a música do nosso corpo: sobre a importância das ondas sonoras

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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 13 (01): 1403.1-3, 2015
A MÚSICA DO NOSSO CORPO: SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS
ONDAS SONORAS PARA AS NOSSAS VIDAS1
MUSIC OF OUR BODY: ON THE IMPORTANCE OF SOUND WAVES FOR OUR LIVES
Carlos Gibran de Souza Cerqueira
Estudante do curso de Física Licenciatura, Departamento de Física, Universidade Estadual de Feira de Santana –
DFIS/UEFS. E-mail: <[email protected]>
Nesse texto fizemos algumas considerações sobre a relação entre a Física e a Música, dois Campos do Saber que se
entrelaçam em vários momentos de suas ações. Particularmente quando nos referenciamos ao nosso próprio corpo e
como as ondas sonoras, nele, se estabelece.
Palavras-chaves: Música, Física, Corpo Humano, Sensações.
In this text we made some considerations on the relationship between Physics and Music, two Fields of Wisdom that
intertwine at various moments of their actions. Particularly when we reference in our own body and how a sound
waves in it is established.
Keywords: Music, Physics, Human Body, Sensations.
É possível que as músicas tenham efeito sob nosso estado emocional, nossa motivação? Pesquisas
científicas buscam uma comprovação de que os ritmos e sons podem alterar as batidas do nosso coração,
nosso movimento sanguíneo e consequentemente nosso estado de ânimo.
O conceito de música varia de cultura para cultura, pois cada povo tem sua maneira de expressão
através da palavra. A música é linguagem universal, mas com muitos idiomas. Para alguns estudiosos,
música “é a linguagem do coração humano”. Esse conceito nos leva à ideia de ritmo, que é princípio
fundamental na música e elemento básico das manifestações da vida. As leis naturais que governam a
física de nossos corpos e mentes têm sido estudadas com experimentos científicos medindo o efeito da
música e o estímulo nas respostas dadas pelo nosso corpo da nossa pulsação e até resistência elétrica da
pele.
Em termos físicos, o som é uma vibração que chega a nossos ouvidos na forma de ondas
mecânicas que percorrem o ar que nos rodeia e possui características básicas que podem nos ajudar a
entender melhor como se dá essa relação das vibrações emitidas pela música. Primeiro, é importante
classificar as principais qualidades: Altura, intensidade e timbre. A altura é determinada pela frequência
dos sons, isto é, pelo número de vibrações que cada onda sonora emite num determinado tempo, e não
possui relação direta com o volume, pois quando falamos de volume, estamos nos referindo à intensidade,
que trataremos logo adiante. Quanto maior o número de vibrações, mais agudo será o som; por outro lado,
quanto menor essa “frequência”, mais grave o som se propaga. Se esse som for emitido com muita força,
teremos uma onda sonora de maior intensidade (volume), ou seja, mais alta. A audição em seu estado
saudável nos permite diferenciar a voz das pessoas e o som dos instrumentos, mesmo que esteja na
mesma altura e intensidade. A essa qualidade damos o nome de timbre. Medimos a intensidade do som
em uma escala chamada Decibéis (dB). O ouvido humano pode captar ruídos a partir de 10 dB até o
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Esse texto foi fruto de um trabalho solicitado como conclusão da disciplina Divulgação Científica do Curso de
Licenciatura em Física da Universidade Estadual de Feira de Santana, cursada no semestre 2014.1.
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Cerqueira
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limite de 130 dB, que já pode causar danos à saúde. Para termos uma ideia, um choro de um bebê recémnascido pode chegar a 110 dB , enquanto um sussurro a 20 dB. Para que possamos ouvir, identificar e a
partir disso, tirar conclusões de localização, sensações e etc., essas ondas sonoras passam pelo tímpano,
uma fina membrana que vibra e está localizada no interior do canal auditivo. Essa vibração é transmitida
para três pequenos ossos chamados martelo, bigorna e estribo que ampliam essas vibrações para que
possamos ouvir sons de intensidades mais baixas. Até um deficiente auditivo consegue sentir a vibração
através do tato.
