cap 5 – a civilização do nilo

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A CIVILIZAÇÃO DO NILO
Por que razão as múmias egípcias permaneceram tão bem conservadas ao longo de milhares de anos?
A resposta a essa pergunta parece ter sido finalmente encontrada por cientistas alemães. Em outubro de 2003 eles anunciaram que o
segredo da mumificação tão bem guardado pelos egípcios estava em um conservante com forte efeito antibacteriano obtido a partir de um
extrato de cedro, madeira encontrada na região da Fenícia (atual Líbano).
Os egípcios acreditavam na existência de uma vida após a morte e achavam que os corpos precisavam ser preservados para a
eternidade.
A formação do Egito
Localizado no norte da África, o Egito tem seu território quase todo ocupado pelo deserto do Saara. Por isso a maior parte de sua
população encontra-se nas margens e no delta do rio Nilo, que atravessa o país de norte a sul. Essa ocupação é basicamente a mesma há
quase 8 mil anos.
As águas do Nilo transbordam de seu leito todos os anos entre junho e outubro, em razão das chuvas tropicais na nascente do rio. O
húmus trazido pelas enchentes torna o solo da região excelente para a agricultura. Durante milhares de anos a população que ali vivia
aprendeu a drenar terrenos, construir diques e canais e a erguer suas habitações e celeiros em locais elevados, longe das águas.
Com o passar dos séculos, esse trabalho comunitário organizado propiciou excedentes agrícolas e fez com que os pequenos núcleos
populacionais evoluíssem para povoados e vilas com maior estrutura. Essas aldeias passaram a ser conhecidas como nomos, e o chefe de
cada uma delas, como nomarca.
Grande parte da população do nomo era formada por agricultores - os felás -, que, com o linho, faziam roupas e velas de barco e com a
cevada produziam cerveja. O rio era o principal sistema de comunicação e de transporte. Para essas pessoas, somente a ação dos deuses
explicava o privilégio de elas morarem em uma terra de abundância rodeada por áreas de seca e fome.
Sob o poder dos faraós
Os nomarcas mais eficientes na tarefa de garantir a alimentação de suas comunidades passaram a personificar os deuses protetores
dos nomos. Assim, gradativamente, o poder político e administrativo dos nomos se fundiu ao poder religioso.
Ao mesmo tempo, os governantes mais destacados começaram a incorporar novos territórios a seus nomos, transformando a região em
uma área de diversos pequenos reinos. Por volta de 3500 a.C. os nomos foram unificados em apenas dois reinos: o do delta e o do vale do
Nilo - também chamados de Baixo Egito e Alto Egito, respectivamente (ver mapa na página 26).
Cerca de trezentos anos depois, um rei do vale do Nilo chamado Menés (também conhecido como Narmer, Men ou Meni) conquistou a
região do delta. Pela primeira vez alguém foi coroado como faraó do Egito, ou seja, um misto de monarca e chefe religioso. O símbolo de
seu poder era uma coroa dupla nas cores branca e vermelha que representava a união das duas regiões em um único e centralizado
império (no boxe a seguir abordamos os poderes e as funções do faraó).
Os faraós governaram o Egito por mais de 3 mil anos, em uma sucessão de dinastias. Os historiadores costumam dividir todos esses
anos em três grandes períodos: Antigo Império, Médio Império e Novo Império.
Antigo Império (3200 a.C. a 2300 a.C.)
No início do Antigo Império as fronteiras do Egito iam do delta
até a região da primeira catarata do rio Nilo (ver mapa ao lado).
Nesse período, seu território foi dividido em 42 regiões governadas por nomarcas, e a cidade de Mênfis foi construída para
ser a capital do império.
Para supervisionar esses governantes regionais, o faraó
contava com a ajuda dos escribas, funcionários encarregados de
cobrar os impostos, controlar o estoque de alimentos e fiscalizar
a construção de obras públicas. Para tanto, eles desenvolveram
uma escrita chamada hieroglífica (veja o boxe A escrita
hieroglífica).
Durante o Antigo Império, o Estado egípcio expandiu-se em
direção ao sul, região na qual viviam os núbios (no atual Sudão).
A prosperidade que tomou conta do Egito nesse período se fez
sentir principalmente na arquitetura: tornou-se habitual entre os
faraós mandar construir grandes monumentos funerários, as
pirâmides, das quais as mais famosas são as de Quéops,
Quéfren e Miquerinos.
Por volta de 2300 a.C. o império foi sacudido por conflitos
internos e o poder dos faraós esfacelou-se.
Médio Império (2000 a.C. a 1580 a.C.)
Cerca de 250 anos depois de o poder central ter sido
destruído, o Egito foi novamente unificado, dessa vez sob o
comando do faraó Mentuhotep II, que restabeleceu o Estado centralizado. Esse período marca uma fase de recuperação das terras
agrícolas e de conquistas de mais áreas ao sul- região da Núbia. Por volta de 1800 a.C., os hicsos povo invasor - ocuparam o delta do Nilo
e, aos poucos, começaram a subjugar todo o império. Em 1700 a.C., aproximadamente, os invasores usurparam o posto de faraó.
Novo Império (1580 a.C. a 525 a.C.)
Por volta de 1580 a.C. os egípcios conseguiram expulsar os hicsos e o Egito foi unificado mais uma vez. Nos séculos seguintes,
surgiram em Tebas - então capital do império - templos exuberantes, como os de Karnac e Luxor.
Em 1200 a.C., aproximadamente, começou a ocorrer uma redefinição de forças na região que liga os continentes africano e asiático. Os
assírios (estudados no capítulo 4) haviam constituído um poderoso império e passaram a ameaçar a hegemonia egípcia. Ao mesmo tempo,
a região do delta voltou a sofrer invasões.
