Leitura da tela:da mesmice à inovação

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Filósofo Passeron
J
ean-Claude Passeron é um professor de
sociologia da École des hautes études en
sciences sociales. Escreveu em parceria
com Pierre Bourdieu a obra La Reproduction,
publicada em 1970. A primeira tradução desta
obra no Brasil recebe o título de A reprodução:
elementos para um teoria geral do sistema de
ensino, publicada pela editora Francisco Alves
em 1975.
BIOGRAFIA
Em Paris, Jean-Claude Passeron, estudou na
École Normale Supérieure e voltas, após a
agregação de filosofia, à sociologia. Durante os
anos 1960, ele publicou dois livros com a
sociologia de Pierre Bourdieu da educação (Os
Herdeiros, 1964 Reprodução, 1970). Com
Jean-Claude Chamboredon, Bourdieu e
Passeron também publicam O ofício do
sociólogo, uma metodologia de referência e
epistemologia das ciências sociais.Enquanto
isso, ele dirigiu o Departamento de Sociologia
da Universidade de Nantes, enquanto ia com
freqüência para Paris para prosseguir suas
2012
investigações. Em 1968, a cooptação de parte
do kernel responsável pela fundação do Centro
Universitário Experimental de Vincennes, um
projeto educacional de vanguarda, hoje se
tornou a Universidade de Paris VIII (conhecida
como a Universidade de Vincennes em SaintDenis ), com, entre outros, Robert Castel e
Michel Foucault. Mais tarde, no início de 1980,
ele
abandonou
a
aderir
à
EHESS.
Posteriormente,
ele
irá
realizar
uma
"deslocalização" da EHESS, em Marselha,
onde ele tentará criar um ensino interdisciplinar
de Sociologia, associado à história e
antropologia, e em um lugar muito importante
será dado a aprendizado de práticas e técnicas
de investigação. Além de sua colaboração com
o famoso Bourdieu, com quem ele mantém a
sua distância a partir da década de 1970, ele
também trabalha com outros sociólogos, como
Jean-Claude Chamboredon, Robert Castel,
Claude Grignon, Michel Grumbach e François
de Singly. Em particular, após esse
distanciamento, Passeron continua as suas
investigações no campo da sociologia da
cultura e das artes. Ela publica e, entre outros,
O Olho da página, Artistas. Teste da morfologia
social,
com
o
tempo
em
tabelas.
Em 1991 ele publicou O trabalho Raciocínio
sociológico, em parte, de um estado de tese.
Este livro teve um profundo impacto sobre as
ciências sociais epistemológica. Rompendo
com as teses do ofício do sociólogo, que não
viu diferença entre as ciências sociais e
ciências naturais, Passeron encontrados
dualismo epistemológico de Max Weber. Ele
afirma que as ciências sociais são ciências
históricas e têm, portanto, não o mesmo regime
de verdade que as ciências naturais.
OBRA “A REPRODUÇÃO”
“Em 1970, Pierre Bourdieu e Jean Claude
Passeron publicaram o livro “A Reprodução”,
resultado de uma ampla pesquisa baseada
apenas em experiências sobre o sistema
escolar da França (com foco no sistema
universitário) e também sobre a seleção no
momento de passagem para o ensino superior.
A obra analisa e critica o modo de ver e pensar
da escola francesa, e também define a mesma
como “o espaço da reprodução social e um
eficiente
dominio
de
legitimação
das
desigualdades”,ou seja, a escola é vista pelos
autores como um local, uma instituição que
reproduz a sociedade e seus valores e que
efetiva e legaliza as desigualdades em todos os
aspectos pois é na escola que o legado
econômico da família transforma-se em capital
cultural.
Nos primeiros capítulos, Bourdieu e Passeron
defendem a idéia de que a escola não é neutra,
não é justa, não promove a igualdade de
oportunidades, e também não transmite da
mesma forma determinados conhecimentos,
pois é a cultura da classe dominante. A escola,
ao tratar de maneira igual tanto em direitos
quanto em deveres aqueles que são diferentes
socialmente, acaba privilegiando os que por
Filósofo Passeron
sua herança cultural já são privilegiados.
O terceiro capítulo da obra, chamado
“eliminação e seleção”, descreve de forma
crítica e analítica o exame na estrutura de
ensino, sobretudo francês.É a partir deste
pensamento que os autores começam a
caracterizar o exame como um intrumento de
seleção, classificação, e tambem a mostrar seu
peso
e
valor
no
ambiente
escolar.
