Uso de medicamentos para Mal de

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Mal de Alzheimer atinge 6% dos idosos brasileiros
Ainda não se sabe a causa da doença, que é incurável.
Apoio da família e da sociedade é fundamental para o paciente
Personificada pela atriz Glória Menezes, a carismática baronesa Laura, da
novela Senhora do Destino, começou, há algumas semanas, a sofrer de lapsos de
memória. Ela vai mais além e perde a noção de tempo e espaço. Chega a
imaginar que está na França, quando nem saiu de seu quarto, no Rio de Janeiro.
A personagem ainda tem momentos em que percebe que algo está errado com
sua memória, sente-se angustiada e tenta disfarçar os lapsos. A causa de tanta
confusão é uma doença: a baronesa sofre do Mal de Alzheimer.
Fora da telinha, o drama que atinge a personagem de Glória Menezes vira
realidade. No Brasil, existem cerca de 15 milhões de pessoas com mais de 60
anos de idade. Seis por cento delas sofrem do Mal de Alzheimer, segundo dados
da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). Em todo o mundo, 15 milhões de
pessoas têm Alzheimer, doença incurável acompanhada de graves transtornos às
vítimas. Nos Estados Unidos, é a quarta causa de morte de idosos entre 75 e 80
anos. Perde apenas para infarto, derrame e câncer.
A causa do Alzheimer é desconhecida, mas seus efeitos deixam marcas
fortes no paciente. Normalmente atinge a população de idade mais avançada,
embora se registrem casos em gente jovem. Os cientistas já conseguiram
identificar um componente genético do problema, só que estão longe de uma
solução.
O Mal de Alzheimer é uma doença neuro-degenerativa que provoca o
declínio das funções intelectuais, reduzindo as capacidades de trabalho e social e
interferindo no comportamento e na personalidade. De início, o paciente começa a
perder sua memória mais recente. Pode até lembrar com precisão acontecimentos
de anos atrás e esquecer que acabou de realizar uma refeição. Com a evolução
do quadro, a doença causa grande impacto no cotidiano do paciente e afeta a
capacidade de aprendizado, de atenção, de orientação, de compreensão e de
linguagem. A pessoa fica cada vez mais dependente da ajuda dos outros, até
mesmo para rotinas básicas, como a higiene pessoal e a alimentação.
Olho aberto – Outro aspecto fundamental da doença é a manutenção do
chamado estado de alerta. A doença não reduz o estado de consciência. O
paciente responde tanto aos estímulos internos quanto aos externos. Pode
responder mal ou errado, mas está de “olho aberto”, acompanhando as pessoas e
tudo o que acontece em sua volta.
Mesmo com uma aparência saudável, os portadores do Mal de Alzheimer
precisam de assistência ao longo das 24 horas do dia. O quadro da doença evolui
rapidamente, em média, por um período de cinco a dez anos. Os pacientes, em
geral, morrem nessa fase.
Diagnosticar alguém com o Mal de Alzheimer não é tarefa fácil. Muitas
vezes, seus sintomas mais comuns, como a perda da memória e distúrbios de
comportamento, são associados ao envelhecimento. A família do idoso imagina
que se trata apenas de um problema conseqüente da idade avançada e não
procura a ajuda de um especialista. Ao notar sintomas da doença, o próprio
portador tende a escondê-los por vergonha. “A família precisa estar atenta e, se
identificar algo incomum, deve encaminhar o idoso à unidade de saúde mais
próxima, mesmo que ela não tenha um geriatra ou um neurologista”, aconselha a
coordenadora de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde, Neidil Espínola da
Costa. “É preciso diferenciar o esquecimento normal de manifestações mais
graves e freqüentes, que são sintomas da doença. Não é porque a pessoa está
mais velha que não vai mais se lembrar do que é importante”, assinala.
Neidil ressalta a importância do acompanhamento médico, para que se
identifique corretamente a existência ou não do Alzheimer. Ela explica que outras
doenças, como a hipertensão, que dificulta a oxigenação do cérebro, também
podem originar falta de memória e sintomas de demências. Segundo a
coordenadora de Saúde do Idoso, existem demências que podem ser tratadas,
como a provocada pelo hipotireoidismo.
