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Religião: ópio da humanidade ou apoio evolutivo?
Walter S. Barbosa1
Religião e Deus são naturalmente entidades conexas e misteriosas. A partir daí, quando se
tenta avaliar o sentido da religião sob a perspectiva intelectual, inúmeros são os argumentos
encontrados no sentido de rechaçar as duas coisas, “resolvendo” o problema.
Considerando que para a natureza orgulhosa e separatista do intelecto, Deus –
representando o Todo, o Infinito – é algo inconcebível, sua aceitação pode se dar no
máximo pela via “dogmática”, numa espécie de opção cautelosa do ego sempre em busca
de segurança. Diante daquilo que não pode definir – conforme a especialidade da mente – a
inclinação do orgulho é simplesmente negar.
Luciene Félix – professora de Filosofia e Mitologia – diz que, segundo Freud, “o
sentimento religioso de um vínculo indissolúvel, de algo ilimitado, sem fronteiras, essa
sensação de eternidade, algo oceânico, por assim dizer, não passa de uma ilusão”. Para o
“Pai da Psicanálise”, a busca do paraíso – a felicidade perene – é apenas uma recordação de
nossa vida intra-uterina no corpo da mãe, onde todas as necessidades são atendidas.
Já para o filósofo alemão Nietzsche, a religião era “a responsável por insistir na cultura dos
fracos, operando uma inversão de valores tais como os dos escravos que valoram a coragem
como sendo um mal”. Autor da frase “Deus está morto”, a argumentação anti-religiosa de
Nietzsche visava sobretudo o Cristianismo.
“Eis que o cristão afirma” – dizia Nietzsche – “nós, os escravos, somos vítimas, somos
bonzinhos; eles, os senhores, os afirmativos, são malvados, opressores, não prestam. A
submissão foi transformada numa virtude chamada obediência. Disso resultará o grupo dos
ressentidos. E todo ressentido torna-se venenoso”. Estaria nesse veneno a fonte de sua
loucura no fim da vida, às vezes intitulando-se o próprio “crucificado” que combatia, e cuja
extensão jamais poderia abarcar com os limitados recursos do intelecto?
Contudo, Charles Darwin, sempre citado como um dos baluartes do materialismo por ter
criado a “Teoria da Evolução das Espécies”, via Deus como o legislador supremo,
afirmando ao mesmo tempo que a religião é “estratégia tribal de sobrevivência”.
Por sua vez, ao negar a evolução e as vidas múltiplas – ensinamento implícito em várias
passagens bíblicas2, como ressalta Raul Branco na obra “O poder transformador do
Cristianismo Primitivo” (Editora Teosófica) – a religião parece justificar aquela idéia de
“estratégia” e utilitarismo. O efeito é que, ao desconsiderar-se a expansão da consciência e
o crescimento gradativo do Ser como um propósito da vida, retarda-se a jornada em direção
à “estatura da plenitude do Cristo” (Efe 4:13), meta essa de impossível atingimento em uma
só experiência encarnatória, como se vê mesmo pelos padrões evolutivos de hoje.
Compreende-se a ligação feita entre Darwin e o materialismo, pela idéia de que a evolução
parece negar a criação, levando junto o Criador. Essa lógica esquece, porém, que a evolução
tem que partir de um ponto potencial onde as possibilidades evolutivas estão contidas –
com toda sua extraordinária diversidade – do contrário surgiriam do nada.
Quando é que o nada pôde criar alguma coisa? No tempo de Aristóteles pôde, e hoje
também. Defendendo a “Abiogênese”, ele dizia: “há certos materiais que são possuidores de
um princípio ativo ou força vital, ou seja, a possibilidade de criação da vida”. Assim, “um
punhado de trapos velhos e sujos, depois de algum tempo, origina seres vivos de
características semelhantemente sujas como ratos e insetos”. Nos tempos de hoje, com a
teoria do Big-Bang, precisa-se de menos ainda para criar seres vivos, não é?
Se a Nietzsche se deve a frase “Deus está morto”, a Einstein deve-se outra não menos
famosa e mais verdadeira: “A ciência sem religião é aleijada; a religião sem ciência é cega”.
Em meio às trevas da ignorância, a religião ainda é um ponto de luz, apesar de em seu nome
(e de Deus) se terem cometido tantos enganos. A falha, porém, é da religião ou do homem?
Do instrumento deixado pelo Mestre ou de seu operador?
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1
2
Membro da Sociedade Teosófica e da Universidade Livre para a Consciência.
(Lc 1:13-17; Mt 17:9-13; Jo 3:1-15; Mc 8:27-30; Lc 9:18-20; Ml 3:1; Mt 16:13-14; Je 1:5)
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