Maria Teresa Citeli

Propaganda
Ciência Mulher
Mulheres Latino-Americanas
Nas Ciências Exatas e da Vida
Rio de Janeiro, 17-19 de Novembro de 2004
Hotel Othon Palace, Copacabana
Mesa Redonda II: A Biologia Feminina: diferenças genéticoevolutivas e culturais?
Instituto de Geociências
DPCT - Departamento de Política Científica e
Tecnológica
Maria Teresa Citeli
Instituindo as Ciências Naturais e Sociais:
duas categorias de representantes
Thomas Hobbes (1588-1679) contrato social, submissão ao
soberano para conter a competição individual por interesses
Robert Boyle (1627-1691) termodinâmica, experimentos
científicos em ambiente específico, bomba de ar
APARENTE CISÃO ENTRE POLÍTICA E CIÊNCIA
POLÍTICA - contrato social, cidadãos têm representantes
CIÊNCIA - experimento reúne seres humanos e não-humanos
Políticos - falarão em nome da multidão
Cientistas - falarão em nome da Natureza, que é muda
Daí em diante
CIENTISTAS LEGÍTIMOS REPRESENTANTES DA NATUREZA
POLÍTICOS REPRESENTAM OS HUMANOS
CIENTÍFICO
Objetividade
Universalidade
Racionalidade
Neutralidade
Dominação
Cérebro
Controle
Conhecimento
Civilizado
Público
NÃO-CIENTÍFICO
Senso Comum
Localidade
Sensibilidade
Emoção
Passividade
Coração
Descontrole
Natureza
Primitivo
Privado
MASCULINO
Objetividade
Universalidade
Racionalidade
Neutralidade
Dominação
Cérebro
Controle
Conhecimento
Civilizado
Público
FEMININO
Senso Comum
Localidade
Sensibilidade
Emoção
Passividade
Coração
Descontrole
Natureza
Primitivo
Privado
Gênero
Sistema de significados atribuídos ao
masculino e ao feminino
Constitutivo da vida social assume conteúdos
específicos em contextos particulares.
Refere-se à apreensão da diferença entre os
sexos, apresentada de forma categórica
Tanto para diferenças tidas como inatas
como para aquelas tidas como construídas.
As diferenças podem ser enfatizadas,
negadas, interpretadas, estudadas,
diminuídas ou atribuídas a diferentes
fatores de acordo com as circunstâncias.
AUTORIDADE/ LEGITIMIDADE dos cientistas para
atribuir diferenças e hierarquias entre os sexos.
Ou
A contribuição das ciências para o estoque de
significados que atribuídos a masculino e feminino
DESCREVENDO CORPOS CELESTES E HUMANOS
Uma estrela não incorpora a descrição feita por
um astrônomo como parte de seus atributos
MAS ...
Quando um cientista descreve (ou prescreve) o
que é ser homem ou mulher nós incorporamos
essa descrição no nosso entendimento de quem
somos e de como devemos (ou podemos) agir.
A partir de 1759 todas as partes do corpo foram
sendo sexualizadas
•Esqueleto
•Cabelo
•Boca, cérebro, pelve, cabeça
•Depois partes invisíveis do cérebro,
•hormônios, gametas, genes
para construir a anatomia, a fisiologia, a química
Falar de passagens não significa que
modelos antigos são abandonados
Eles persistem e convivem
com novos modelos
formando um amplo estoque de
significados
que acionamos diariamente
JUSTIFICATIVAS
Uma
suposta
inaptidão
congênita
feminina
para
aprender Física, Matemática, Química (Barbie, 1992)
Os gametas como fonte de metáforas de gênero
A guerra dos sexos
OS espermatozóides são muito desiguais. Na escola, aprendemos que, numa
ejaculação humana, são expulsos de 200 milhões a 500 milhões deles e que todos
nadam alucinados atrás do óvulo: ao vencedor, a glória da fecundação.
Parece que não é tão simples: os espermatozóides trabalham em conjunto, cada
qual com uma função definida, como se fossem um exército de guerreiros
disciplinados. No curso da evolução, foram obrigados a adotar essa estratégia
para vencer as barreiras impostas pela anatomia sexual feminina.
A vagina humana é um lugar inóspito para eles. Sua superfície é forrada por
colônias de lactobacilos que secretam ácido para defendê-la dos germes que
penetram. O líquido que a lubrifica é rico em enzimas, anticorpos e glóbulos
brancos dispostos a destruir invasores: bactérias, vírus, fungos ou células de outra
pessoa; espermatozóides, inclusive.
Os poucos espermatozóides que conseguem sobreviver nesse ambiente ácido
ainda precisarão vencer muitas barreiras para chegar ao óvulo. A pior, talvez,
esteja na entrada do útero. Na parte inferior, o útero se estreita num canal mais
fino, chamado colo ou cérvix. O colo se abre na vagina por um pequeno orifício
revestido por glândulas, que produzem um muco espesso para
vedá-lo e impedir a entrada de germes.
A guerra dos sexos (continuação)
trajeto pelos canais é não só labiríntico como cheio de perigos: ao invadir o muco,
os espermatozóides são atacados por legiões de glóbulos brancos hostis, três
vezes mais numerosos do que eles. Na ânsia de escapar dos atacantes e abrir
caminho entre os canais, os espermatozóides fazem desabar algumas das hastes de
muco, ocluindo passagens e dificultando a penetração dos que vêm atrás na
corrida. Estruturalmente, os espermatozóides são verdadeiros mísseis
carregados de genes. São formados por uma cabeça, que traz o pacote de genes
do pai, e uma cauda para nadar.
Segundo ela, o esperma carrega milhões de espermatozóides prontos a declarar
guerra contra os estranhos que encontrarem pelo caminho. Essa vocação bélica
do esperma é encontrada em todos os machos do reino animal, sem exceção.
