P O R T U G A L

Propaganda
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P R O F F E R I D O
NO PARLAMENTO
DE
INGLATERRA
P E L O
M I N I S T R O D E E S T A D O M*. P I T T ,
S O B R E
A C O N T I N U A Ç A Õ DA G U E R R A COM A F R A N Ç A ,
E TRASLADAÇAÕ
DO
THRONO
DE
P O R T U G A L
P A R A
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L I S B O A
NA TYPOGRAFIA LACERDINA.
ANNO 1808;
. Com Limn
da Meza do Desembargo do Paço.
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S I M , S e n h o r e s , eu teimo que se continue a guerr a , e mostrarei no presente discurso qual he a minha
opinião , porque v e j o os Interpretes , a independencia e gloria, da N a ç ã o assim o " r e q u e r e m , instao e
commandao.
. O Povo Francéz destinado para espalhar no U n i verso males contagiosos , incuráveis , e mortíferos ,
como nestes por hum effeito dos seus naturáes ,• petulante' orgullvò , e o maior dos delictos transtornou toda a ordem estabelecida na sociedade , revoltou os
Vassallos contra os "Soberanos , disse que não havia
D e o s que temer : por este caminho pertende a N a ç ã o
Franceza dár L e j s . á terra , e ao C e o j ser Senhora
d o M u n d o , aniquilar todos os Direitos , de maneira
que até o Natural qiier sugeitar ao seu capricho , opinião , e enthusiasmo: opposetao-se-lhe as Naçáes todas ; oppos-se-lhe a Inglaterra colligada com ellas
assim o pedia a Justiça e ' a causa , assim o exigião
os interesses da G r ã o Bretanha , que devia tirar partido de huma guerra justa que ella não proinovêra
maliciosamente..
N ã o tinha a Inglaterra nada que temer da França ; isto he não tinha que recear de huma gente frenetica que se constituirá corpo acéfalo., versátil e corrupto ; sem Deos , sem L e i , sem R e i , e sem R e l i g i ã o , sem caracter ; e mesmo quando aquella população furibunda tivesse continuado , corrompido ,-.e
desassocegado todas as N a ç õ e s , a Inglaterra só u n i d a ,
e v i r t u o s a , e s p e r t a , e i n c o r r u p t í v e l , aproveitando' 3
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occasião augmentaria mais a opulência , poder , e
gloria ; mas longe de se fingir Neutra nesta conjunctura , e trair-a França , e as mais Nações , a Inglaterra só se pôz da parte dos Monarchas , e tez o
que devia a s i , e aos seus Aliíados , á R a z ã o , e á
Virtude : e supposto que por aquelle modo teria grangeado m a i s , todavia nada tem perdido em tantos annos de guerra , antes ganhado novas Possessões , e de
mais ainda se teria apoderado , se algumas circumstancias não fizessem necessário por ora dissimular.
N ã o tinha também a França que temer da.f N a ções -, cilas c i o s a s , o r g u l h o s a s , ambiciosas , inconsequentes , e desgovernadas , irão pouco a pouco succumbindo , recebendo a Lei do mais forte' , ou do
mais destro ; só a Inglaterra era o atilho que sustinha , e conservava em união as P o t e n c i a s e por isso
era contra a Inglaterra que a França se perce.bia,
forticava e armava com toda a casta de armadas, e
armadilhas. Contra este Baluarte , óu Antemural que
se oppunha ao desordenado impeto da l e v a , ou cheia
que transbordando pertende as?olar, e inundar a E u ropa , lie que a França tem feito e faz os maiores , e mais
nefandos esforços , cabalas, intrigas, s e d i ç õ e s , estratagemas , perfídias , mentiras , traições , fraudes e tudo que
ode ocrorrer-ihe de conducente para a desfeita da
nglaterra ; tudo pratica, e nada poupa.
Pertcndeo levantar a Irlanda para dividir as nossas f o r ç a s , sem se lembrar que o mesmo intento tivera fazendo revoltar os Americanos , que a pezar
d'elles cahirem na tentação, a Grão Bretanha não fica menos poderosa. Entretanto a França começou a
dçsfoUïar a E u r o p a , como se faz a huma alcaxofra ,
e a tirar huma a -huma as varas do feixó , para as
quebrar separadamente. T e n t o u Áustria com* a posse
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de Veneza , R o m a , e outras Províncias : a Rússia cora
a posse de Dardanélos, e da Ilha de M a l t a : a Prússia com ser Senhora da Hollanda e outros Paizes . . .