Enquanto ouvimos uma música, suas ondas sonoras (vibrações) alcançam o tímpano
transformando-se em impulsos nervosos elétricos que registram em nossas mentes os diferentes tipos de
som que estamos ouvindo. Isso acontece porque o nosso sistema auditivo é bastante desenvolvido e
possui diversas ligações com todo o nosso corpo. Estudos mostraram que o impacto da música no sistema
nervoso e as mudanças emocionais provocados direta ou indiretamente pelo tálamo – área do cérebro que
“organiza” todas as emoções, sensações e sentimentos, como um centro de distribuição -, afetam
processos tais como a frequência cardíaca, a respiração, a pressão sanguínea, a digestão, o equilíbrio
hormonal, o humor e as atitudes. Ou seja, as raízes dos nervos do ouvido são extensamente distribuídas e
possuem mais ligações com todas as funções de nosso organismo que qualquer outro órgão sensitivo.
Estudos também revelam que a música, mesmo sem uma letra, comunica uma mensagem. Não é à
toa que muitas músicas que ouvimos nos filmes são apenas instrumentais e nos passam sensações como
medo, ansiedade, alegria, entre outras. Portanto, mesmo que cada um tenha uma percepção diferente, as
reações do corpo estão condicionadas a presença física do som, independente da letra ou experiência
vivenciada por cada um, o que mostra uma influência da música sobre os sentimentos.
Em 1944, “The Music Research Foundation” (A Fundação de Pesquisa da Música) foi
estabelecida em Washington, nos Estados Unidos, com objetivo de explorar e desenvolver novos métodos
para controlar o comportamento humano e as emoções. O que se descobriu foi que a música é registrada
na parte do cérebro que normalmente é estimulado pelas emoções, contornando os centros cerebrais que
lidam com a inteligência e razão. Ira Altschuler (1954), um dos pesquisadores, explica que “Música, que
não depende das funções superiores do cérebro para franquear entrada ao organismo, ainda pode
excitar por meio do tálamo. Uma vez que um estímulo tenha sido capaz de alcançar o tálamo, o cérebro
superior é automaticamente invadido” (p.24).
Van de Wall, um músico e educador musical, explica em seu livro “Música em Hospitais” que as
vibrações sonoras causam contrações e colocam em movimento braços, mãos, pernas e pés
automaticamente. Em testes com determinados pacientes houve movimentos involuntários sendo
necessária a retenção muscular consciente do paciente.
Este tipo de pesquisa pode ajudar em diversas áreas do comportamento animal, desde as plantas
até os mamíferos, em geral. Com relação à influencia nos humanos, estudos mostram que ritmos no
ambiente de trabalho podem resultar num melhor rendimento dos trabalhadores, ou mesmo ser um fator
relevante no comportamento de uma geração de jovens que escutam um determinado estilo musical.
Existe uma área do conhecimento humano que se preocupa em perceber as respostas do corpo aos
estímulos sonoros, chamada de musicoterapia. O papel do musicoterapeuta, - profissional que tem por
finalidade, através de música, tratar distúrbios do corpo e da mente -, é estudar padrões comuns de efeitos
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sonoros, como por exemplo, o efeito tranquilizante causado por sons graves, bem como o conhecimento
do que é o universo sonoro daquela pessoa, o que ela te traz como influência, como é a relação dela com
os sons e com a música.
Desta forma, a música propriamente dita, ou mesmo as vibrações sonoras que estão ao nosso redor
diariamente, podem ter um impacto positivo ou negativo em nossa personalidade, humor e relações
interpessoais. Para cada estado humano, é possível que exista um tipo de frequência sonora que acalme,
agite, que nos possibilite outras sensações como, por exemplo, podemos ter um tipo de música para
estudar, outra para um jantar romântico. O corpo humano ainda é um mistério que a ciência busca revelar,
mas que uma boa música num momento adequado pode gerar efeitos indescritíveis, isso é uma coisa que
ninguém pode negar.
REFERÊNCIAS
ALTSCHULER, Ira M. The Past, Present and Future of Music Therapy. E. Podolsky (org.). Music
Therapy. Nova York. Philosophical Library, 1954.
WEYNIO
JR.,
Pedro.
A
Música
na
Física.
2008.
Disponível
em:
<http://amusicanafisica.blogspot.com.br/> (Acesso em 31/07/2014).
GRILLO, Maria L; PEREZ, Luiz R. A Física na Música. Rio de Janeiro, Editora EDUERJ, 2013.
RUUD, Even. Caminhos da Musicoterapia. [tradução Vera Wrobel] São Paulo, Summus, 1990.
SEKEFF, Maria de Lourdes. Da Música, seus usos e recursos. São Paulo: Editora UNESP, 2012.
WALL, Van de W.; LIEPMANN, Clara María. Música em Hospitais. [tradução H. Lloyd Leno ]. Nova
York: Russell Sage Foundation, 1946.
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