resenha/ Review Leucoplasia oral: qual a melhor conduta clínica? Mogedas-Vegara A, Hueto-Madrid JA, Chimenos-Küstner E, Bescos-Atín C. The treatment of oral leukoplakia with the CO2 laser: A retrospective study of 65 patients. J of Craniomaxillofac Surg. 2015; 43: 677-81. Lucas Farinelli Graduando em Odontologia-FOL-Unimep Bruna Maria Rodrigues Vilardi Doutoranda em Patologia Bucal-FOB-USP A leucoplasia é definida como mancha branca ou placa não raspável que pode ocorrer na mucosa bucal, faringe e laringe. Para que uma mancha ou placa branca seja classificada como leucoplasia oral (LO), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), não deve apresentar características clínicas ou patológicas de outra doença e apresentar “distúrbio potencialmente maligno”. A etiologia da LO pode ser idiopática, associada ao tabagismo, etilismo, cândida e papiloma vírus (HPV). Quanto aos fatores etiológicos, existem muitas controvérsias. O etilismo é, frequentemente, um fator sinérgico ao tabaco. Quanto à cândida, há possibilidade de ser uma infecção superposta às lesões brancas, e o HPV não apresenta evidências consistentes da relação direta com a LO. Embora os hábitos do sujeito sejam importantes fatores para o desenvolvimento dessas lesões, eles também têm sido relacionados ao risco de evolução para uma condição maligna. A prevalência mundial da leucoplasia oral é de cerca de 2%, sendo a mais comum das lesões com potencial de malignização. A taxa anual de malignização varia de 4% a 6%, mas pode alcançar 17,5%. Os fatores associados à malignização da leucoplasia são: o gênero feminino, longa duração, tamanho maior que 2 cm. A questão do gênero envolve uma maior procura de tratamento por parte das mulheres em relação aos homens. Outros critérios clínicos que demonstram um risco particularmente elevado de transformação maligna são as leucoplasias do tipo verrucosa, presença de erosão ou ulceração, presença de nódulo, bordas endurecidas da lesão, localização da lesão na região anterior e inferior da língua. Quanto maior o grau de displasia celular, maior o risco de malignização. Em casos de LOs múltiplas deve haver maior atenção para o fator genético, inclusive para susceptibilidade ao desenvolvimento de neoplasias. A evolução mais comum das LOs é para o carcinoma espinocelular. O método convencional utilizado no diagnóstico das LOs é a avaliação clínica visual, mas são necessárias experiência e habilidades do clínico. Em virtude do risco existente em LOs, o diagnóstico precoce é fundamental. A citologia esfoliativa em base líquida ainda é realizada como meio diagnóstico, mas, apesar do avanço que ela representa, o diagnóstico pode não ser conclusivo. Sendo as LOs lesões de superfícies ricas em queratina, as citologias esfoliativas são procedimentos que devem ser excluídos do processo de diagnóstico, que se dá pela biópsia e análise histopatológica, sendo fundamental para a sobrevida o diagnóstico e tratamento precoces. A biópsia é o exame complementar indicado para o diagnóstico. Se a lesão tiver, em média, até 2 cm, a biópsia excisional está indicada. A subjetividade é um problema real na avaliação do grau de displasia em exames histopatológicos. É necessário aperfeiçoar FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 25(1) 7=85-86 • jan.-jun. 2015 ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236 85 Lucas Farinelli os resultados histopatológicos por meio de análises morfométricas computadorizadas, marcadores, ou pelo exame transversal de dois patologistas. O uso do azul de toluidina, um corante que identifica DNA mitocondrial em células com volume aumentado de ácido nucleico, sugerindo proliferação anormal, é um precioso método de orientação para a realização das biópsias. Os tratamentos sugeridos pela literatura são diversos, entre eles, a excisão cirúrgica, agentes tópicos (bleomicina, vitamina A) e agentes sistêmicos (b-caroteno, licopeno, retinoides). Entretanto, os agentes tópicos e sistêmicos conseguem extinguir baixo número de LOs e, ainda, ocorrem recidivas, um risco complicado para uma lesão com potencial maligno. Os tratamentos cirúrgicos são os mais aplicados. O laser de CO2 (α=10.600 nm), intensamente absorvido pela água, vem sendo comumente utilizado como tratamento da leucoplasia oral e tumores malignos. As vantagens utilizadas nessa técnica são: controle de sangramento, diminuição da bacteremia, melhor visualização do campo cirúrgico e redução da formação de cicatrizes. As principais desvantagens dessa técnica, com relação à cirurgia convecional com bisturi, são a cicatrização prolongada e o custo do 86 aparelho, podendo levar ao desenvolvimento de granulomas, sialodenites por obstrução do ducto da glândula submandibular e parestesia lingual. Em 2015, Mogedas-Vegara e colaboradores avaliaram 65 pacientes com diagnóstico prévio de LO, obtido por meio de biópsia incisional e, posteriomente, tratados com laser de CO2. Os sítios primários foram identificados principalmente na língua (32,3%) e gengiva (29,2%). A biópsia incisional mostrou displasia de leve a moderada em quase metade dos pacientes (44,6%) e hiperplasia sem displasia em cerca de um terço dos pacientes (32,3%). O grau de displasia foi o fator mais comum associado à malignização da lesão. As taxas de recidiva e malignização foram de 33,8% e 15,4%, respectivamente. Os autores recomendam a excisão cirúrgica da lesão que apresente, ou não, displasia, e sugerem o uso do laser de CO2 em virtude de apresentar menores taxas de complicações, recidiva e malignidade. O uso do laser de CO2, apesar de oferecer vantagens, não elimina o risco de desenvolvimento de carcinomas ou recidivas de LOs. O ponto crucial para o tratamento dessas afecções é a realização de excisão cirúrgica. A proservação para avaliar as recidivas e exclusão de evolução de uma lesão pré-maligna para uma neoplasia maligna é primordial. FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 25(1) 85-86 • jan.-jun. 2015 ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236