. . . a Hespanha com a reunião de P o r t u g a l : em fim
foi tentando, e enganando aquellas Provincias a quem
mais convinha o p p r i m i r , e desfazer; hum P o v o que
tende só a dominar o Universo.
Lisongeando os P o v o s , ou para melhor dizer escarnecendo, e illudindo as testas c o i o a d a s , quasi todas actualmente pouco subtiz , e nada conhecedoras
nos seus verdadeiros interesses reaes , e accidentaes;
comprando Conselheiros, e G a b i n e t e s , tem arrastado
a seu partido , e posto debaixo das suas Bandeiras aquellas mesmas Nações que se havião ligado com a G r ã o
Bretanha ; dizendo-liies que os Inglezes fazem C o m mercio exclusivo por toda a parte : que os Inglezes
são Senhores de tudo por força da sua Marinha : que
nenhuma Potencia será nem livre , nem opulenta em
quanto a Inglaterra tiver onde vender os seus effeitos , e manufacturas : extorquindo os thesouros dos
Povos & c . N ã o sabem as Nações que huma vez que
concorrerem para o abatimento da G r ã o Bretanha,
então será a França senhora universal , e despoííca ,
como sempre aspirou i e não haverá na Europa outro
D e o s , outro R e i , outro Direito , mais que a vontade do homem que tiver ascendencia ou preponderância , e que por consequência será hum tyranno.
Bem sabe a França que domada a Inglatena não
existiria na Europa N a ç ã o alguma que não seja vassala, escrava , e tributaria da F r a n ç a , sem já mais ter
meios de levantar cabeça , e de sacudirem o jugo de
ferro que a França lhes prepara actualmente: a H o l landa , e a Heípanha são provas disto ; e por isso
p r o c u ^ p j a i r e revoltar as Nações todas contra a Inw
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glaterra , pensando que esta não tendo onde vender
os -seus geueros , e mercadorias , nem onde abrigar
• c refrescar os £eus Navios necessariamente ha de verse em consternação , e por consequência experimentar revoltas intestinas, e cahir em fim: para evitar esta catástrofe he que muita gente clama que se faça*
a Paz , e pela rnesm» razão he que eu i n s t o , e
teimo que se faça guerra contra a, França a t o d o
custo.
Sim a Grão Bretanha vendo-se trahida, e abandonada pelas N a ç õ e s , quando só por amor d e l i a s , conservação das Monarquias , e mantença do equilíbrio
da Europa he que ella guerreava , bem podia annuir
aos convites da França , fazer huma Paz separada com
artigos secretos , e proveitosos, dividindo estas duas
Potencias a despojar do resto, como por muitas v e zes tem sido proposto ; mas a Inglaterra não costuma usar de perfídias; os que as tem usado nesta É p o ca , saberão algum dia quanto este systema he insubsistente e ruinoso. N ó s temos recursos mais dignos
de ser praticados pelos Inglezes , mais ú t e i s , e mais
infalivelmente conducentes a fazer a N a ç ã o Ingleza
Senhora do M u n d o , e dar as Leis na p a z , e na guerra a toda Europa , sem se lhe dar que os Francezes
queirão botar grilhões no N i l o e Helysponto , a cortar o Isthmo de S u é s , pôr cancella nas columnas de
H e r c u l e s , ou que ligue a Inglaterra com a Picardia no
passo de C a l a i s , ou que sulcando as Arabias desertas vá sacudir os Inglezes da índia : ( P r o j e c t o s estes
que só lembrados fazem honra a seus authores, e que
nem ainda effectuados nos meterão medo. ) O nosso
projecto não he tão grande , mas he mais prompto ,
mais fácil e mais lucrativo : este recurso que digo resta
á Inglaterra na cpnjunctura presente , está seli|do her-
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meticamcnte nô Gabinete de São Jaimes , mas huma
vez que o Parlamento ache bem que eu dê a razão
porque prefiro á Paz a G u e r r a , eu vou a dizer o meu
v o t o , e expor o p r o j e c t o , declarar os f u n d a m e n t o s ,
protestando pelo segredo preciso , e interessante.