Após um período de disputas internas e invasões, em 1100 a.C. o Egito foi novamente dividido em dois reinos. Ao longo dos séculos
seguintes, intercalaram-se momentos de centralização e de ausência de poder até que, em 662 a.C., os assírios conquistaram a região.
Posteriormente, a realeza egípcia retomou o poder, mas em 525 a.C. o império caiu sob o domínio dos persas.
A partir de então, o Egito foi sucessivamente invadido por povos de diversas origens, como macedônios e romanos na Antiguidade, e
árabes na Idade Média. No século XIX, tornou-se colônia do Império Britânico, conquistando a independência apenas em 1922 (veja o boxe
a seguir).
Cenas da vida cotidiana
A sociedade egípcia era rigidamente estratificada, ou seja, estava dividida em grupos sociais fortemente separados entre si. No topo da
pirâmide social estava o faraó, considerado filho do deus Amon-Rá, e seus familiares (veja a ilustração ao lado). A seguir vinham sucessivamente os sacerdotes, a nobreza, os escribas e os soldados. O último degrau era ocupado pelos camponeses e artesãos. Abaixo deles
estavam os escravos.
Poucas cidades do Egito Antigo sobreviveram ao tempo e às cheias do Nilo. Mas sabe-se que as moradias mais modestas eram de
junco ou madeira e, geralmente, tinham pouco mobiliário; uma pequena peça funcionava como sala de estar e dava diretamente para a rua.
Essas casas tinham também banheiro com lavatório separado, uma sala principal com um pequeno altar, onde eram recebidas as visitas,
quarto, cozinha e uma escada que levava ao telhado, sempre plano, onde à noite os moradores se refugiavam do calor. As pessoas de
melhores condições viviam em casas de tijolo produzido com uma mistura de barro, areia e palha, o adobe.
Muitos deuses
A religiosidade foi um dos aspectos mais marcantes da sociedade egípcia. Das diversas divindades existentes, a mais importante era
Amon (ou Amon-Rá), rei dos deuses e criador de todas as coisas, que se identificava com o Sol.
A crença na imortalidade fez com que os egípcios encarassem a morte como um grande acontecimento. As tumbas dos faraós
continham pinturas que retratavam passagens de sua vida e de seu governo com a intenção de mostrar aos deuses como eles foram bons
para seu povo. Era comum um faraó ser enterrado com familiares e funcionários, que iriam acompanhá-lo e servi-lo na vida eterna. No
túmulo do faraó Uadji (Antigo Império), foram encontrados outros 335 corpos.
Outra grande preocupação em relação à vida eterna era com a conservação do corpo, uma vez que o conceito de "viver após a morte"
implicava a permanência física do corpo. Por essa razão os egípcios desenvolveram e aperfeiçoaram a prática da mumificação.
Uma arte monumental e rígida
Impregnada de religiosidade e de sentimento hierárquico, a arte servia aos deuses e aos faraós. Na arquitetura, as obras mais
importantes foram os templos e os túmulos dos faraós - as pirâmides. Já a pintura (assim como a escultura) obedecia a regras
extremamente rígidas: as cenas eram retratadas sem perspectiva; as figuras humanas apareciam com a cabeça, as pernas e os pés de
perfil, enquanto os olhos e o tronco eram mostrados de frente.
O Poder das Múmias
O processo de mumificação desenvolvido pelos egípcios incluía a desidratação do cadáver e a aplicação de betume, substância
destinada a conservar o corpo. Durante a Antiguidade, esse produto também era empregado em outras regiões no tratamento de cortes e
fraturas.
Aliando esse possível poder de cura do betume com os mistérios e magias que envolviam as múmias, a partir da Idade Média médicos
europeus passaram a prescrever o uso de carne mumificada no tratamento de várias doenças. Como conseqüência, inúmeras tumbas
egípcias foram saqueadas e traficantes passaram a exportar pedaços de múmias secas ou em pó para o Ocidente. Francisco I (1494-1547),
rei da França, por exemplo, tinha sempre consigo um suprimento de carne mumificada para o caso de se ferir nas caçadas.
O conhecimento dos egípcios
Por sua prática na construção de diques e represas, os egípcios alcançaram grande desenvolvimento em engenharia hidráulica. Seus
tecelões eram hábeis na produção de tecidos de linho. Na área de transporte, construíam embarcações de variados tipos e tamanhos, tanto
fluviais como marítimas. Como a moeda só começou a ser utilizada a partir de 400 a.C., até essa data seu comércio era feito por meio da
troca direta de produtos.
Conhecedores da anatomia humana, os egípcios obtiveram grandes avanços na Medicina, chegando até mesmo a usar anestesia em
cirurgias. Seus astrônomos criaram diferentes calendários, como o que conferiu ao ano a duração de 365 dias e seis horas. Mais tarde, esse
calendário foi adotado, com modificações, pelo imperador romano Júlio César. Reformado pelo papa Gregório XIII, no século XVI, constitui a
base do calendário que utilizamos até hoje.
ATIVIDADES
1. Explique a frase: "Com o passar dos séculos o trabalho comunitário propiciou excedentes agrícolas e transformou pequenos núcleos
populacionais em povoados”
2. Como foi o processo de transformação dos no mos em um único império?
3. Usando como ponto de partida o esquema da pirâmide social do Egito, que se encontra na página 28, descreva a antiga sociedade
egípcia.
4. Escreva um texto relacionando as palavras "religião'; "pirâmides" e "faraós':
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