Ciências Contábeis FILOSOFIA E ÉTICA Profª: TATIANA R. F. MONTEIRO MATRIX E O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO Fabiana França da Silva Flávia da Silva Fonseca Jonathas Gava de Farias Patrícia Schueng Monteiro Turma: 2460 Matr. 080048 Matr. 980888 Matr. 080010 Matr. 080008 Rio de Janeiro 2010.2 1 1) As Semelhanças entre Sócrates e Neo Neo, personagem principal do longa-metragem Matrix, pode ser comparado ao grande filósofo grego Sócrates. Ele questionava profundamente o sistema que o cercava, da mesma forma que Sócrates se empenhava em “acordar” o pensamento dos outros. Neo buscava despertar as pessoas para a realidade fora da Matrix. O personagem sempre buscava conhecer a si mesmo a fim de conhecer a realidade de Matrix, seguindo as palavras célebres de Sócrates: “conhece-te a ti mesmo”. Matrix e o Mito da Caverna de Platão: uma analogia. Séculos atrás, Platão escreveu dentro de sua obra “A República” a alegoria do mito da caverna, e séculos depois, no ano de 1999, dois diretores de cinema, os irmãos Wachouski, nos brindaram com o clássico cinematográfico Matrix. Um abismo de séculos separa o texto de Platão e o filme Matrix, porém as duas obras possuem características semelhantes. No texto de Platão os personagens estavam presos numa caverna, imóveis, privados do mundo que os cercava, apenas sussurros e sombras em relance chegavam a eles. Certo dia, um deles escapou daquele lugar e chegou ao mundo fora da escuridão da caverna... levou um choque ao se defrontar com a realidade, com a luminosidade do Sol, mas com o tempo se adaptou, e por compaixão para com seus antigos companheiros resolveu voltar a caverna para contar lhes que existia outro mundo fora daquele, porém, chegando lá, não deram ouvidos a ele e ainda o chamaram de louco, pois os habitantes da caverna estavam tão enraizados àquele lugar que não admitiam a existência de um mundo exterior. Já no filme dos irmãos Wachouski, a mente dos seres humanos está aprisionada num programa denominado Matrix, programa este que simula uma realidade humana quase perfeita, enquanto a energia provinda dos impulsos elétricos de seus corpos era sugada por máquinas que dominavam o mundo real, um mundo pós apocalíptico, o deserto do real. Tanto no texto mito da caverna quanto no filme Matrix, o enredo nos apresenta personagens presos num mundo que considera real e verdadeiro, mas na verdade estão vivendo num mundo não condizente com a realidade, estão vivendo num simulacro. 2) O Texto Platão quis dizer que a realidade está dividida em duas partes: A primeira é o nosso mundo irreal; cheio de idéias imperfeitas (formas, cores, leis). Todas as cópias da matriz, aquele mundo que domina todos de forma arrogante, usando os nossos sentidos (visão) para nos enganar, nós estamos presos em um mundo sensível (porque nunca vemos, ouvimos, cheiramos e andamos), mas não sabemos disso. Já o outro é onde tem o sol que projeta a luz para o outro mundo, onde tem a matriz das idéias perfeitas, a realidade, os objetos são 3D (profundidade, altura e largura). Os primeiros se parecem conosco, se analisarmos bem, veremos que o nosso conhecimento é sombrio, sem plena certeza de nada, não sabemos quem somos, de onde viemos, se estamos sozinhos no universo, onde o universo acaba, muitos acreditam naquilo que vê, sem contestar nada. Já se fossemos soltos negaríamos isso e resistiríamos em acreditar no que soubemos desde pequenos, já se nós fossemos obrigados a olhar para trás, nós teríamos dois tipos de reações: as cadeias (violência física, material), e a ilusão (cadeia invisível que aprisiona a mente). Nós provavelmente não agüentaríamos o choque e gostaríamos de voltar para a caverna (mesmo sabendo que aquilo não é real), e ignoraríamos o que vimos, achando que era só um sonho. Preferindo continuar a sua vida, olhando só as sombras, sem sentir cheiros e ouvirmos nada, seguindo o cotidiano da vida. Mas se nós estivermos com a mente aberta para novos conhecimentos, talvez acreditássemos naquilo em que víamos, com um choque é