Segundo bourdieu e passeron, o exame impõe
uma definição social do conhecimento e da
maneira de manifestá-lo, ou seja, padroniza
respostas
e
reações
relacionadas
a
determinados conteúdos e limita de certa
forma, o conhecimento e as capacidades
adquiridas e desenvolvidas ao longo dos anos.
A escola utiliza o exame para selecionar os
indivíduos tecnicamente mais competentes e
os classifica desde os primeiros anos de vida
escolar, colocando-os sob o status de nobreza
escolar.
Já aqueles originários de classes populares,
muitas vezes sao eliminados do sistema antes
mesmo de serem examinados e avaliados, o
que mostra o quanto as desigualdades sao
fortes e influentes no ingresso e êxito escolar
do
indivíduo.
Neste ponto, os autores utilizam os termos
probabilidade de passagem e probabilidade de
êxito para ressaltar o quanto as diferenças
culturais podem intervir na vida e no sucesso
escolar de determinada pessoa. Aqueles que
vieram ou passaram por uma estrutura social
pobre em condições básicas de sobrevivência
2012
e informação de qualidade, tem chances
menores de obter êxito escolar e ingressar no
ensino superior.
Os que conseguem, tendem a começar a
reproduzir tudo aquilo que aprenderam no
sistema social em que estavam inseridos e
acabam, muitas vezes, recebendo o diploma
sem ter desenvolvido as competências básicas
exigidas
pelo
sistema
escolar.
O exame nao pode ser reduzido a apenas um
serviço ou uma prática escolar , pois ele
determina a vida do sujeito em todos os
aspectos, e sua supervalorização é resultado
do sistema de oportunidades em que a
sociedade contemporânea está baseada, uma
falsa estrutura de igualdade social regida pela
hierarquia
dos
êxitos
escolares.
O sistema de oportunidades é explicado pelos
autores
conforme
trecho:
“Eis porque a estrutura das oportunidades
objetivas da ascensão pela Escola, condiciona
as disposições relativamente à Escola e à
ascensão pela Escola, disposições que
contribuem por sua vez de uma maneira
determinante para definir as oportunidades de
ter acesso à Escola, de aderir às suas normas
e de nela ter êxito, e, por conseguinte as
oportunidades
de
ascensão
social”.
No trecho acima, os autores caracterizam a
Escola e sua estrutura como uma oportunidade
de ascensão social, ou um meio, um caminho
para isso, e esse pensamento é decorrente da
democratização do ensino e da elevação de
diplomados com o tempo, que leva a escola a
substituir progressivamente as desigualdades
de acesso ao ensino pelas desigualdades de
currículos para manter sua função social de
reprodutora
social.
Com isso, pode-se notar que as escolhas de
cursos e instituições de ensino passam a ser
fortemente hierarquizadas e repletas de valores
atribuídos socialmente graças ao capital e
poder simbólico das instituições, agentes
escolares
e
seus
usuários.
Neste cenário, o que é valorizado não se
restringe a apenas o quanto o indivíduo sabe
ou estudou sobre determinado assunto, mas
também onde e qual curso prestigiado pela
sociedade cursou, efetivando mais uma vez as
desigualdades,
agora,
de
currículos.
Desta forma, a partir deste capítulo e da obra
como um todo, Bourdieu e Passeron foram
capazes, de demonstrar que as características
sociais, culturais e políticas do sistema
educacional francês,de fato, reproduziram as
hierarquias existentes e as formas de
dominação social, assim revelando o
esvaziamento real das noções de igualdade
propagadas por um sistema que seria
democrático, e que a todos ofereceria tais
oportunidades.
Por isso, o conceito de reprodução, n
a obra destes autores, é igualmente decisivo,
pois permite compreender
porque os
indivíduos, envoltos de discursos e ideologias
dominantes, acreditam que as chances existam
Filósofo Passeron
para todos quando, de fato, as estruturas
existentes e as práticas sociais que permeiam
a estrutura social, ao contrário, apenas
reproduzem a situação atual da sociedade, e o
exame é um instrumento claro de perpetuação
da
contraposição
entre
igualdades
e
desigualdades no âmbito social.”
