Manejo de doenças em estufa Romulo F. Kobori, Kátia R. Brunelli, Ricardo Gioria Sakata Seed Sudamerica Ltda. Av. Dr. Plínio Salgado, 4320, CEP 12906-840, Bragança Paulista - SP Apresentado no XIII Congresso Iberoamericano de Desenvolvimento e Aplicação de Plásticos na Agricultura 28 a 30 de novembro de 2011 – Campinas, S.P., Brasil RESUMO: Ganhos em produção podem ser obtidos utilizando novas tecnologias, dentre elas está o cultivo protegido. O manejo ambiental favorece o desenvolvimento das plantas e eleva os patamares de produtividade e qualidade. Porém, doenças que em campo aberto são irrelevantes podem ficar epidêmicas no ambiente protegido, causando sérios danos à produção. A integração de medidas visando reduzir ou impedir a entrada de patógenos e o avanço da epidemia é uma tática bastante assertiva de controle. Cuidado com implementos contaminados e sementes de procedência duvidosa é um bom começo para evitar introdução de patógenos. Para doenças já presentes na lavoura, o uso de ferramentas de manejo ambiental associadas a controle varietal/genético e químico podem controlar as epidemias e reduzir os danos. Entretanto, deve-se ter em mente, que as medidas devem ter embasamento técnico e serem economicamente viáveis. PALAVRAS-CHAVE: cultivo protegido, patógenos, controle O cultivo protegido tem ganhado importância no Brasil nas últimas décadas e tornado uma opção para pequenos produtores. Um de seus principais atrativos é a possibilidade de controle do ambiente. Com isso, é possível, por exemplo, cultivar e obter colheitas em épocas ou locais onde antes não haveria possibilidade. Além disso, os frutos e/ou vegetais produzidos sob condições protegidas, possuem, em geral, melhor qualidade. Aliado a estas características, as plantas são submetidas a um menor estresse ambiental e há redução na perda de nutrientes por lixiviação (Brandão Filho; Calegari, 1999). Em Almeria, na Espanha, por exemplo, foi possível transformar uma região, antes desértica em um dos maiores aglomerados de estufas do mundo, com mais de 20 mil hectares de área coberta com plástico. Esta região é hoje uma grande exportadora de hortaliças para toda a Europa. O cultivo sob plástico favorece o adequado crescimento e desenvolvimento das plantas, porém, se não manejado adequadamente favorece o aparecimento e incremento de doenças. Para todos os produtores que optam por esta tecnologia, a preocupação com as doenças de plantas é assunto constante. Algumas delas tornam-se, mais destrutivas em ambiente protegido do que o seriam em campo aberto. Como exemplo cita-se o míldio pulverulento em plantas de tomate e pimentão. Esta doença é causada pelo fungo Leveillula taurica e sua dispersão e infecção é altamente favorecida por elevadas temperaturas e baixa umidade relativa. Em campo aberto este patógeno sofre com as oscilações de umidade o que desfavorece, na maior parte do ano, severas epidemias da doença. Já no ambiente protegido, principalmente onde a irrigação das plantas é realizada via gotejamento, as condições ambientais tornam-se extremamente favoráveis para todo ciclo vital do patógeno. Outro exemplo clássico do favorecimento de epidemias em ambiente protegido é o tombamento de plantas de alface causado por Pythium spp em sistemas hidropônicos. Em campo aberto, esta doença só causa danos se as plantas forem cultivadas em solos mal drenados e em épocas do ano onde o volume pluviométrico supere a capacidade de escoamento do terreno. Este chromista é dependente de água e de elevadas temperaturas. A temperatura em geral favorece o rápido desenvolvimento do patógeno, e desfavorece sobremaneira o hospedeiro. O aumento térmico no sistema hidropônico aliado a períodos de pausa no fornecimento de água (muito comum nos sistemas brasileiros) favorece a queima e degradação radicular. Essa perda radicular torna as plantas mais suscetíveis à colonização pelo Pythium aumentando consideravelmente a incidência e severidade da doença. Não são raros relatos de perdas de produção de 100% em épocas mais quentes do ano. Vírus também podem ganhar importância acentuada dentro de estufa, principalmente aqueles que são veiculados por sementes e disseminados mecanicamente. TMV (Tobacco mosaic virus), o ToMV (Tomato mosaic virus) e o PMMoV (Pepper mild mottle virus) são exemplo de viroses que uma vez introduzidas na estufa dificilmente