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VI Seminário Latino Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
O RELEVO DO SITIO URBANO DE CORUMBÁ
Sergio Wilton Gomes ISQUIERDO1
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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; E-mail: [email protected]
Introdução
A cidade de Corumbá está localizada à oeste do território brasileiro, na região
fronteiriça entre Brasil, Bolívia e Paraguai (19° S 57° 30’ W) às margens do rio Paraguai.
De acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística, no ano de
2000, o município contava com uma população de 95.701 habitantes. O município de
Corumbá possui uma superfície de 64.964,9 quilômetros quadrados, a maior do estado
de Mato Grosso do Sul, sendo que a maior porção corresponde às áreas inundáveis do
pantanal.
Na escala regional, o relevo do município pode ser dividido em duas grandes
unidades geomorfológicas bastante distintas, uma é representada pelas planícies de
inundação do Pantanal (predominante) e a outra pelos relevos residuais.
Estes relevos residuais constituem-se de dois grandes blocos de montanhas
(Urucum e Amolar) rodeados por um conjunto de relevos calcários, onde os processos
erosivos deram origem a um pediplano constituído por extensas superfícies aplainadas
sobre a qual se elevam alguns morros testemunhos, “inselbergues”, denotando a
existência no passado de zonas mais elevadas.
A cidade de Corumbá está sobre este pediplano, onde suas superfícies aplainadas
encontram-se recobertas por uma camada não muito espessa de sedimentos recentes,
denominada Formação Xaraiés, cuja tonalidade clara fez com que Corumbá ficasse
conhecida como Cidade Branca.
Este pediplano também apresenta em seu relevo marcas de uma atividade
tectônica intensa, fato importante na composição do sitio urbano de Corumbá e de sua
compartimentação.
A faixa norte da cidade é marcada por uma linha de falha, que pode ser notada nas
escarpas que acompanham a orla do rio Paraguai. O rio também acompanha esta
estrutura e faz uma curva de 90° bem em frente da cidade mudando seu curso de
note-sul para oeste-leste, acompanhando a linha de falha que coloca lado a lado a
planície de inundação e os relevos residuais. Quem chega por via fluvial a Corumbá
avista a cidade construída sobre os relevos calcários que se sobressaem junto à
planície.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
O rio Paraguai e os terrenos sujeitos à inundação (pantanal), existentes ao norte da
cidade, representam uma barreira natural ao crescimento da cidade nesta direção, por
este motivo a urbanização se deu para o sul em direção às morrarias calcárias.
O relevo do sitio urbano de Corumbá
Para melhor entendermos o relevo, sobre o qual se assenta a cidade de Corumbá,
procuramos identificar unidades de relevo delineados a partir das observações de
campo, da interpretação de imagens e das descrições na literatura sobre os elementos
morfológicos e morfogenéticos do relevo regional. Estas unidades representam
diferentes ambientes que se correlacionam de maneira sistêmica passando pelo
regional até o nível das formas mais particulares das trocas de matéria e energia. O
reconhecimento destas unidades de relevo pode dar subsídios à reorganização da área
urbana e servir de base para outros estudos como os de solos, hidrografia e vegetação.
Figura 1 – Escarpa no bairro Arthur Marinho; Isquierdo, S. W. G. - 2009
Segundo a escala de abordagem adotada foi possível a identificação de cinco
diferentes compartimentos topográficos no sitio urbano de Corumbá: 1- Terraços
fluviais, 2- Terraços estruturais, 3- Escarpas, 4- Superfície aplainada, 5- Inselbergues
(Morros testemunhos). (figura 2)
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Imagens Google Earth
Detalhe 1-
Detahe 2-
figura 2 – Unidades geomorfológicas do sitio urbano de Corumbá com detalhes da
ocupação da escarpa
Os “Terraços Fluviais” constituem-se de depósitos de sedimentos recentes,
formados por areia grossa a fina e por silte, que no sitio urbano ocorrem nas margens
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
do rio Paraguai e do Canal do Tamengo. Apresentam-se distribuídos de maneira
irregular entre a margem fluvial e os terraços estruturais da escarpa.
Os “terraços estruturais” formaram-se a partir de processos erosivos que
provocaram o recuo da escarpa, colocando-se em um nível topográfico logo acima da
planície, como por exemplo, o Porto Geral e suas áreas contíguas que margeiam o rio
formando uma estreita faixa de terras cujas cotas oscilam em torno dos 100 metros
acima do nível do mar. Em algumas áreas a extração de calcário para a fabricação de
cimento recuou a escarpa em dezenas de metros formando outro tipo de terraço de
ação antrópica, tendo como exemplo o Porto Limoeiro no bairro Universitário.