A França , Senhores > não pôde nem quer fazer
Paz alguma sincera ; ella ha de mostrar huma submissão apparente aos T r a t a d o s , entre tanto que arranji
as cousas melhor para tornar á guerra ; e se quando
ella toda lacerada , e revolta por causas dos Partidos ,
e das desordens , que se levantarão com a s e d i c ç ã o ,
ou com as efemerícas constituições que fizerão os Francezes costumados, e propícios a i s t o , sustentou guerras intestinas e estrangeiras , com tanta fortuna que
sem decah.ir , tem feito acuar , e decahir Potencias
formidáveis , que será depois d'ordenar as coisas segundo o seu systema , e de espalhar maliciosamente
a sua doutrina por meio de Cathequistas amigavelmente estabelecidos na« Cidades , Villas , e 1 Aldeãs
de roda Europa ? Actualmente fiem a F r a n ç a , a Hesp a n h a , a Hollanda nem todas as outras Potencias t t m
marinha que metia m e d o , nem a poderáõ fazer em
quanto tiverem guerra com a Grão Bretanha \ mas
feita a Paz Geral com todas as Potencias , seguirão
necessariamente as oídens da F r a n ç a , e nestas civcumstancias, ou neste estado que poderá fazer a Inglaterra , se não submetter-se a fazer hum C o m m e r c i o
precário , e vergonhoso ?
»
Perdido o C o m m e r c i o , e a Marinha da G i ã o
Bretanha , está para sempre perdida a Inglaterra ; e
este seiá o frueto e o proveito da Paz Geral : pelo
contrario continuando a Guerra , ou as Naçfíes se unem
sinceramente á Inglaterra , ou se desunem: no primeiro caso cahirá para sempre a Grande Babelonia das
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abominações da ferra , isto lie a França succumbirá ,
e o equilíbrio da Europa tornará a resuigir ; o que
basta para a Inglaterra ficar sempre bem : no segundo c a s o , a Inglaterra lie traliida pelas N a ç õ e s , são
ellas as que faltão á fé dos T r a t a d o s , e a Inglaterra
tem todo o D i r e i t o , r a z ã o , e m o i i v o para lhe fazer
justamente, todas as custas da Guerra.
E m as Nações se unindo á F r a n ç a , a Inglaterra
toma l o g o o grande partido seguríssimo, porque ainda está poderosa em Exércitos , Armadas , Finanças ,
Commercio e População , e triunfa para sempre de
seus inimigos occultos e clarados i e eleva-se sobre as
Nações ; constitue-se por liuma vez Senhora dos M a res ; Arbitra do Commercio de ambos os M u n d o s ;
Dominadora e Moderadora de todos os Estados ou
sejão Republicas ou Reinos ; estabelece finalmente o
Quinto Império que será absoluto e respeitado na A m e r i c a , Asia , A f r i c a , e na Europa.
Parece, se não impossível , temeraria ou diflicul«
tosa a empresa , mas » N a ç ã o Britanica não acha dificuldades quando vê que he preciso fazer grandes
coisas} e por isso mesmo que he acção façanhosa, he
digna dos Inglezès , e huma vez que a intentarem ,
hão de consegui-la.
^ M u i t o d'ante-mão , e com muito vagar tem a
G r ã o Bretanha feito considerar com precisão e miudeza , assim Mathematica como politicamente todo
aquelle Paiz ou R e g i ã o do N o v o M u n d o , chamado
America Meridional , aonde o nosso Antigo Alliado
e amigo Portugal tem o assento do seu Império , e
aonde convém á G r ã o Bretanha fazer assentar o T h r o no do Império Portuguez. O nobre e magnanimo projecto he aonde a Dinastia da Caza de Bragança será
respeitada das quatro partes d o Mundo.
Por-
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Portugal hum R e i n o pequeno , e dependente de
seus visinhos, foi o berço dos Heroes que forão long e lançar os fundamentos do seu Império ; he lá que
Portugal tem as barreiras da defeza ; he de lá que
o Príncipe do Brasil pôde reconquistar o seu R e i n o ;
he dfe lá que pode dictar. as Leis á Europa , e com
Sceptro de ferro pode castigar a França dos séus crimes , e a Hespanha da sua perfídia.
Collocado o T h r o n o de Portugal na A m e r i c a , e
feito o Tratado exclusivo de Commercio , e por consequência dividida a Europa da America , então a Grão
Bretanha junta ao seu antigo Al.liado augmentará o
I m p é r i o ; e sendo conhecido desde o Isthmo de Panamá até p Estreito de Magalhães , tendo s o n d a d o ,
medido e averiguado por huma e outra parte do perímetro desta grande Península , todas as suas Costas ,
Ensiadas , Ancoradouros , B a n c o s , Pareceis , Baixos ,
P o r t o s , P r a i a s , e R i o s & c . de sorte que não ha hum
C a c h o p o , Pesqueiro ou Desembarcadouro por pequeno e despresivel que seja , ou que pareça , que não
se ache calculado e descripto no M a p a com maior
clareza t e precisão GeometTica.
