foi imediata: “eu não preciso de ajuda, graças a Deus, estou bem e

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“ORGANIZAR A SOLIDARIEDADE NO SEIO DA COMUNIDADE PORTUGUESA”
Campanha 2010 da Misericórdia de Paris *
PRECARIEDADE E EXCLUSÃO : UM CASO REAL
Foi no passado mês de Março que foi assinalado à Misericórdia um caso de necessidade
de apoio material. Era uma senhora portuguesa, já perto da idade da reforma. Pedia ajuda para
a sua mãe, com 82 anos cumpridos e que vive só. Dispõe de 510 euros por mês para pagar um
aluguer de 360 euros, mais água, gás, electricidade e telefone. No final, pouco lhe resta para
viver. A filha contribui como pode mas também vive com dificuldades. Por isso, procura quem
possa auxiliar a mãe.
Em companhia da filha, organizou-se uma primeira visita para entrega de géneros
alimentícios e avaliação da situação, a fim de determinar o género de ajuda a prestar de forma
regular. Apesar da idade avançada, encontramos uma Senhora cheia de vida, amável, digna e
com um dinamismo incrível. Todavia, logo que se falou de apoio e entrega de géneros, a reacção
foi imediata: “eu não preciso de ajuda, graças a Deus, estou bem e não pedi nada a ninguém”.
Foi necessária a explicação paciente da filha, insistindo que tinha sido ela a fazer o pedido
e que se tratava duma instituição caritativa e de solidariedade, a Misericórdia de Paris, como a
que existe na vila onde tinha nascido em Portugal. Finalmente, a Senhora acabou por reconhecer
que a situação de carência era bem real e a solidão uma companheira difícil de suportar, apesar
dos esforços da filha para a visitar sempre que podia. Comovidamente, agradeceu a
disponibilidade.
Este caso ilustra perfeitamente a tendência de muitos Portugueses que procuram encobrir
o estado de pobreza e as dificuldades com que se são confrontados. Tentam solucionar os
problemas pelos seus próprios meios, sem recorrer aos serviços sociais, às administrações
competentes ou mesmo às instituições de solidariedade. Sofrem as consequências com recato e,
por vezes, quando tais casos acabam por ser assinalados, é já tarde para um tratamento social
eficiente.
Infelizmente, esta atitude torna difícil a organização da solidariedade para com os
Portugueses em situação de carência e de exclusão. São prova evidente disso, os fracos
resultados obtidos com as campanhas realizadas em 2008 e 2009, destinadas a localizar tais
situações. Aliás, continua-se esse trabalho.
Entretanto, ouve dizer-se que o fenómeno da precariedade, da pobreza e da exclusão
social dos Portugueses, não só continua a ser mal conhecido, como progride de forma
significativa, em consequência da grave crise socioeconómica que o mundo atravessa e do
envelhecimento, com reformas baixas e muito baixas para um elevado número de reformados.
Mas, além das situações de carência material, também se deve ter em consideração e
procurar identificar aqueles que vivem isolados e desamparados, carecendo de apoio moral e
afectivo. Estes são certamente mais numerosos do que aqueles que se encontram em situação
de necessidade material e as respostas sociais a esse flagelo praticamente inexistentes.
A média mensal das pensões de velhice pagas aos reformados portugueses que
mantiveram a residência em França era de 551,24 euros, em Dezembro de 2002 e não houve,
desde então, mudanças significativas. Segundo os resultados do inquérito PRI, 29% dos
Portugueses interrogados dispõem de menos de 583 euros de rendimentos por mês, dos quais
18,9% menos de 383 e 1,1% nada recebe. Entretanto, 35,4% dizem sentir-se sós (10,7% com
muita frequência) e 46,2% conhecer períodos de depressão (12,7% com muita frequência).
Projecto co-financiado pela DGACCP, no âmbito do Ano Europeu do Combate
à Pobreza e à Exclusão Social 2010, na vertente Comunidades Portuguesas
Ficha n°3
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