A Destruição do Templo e o Desenvolvimento do Judaísmo

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LEITURAS
A Destruição do Templo e o Desenvolvimento do Judaísmo Rabínico
Extraído de “Joseph Ratzinger”, Jésus de Nazaret: Desde la Entrada em
Jerusalén hasta la Resurrección. Ed Encuentro, 2011. Págs 41 e 42
Em todo esse drama (a destruição do templo no ano 70 d.C.), o qual, desgraçadamente, é
apenas um exemplo entre tantas outras tragédias da história, há um acontecimento que significa
uma divisão prenhe de consequências para toda a história das religiões e, de certo modo, para a
história da humanidade: a 5 de agosto do ano 70, “devido à escassez e à falta dos elementos básicos,
foi suspenso o sacrifício cotidiano no templo” (Mittelstaedt, p.78).
É verdade que, após a destruição do templo por Nabucodonosor em 587 a.C.,o fogo para os
sacrifícios permaneceu apagado durante 70 anos aproximadamente, e que, uma segunda vez, entre
os anos 166 e 164 a.C., sob a dominação helenista de Antíoco IV, o templo havia sido profanado e o
serviço de sacrifícios ao único Deus substituído por sacrifícios a Zeus. Todavia, em ambos os casos,
o templo ressurgiu e o culto prescrito pela Torá foi retomado.
A destruição do ano 70, por sua vez, foi definitiva. As tentativas de reconstruir o templo sob
os imperadores Adriano, insurreição de Bar Kochba (132-135 d.C.), e Juliano (361 d.C.)
fracassaram. A revolta de Bar Kochba teve, inclusive, como consequência, a proibição que Adriano
estendeu aos judeus de nem sequer aproximarem-se das cercanias de Jerusalém. Sobre a Cidade
Santa, o imperador mandou erigir uma nova, a qual veio a se chamar “Aelia Capitolina”, onde se
celebrava o culto a Júpiter Capitolino. “Somente no séc. IV, o imperador Constantino permitiu aos
judeus visitar a cidade uma vez ao ano, por ocasião da comemoração da destruição de Jerusalém, e
aí fazer o luto diante do muro do templo” (Gnilka, Nazarener, p.72).
Para o judaísmo, a cessação do sacrifício e a destruição do templo ocasionaram uma terrível
comoção. Templo e sacrifício estavam no centro da Torá. Agora, porém, já não havia nenhuma
expiação no mundo, nada que pudesse contrabalançar a contaminação cada vez mais frequente do
mal. Além disso, Deus, que havia posto seu nome naquele templo, e que, portanto, nele habitava de
modo misterioso, tinha perdido sua morada terrestre. O que foi feito da aliança e das promessas?
Uma coisa fica clara: a Bíblia – o Antigo Testamento, tinha de ser lida de uma maneira nova.
O judaísmo dos saduceus, que estava totalmente vinculado ao templo, não sobreviveria a essa
catástrofe; também Qumrã, que, muito embora se opusesse ao templo herodiano, esperava, contudo,
um novo, não pôde persistir e desapareceu na história. Duas respostas a essa situação ergueram-se,
duas maneiras de ler de modo novo o Antigo Testamento depois do ano 70: a leitura à luz de Cristo,
com base nos profetas, e a leitura rabínica.
Das correntes judaicas do tempo de Jesus apenas o farisaísmo sobreviveu, o qual encontrou
uma nova orientação na escola rabínica de Yavne, onde um modo particular de ler e interpretar,
numa época em que o templo não mais existia, o Antigo Testamento com centralidade na Torá.
Somente a partir desse momento podemos falar de “judaísmo”, no sentido próprio do termo, como
uma maneira própria de considerar e ler o cânon dos escritos bíblicos como revelação de Deus sem
aquelas realidades concretas do culto no templo. Esse culto já não mais existe. Quanto a isso, depois
do ano 70, também a fé de Israel assumiu uma forma nova.
Depois de séculos de contraposição, reconhecemos como nossa tarefa o esforço para que
esses dois modos de nova leitura dos escritos bíblicos, a cristã e a judaica, entrem em diálogo entre
si, para compreender retamente a vontade e a Palavra de Deus.
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