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ESCOLA DE MULHERES
MOLIÈRE
INÊS
No dia seguinte, eu estava na porta, uma velha se aproximou
e disse assim: "Minha filha, que Deus te abençoe e mantenha tua
beleza durante muitos anos. Ele não te fez assim tão bela para
que você espalhasse o mal por onde passa. Você deve saber que
feriu um coração que está, assim, forçado a se queixar de ti".
“Eu feri o coração de alguém?”, perguntei espantada.
“Feriu”, me respondeu a velha, “e feriu seriamente. Falo daquele
jovem que ontem, da varanda, você cumprimentou”. “Mas
como?”, disse eu. “Qual foi a causa? Por acaso, sem querer,
deixei cair alguma coisa em cima dele?” “Não”, me respondeu a
velha. “O golpe fatal partiu desses seus olhos: você o fitou e ele
sentiu o coração em chamas”. “Ai, meu Deus! (Eu estava cada
vez mais espantada.) Meus olhos expelem algum mal que vai
ferir os outros!” “E isso”, concordou a velha. “Teus olhos, minha
filha, têm uma luz venenosa que você não conhece. Mas o fato é
que o rapaz definha, o pobre miserável; e se, o que não creio”,
continuou a caridosa velha, “teu coração cruel se recusar a
consolá-lo, será entregue à terra dentro de poucos dias.” “Deus
seja louvado”, respondi. “Eu sentiria muito. Que tenho de fazer
para ajudá-lo?" "Filhinha", me esclareceu a velha, "ele não
deseja mais nada senão te ver e conversar contigo. Só teus
olhos podem impedir que ele morra: o olhar que o mal causou
servirá de remédio”. “Oh, mas estou tão contente", tratei de
responder, "e, já que é só isso; que ele venha me ver quantas
vezes quiser”.
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