A “Escarpa” que ocorre na zona urbana de Corumbá se formou a partir da ruptura,
fratura e deslocamento relativo de dois blocos contíguos do pacote sedimentar do
grupo Corumbá. A presença deste relevo pode ser observada através das ladeiras que
unem a cidade com a zona ribeirinha, como exemplos, a Ladeira Cunha e Cruz e
Ladeira Dona Emília, representada pelos paredões, encostas íngremes e vales
profundos esculturados nas rochas carbonatadas das formações Bocaina e Tamengo.
Esta unidade estende-se ao norte da cidade e compreende relevos com alto grau de
declividade situado entre a superfície aplainada e os terraços estruturais.
Podem ser observados na escarpa evidências de falhas e fraturas de origem
tectônica em suas rochas, tratando-se de uma área rica em calcários acamados e
intercalados com folhelhos carbonosos e fragmentos de argila. Em diversos pontos
ocorrem afloramentos das rochas calcárias do grupo Corumbá, tanto os pertencentes à
Formação Bocaina como Tamengo, que remontam a era pré-cambriana. A área é
cortada por inúmeros vales oriundos de paleo-drenagens que podem ser reativados
durante as precipitações de maior intensidade, acarretando fortes enxurradas.
Os cursos de água que cortam a escarpa o fazem perpendicularmente, entalhando
pronunciados talvegues que se aprofundam rapidamente buscando vencer o desnível
entre a superfície aplainada e a planície. Diversas ruas da cidade de Corumbá são
interrompidas nos trechos onde encontram estes vales, como podem ser observadas
em diversos pontos da cidade, onde a população denomina de “buracões”, como os da
Rua Treze de Junho e os da Avenida General Rondon.
Encontram-se em alguns pontos afloramentos de rochas calcárias, chegando
algumas vertentes a apresentar uma inclinação de mais de 40° com amplitude das
encostas superior a 50 metros. Percebe-se que o padrão dessas encostas está
constituída por folhelhos muitos friáveis (fragmentados com argila) , alem da presença
de dobramentos causados pelo peso do material na parte superior onde está
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localizado o bairro Arthur Marinho e Centro. Nessas áreas os paredões chegam a
apresentar uma inclinação de aproximadamente 80°, com perfil retilíneo e amplitude
de aproximadamente 60 metros.
A “Superfície Aplainada” no sitio urbano apresenta cotas altimétricas que variam
entre 100 e 200 metros, com uma declividade média em torno de 3° no trecho
compreendido entre a sua borda e os bairros meridionais, onde se encontram as
maiores altitudes.
Este relevo se formou sobre as rochas carbonatadas das formações Bocaina e
Tamengo, do grupo Corumbá, sedimentação dominantemente marinha, que a base de
comparações litológicas e estratigráficas se aceita como proterozóica a sua idade. A
espessura destes depósitos pode ultrapassar em algumas áreas os 400 metros.
No sitio de Corumbá esta superfície aplainada caracteriza-se por ser uma rampa
calcária inclinada para o norte até as proximidades do rio Paraguai, onde termina
bruscamente provocando uma ruptura do relevo com desnível que varia entre 30 e 60
metros. A Avenida General Rondon corre paralelamente à borda desta rampa onde tal
fato pode ser observado. Esta superfície é drenada por diversos córregos que correm
de sul para norte em direção à planície do rio Paraguai formando vales que se abrem
em direção ao norte esculpindo vertentes íngremes e provocando descontinuidades na
borda da escarpa que ora avança mais ou menos na direção da planície.
O setor norte da malha urbana de Corumbá apresenta, em função destes vales,
descontinuidades, onde a população apelidou de “buracões” como os das ruas Treze
de Junho e Av. General Rondon.
Este desnível de origem tectônica é resultado da movimentação vertical de dois
blocos. Quem avista Corumbá a partir do rio Paraguai percebe que a cidade está
construída sobre os relevos calcários que se sobressaem junto à planície.
Os inselbergues (morros testemunhos) sobressaem-se na superfície aplainada
evidenciando o nível topográfico mais elevado que possuia esta superfície, como
exemplos os morros da Bocaina 430m, Cruzeiro 292m, Bandeira 267m, Corumbá
252m, além de outros menores.
Ocupação do sitio urbano
Situada às margens do rio Paraguai, componente geográfico que funda e sedimenta
sua história, cultura e economia e cujas águas oferecem uma riqueza de possibilidades
que são descobertas aos poucos, natureza que se dispõe sempre presente para
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
Corumbá e sua economia que a ele tem destinado várias funções, desde sua fundação
em 1778 até nossos dias.