serão erradicadas. Estes vírus infectam solanáceas de importância como tomates e pimentões sendo os sintomas mais comuns mosaico e deformação foliar além de necrose e mancha em frutos. São transmitidos por sementes, facilmente disseminados por tratos culturais e de difícil controle. São altamente estáveis e podem permanecer nas área de produção por períodos consideráveis mesmo na ausência de plantas hospedeiras. Além destes vírus, bactérias como Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis, agente causal do cancro do tomateiro, também pode ser introduzida nas estufas por meio de sementes ou mudas contaminadas, comprometendo significativamente o cultivo. Muitas vezes, em função das características de sobrevivência do patógeno na ausência do hospedeiro, comprometem-se também os cultivos subsequentes. Patógenos como Ralstonia solanacearum, bactéria causadora de murcha em várias espécies botânicas e os nematóides formadores de galhas (gênero Meloidogynes) são exemplo de microrganismos que permanecem no solo e podem comprometer o rendimento das culturas. Esses agentes, uma vez introduzidos, ou se já presentes na área durante a implantação das lavouras podem causar danos consideráveis e muitas vezes inviabilizar os cultivos. É sempre desejável que o controle de doenças de plantas seja feito de forma integrada, usando concomitantemente vários métodos de controle. No cultivo protegido a integração de medidas passa a ser fundamental. Um bom começo é evitar que patógenos adentrem as áreas de cultivo. Muitos dos patógenos citados acima, como TMV, ToMV, PMMoV e C. michiganensis subsp. michiganensis podem ser introduzidos nos plantio através de implementos, sementes e mudas contaminadas. Assim, promover uma boa assepsia dos implementos e utilizar sementes e mudas de ótima procedência é o primeiro passo para evitar danos futuros. A assepsia de máquinas e implementos deve ser realizada com agentes desinfestantes e não somente com água, como ainda fazem muitos produtores. Exemplo de produtos recomendados para este fim são aqueles com base em amônia quaternária, ácido peracético e cloro, na dosagem recomendadas pelos fabricantes. Muitos produtores que iniciam o cultivo protegido optam por vegetais e hortaliças diferenciadas, o que lhes permitem um maior valor agregado. Porém nem sempre encontram as sementes no mercado nacional, não sendo rara a introdução de sementes vindas do exterior, que potenciais veiculadoras de patógenos, muitas vezes exóticos. O plantio protegido no Brasil foi baseado em modelos trazidos do exterior. As primeiras estufas possuíam, por exemplo, pé-direito baixo e cobertura (poliestireno, vidro, ou determinados tipos de plásticos) para aquecer o ambiente, uma necessidade nos países de clima temperado. Este tipo de estrutura em ambiente tropical favorece a perda de umidade das plantas, aumento na taxa de respiração e estresse fisiológico, o que as tornam mais vulneráveis a infecção por patógenos. Isso é evidente em sistemas hidropônicos instalados na região sudeste do Brasil. A forma encontrada para minimizar este problema é elevar o pé-direito das estufas, instalar microaspersores e telas termo-reflectoras. O controle químico é uma importante ferramenta no controle das doenças de plantas, mas deve ser usado com maior cautela quando aplicado dentro de estufa, para que não haja, no produto comercializado resíduos indesejáveis de defensivos. Recentes estudos da ANVISA revelaram pimentões, principalmente os coloridos (cultivados quase que exclusivamente dentro de estufas) contaminados com defensivos não registrados para a cultura. Isso gerou insegurança na população refletindo em redução acentuada na venda destes produtos e prejuízos a muitos produtores. Cuidado também deve ser tomado para que a deriva destes produtos não reduza a vida útil das estruturas. Como tentativa de controlar epidemias de míldio pulverulento em plantas de pimentão, os produtores realizam sucessivas pulverizações com produtos a base de enxofre. Este elemento químico quando em contato com a cobertura plástica das estufas reduz sua vida útil. Para minimizar os danos provocados por esta doença, muito produtores tem alterado o ambiente de cultivo. Sabe-se que o patógeno é favorecido por baixa umidade relativa (abaixo de 60%), deste modo a colocação de microaspersores na parte de cima da estufa ou