Em 2002, o Ministério da Saúde publicou a portaria que instituiu no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS) o Programa de Assistência aos Portadores da
Doença de Alzheimer. Esse programa funciona por meio dos Centros de
Referência em Assistência à Saúde do Idoso, que são responsáveis pelo
diagnóstico, tratamento, acompanhamento dos pacientes e orientação aos
familiares e atendentes dos portadores de Alzheimer. No momento, há, no País,
26 Centros de Referência já cadastrados.
Neidil Espínola explica que o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria
de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, vem investindo na capacitação
de profissionais do SUS para atendimento aos idosos. “O envelhecimento da
nossa população é um fenômeno recente, pois até os anos 50, a expectativa de
vida da população era de aproximadamente 40 anos”, observa. “Atualmente a
esperança de vida da população é de 71 anos de idade”, lembra a coordenadora.
Nesse contexto, capacitar os profissionais da rede do SUS que atendem os
idosos é uma das prioridades da atual gestão, pois esse público precisa de um
atendimento específico, diferente do que é oferecido aos adultos. “Eles tomam
vários medicamentos, como aqueles usados para hipertensão e diabetes, e
podem
apresentar
manifestações
diferentes
de
sintomas
habitualmente
encontrados nos adultos mais jovens”, ressalta Neidil.
Estimativas do Ministério da Saúde indicam que 73% das pessoas com
mais de 60 anos dependem exclusivamente do SUS. O atendimento aos pacientes
que sofrem do Mal de Alzheimer acontece não só nos Centros de Referência em
Assistência à Saúde do Idoso, mas também nas unidades ambulatoriais de saúde.
Segundo o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), do Ministério da
Saúde, de janeiro a setembro de 2004, 797 pessoas foram internadas em
unidades hospitalares do SUS em decorrência do Alzheimer. As internações
exigiram gastos de mais de R$ 1 milhão. Em 2003, houve 809 internações em
conseqüência do Mal de Alzheimer, com gastos de R$ 1,09 milhão. Em 2002, o
Sistema Único de Saúde recebeu 741 pacientes com a doença e foi gasto R$ 1,04
milhão. Esses dados são subestimados, pois muitos portadores do Mal de
Alzheimer são internados por outras razões e assim o diagnóstico de demência
não aparece nos registros.
O SUS oferece, por meio do Programa de Medicamentos Excepcionais, a
rivastigmina, a galantamina e o donepezil, remédios utilizados para o tratamento.
“É bom lembrar que os medicamentos não impedem a evolução da doença, que
não tem cura. Os medicamentos para a demência têm alguma utilidade no estágio
inicial, podendo apenas amenizar ou retardar os efeitos da doença”, diz Neidil.
Apoio da família pode diminuir sofrimento
Quanto mais os efeitos do Mal de Alzheimer avançam em seu corpo, mais o
paciente tende a se afastar completamente do convívio social. O ator norteamericano Charles Bronson foi uma das vítimas da doença. Perto de perder a
vida, aos 81 anos, em 2003, o ator de Era uma Vez no Oeste praticamente havia
esquecido sua identidade e não se lembrava de nada de seu passado como astro
de Hollywood. O ex-presidente norte-americano Ronald Reagan, morto em 2004,
foi outra vítima famosa. O problema de saúde tirou o político das atividades
públicas, em sua última década de vida.
A família e a sociedade podem dar um grande apoio às vítimas da doença.
A Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) é formada por familiares dos
pacientes e conta com a ajuda de vários profissionais, como médicos e
terapeutas. A associação promove encontros para que as famílias troquem
experiências e aprendam a cuidar e a entender a doença e seus efeitos na vida
dos idosos. Para a coordenadora de Saúde do Idoso do Ministério da Saúde,
Neidil Espínola, mesmo com o desgaste, as famílias podem entender que se o
paciente sofre de uma doença incurável, pelo menos ele pode ser cuidado e
receber carinho.
Na opinião de Neidil, a mídia tem abordado o assunto de uma forma
positiva. Para ela, mostrar os sintomas ajuda a alertar a população sobre o Mal de
Alzheimer.
Incurável, o Alzheimer ainda não possui uma forma de prevenção. Os
médicos acreditam que manter a cabeça ativa e uma boa vida social permite pelo
menos retardar a manifestação da doença. Entre as atividades recomendadas
para estimular a memória, estão leitura constante, exercícios de aritmética, jogos
inteligentes e participação em atividades de grupo.
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