Do rio Paraguai, de seus afluentes e de suas áreas de inundação se serve a pecuária,
a pesca, a navegação, a extração mineral e o turismo, principais atividades econômicas
desenvolvidas na região. Locadas ao longo de uma faixa que se estende paralelamente
ao rio Paraguai estão a maior parte da infra-estrutura para o turismo, comercio,
movimentação de barcos, que fazem ligação com as fazendas, o embarque do minério
e a pesca.
Surgido no final do século XVIII, o pequeno povoado situou-se isolado e distante de
outras cidades, em um ponto geopolítico importante perante a América do Sul, fato
geográfico que tem balizado sua formação cultural, social e econômica. Assim tem sido
desde os primórdios da pecuária e dos tempos áureos da navegação e do comércio.
No inicio,a cidade de Corumbá, tinha a função militar cujo objetivo estava ligado às
questões de defesa e ocupação do território brasileiro. O pequeno povoado
permanece como destacamento militar, sendo elevada a categoria de freguesia em
1838, mantendo-se em um lento desenvolvimento até 1856.
Para atender ao desenvolvimento propiciado com a navegação e o comércio, no
ano de 1859 o almirante Joaquim Raimundo De Lamare, planejou o traçado urbano de
Corumbá, já com suas ruas, suas praças e prédios públicos. O projeto de De Lamare
está concretizado nas praças e ruas do centro urbano, correspondendo atualmente ao
quadrilátero central da cidade. Seu traçado resultou em ruas largas que se cruzam em
ângulos retos formando um tabuleiro de xadrez. A partir de então, a cidade expandese do Porto Geral para as morrarias na direção sul.
No ano de 1877 sua população era de aproximadamente 6 mil habitantes,
elevando-se a categoria de cidade ocupando o posto de terceiro maior porto fluvial da
América Latina.
O comércio e a navegação florescentes no inicio do século XIX, funcionaram como
agentes de atração populacional, sobretudo para as áreas próximas ao rio. O conjunto
arquitetônico que compõe o casario do porto é fruto desta época, assim como os
bairros Cervejaria e Beira Rio, que passaram a servir desde o inicio da sua ocupação
como moradia para a população de baixa renda. Os grandes eventos culturais
acontecem na região do Porto Geral, onde está localizado seu maior patrimônio
histórico.
O desenvolvimento econômico do inicio do século XX atraiu uma grande quantidade
de estrangeiros, delineando uma estrutura social que se dividiu em dois grupos, os
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detentores do poder economico e os marginalizados. Isto refletiu-se no processo de
urbanização cujas características ficaram marcadas pela falta de moradias e de infraestrutura adequada capaz de atender aos menos favorecidos em suas necessidades
básicas.
O processo de ocupação desordenada agrava-se de forma considerável na década
de 1970, mais precisamente desde 1974, quando se iniciou mais um ciclo de cheias do
Pantanal, reduzindo significativamente a área destinada para a atividade da pecuária e
expulsando para a área urbana uma grande parte da população rural, provenientes de
comunidades tradicionais e das fazendas onde eram empregados. Entre os anos de
1970 a 1980 a população rural passa de 37,5% para 16,7%.
Essa grande convergência populacional aliada a pouca conscientização ambiental
bem como a ausência no passado de uma legislação ambiental mais austera,
impuseram a essa região um ritmo desordenado de ocupação do solo ao longo dos
tempos e que ainda hoje se reproduz apesar de todos os instrumentos jurídicos
atualmente existentes. A conseqüência disso foi o acúmulo de vários problemas de
ordem ambiental que se tornaram maiores do que a própria capacidade do poder
público em solucioná-los, ainda que parcialmente.
Considerações finais
A identificação das unidades de relevo que compõem o sitio urbano de Corumbá
possibilitou uma melhor compreensão da relação entre o tipo de ocupação e a
característica física de seu sito urbano. Áreas especificas como os vales entalhados na
escarpa foram ocupados pela população de baixa renda, aliviando assim a pressão
social exercida pela falta de moradia na cidade de Corumbá.
As chuvas concentradas de verão que provocam as enxurradas representam uma
preocupação maior em função da reativação de vales intermitentes e das condições
topográficas que favorecem a concentração de água nos vales entalhados na escarpa,
próximos a planície. Neste sentido, os investimentos em obras de contenção de
encostas e de canalização dos córregos podem ajudar a prevenir a ocorrência de
fatalidades. Paralelas a esta necessidade devem ser priorizadas medidas de controle
ambiental, principalmente as que se referem à contaminação dos solos e das águas,
tanto as superficiais como as subterrâneas.
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Tema 3- Geodinâmicas: entre os processos naturais e socio-ambientais
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