O interior do Paiz não está menos conhecido ,
tanto pelo que toca a G e o g r a f i a , como pelo que pertence ao Mineral Vegetal e Animal , que ali produz
espontaneamente a N a t u r e z a ; e o que pode fazer produzir a Arte praticada, com energia está" Philosoficamente demonstrado.
Isto supp^sto , logfc que todas as Potencias coligadas com a França brigão com a Inglaterra , a
Inglaterra restao-lhe mais recursos certíssimos a collocar o Principe d o Brasil no seu T h r o n o d'America ;
e quando elle ignorante dos seus verdadeiros interesses j ou corrompido pelas preposições pacíficas da FranSa
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ça não annua ás preposições da G r ã o Bretanha, esta
faz dois desembarques ou invasões súbitas naquella Pininsula , huma no Brasil, outra no Para , huma da parte do N a s c e n t e , outra da parte do Poente naquelle lugar mais opportuno para a mantença do T h r o n o . M a s
não he crivei que o Príncipe do Brasil não queira annuir ao importantíssimo Plano evidentemente demonstrado pela Grão Bretanha j e aos seus interesses R e a e s :
he assim que os Príncipes defendem seus Povos ; he
lá que elle vai depositar o nome , e a gloria Portug u e z a ; he assim que se he verdadeiramente R e i . . . . .
Desde este importantíssimo momento , o Império da America Meridional , e a G r ã o Bretanha ficarão ligados eternamente, fazendo estas duas Potencias
hum Commercio só , e exclusivo; ajudando-se mutuamente , e fazendo todos og interesses recíprocos. Este
novo Império crescerá usando de todos os meios conducentes , e para isto procurará estabelecer C o l o n i a s .
secundarias naqueles sitios para isso notados nos M a pas , põvoando-as de todas as gentes que qui-eretn lá
estabelecer-se á excepção dos Francezes.
N o Paiz das Arnasonfts nos confins do P a r a g u a y ,
ou nas visinhanças do lago de X a i i f e , que he como
a o r i g e m . d o R i o da Prata; em huma palavra no centro da referida Península , se edificará e fundará huma
Cidade denominada N o v a Lisboa para C o r t e e assento do Imperador: da N o v a Lisboa se abiiráõ Estradas Reaes , que a maneira de rayos que correm do
centro para a perferia , con%jzirao da Nova Lisboa
para o Porto Bello , Caena , Pará , R i o de Janeiro ,
O l i n d a , Calháo de L i m a , Sant-Iago , e S. Jeronymo
& c . & c . Fazendo-se ao mesmo tempo navegaveis os
mais Rios que poderem s e r ; mas forçosa e i n f a l i v e l mente o R i o da Prata desde o . referido lago t a r i f e
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até á sua F o z ; e o das Amasonas pela Ribeira Parátinga / ou por outra mais commoda ; na epíthese que
a Cidade he cituada nas circumvisinhanças do dito lag o , das fontes ou origens destes Rios , a fim de fazerem mais fáceis os transportes da N o v a Lisboa ao
M a r , ou viceversa.
C o m o a G u e r r a , «|ue nos fazem as Nações para
nos opprimirem , segundo as intenções malvadas dos
Francezes , a quem injusta e indecorosamente se unirão , he injusta da p3rte das N.;çÕes ; he justíssima
da nossa parte ; e por itso o Imperador da America
d e v e . l o g o apoderar-se de todas as Posseções da Hespanha.
O Justo titulo da aquisição , e o bom uso que
faremos de huma Alliança tão intima com o Império
P o r t u g u e z ; a nossa força armada , e a nossa habilidade tudo concorrerá para o augmento da P o p u l a ç ã o ,
e para que os habitantes do Grande Império , e a
G r ã o Bretanha sejão árbitros do C o m m e r c i o U n i versal.
Transportaremos l o g o para lá tudo o que for preciso ás F a b r i c a s , e tudo o que pertence aos tres R e i nos da Natureza , enterrado , e escondido, naquella
R e g i ã o , ha de sahir á luz. A s Armadas tànto Portug u e z a s , como Inglezas com a abundancia de madeiras
serão formidáveis a todo M u n d o . O novo Império
abrirá novos caminhos ou derrotas para todas as partes do M u n d o , e por cada hum que a França nos f e char se abrirão cem.
T o d a s as Nações , todos os Povos , todas as
Bandeiras , todas as Lingoas , e todas as R e l i g i õ e s
terão franca e livre entrada nos Portos do M a r , e
nas Povoações do sertão menos os F r a n c e z e s ; os navios desta N a ç ã o não seião admittidos nem ainda
pa-
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se livrarem de naufragios, e perigo ' evidente.