claro. Seria tão bom como desagradável, bem porque veríamos coisas novas (reais), sentiríamos novas sensações, conhecer o infinito, e desagradável porque veríamos que tudo o que nós vivemos (não no sentido próprio da palavra) até agora não era nada, era irreal, e veríamos que não sabem de nada (como um bebê), teríamos que aprender tudo de forma certa (andar, ver, cheirar, ouvir, se movimentar,...) desde o começo, aprendendo que algumas leis que nós conhecíamos não eram reais e outras que não conhecíamos. Nós ao invés de Ter a opinião teríamos o conceito, prazer por realização, corpos belos por beleza, espontaneidade... teríamos a educação... enfim, veríamos o mundo da Matriz (superior), tiraríamos todas as nossas dúvidas. 2 A Mídia tenta fazer com que nós fiquemos presos, no mundo irreal, querem que nós acreditemos em tudo o que eles falam, tirando nós do mundo REAL. 3) O Filme O filme Matrix é constituído por lutas violentas entre Neo e os agentes federais, liderado pelo agente Smith. Na verdade, as escolhas morais ocorrem no interior de incisivas lutas libertárias, lutas de vida e morte. Por um lado, o grupo de Morpheus, que acessa a Matrix intervindo em programas-invasores, capazes de investir (e desestabilizar) a ordem cotidiana dominante, são agentes terroristas que lutam, por dentro, contra o sistema das Máquinas. Por outro lado, os agentes federais, guardiões da Matrix, meros programas sencientes que acusam e perseguem invasores do sistema. Dentro da Matrix eles são todos e não são ninguém. Nós sobrevivemos nos escondendo deles e correndo deles, mas eles são os porteiros. Eles protegem e têm todas as chaves. “Cedo ou tarde, alguém terá de lutar com eles.” E depois diz: “A força e a velocidade deles se baseiam num mundo de regras. Eles não podem ser tão fortes ou rápidos quanto você.” O que significa que a luta intensa que ocorre dentro da Matrix, dentro de cenários urbanos indiferente ao duelo de titãs digitais, é a luta entre meras representações informativas, capaz de se traduzir em qualquer elemento de Matrix, pode ser considerado a prefiguração de um equivalente geral digital. Na verdade, tal equivalente geral universal do mundo de Matrix. “Dentro da Matrix eles são todos e não são ninguém.” o agente a metáfora da forma dinheiro no mundo das mercadorias? Vejamos o caso da forma-dinheiro, considerado o equivalente geral universal no mundo das mercadorias. Ele representa, por exemplo, todas as mercadorias e, ao mesmo tempo, não é nenhuma delas. Mas é através dele que as mercadorias podem se trocar e realizar seu valor de troca (a fonte do valor das mercadorias é o trabalho abstrato, que, na mitologia de Matrix, é energia humana abstrata, ou seja, a fonte de energia das IA). É curioso que o agente é tão escravo da Matrix quanto e seu grupo de humanos, pois foi programado apenas para perseguir os invasores da Matrix e destruir (os programas sencientes são escravos de um “mundo de regras”). Num certo momento, o agente Smith chega a dizer: “Eu preciso sair daqui. Eu preciso me libertar. Quando for destruída, não precisarei mais ficar aqui.” Em Matrix, a distopia pressupõe a inversão fantástica da relação homem x máquina. Nela, são os homens que alimentam, com energia, as máquinas Inteligentes e não o contrário. Com a revolta das IA (Inteligência Artificial), o estranhamento atinge sua dimensão radical. Tal possibilidade existe desde que as máquinas tornaram-se IA. É um cenário devastador que existe na superfície da Terra. Por outro lado, ainda neste plano espaço-temporal real, cuja data é perto de 2199 (nota-se que se perdeu um percepção clara da temporalidade), existem os homens que resistem no subterrâneo, habitando a cidade de Sião, “a última cidade humana, o único lugar que nos restou perto do núcleo da Terra onde ainda é quente”, cujo acesso é secreto (o que os agentes federais queriam era o código de acesso a Sião para poderem derrotar, de vez, a resistência humana). O que ocorre no mundo real simulado pela Matrix (cuja data é 1999). É o cenário urbano da