De acordo com a hipótese, existiriam três grandes grupos de espermatozóides em
cada ejaculação:
1) pelotão de elite: seleto grupo de nadadores imbatíveis na velocidade.
Armazenam a energia necessária para o percurso em corpúsculos situados na
cabeça comprida e têm cauda longa e ágil.
São poucos: cerca de 1% dos milhões ejaculados;
A guerra dos sexos (final)
2) bloqueadores: têm cabeça grande e cauda pequena. Nadam devagar; não são
páreo para o pelotão que dispara na frente. Nem vão atrás do óvulo, são
"camicases": ao penetrar os canais do muco uterino, agarram-se às paredes para
obstruir a passagem dos que vêm atrás, sejam eles do mesmo macho ou de outro
qualquer. A função bloqueadora ocupa cerca de 50% dos espermatozóides;
3) matadores: carregam enzimas tóxicas na cabeça e possuem antenas capazes
de detectar e reconhecer espermatozóides estranhos. Quando os encontram,
despejam neles suas enzimas mortais. Como os adversários reagem com as
mesmas armas, espermas de indivíduos diferentes se envolvem numa luta de vida
ou morte. Bons "matadores camicases" foram tão necessários para
a sobrevivência das espécies que constituem praticamente a outra metade da
população do esperma. Para complicar, matadores, bloqueadores e nadadores não
são todos iguais. Quanto mais árduo o percurso a ser percorrido no trato genital
feminino, mais eles se especializam em determinada função a ser exercida num
ponto específico do trajeto que conduz ao óvulo.
Disfarçada ou não, a estratégia reprodutiva mais empregada pelas fêmeas no
decorrer da evolução das espécies tem sido a de promover a competição entre
espermas de indivíduos diferentes. Que vença o mais apto é o que deseja o corpo
feminino.
Folha de S. Paulo, 13/01/2001, DRAUZIO VARELLA
Inseto machuca a fêmea durante cópula para garantir 'fidelidade'
RICARDO BONALUME NETO Folha de S. Paulo 19/10/2000
O gorgulho que ataca o feijão tem uma vida sexual violenta e
"machista", segundo pesquisa feita no Reino Unido com insetos do
Brasil, Benin e Índia.
O macho tem um "pênis" com a ponta espinhosa, o chamado "órgão
intromitente", que causa ferimentos na genitália da fêmea durante o ato
sexual, a ponto de ela tentar se livrar dele chutando-o com as patas
traseiras.
"Nós acreditamos que, ao ferir as fêmeas, os machos asseguram que elas
passem mais tempo antes de fazer sexo de novo portanto aumentando o
tempo disponível para fertilizar os óvulos com seu esperma", disse à
Folha um dos autores do estudo, Mike Siva-Jothy, da Universidade de
Sheffield. Ele e sua colega Helen Crudgington publicaram artigo na
"Nature" de hoje.
Machos e fêmeas como os gorgulhos da espécie Callosobruchus
maculatus vivem uma espécie de corrida armamentista reprodutiva,
comportamento explicado pela seleção sexual. Machos podem aumentar
o número de filhotes ao fazer sexo com várias fêmeas, pois produzem
uma grande quantidade de esperma, enquanto elas têm um número
menor de óvulos.
Ato de cozinhar contribuiu para a monogamia
O Estado de S. Paulo, 24/04/99
Cientistas acreditam que cozimento de alimentos
revolucionou a evolução humana
LONDRES - Quando as mulheres aprenderam a
cozinhar tubérculos, houve uma revolução no processo de
evolução humano: o tamanho do cérebro aumentou, as
fêmeas tornaram-se mais sexy e os homens adotaram a
monogamia.
Mas se Wrangham e seus colegas estiverem certos, como
os tubérculos assados nas brasas deram origem à
monogamia? Se as fêmeas da espécie Homo erectus
cuidavam do cozimento dos alimentos (e os homens estavam
caçando ocasionalmente), a comida poderia ser roubada
facilmente pelos machos. As fêmeas, então, ligaram-se aos
machos que as protegeriam dos ladrões. "As fêmeas que
conseguiam atrair machos dominantes poderiam ser melhor
protegidas de roubos. SANJIDA O'CONNELL , The Guardian
Sexo forçado resulta mais em gravidez
Folha de S. Paulo, 26/06/2001- Autor: MATT WALKER
Estudos nos EUA mostram que um estupro é quase três vezes mais
'eficiente' que uma relação consensual
Um estupro pode ter duas vezes mais chance de resultar em gravidez do que
uma relação sexual consensual. A estatística promete reabrir o polêmico
debate sobre se o estupro pode ser uma estratégia reprodutiva bem-sucedida
em termos evolutivos. Ela poderia ajudar a explicar por que estupradores têm
sido tão comuns por toda a história e em todas as culturas. Estudos anteriores
mostraram que a taxa de gravidez resultante de estupro poderia ser de até
30%. A chance em relação consensual oscilaria entre 2% e 4%. Isso levou
biólogos como Randi Thornhill, da Universidade do Novo México em
Albuquerque (EUA), a apresentar os dados como evidência de que o estupro é,
ou foi, em algum momento da evolução, um método "natural” para que os
homens espalhassem seus genes. Uma interpretação mais provável, dizem os
Gottschalls, é que o estupro realmente seja mais eficiente em termos
reprodutivos. Uma possibilidade é que as mulheres se sintam mais atraentes e
sensuais quando estão no período fértil e, inconscientemente, dêem sinais
que os estupradores possam captar embora não esteja claro se os homens
de fato notam esses sinais. Outra explicação, mais provável, é a de que os
estupradores escolhem alvos mais atraentes e saudáveis características que
podem indicar fertilidade.
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