O próximo passo Jornal sem papel O jornal `O Sul`, de Porto Alegre

Propaganda
O próximo passo
Jornal sem papel
O jornal ‘O Sul’, de Porto Alegre, comunicou na capa de 8 de abril que sua versão impressa não
mais circula. O jornalismo do ‘O Sul’, entretanto, permanece. Agora o veículo migra para a
internet, apostando na força das mídias digitais. Essa decisão, verdade seja dita, não
aconteceu espontaneamente. A disparada do dólar – incorrendo no aumento no preço dos
insumos – não foi acompanhada pelo crescimento das receitas publicitárias.
Adaptações são inerentes, para todas as empresas. Em um mundo cada vez mais competitivo,
saber se posicionar no mercado é o segredo do sucesso ou do declínio de um
empreendimento. Talvez essa seja uma oportunidade para o jornal digital ‘O Sul’ ganhar novos
públicos, criar novas políticas editoriais. Por hora, contudo, vai continuar exatamente igual,
exceto pelo papel.
Alguns confundem a possibilidade do fim dos jornais como uma relação direta ao
enfraquecimento do Jornalismo. Os impressos, todavia, são apenas uma forma de fazer
Jornalismo. As redações, as marcas dos veículos, sempre existirão, desde que as novas
tendências sejam observadas de perto. Talvez com menos jornalistas, focados em áreas de
nicho, mas não menos importantes. Emprego para o profissional que souber se reciclar
também está garantido, isto é, saber navegar por dentro das diversas plataformas
comunicacionais.
Esperança no empreendedorismo
A vertente que se avizinha é o empreendedorismo. Hoje em dia, as chances crescem
progressivamente para quem busca criar a própria empresa, ser chefe de si mesmo, explorar
as incontáveis possibilidades da comunicação. E acredite, há muito espaço para quem mostra
um diferencial. No mercado, há assessorias de imprensa, agências de conteúdo, empresas de
produção audiovisual, etc. O público destas pode não ser as massas, mas é Jornalismo ainda
assim.
Não é de hoje que o modelo dos impressos mostrou-se incapaz de resistir à ascensão das
novas tecnologias. As empresas de comunicação se mantêm aos trancos e barrancos,
ofertando seus serviços por meio de uma precarização cada vez maior das condições de
trabalho dos jornalistas. De um lado, a necessidade de manter a roda girando. Do outro, a
insatisfação dos profissionais. Uma linha tênue que gera muitos ruídos.
O impresso, historicamente, ajudou a solidificar os regimes democráticos. Na Europa, em
regiões mais remotas, a chegada de uma nova edição era evento social. Todos se reuniam para
ouvir a leitura das notícias. Tratava-se de artigo de luxo que compartilhava o conhecimento,
uma rede de informações traduzida no papel – semelhante, guardadas as proporções, ao que
se vê nas mídias do século 21.
O momento da aposentadoria, após séculos de circulação, se aproxima? Independentemente
da resposta, o Jornalismo não se enfraquece. Como tudo, evolui. O que fica é a saudade desta
época analógica, algo que as novas gerações não partilham. Dessa maneira, comunicar para
diferentes meios e públicos nunca foi tão necessário. Profissionais competentes nunca foram
tão necessários, igualmente. No jornal, no tablet, na tela do computador, falando de política,
meio ambiente, esporte. Há lacunas a serem preenchidas.
Talvez a decisão de encerrar o impresso seja positiva. Talvez, por meio de uma remodelação
conceitual e tecnológica, o jornal O Sul se reinsira na grade de competitividade do Estado e se
faça uma referência em termos de modelo de negócios. Um pouquinho de otimismo, por
favor. É desestimulante ver colegas jogando a toalha e acatando as dificuldades. Os percalços
existem para serem trespassados. E o Jornalismo, como sempre, vai perseverar.
É nisso que acredito.
Download