mente-refém do corpo

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“MENTE-REFÉM DO CORPO”
REFLEXÕES SOBRE: COMPULSÃO/ADIÇÃO
Ronaldo M. de
Oliveira Castro*
Resumo
O autor procura fazer uma breve revisão dos
conceitos sobre as compulsões aditivas, tais como
distúrbios alimentares, da sexualidade, da drogadição, das
atividades eletrônicas virtuais e jogos. Apresenta ainda,
algumas vinhetas clínicas. Pretende mostrar, que nas
adições a falha do desenvolvimento psicoemocional em
estágios primitivos, torna a mente-refém do corpo.
O tema envolve tal complexidade e amplitude, que mesmo
procurando restringi-lo ao âmbito de uma abordagem psicanalítica,
sua explanação continuará insatisfatória e incompleta, devido aos
diferentes vértices teóricos e clínicos, dos diversos trabalhos sobre
o mesmo, e ao pouco tempo que dispomos.
O termo adição é usado, geralmente, para descrever uma
obsessão, compulsão ou excessiva dependência física ou
dependência psicológica, tais como: drogadição, alcoolismo,
tabagismo, compulsão alimentar, jogos, computador, sexuais, etc.
A grande maioria dos autores que estudaram e estudam
os distúrbios do comportamento aditivo, tais como, os alimentares,
os das drogadições, os sexuais, etc., atribuem basicamente estes
transtornos, como decorrência de uma falha no desenvolvimento
psicoemocional primitivo.
Falha esta que ocorreria na relação mãe-bebê, quando a mãe
não apresenta condições de favorecimento da separação fusional
com ela (função materna) e ainda quando o pai igualmente não
exerce a função paterna, facilitadora da passagem da relação
diádica para a triádica (edípica).
Em virtude, da ausência de uma “mãe suficientemente boa”
(Winnicott), e de um “pai suficientemente bom” (Vaillant, G., 1995)
citado por Ramos (2004), o bebê não conseguirá viver o luto da
separação fusional com a mãe, o que ocasionará uma busca externa,
incoercível, compulsiva, por parte da criança e posteriormente do
“adulto”, do objeto perdido, sob a forma de adição, de verdadeira
escravidão. Não conseguirá alcançar condições satisfatórias de
simbolização, com acentuada deficiência em sua capacidade para
pensar. A ação ocupa o lugar do pensamento.
As conseqüências são inúmeras: distúrbios alimentares
(obesidade,
anorexia,
bulimia),
drogadição
(substâncias
psicoativas), sexualidade compulsiva, aditiva (homossexualidade,
pedofilia, sado-masoquismo) e as mais recentes adições (jogos de
azar, jogos eletrônicos, internet).

Membro Titular da SPB e Membro Efetivo da SBPSP
1
Freud (1923), diz que: “o ego é, primeiro e acima de tudo, um
ego corporal”. Isto é, tem como base as sensações corporais que
promovem a presença de uma imagem do corpo incipiente.
A psicanálise vem procurando contribuir e compreender os
fenômenos relacionados a esses distúrbios primitivos, cujas
conseqüências aparecem como manifestações de um sofrimento
psíquico persistente, desencadeantes de defesas primitivas
poderosas, quem tornam a mente-refém do corpo.
As atuações são expressas através do corpo, evidenciando a
impossibilidade de elaboração das experiências sensoriais,
sensações e emoções, e conseqüentemente o comprometimento da
função do pensar.
São pessoas nas quais, partes de sua personalidade ficaram
aprisionadas nos estágios primitivos do seu desenvolvimento, em
conseqüência de predisposições genéticas ou de relação deficiente
com uma mãe deprimida, insuficientemente boa, portanto sem as
condições básicas necessárias para exercer sua função materna.
Permanecem assim, aprisionadas a um mundo sensorial,
relacionado às gratificações orais, narcísicas, perversas e por vezes
maníacas, que sustentam a fantasia de segurança.
Os
principais
distúrbios
alimentares
compulsivos
correspondem à obesidade, a anorexia e a bulimia.
O conceito de transicionalidade proposto por Winnicott (1951)
nos ajuda a compreender melhor, os primórdios destes distúrbios.
Diz ele: “A transicionalidade é a matriz da simbolização, pois tem a
ver com a simbolização da ausência/presença da mãe. Representa a
transição do bebê de um estado em que está fundido com a mãe
para um estado em que está em relação com ela, como algo externo
e separado dela”.
