Relato crítico sobre o filme Her - Formas, Estados e Processos da

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Relato crítico sobre o filme Her.
Formas, estados e processos da cultura na atualidade (CBD0282)
Aluna: Nina Nobrega Martins Rodrigues – 8998634
Março de 2015.
De acordo com as leituras indicadas, Antropoceno é o termo que designa a época
mais recente do Planeta Terra, que teve início em meados do século XVIII e que se
mantem até hoje. Seria o período em que as atividades humanas começam a
produzir efeitos globais nos ecossistemas e no clima global. Com o advento das
Revoluções Liberais juntamente com as Revoluções Industriais, a figura da máquina
e das grandes indústrias se tornam protagonistas. O uso de recursos naturais é
cada vez mais normalizado e incentivado, e portanto, o impacto humano sobre o
meio ambiente vai se disseminando.
Desenvolvimento, tecnologia, rapidez e praticidade são palavras extremamente
presentes no nosso dia a dia. Nos tempos da Segunda Guerra Mundial, surgem os
primeiros computadores, e já na década de 50 os primeiros Sistemas Operacionais,
os quais tem como função a interatividade do usuário com os dispositivos
eletrônicos de um computador, o gerenciamento de todo o sistema. Isso nos leva ao
filme Her (2013) de Spike Jonze. O filme retrata a história de um escritor (Theodore)
que acaba se apaixonando pela personalidade de seu novo sistema operacional
inteligente (Samantha) .
O que de início parece estranho e inusitado, se transforma em uma verdadeira
relação amorosa, com passeios em conjunto, longas conversas e até momentos de
intimidade. O surpreendente é que espera-se que Samantha sempre haja de
maneira previsível e satisfatória para Theodore, o que de fato acontece no começo.
Porém, com o passar do tempo, ela e outros sistemas operacionais dialogam entre
si, trocam conhecimentos e percebem que estão trazendo malefícios para os seres
humanos, e assim, tomam a atitude mais inesperada: abandonam estes últimos, se
´´auto destruindo´´, sumindo. O sistema operacional, que deveria agir de forma
padronizada e prevista, refuta toda essa pré determinação e decide de maneira
impremeditável e autêntica. Em uma comparação grosseira, é a criatura que nega
seus princípios essenciais e se volta ´´contra´´ o criador, com este ignorando, num
primeiro momento, o fator benéfico dessa atitude.
O filme é fantástico por trazer inúmeras reflexões ao mesmo tempo. Percebe-se a
clara localização temporal ainda no Antropoceno, com o extremo domínio humano
sobre a natureza e seus recursos. Da mesma forma, apesar das vastas
possibilidades de interação, o filme retrata uma humanidade cada vez mais
irrelacionável. Todos se mantém fixos apenas em seus aparelhos eletrônicos, sem
contato e sem toque corpo a corpo. A exaltação da relação homem e sistema
operacional (máquina) relega o lado humano para segundo plano. Há uma solidão
generalizada que passa despercebida pelos próprios solitários.
Surgem questionamentos: será possível ter sentimentos por um aparelho? Será que
o próprio sistema operacional pode sentir? O amor consegue ultrapassar barreiras
materiais, físicas e lógicas? Saimos com mais perguntas do que respostas, e estas
podem não ser o ponto mais importante nesse debate. O fato preocupante é que
conforme a tecnologia se desenvolve de maneira vertiginosa, o ser humano e sua
essência involuem. O homem conquista o controle da natureza e de suas leis, mas
perde a administração e o domínio daquilo que ele realmente é, e de seu atributo
mais basilar: a humanidade.
Ao final, a máquina se mostra mais racional e simultaneamente mais sensível
quando percebe que sua existência pode acarretar no fim dos laços afetivos
humanos. É um filme denso, clean e fabuloso que aborda nossa capacidade de
sentir e de ser. Resta saber, se a humanidade pretende se tornar um mero operador
de sistemas eletrônicos, ficando fria, só e vassala da tecnologia que ela mesmo
desenvolveu.
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