Estabetecer-se-ha huma espécie de Inquisição terrível , para dentro do Grande Império não haver pessoa alguma Franceza por nascimento , ou por costum e s ; nem livro algum escripto nesta L i n g o a , salvo
estando já traduzido n'outra ; nem individuo algum
de qualquer Nação que seja pêderá falar Francez , e
muito menos ensiná-lo : não se despacharão nas A l fandegas directamente fazendas algumas para os Portos de França.
N ã o se mudarão os nomes aos mezes ; mas os
nomes das C i d a d e s , Rios do R e i n o de Portugal gerao
ostos aos R i o s , Cidades , e Províncias do Grande
mperio , e o R i o que ficar mais contíguo á N o v a
Lisboa será chamado o N o v o T e j o : a Inglaterra então crescerá com o Commercio reciproco ; o t r i g o
da G r ã o Bretanha será levado a Península , entietanto
que lá se não cultivar em abundancia
O s Inglezes Alliados com os Portuguezes , senhores das Minas mais preciosas que o Sol cria , e
dos Materiaes melhores para se fabricarem , e manufacturarem , pódem já ver o resultado do complexo
de tantas origens d'opulencia ; e quando daqui a sincoenta anrios as Naçdes a m i g a s , ou escravas da França olharem para s i , e para nós , conhecerão ( m a s tarde ) a politica de Jorge t e r c e i r o , e conhecerão a differença em que ficarão huma Potencia que vai s u b i r ,
e outras que vão a descer rapidamente.
De Plymuth poderemos ir ao Brasil sem dependencia de Lisboa ; do Pará poderemos navegar para
a Costa de Coromandel sem dobrar os Cabos de H o m e ,
e da Boa Esperança.
As Ilhas de rodos os Mares que forem mais neççssarias e úteis para a Escala , ç refucilaçao dos N a vios
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vios Portuguezes e Nossos , he natural que fiquem d e baixo do poder dos Portuguezes , ou- nosso : tambetn
he de crer que faremos boa s o c i e d a d e , e visinhança
com as Províncias Anglo-Americanas : emfim este
projecto bem ponderado no Gabinete de P o r t u g a l ,
beyi promette vantagens infinitas , e incalculáveis ; e
de todas ficaremos p r i v a d o s , e mesmo das que já temos se o Príncipe de Portugal não annuir a tão Sabio P l a n o , e se deixar illudir pelas pacificas preposições da pérfida França , e então está perdido para
sempre : annuindo porém , eu teimarei que se continue
a Guerra , e que nunca se* faça a Paz com a França
como quer , e precisa ; só se restituídas as coisas ao
statu quo antes da R e v o l u ç ã o ; se restabelecer o equilíbrio da Europa , e acabar-se por huma vez a maldita seita dos Revolucionários Jacobinos , de cuja peste ficando fermento em algum c a n t o , tornará com os
tempos , como agora , a deplorar o M u n d o .
N ã o sou porém deshumano, nem me regozijo com
a infusão de sangue , desejo sim deveras o bem da
humanidade , e desejo a extirpação dos vícios , e da
tyrannia : quando digo se prehra a Guerra . l i e porque
delia depende os interesses da G r ã o Bretaimia , e dos
seus A l l i a d o s ; porque vejo que muitas vezes o Deos
da Paz mandou guerrear para bem da justiça , e para
apienderem a separar por força os bons dos máos \
os crimes das virtudes ; os erros -da verdade. Jesus
Christo nos disse : Noa veni pacem mittere , sed
gladium.
Por tanto vamos levando em huma mão o ferro ,
em outra o lume para dissiparmos inteiramente as cabeças da Hjdra , e restabelecer-mos a verdade , os
bops costtfhjes , e instaurar-mos na Europa o equilíbrio , a vjrtíide , a fé , a honra, o p o d e r , a verdade ,
'3 u
§
4 Paz , a R e l i g i ã o , coisa q u e ' o s Francezes freneticos
e libertinos, desjruirao , .e querem fazer desaparecer
para sempre da sociedade , com intenções damnadas ,
intenções que eíles bem sabem que só os Inglezes penetrão , e por isso desejão e proçurão acabar esta
N a ç ã o . N ó s porém não queremos nem pertendemos dest r u i r , e aniquilar a F r a n ç a ; são mais nobres os sentimentos de todos os I n g l e z e s , mas sim que se contenhão. nos justos limites ; sem abusar das luzes , e
talentos, como p r a t i c a , com escandalo Universal»
F I M.
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