Já o objeto transicional estaria representando uma transição
entre o mundo do imaginário e o da realidade (chupeta, travesseiro,
ursinho de pelúcia,etc.), e ocupa um lugar e uma função no espaço
transicional (ou espaço da ilusão). Corresponde a mãe e o ambiente
materno a serem introjetados.
Winnicott (1940) pontua: “Não existe isso que chamam de
bebê. Sempre que vemos um bebê, vemos também um cuidado
materno, e sem o cuidado materno não haveria bebê”.
A evolução patológica do objeto transicional (adições, roubos,
fetichismo), torna-o definitivo e permanente, no lugar de ser
transitório.
McDougall (1995), chama-o, de objeto transicional patológico,
não promovendo a transição para o registro da linguagem ou
pensamento, não ocorrendo a introjeção da função materna, não
favorecendo o desenvolvimento psicoemocional.
Gurfinkel (1992), citado por Perez, G.H, a partir do conceito de
objeto transicional, considera a compulsão alimentar como um
distúrbio da ordem das adições, como uma ação impulsiva
irrefreável frente ao alimento, ou objeto-fetiche.
O impulso para comer, na adição, é reflexo de uma
necessidade psíquica do indivíduo de fusão total com a mãe, para
aplacar o vazio, vazio de não ser, numa tentativa de resolver a
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tensão e a depressão daí decorrentes, o que resulta em fracasso. A
busca dos comportamentos aditivos é de obscurecer e manter
afastados da consciência, experiências dolorosas impensáveis.
No obeso a comida ocupa o lugar do afeto que se perdeu e ele
quer a todo custo recuperar, incorporar, repetitivamente, e manter
“a negação implícita da ausência, perda ou destruição do objeto” O
conceito de negação, implícito no ato de comer compulsivamente,
tem relação, segundo Grinberg (1956), com o instinto de morte.
Freud (1905) considera que a pulsão está situada entre o
somático e o psíquico, e que as pulsões sexuais derivam de forma
anaclítica das necessidades de autoconservação e que devem por
isso destacar-se, progressivamente, do objeto original real, a fim de
atingir a satisfação auto-erótica, antes de atingirem o estágio de
“escolha de objeto”.
Mais recentemente, McDougall (1987), conclui que “enquanto
a sexualidade de um adulto funcionar como uma atividade anaclítica
_ isto é, quando o indivíduo tem de usar outra pessoa da maneira
pela qual usava a mãe quando bebê – estará irremediavelmente
ligada a um objeto do mundo externo que é destacado dos objetos
introjetados essenciais, talvez porque estes estejam ausentes,
defeituosos ou ameaçadores internamente. Além da incapacidade de
assumir, através das identificações, as funções paternas e
maternas, uma tal organização pode tornar inoperante toda a
tentativa de criar ou manter relações sexuais estáveis ligadas ao
sentimento de amor. Deste modo a sexualidade do sujeito corre o
risco de tornar-se desviada e (ou) aditiva. (...) o objeto sexual
(enquanto objeto parcial ou prática erótica) é procurado sob o modo
anaclítico e buscado incessantemente, como uma droga”.
Outro ponto que gostaria de destacar, é o da identificação e da
imagem corporal, uma vez em que “o corpo e a vivência do corpo é
que fazem com que se crie uma imagem corporal que para o obeso
pode adquirir múltiplos significados”.
A imagem corporal é muitas vezes distorcida da realidade,
devido à associação com aspectos idealizados ou patológicos,
reflexo de dificuldades em aceitar o próprio corpo.
As
imagens
corporais
introjetadas,
no
processo
de
identificação com figuras da esfera familiar, por vezes, provocam
conflitos dolorosos, entre o que se é o que se deseja ser, o que se
pode ser e o que se crê que os outros querem que seja. Daí a
tendência à negação da própria imagem e conseqüente distorção no
processo de identificação.
Em continuidade McDougall afirma que o sentimento de
identidade apóia-se na convicção de que se vive no interior do
próprio invólucro carnal e na certeza de que o corpo e o eu são
indissolúveis. Comenta que esta experiência parece estar ausente
em muitos adultos devido à dissociação entre psique e soma. E que
“a aquisição da capacidade e do sentimento de que habitamos o
próprio corpo tem a ver com o luto que deveríamos fazer do corpo
da mãe. Neste movimento de separação surge e urge a entrada do
pai, figura dele no mundo simbólico da mãe e, conseqüentemente,
no da criança”.
3
Como ilustração, apresento algumas falas de uma paciente
jovem obesa:
- “Nunca consegui me admitir gostando nem me deixando gostar.