IMPORTÂNCIA PARA A EDUCAÇÃO
O Papel da Educação na Legitimação da
Violência Simbólica
O conceito de violência simbólica foi criado
pelo pensador francês Pierre Bourdieu para
descrever o processo pelo qual a classe que
domina economicamente impõe sua cultura aos
dominados. Bourdieu, juntamente com o
sociólogo Jean-Claude Passeron, partem do
princípio de que a cultura, ou o sistema
simbólico, é arbitrária, uma vez que não se
assenta numa realidade dada como natural. O
sistema simbólico de uma determinada cultura
é uma construção social e sua manutenção é
fundamental para a perpetuação de uma
determinada
sociedade,
através
da
interiorização da cultura por todos os membros
da mesma. A violência simbólica expressa-se
na imposição “legítima” e dissimulada, com a
interiorização
da
cultura
dominante,
reproduzindo as relações do mundo do
trabalho. O dominado não se opõe ao seu
opressor, já que não se percebe como vítima
deste processo: ao contrário, o oprimido
considera a situação natural e inevitável. A
violência simbólica pode ser exercida por
2012
diferentes instituições da sociedade: o Estado,
a mídia, a escola, etc. O Estado age desta
maneira, por exemplo, ao propor leis que
naturalizam a disparidade educacional entre
brancos e negros, como a Lei de Cotas para
Negros nas Universidades Públicas. A mídia,
ao impor a indústria cultural como cultura,
massificando a cultura popular por um lado e
restringindo cada vez mais o acesso a uma
cultura, por assim dizer, “elitizada”. A
Educação, no entanto, está no centro desta
discussão. Teoricamente, através da educação
o indivíduo pode tornar-se capaz de distinguir
quando está sendo vítima da violência
simbólica e tornar-se um ator social que vá
contra a sua legitimação. Devido à realidade
sócio-econômica presente, os pais vêm se
distanciando cada vez mais do papel de educar
seus filhos, reduzindo significativamente a
idade que vão para a escola. A escola
configura-se como o principal agente
educacional da sociedade pós-moderna. E
lamentavelmente, ao invés do que se espera, a
escola não vem educando para formar
cidadãos e sim para legitimar o poder simbólico
da classe dominante. Tomando, como foco
principal, a escola pública brasileira, esta
ignora a origem de seus alunos, transmitindolhes o “ensino padrão”. Bourdie e Passeron
explicam este processo pela Ação Pedagógica,
que perpetua a violência simbólica através de
duas dimensões arbitrárias: o conteúdo da
mensagem transmitida e o poder que instaura a
relação pedagógica exercido por autoritarismo.
A autoridade pedagógica que visasse destruir a
violência simbólica destruiria a si própria, pois
se trata do poder que legitima a violência
simbólica. Os alunos não só reconhecem seus
professores como uma autoridade, como
também legitimam a mensagem que por eles
são transmitidas, recebendo e interiorizando as
informações. Isto garante uma reprodução
cultural e social da classe dominante, uma vez
que os professores pertencem a esta classe.
Como já foi dito, a violência simbólica é
estabelecida a partir do momento em que se
hierarquiza os cargos na escola, pois ,assim
como a mensagem transmitida não é natural,
esta relação hierárquica de poder também é
arbitrária. No Brasil, o conteúdo transmitido nas
escolas é aquele que interessa à perpetuação
da hegemonia cultural da classe média e alta: a
realidade do branco, urbano e bem sucedido é
passada como exemplo natural de sucesso; as
peculiaridades das culturas regionais são
transmitidas a título de curiosidade; quanto às
culturas do índio e do negro, indissociáveis do
que poderíamos chamar de cultura brasileira,
são transmitidas como algo à parte da cultura
dominante, tornando-nos alienados quanto à
sua presença no nosso cotidiano. Ao
focalizarmos “grupos menores”, constataremos
que o problema da violência simbólica é ainda
mais gritante. Uma criança da periferia, por
exemplo, tem um cotidiano muito distante do
que é ensinado na escola. Na escola ela
aprende que é importante estudar para ter uma
profissão, para “ser alguém na vida”. No
Filósofo Passeron
entanto, muitas vezes esta criança trabalha
para ajudar a família e, dependendo do caso,
viver para ela é uma questão de sobreviver.
Outro exemplo está na realidade das crianças
que residem nas favelas dos grandes centros
urbanos, onde é comum a família viver
salvaguardada por traficantes: o mocinho que
protege sua família torna-se o bandido, que na
escola é tratado como o maior dilacerador da
instituição família. Estes são casos em que o
conflito de realidade é observado facilmente.
Ao nos depararmos com a linguagem,
observaremos como a violência simbólica age
de modo dissimulado e imperceptível ao “senso
comum”. Segundo o sociólogo Basil Berstein, o
discurso dos alunos é reflexo das relações
sociais dos seus ambientes familiares,
existindo “uma relação entre o modo de
expressão cognitiva e seus ambientes
familiares”.