metrópole, com sua vida cotidiana, sua pseudo-concreticidade, onde as pessoas estão imersas no emprego e nas suas ambições triviais. É o mundo tal como ele é em Matrix, a realidade simulada é uma virtualização complexa espúria que oculta à verdadeira realidade, o “Deserto do Real”. De um lado, a barbárie regressiva perto de 2199. De outro lado, o simulacro digital complexo que oculta à exploração – no sentido marxiano – do gênero humano pelas Máquinas Inteligentes. Estamos diante de um mundo digital, constituído de 0 e 1, um mundo binário, tão perfeito quanto a própria realidade concreta (no sentido da certeza sensível e da percepção, e mesmo do entendimento, empregando as categorias de Hegel). Neste mundo de Matrix, os objetos e pessoas são meros sistemas de códigos binários, programas de computador, deste imenso sistema informático. O mundo de Matrix é sonho. “A Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador feito para nos controlar, para transformar o ser humano nisto aqui [bateria]”. É importante destacar que, na mitológica de Matrix, o objetivo das IA ao escravizarem homens e mulheres é transformá-los em fonte de energia, tendo em vista que, com o cataclismo nuclear, abateu-se sobre a Terra a total escuridão. E as IA precisavam de fonte energética. Culpando os homens pela tragédia universal, as IA se rebelaram e os escravizaram, adotando-os como fonte de energia, combinado com uma espécie de fusão, as máquinas encontraram mais energia do que jamais precisariam. De fato, homens e mulheres foram reduzidos àquilo que na ótica do capital é a única coisa que lhe interessa – trabalho abstrato, ou seja, a forma de trabalho 3 caracterizada por ser o mero dispêndio de energia humana, não importando seus atributos concretos (é de Marx a distinção entre trabalho abstrato e trabalho concreto). Enfim, na ótica do sistema do capital, só servimos na medida em que somos fonte de trabalho abstrato, base do valor e da mais-valia. Em Matrix, os homens e mulheres estão imersos no trabalho abstrato. É contra tal função social dominadora que se insurgem os “terroristas”. Deste modo, as Máquinas são, em Matrix, a metáfora do Capital como sistema de extração de sobre trabalho, orientado para a acumulação de valor. Podemos destacar como eixo central da estrutura narrativa de Matrix, o processo dialético de autoconhecimento, constituído por momentos de negação e de afirmação. Matrix são partes constitutivas desta predestinação. Elas exprimem a trajetória da Verdade, o ápice deste processo de revelação é o duelo enfrenta o agente no subterrâneo do Metro Balboa. É através nesta luta de vida e morte que atinge a consciência de si (a sugestão com a Fenomenologia do Espírito. O roteiro do filme Matrix é permeado de insinuações mitológicas, literárias e religiosas, além de ser objeto de densa reflexão para os entusiastas das ciências cognitivas, filosofias da mente e aqueles que tratam da relação Homem x Máquina – no caso a Inteligência artificial. Em torno deste repertório precioso de dicas reflexivas, talvez um dos mais aprimorados da ficção-científica de Hollywood, surgiram, pelo menos, dois livros traduzidos no Brasil que buscam discutir as insinuações temáticas contidas no filme, a partir de várias abordagens teórico-analiticas (inclusive o marxismo). Não iremos nos deter em detalhes e curiosidades do roteiro de Matrix, mas apenas delinear o que consideramos elementos significativos axiais, a partir da qual as outras questões laterais estão subsumidas. Um filme de referências temáticas tão complexas e densas como Matrix, quase um verdadeiro quebra-cabeça, no estilo do jogo é importante sabermos apreender o que é essencial do que é meramente contingente (o que não deixa de ser importante, pois a contingência é uma forma de ser da essência). No filme, o tema do fetichismo é candente e, por conseguinte, como seu corolário crucial, o problema do controle social. Afinal, quem controla as Máquinas? a suprema contradição deste sistema produtor de mercadorias. Quanto mais o homem consegue