Me apaixonei por um estrangeiro. Foi um encantamento mútuo.Me
comunico com ele mas não deixo que se aproxime. Mantenho
milhões de experiências assim pelo mundo...
Se me conhecerem de perto, descabelada, gorda, etc., não vão
gostar de mim.
Acho que tenho algo mental ou físico aterrador!
- Estive numa festa no lago, e um belo rapaz se interessou por mim,
que fiquei com vontade de me jogar no lago. Porque esse cara se
interessou por mim? Deve estar louco!
Em outra sessão: -“Sou uma alienígena para a minha mãe! Minha
irmã sempre foi à bela e eu a inteligente. Não tenho nenhuma
afinidade com minha mãe, me aproximei de meu pai. Nunca vi
ninguém tão controladora. Nós somos objetos, não somos pessoas,
somos coisas.
- Me vejo gorda e desprezível! Como é que um paraplégico consegue
ser amado? Fico me achando feia. Não é feia, é monstruosa, gorda...
A maluquice disso, é que eu tenho os alicerces da minha profissão.
Tenho que acreditar em mim e no que estou fazendo. Um
profissional amigo disse que sempre acreditou em mim, no meu
valor profissional.
- Fico me achando vazia, sem marido, sem filhos, uma velha. Fico
me auto-flagelando.”
Em outro momento: -“A gordura é um macacão. Acho todas as
roupas femininas pequenas. Para mim a pessoa vale quanto pesa,
quanto mais peso, menos vale como pessoa.
- Outro dia pela primeira vez, estava em um bar e ao olhar para o
lado me vi no espelho, e ri para mim.
Penso que minha mãe tem algo a ver. Me rejeitou, me censurou,
enquanto elogiava a minha irmã. Ela é muito ligada às aparências.
Aos 12 anos meus pais se separaram. Ela criou um estigma para
mim, que nunca iria casar-me. Que ninguém iria me querer. Eu sei
que minha baixa auto-estima tem a ver com a minha mãe. Eu não
existo para ela. Eu tenho muita raiva da minha mãe!
Desde pequena fui educada a ajudar os outros, como se eu não
importasse como gente. Minha mãe é muito voltada para as coisas
materiais.
Recentemente chegou a dizer: “É muito legal quando meu pai
está lá em casa. Ele acorda assobiando, abre as janelas, põe uma
música, põe a mesa para o café. Noto que hoje existe um
movimento em mim, ligado a yoga e a análise, de me aceitar como
sou. Olhar para o espelho e dizer para mim que estou linda!”
Quanto à anorexia, observa-se, uma enorme obsessão pela
magreza, nunca alcançada, apesar da compulsão a não comer.
Algumas vezes, o alimento é de tal forma, rejeitado, podendo levar
a situações extremas e a morte.
A psicanálise procurava explicar a anorexia, como sendo
decorrente de um repúdio à sexualidade, uma espécie de histeria de
4
conversão, na qual a jovem não poderia apresentar qualquer
protuberância abdominal, que pudesse sugerir a concretização de
alguma fantasia incestuosa de gravidez do pai. Daí o temor de
engordar.
Dentro desta visão, recordo-me de uma paciente, filha única,
solteira, com pais descritos como distantes e frios afetivamente. Pai
bem sucedido intelectualmente e profissionalmente, sempre
envolvido e fechado em seu próprio mundo, e sua mãe muito
submissa e dependente dele. Um dos principais ressentimentos da
paciente era o de jamais ter recebido um colo, um carinho de
ambos, nenhum contato físico, a falta do que Ajuriaguerra
enfatizava, de contact peau à peau. Desde adolescente, passou a
não comer quase nada, a vomitar, chegando, em certa ocasião a ser
hospitalizada com sintomas de falsa-gravidez (pseudociese).
Apresentava quadro clínico típico de anorexia.
Na anorética encontramos também, a existência do sentimento
de uma péssima relação com a mãe e a fantasia inconsciente, de
que esta deseja mantê-la dependente, infantilizada e submissa, não
favorecendo seu crescimento.
A amenorréia e a baixa auto-estima são sintomas freqüentes, visto
que, os transtornos compulsivos alimentares, atingem em maior
incidência mulheres jovens e adolescentes.
Através dos vômitos repetidos, a anoréxica empreende uma
tentativa de fazer com que a mãe e seus conteúdos desapareçam de
dentro dela.