As
crianças
das
classes
economicamente mais baixas, ao ouvirem o
discurso (da classe dominante) transmitido pelo
professor, são obrigadas a traduzir para uma
linguagem mais simples, tornando-o entendível.
Desta forma, para conseguirem ter sucesso na
sala de aula, tais crianças precisam aprender
um novo tipo de discurso, entrando em
contradição com os códigos utilizados no seu
ambiente familiar e tendo que aprender a trocar
de códigos conforme a situação. Ou seja, é
exigido
das
crianças
das
classes
economicamente mais baixas um esforço
adicional da sua atividade cognitiva, isto é,
capacidade de conhecer algo novo através de
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sua percepção, memória, raciocínio ou
imaginação. Quanto maior a proximidade entre
o discurso simbólico do ambiente familiar com
o ambiente escolar, o sucesso e a inserção
escolar estarão mais garantidos. A educação
escolar, assim, além de reproduzir a cultura
dominante, contribui para a perpetuação da
desigualdade social, funcionando como um
selecionador dos alunos adaptados a esta
cultura. Alguns educadores defendem que,
para superar esta desigualdade a criança
deveria aprender a linguagem dominante. Este
pensamento vai à contramão do que foi
exposto anteriormente. Deste modo, o
educador desconsidera o exercício adicional
que a criança é obrigada a fazer ao se
defrontar com o dialeto de prestígio e como isto
implica no seu fracasso escolar. O fato torna-se
preocupante na medida em que esta é uma
opinião de quem tem conhecimento do
processo de violência simbólica, mas não
percebe que, ao negá-lo, está justamente
aplicando-o. Ao debatermos sobre a violência
simbólica e suas implicações na educação,
temos a sensação de que é um processo
irreversível e de que nada podemos fazer em
relação a isto. Porém o fato de saber que
somos, ao mesmo tempo, agentes e vítimas
deste tipo de violência é o primeiro passo para
começarmos a combatê-la: A criança, ao
chegar à escola, deve encontrar no professor
um aliado que está ali não só para ensinar,
como também para escutar, renovar suas
idéias e aprender com cada aluno. O professor
que busca não cometer a violência simbólica
deve constantemente trocar de papel com seus
alunos, desfazendo aos poucos a imagem
autoritária que arbitrariamente tornou-se
intrínseca a essa profissão; Quanto ao
conteúdo a ser ensinado, o professor deve ser
flexível para trabalhar com diferentes
realidades. Um professor que leciona nas
escolas de periferia tem que buscar exemplos
coerentes com aquele cotidiano específico,
valorizando a cultura local. Para realizar essa
tarefa, um caminho seria escutar os alunos,
pedindo-lhe exemplos e realizando debates;
Concomitantemente, as chamadas “minorias”,
como o negro, o índio e a mulher, devem sair
da condição de gueto: a cultura negra e
indígena devem ser trazidas para o seu lugar
real, ou seja, no nosso cotidiano, na nossa
linguagem, nos nossos costumes e tradições,
buscando o dia em que essa diferenciação
tornar-se-á redundante e desnecessária, uma
vez que essas culturas estarão naturalizadas à
cultura brasileira. O papel da mulher na história
mundial e brasileira, bem como a violência
física, psicológica e simbólica que sofreram e
absurdamente ainda sofrem, devem ser
incessantemente discutidos junto aos alunos,
pondo às claras o machismo disfarçado de
nossacultura e, aos poucos, eliminando-o.
Uma educação escolar, que leva em
consideração aspectos descritos acima,
proporciona ao aluno o discernimento
necessário para lidar com o que recebe
diariamente da televisão, do cinema e da
Filósofo Passeron
internet. A criança deixa de ser um emissor
passivo, tornando-se um agente crítico frente
às
informações
bombardeadas
incessantemente pela mídia. Assim, a escola
poderá finalmente cumprir sua função de
formar cidadãos preparados para transcender o
determinismo social e cultural do processo de
violência simbólica, construindo uma sociedade
cada vez mais livre e igualitária.
2012
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
CURSO: PEDAGOGIA
DISCIPLINA: AEA
NOMES: ANA LAURA R. ÁVILA
LUCIANA CARDOSO
ROSIMEIRE PEREIRA DE OLIVEIRA
THAÍS RIBEIRO DA SILVA
NOME
DO
BLOG:JEAN
CLAUDE
PASSERON
Filósofo Passeron
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