bicos de gotejo nas entrelinhas de cultivo, eleva a umidade relativa do ar, diminuindo a severidade da doença. Essa prática tem sido realizada com frequência. A ventilação também é uma alternativa pra minimizar problemas de algumas doenças fúngicas foliares. O uso de controle alternativo também é adotado para o controle de várias doenças. Ainda no controle do míldio pulverulento a pulverização de leite cru de vaca a 5% reduz consideravelmente a doença. A aplicação no solo de produtos a base de Bacillus e enzimas derivadas de microrganismos tem proporcionado bons resultados no controle de R. solanacearum e algumas espécies de Fusarium. A solarização (Guini, 1997; Lopes et al., 2000) acompanhada da incorporação de resíduos de brássicas, também pode reduzir a população de nematóides formadores de galhas. A liberação de compostos fenólicos oriundos da decomposição destas plantas é acentuada pelo aquecimento, tendo ação biocida contra agentes patogênicos. Essas medidas são adotadas por produtores que possuem selos orgânicos de produção. Outra medida para redução de populações de patógenos radiculares a adoção de rotação de cultura. A espécie Crotalaria spectabilis reduz consideravelmente as populações de nematódeis formadores de galhas. Esta espécie permite a penetração do nematóide nas raízes mas evita que as fêmeas atinjam os estágios de maturidade sexual. A multiplicação de pragas e vetores torna-se muito favorecida no ambiente protegido. Confinados dentro de uma estrutura fechada, com temperatura e umidade favoráveis e hospedeiros disponíveis, os insetos multiplicam-se rapidamente de maneira explosiva. Um exemplo clássico é o aumento da incidência de mosca branca (Bemisia tabacci) dentro de estufas com cultivos de tomateiros. O aumento da população e a dificuldade em controlá-la quimicamente, acarretam sérios problemas na qualidade dos frutos. A toxina deste inseto provoca a maturação irregular nos frutos depreciando-os. Além de serem pragas esses insetos também são importantes vetores de viroses como as begomoviroses em tomateiro. O controle de pragas e vetores é uma tarefa muitas vezes difícil. O controle químico é usado intensivamente para controlá-los, mas seu uso excessivo torna os insetos resistentes as moléculas usadas. Rotação de produtos é uma antiga prática, dificultando, mas não evitando o surgimento de variantes. Uso de telas antivírus também pode ser um caminho para diminuir a população dos insetos, porém como dificultam a ventilação há considerável elevação térmica dentro das estruturas. Algumas empresas têm lançado plásticos com aditivos especiais que refletem ou absorvem comprimentos de onda dificultando a localização do hospedeiro pelo inseto. As empresas de melhoramento genético também têm despedido esforços para obtenção de cultivares mais adaptados para plantios em estufa. Variedades e híbridos de tomates não adaptadas às condições de sombreamento impostas pelo cultivo protegido vegetam excessivamente. Além de reduzir a produção de frutos, estas características os tornam também mais suscetíveis a patógenos foliares. Deste modo é imprescindíveis que os produtores busquem híbridos e variedades que se portem bem neste ambiente de cultivo. A combinação de vários princípios de controle que visem barrar a chegada do inóculo e o avanço da epidemia dentro do ambiente protegido deve embasar as estratégias dos plasticultores no combate as doenças de plantas. Essas medidas devem ser tomadas na luz dos conhecimentos científicos e na individualidade de cada sistema. Assim, técnicos e plasticultores devem ser parceiros e traçar juntos estratégias técnicas e economicamente viáveis de combate as doenças de plantas. REFERÊNCIAS: Brandão Filho, J.U.T.; Callegari, O. Cultivo de hortaliça em solo em ambiente protegido. Informe Agropecuário, 20, p. 64-68, 1999. Ghini, R. Desinfestação do solo com o uso de energia solar: Solarização e coletor solar. Circular técnica n.1. Jaguariúna: Embrapa, 1997, 29p, Lopes, M.E.B.M.; Ghini, R.; Tessarioli, J.; Patrício, F.R.A. Solarização do solo para o controle de Pythium na cultura do pepino em cultivo protegido. Summa Phytopathologica, 26, p. 224-227, 2000. Vida, J.B.; Zambolim, L.; Tessmann, D.J.; Brandão Filho, J.U.T.; Verzignassi, J.R.; Caixeta, M.P. Manejo de doenças de plantas em cultivo protegido. Fitopatologia Brasileira, 29, 355-372, 2004.