Bion (1974), em um de seus seminários, comenta o caso de
uma paciente anoréxica, questionando a validade de se dar rótulos
aos pacientes, e sugere a conveniência de esquecer doentes e
doenças, para ficarmos com a mente menos saturada, mais livre.
Diz ele: “Assim, pode-se dizer que todo homem gordo tem um
homem magro dentro, tentando escapar. Mas que eu poderia dizer o
oposto: todo homem magro tem um gordo dentro, lutando para
nascer”.
Levanta a hipótese de que haja desde o nascimento ou mesmo antes
, um conflito entre duas tendências opostas, como por exemplo,
entre sanidade e insanidade, nascimento e não-nascimento, comer
ou morrer de fome, ser mentalmente ativo ou mentalmente morto.
Referindo-se à paciente que se sentia vivendo numa prisão,
enfatiza: “A pessoa faminta lutando para ser alimentada! O feto
lutando para nascer! (como se fosse um pinto dentro de um ovo). A
pessoa adulta na busca para voltar para aquilo que ela possa ter
sentido como bebê!”
Na
bulimia,
contrariamente,
há
uma
obsessão
pela
alimentação. Procura tenazmente, comer e comer, até não mais
poder, em busca da relação primitiva simbiótica com a mãe, como
tentativa para aplacar suas angústias persecutórias, tentando numa
ilusão tranqüilizadora, preencher o vazio psíquico. São mobilizados
por um impulso irrefreável, incoercível e recorrente de voracidade,
ingerindo rapidamente, uma grande quantidade de alimentos. Com
5
freqüência a bulimia associa-se com a anorexia, fazendo com que o
bulímico utilize o vômito, o que acarreta com freqüência um estado
depressivo e pensamentos autodestrutivos.
A drogadição é um termo genérico utilizado para designar os
indivíduos dependentes de substâncias psicoativas e preferido por
alguns autores, ao termo toxicomania, este significando um desejo
louco por veneno. Tenho mais simpatia pelo termo adição, que
considero mais abrangente, e que etimologicamente refere-se, a um
estado de escravidão.
“Embora o adicto possa sentir-se escravizado ao fumo, ao
álcool, à comida, aos narcóticos, a drogas psiquiátricas e ou a
outras pessoas, isso está longe de ser a finalidade da busca aditiva.
Ao contrário, o objeto da adição é vivenciado como essencialmente
“bom”; algumas vezes, chega mesmo a tornar-se a única busca que
é sentida como dando significação à vida do indivíduo. (...) a
intenção é, a de dissipar sentimentos de angústia, ódio, culpa,
depressão ou qualquer outro estado afetivo, que dê origem a uma
tensão psíquica insuportável (McDougall,1995-1997)”.
Trechos da fala de uma paciente: “A maconha representa um
protesto contra a vida. Começa por dar prazer, fico mais relaxada e
com pensamentos mais brilhantes. Uma serie de gratificações, que
estimula a aumentar o uso. Depende das minhas carências. O malestar depois ataca a minha memória, dá dor de cabeça, aumenta o
alheamento, que em geral eu gosto e ás vezes me prejudica.
Desperta uma volúpia, dá mais prazer. Tira o cinzento, o descolorido
da vida, que fica mais brilhante, mais colorido, me desinibe. Muda
algo em mim!
Me ajuda a me aceitar, a suportar minha vida.”
Ao me referir que assim, acredita que reconstrói a ligação com sua
mãe, como um cordão umbilical. Acrescenta: “Acho que sempre foi
muito difícil me separar de minha mãe sem culpa.”
Outro aspecto que gostaria de destacar é o da mentira. Os
adictos mentem com freqüência, fabricando um mundo de mentiras
e tentando convencer os outros, e o analista, do seu mundo
delirante, como sendo a realidade e assim compartilharem a mesma
“droga”, através da qual vêm à realidade.
Guignard (2008) ao tecer considerações sobre A psicanálise e
a criança na sociedade ocidental de hoje, destaca o quanto “a
sociedade ocidental está vivendo modificações estruturais num
ritmo crescente.” Mostrando como o desenvolvimento da tecnologia
vem promover turbulências e adicionar fragilização e profundas
mudanças nas estruturas familiares, afetando o desenvolvimento
das crianças. O desenvolvimento da vida psíquica do indivíduo, tem
se tornado muito secundário.
Constata-se o “quanto tem se modificado a psicopatologia
individual de hoje, na medida em que se desagregam as estruturas
sociais e familiares de nossa sociedade atual.”