reduzir as barreiras naturais, mais se enreda noutra, numa segunda natureza, o sistema do fetiche com suas objetivações estranhadas. A modernidade do capital possui uma dimensão de desencantamento, Talvez tenhamos em Matrix elementos para uma reflexão sobre uma nova ética emancipadora típica dos tempos de sociabilidade regressiva. O que significa que, em tempos de barbárie social é que se exige cada vez mais discernimento contra a manipulação que, na era digital, assume formas candentes; distinção do que é real e imaginário e capacidade ético-moral de escolha como condição para a consciência de si. 4) Conclusão Como salientamos até agora, um dos pontos essenciais, é o sentido ético-moral do filme. É uma trama narrativa permeada de escolhas e de enfrentamento do destino, daquilo que está programado e contra isto se insurge Neo e os demais. É, em última instância, o tema da liberdade humana e da própria dialética liberdade e necessidade. É através deste enfrentamento cotidiano, que Neo adquire a consciência de si. É outro ponto decisivo – não existe consciência de si sem luta intensa e enfrentamento com as condições dadas (a Matrix é uma condição dada e os agentes federais, como software de rastreamento, são condições dadas, programadas, escravos da programação-mor da Matrix, obstáculos à liberdade pleiteada pelos seres humanos). Luta heróica primordial, de Neo (e o grupo de Morpheus) contra os agentes-escravos da Matrix. Não sugere luta de classes, porque tal mediação sócio-histórica não está posta na narrativa do filme Matrix. O gênero ficção - cientifica tende a fetichizar (e mistificar) as determinações sócio-históricas. Deste modo, o que aparece é a luta heróica, bem ao estilo de Hollywood, uma luta da individualidade heróica e redentora contra as Máquinas, pois o resto é meramente criações da Inteligência Artificial. Em última instância, o que temos em Matrix é a luta do homem contra seus objetos estranhados, um estranhamento As Máquinas Inteligentes não possuem um sentido de vida. É a tecnologia (enquanto forma técnica do capital) que oblitera radicalmente a técnica como afirmação do humano. As Máquinas apenas reiteram o dado, buscando sobreviver em si e para si. E nada mais. Por isso, escravizam homens e mulheres. É o sentido de sistema, ou seja, a falta de sentido, a pura irracionalidade que tanto caracteriza a lógica mecânica do mundo do capital. É a expressão ficcional absurda da fórmula geral do capital Deste modo, Matrix nos sugere, no limite, o absurdo do sistema do capital, expondo, através de uma mitologia 4 ficcional, a ficção-científica, o domínio pleno de objetos-fetiches inteligentes. E mais uma vez reiteramos: o interessante é que, é nesse cenário de fetiche quase-absoluto, que viceja as questões ético-morais. Coloca-se até numa forma primordial, o problema da liberdade e da autonomia do homem. É como se, apenas sob a dominação mais absurda e cruel, como na dominação das Máquinas Inteligentes, é que surgisse a possibilidade de redenção libertária (no caso de Matrix, prefigurado no herói messiânico – mas quem prefigura Neo? Apenas ele próprio? Sua classe social? A comunidade de Sião? O gênero humano? Seria a mera afirmação da individualidade? Ou Neo prefigura uma individualidade comunitária humanogenérica?). O que nos surpreende é que a sociedade tecnológica em sua expressão absurda reitera, e exacerba tais elementos intrínsecos do processo de humanização, no plano cognitivo-moral, vinculando, como demonstra o filme Matrix, aos pólos dialéticos verdadeiros conhecimento e escolha moral, verdade e luta heróica – enfim, elementos de uma apreensão dialética do mundo, mesmo que ainda numa forma mistificada. 5) Referências Bibliográficas http://pt.wikipedia.org/wiki/Matrix http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1441505 http://webensino.unicamp.br/disciplinas/velhos/16638::apoio::1::caverna.htm http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2002/11/a_alegoria_da_c.html http://www.euniverso.com.br/Logos/mitoematrix_v.htm 5