Setor Palotina 4 Professor da Universidade Federal do Paraná – Setor Palotina RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo correlacionar os resultados de exames de urina e urocultura no diagnóstico de infecção do trato urinário (ITU). Foram utilizados 52 amostras de urina de cães, em um intervalo de 12 meses. Observou-se uma correlação significativa moderada entre a quantificação de bacteriúria com o crescimento na urocultura. Não houve correlação significativa com a densidade e a presença de bactéria nos diagnósticos. PALAVRAS CHAVES: Urinálise, Urocultura, ITU, Bacteriúria ABSTRACT: The objective of this study was to correlate the urine test results and urine culture in the diagnosis of urinary tract infection (UTI). Urine samples of 52 dogs were used, within a 12-month period. A considered correlation between quantification of bacteriuria and the bacteria growth in urine culture was observed. There was no significant correlation with the specific gravity and the presence of bacteria in the diagnosis. 1524 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 2 KEY WORDS: Urinalysis, Urine Culture, UTI, Bacteriuria INTRODUÇÃO: As infecções do trato urinário (ITU) causadas por bactérias, são causas comuns de doenças em animais de estimação, sendo frequentes em cães (BARSANTI, 2006). Geralmente são causadas por bactérias provenientes da microbiota intestinal, que ascendem pelo trato urinário inferior (Johnson et al. 2003). Eventualmente, fungos e leveduras também podem causar ITUs (BRITO et al., 2009). O diagnóstico de ITU pode ser feito pela associação dos sinais clínicos e da urinálise (GRATORIA et al., 2006). Os sinais clinicos mais comum são: disúria, polaquiúria, estrangúria, hematúria e incontinência urinária. Achados no sedimento como piúria, bacteriúria e hematúria são indicativos de ITU. A identificação de bactérias na urina, apesar de ser sugestiva, não é sinônimo de infecção, sendo a urocultura necessária para o diagnóstico definitivo (OSBORNE, 1999). A interpretação dos exames deve ser feita sempre considerando o método de coleta (FEITOSA, 2008). A cistocentese é o método de escolha, pois fornece amostras livres de contaminantes vaginais e prepuciais (LITTMAN, 2011). Além da esterilidade do material, a avaliação da amostra é fundamental para um diagnostico fidedigno. Algumas alterações podem levar a uma falsa interpretação, e consequentemente um laudo final incorreto e falha no diagnóstico (HENRY, 2008). Por exemplo, nas infecções urinárias, a presença de bactérias é maior, podendo ocorrer formação de massas alongadas que se assemelham a cilindros (GARCIA-NAVARRO, 1996). A urina normal frequentemente possui características bacteriostática e, algumas vezes, bactericida, dependendo da sua composição. As altas concentrações de substâncias como a ureia, os 1525 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 3 ácidos orgânicos, carboidratos de baixo peso molecular e as mucoproteínas previnem as infecções bacterianas. Variações de pH (ácido) e de densidade específica (urina concentrada) possuem efeito inibidor do crescimento bacteriano (BARSANTI, 2006). O presente trabalho buscou correlacionar o resultado da urinálise, levando em consideração a bacteriúria e a densidade urinária com o efetivo crescimento de colônias na urocultura, com o objetivo de avaliar a real presença de ITU em pacientes com bacteriúria. MATERIAL E MÉTODOS: Foi realizada análise retrospectiva do exame de urina e urocultura de 52 cães, fêmeas e machos, em um intervalo de 12 meses. Todas as amostras foram obtidas por cistocentese. Na urinálise foi realizada avaliação microscopica do sedimento urinário, obtendo-se a contagem de bactérias por método semi quantitativo. A densidade foi determinada por refratometria, considerando isostenúria (1,015-1,045), hipostenúria (< 1,015) e hiperestenúria (> 1,045). A Urocultura baseou-se na avaliação qualitativa da urina, com objetivo de isolar e identificar bactérias presentes na amostra. Para análise estatística foi utilizado o procedimento de correlação generalizada através do modelo GENMOD – SAS software e análise descritiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Utilizando correlações entre densidade urinária com a urocultura ou com presença de bacteriúria, não houve significância, demonstrando valores negativos (-0.31). Bailiff et al., (2006) relatou a falta de associação entre diminuição da densidade urinária e resultado positivo de cultura de urina, porém uma correlação positiva entre os achados sedimentoscópicos (piúria, bacteriúria e hematúria) e cultura de urina positiva. De forma semelhante, no presente trabalho, foi identificado uma correlação significativa moderada (53%) entre a quantificação da bacteriúria e a urocultura, mostrando que 1526 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 4 quanto maior a presença de bacteriúria, maior as chances de crescimento na cultura. A maioria das amostras, 86,5%, apresentou bactérias no sedimento analisado, e 46% tiveram crescimento de colônias na urocultura, porém somente 44,2% das amostras foram positivas em ambos os resultados, concordando com Osborne (1999) que afirma que outras estruturas podem ser confundidas com bactérias, indicando portanto, a necessidade da urocultura para confirmação da ITU. Já Vasconcelos (2012), relatou uma relação significativa entre a presença de sedimento na urinálise e a confirmação de ITU. Além disso, os resultados de 28 amostras, foram negativos na urocultura sendo que destes, 22 (78,57%) foram positivos na urinálise, porcentagem superior a encontrada por Carvalho (2014), que obteve 12 amostras sem crescimento microbiológico, e destas 6 (50%) apresentaram urinálise compatível com ITU. Ainda devemos levar em consideração que bactérias possuem fatores que prejudicam seu desenvolvimento, como nutrição (meio de cultivo), fatores genéticos (fator de multiplicação), fatores físicos (tipo de células ou meio de cultivo), fatores químicos (utilização de antibióticos, antissépticos) e fatores ambientais (temperatura e concentração de íons hidrogênio) (QUINN et al., 2005), resultando em falsos-negativos. CONCLUSÃO: A utilização dos dois métodos laboratoriais demostraram-se válidas para o diagnóstico de ITU em cães. Na amostra avaliada, a densidade urinária não interferiu nos diagnósticos laboratoriais. A correlação significativa moderada entre o exame de urina e a urocultura (53%) indica que apenas o exame de urina não é suficiente para confirmar a ITU. REFERÊNCIAS: 1527 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 5 BARSANTI J.A. Genitourinary infections. 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Tese de mestrado. 2012. 1528 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 6 1529