Pontua, o quanto o universo virtual é um universo de
simulação, faltando-lhe as condições para o desenvolvimento
psíquico – “conhecer a incerteza”, aceitar o aleatório. Os que
6
utilizam jogos de vídeo gabam-se das qualidades de destreza, de
domínio e revalorização narcísica propiciada por esta prática.
A percepção é usada sobre um mundo pseudo-real, e serve
de fuga às percepções dolorosas. A parte cindida é solicitada à ação
pelos jogos de vídeo, como pensamento estratégico, que sabe fazer
calar seus sentimentos. É grande a tendência de substituir o ‘mundo
psíquico interno da representação em ligação emocional com seus
objetos internos’ pelo mundo da imagem imposto à percepção
visual’. Um objeto virtual tem as qualidades que o programador quis
lhe dar (com uma parte de seu inconsciente), o que não dispensará
da criança ter que elaborar sua relação com sua mãe real.
A criança se refugia na hiperatividade e em seus jogos de
exploração ou combate e não consegue mais sair deles, pela ameaça
de re-encontrar sua angústia. De onde podemos inferir a tendência
à adição.
Ramos (2004) considera que “o adicto é em tese o enunciado do
sintoma de uma disfunção familiar mascarada pelas funestas
conseqüências da adição”.
Dentro das possibilidades terapêuticas, nos deparamos com
uma grande diversidade e complexidade de condutas, além da
abordagem psicanalítica.
No caso do obeso e do anorético, sem dúvida o melhor
caminho é o da prevenção, com a participação efetiva familiar,
clínica e institucional, tais como: pais, médicos (pediatras,
endocrinologistas, educadores, nutricionistas, educadores físicos,
psicólogos e psicanalistas). Tarefa permanente e intensa que se
estenderia, à campanhas de saúde pública, instituições de ensino, à
mídia dedicas às questões ligadas à adição.
No caso da obesidade já instalada, várias formas de
psicoterapias podem ser indicadas, simultaneamente, com
tratamentos clínicos e nutricionais, realizados em grupoterapias ou
individuais, por assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos,
médicos e psicanalistas. Bons resultados são obtidos, ao nível de
tratamento familiar, no caso de crianças e adolescentes.
Algumas vezes, não nos é possível contar com o apoio e
colaboração da família do obeso, que muitas vezes, sustenta o
sintoma obesidade e participa na constituição do mesmo.
Freqüentemente, o adito requer muitas atenções do grupo familiar
que facilitou o atendimento de suas gratificações imediatas, não
tendo aprendido a controlar os seus impulsos.
Os drogadictos, algumas vezes, necessitam de hospitalização e
atividades grupoterápicas, para cuidarem da parte psicótica.
No caso de obesidade mórbida (grau III, IMC>40),
ultimamente vem se utilizando a cirurgia bariátrica (redução do
estomago), cujas indicações e critérios são bastante rígidos,
requerendo um tempo de evolução da doença de pelo menos cinco
anos e não haver conseguido controle do peso por nenhum método
de tratamento.
Ramos (2004) assinala nos adictos, “a persistência de uma
relação objetal simbiotizada que os mantém num funcionamento
narcisista onde o uso de drogas é visto tanto sob o ângulo do prazer
7
que prescinde de objeto, quanto o da falta onipotentemente
controlada.” Salienta ainda, “as possíveis participações da mãe e do
pai (não suficientemente bom) na gênese destes distúrbios, bem
como, o comprometimento da função paterna, como sendo
decisivo”.
Conclui que, a intoxicação do sistema nervoso central e a
psicanálise são incompatíveis, exceção feita à nicotina, que não
altera a sensopercepção.
Não indica, portanto, análise para dependentes químicos na ativa, e
somente, para os com abstinência estabilizada.
Gostaria de assinalar, que o paciente obeso e o anorético em
virtude de suas aparências físicas, estampam suas patologias, ao
contrário dos bulímicos e dos demais adictos, que freqüentemente,
as escondem, mentem, dificultando ao psicanalista uma maior
clareza na decisão de tomá-los em análise. No entanto, dependendo
do conhecimento que tenhamos da intensidade e do tipo de droga
utilizada, poderemos assumi-los em análise.
Concluindo,
podemos
constatar
que
estes
pacientes
compulsivos com transtornos alimentares e diversas adições,
sofrem em comum uma verdadeira escravidão, a adição, e o
aprisionamento de seu desenvolvimento psicoemocional – a menterefém do corpo.
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Rio de Jeneiro: Imago, 2000. p. 374-392.
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