da universidade à escola pela filosofia

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DA UNIVERSIDADE À ESCOLA PELA FILOSOFIA
Germán Calderón Calderón (Unicentro),
e-mail: [email protected]
RESUMO
Esta pesquisa visa observar e conhecer o desdobramento da licenciatura de
filosofia, no seu ciclo de gênese, trajetória, disseminação, assimilação e percurso
entre a universidade e a escola pública. O estudo está em andamento e pretende-se
examinar como a filosofia vem sendo acolhida na sala de aula das escolas de
Ensino Médio na região de Guarapuava PR e conhecer e constatar as expectativas
e impacto que a sua presença possa ter no currículo escolar.
Palavras-chave: Filosofia; ensino-aprendizagem; escola.
INTRODUÇÃO
A filosofia está de volta no currículo das escolas públicas brasileiras. O seu
regresso cria perplexidades e expectativas entre professores e alunos. Primeiro,
pela ausência de uma experiência recente do seu ensino-aprendizagem avaliados e
testados, com sua didática própria, programas e conteúdos identificados e, segundo,
porque sua retomada augura para os adolescentes do Ensino Médio, a instauração
na escola do pensamento que liberta, emancipa e encaminha para o exercício de
uma cidadania democrática, participativa, local e hemisférica.
Aqui se busca entender o papel do conhecimento filosófico no contexto da
educação básica brasileira e quais seriam os conteúdos, métodos e formas de
avaliar a sua recepção. O Departamento de
Filosofia, representante da
Universidade, empunha uma responsabilidade excepcional como formador dos
professores que disseminarão o pensar filosófico, com seu conteúdo milenar e com
seus efeitos para o exercício da cidadania na construção da nova sociedade
brasileira e continental.
O apoio, orientação e companhia dos estudantes de filosofia, na realização
do seu estágio supervisionado, será para este pesquisador, uma oportunidade e um
meio de perceber as possibilidades, problemáticas e desafios que o ensinoaprendizagem da filosofia no Ensino Médio oferece.
ENTRE A UNIVERSIDADE E A ESCOLA
A Filosofia,que desde a antiguidade grega clássica, se desenvolveu no
Ensino Superior, tem cooperado na estruturação e amadurecimento do pensamento
argumentativo e lógico, até chegar, hoje, à escola básica de qualquer país do
mundo. Filosofar foi uma lide racional elaborada, propalada e ensinada a
estudantes adultos como uma busca de respostas para os grandes problemas
existenciais e históricos que acompanham a vida, as dores e os sonhos dos homens
e das mulheres de todos os tempos.
A lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira aponta uma tarefa
específica a ser efetivada pela filosofia no seu retorno à escola pública: alicerçar o
exercício da cidadania (BRANDÃO, 2005, p. 97). A missão indicada à filosofia, no
currículo escolar brasileiro, encontra na Universidade, o seu agente propulsor; ela
através do Departamento de Filosofia responsabiliza-se, não só, da formação dos
professores, como de mediar e oferecer elementos que ajudem a planejar, implantar
e executar, metodologias, procedimentos didáticos e avaliações de conteúdos e
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problemáticas que poderiam lecionar-se nos programas do Ensino Médio. Este
retorno da Filosofia à escola pública brasileira permite, não só, criar esperanças,
apreensões e preocupações na comunidade escolar, mas também, produzir sérios
questionamentos nos professores egressos dos cursos de filosofia, que se
defrontam com um novo conteúdo curricular e com novos processos didáticos ainda
não aplicados e avaliados (GALLINA, 2002, p. 455).
A universidade e a escola básica pública ganham, com a filosofia, um
excelente pretexto para um fértil intercâmbio que as enriquece mutuamente. A
gênesis da caminhada filosófica universitária para a sala de aula escolar inicia-se
pelos estagiários que na necessidade de habilitarem-se profissionalmente, como
mestres da educação filosófica, se encontram diante de inúmeras instigações
comuns a todos os docentes (PIMENTA, 2004, p. 9). Estes desafios, principalmente
dois, ensinar e aprender, estão presentes e acompanham a vida profissional de todo
professor, sem diferenciar que a instituição seja superior ou básica. Convém não
esquecer, que o regresso do filosofar escolar, porém, exige repensar três conceitos:
ensinar e aprender filosofia. Os três termos subsistem em uma íntima e estreita
relação epistemológica: ensina-se e aprende-se filosofia? Pode-se ensinar e
aprender a filosofar na escola pública? Este é um desafio concreto e histórico para a
filosofia como todos os seus problemas. Será que ensinamos a filosofar quando
dizemos que ensinamos? Será que os nossos adolescentes aprendem a filosofar
quando pensamos que eles aprendem? Qual é a relação entre ensinar e aprender e,
entre ensinar e aprender filosofia?
Levar a filosofia à escola pública como disciplina curricular, demanda uma
série de instâncias sutis que preparem, facilitem e acolham a sua recepção,
conhecimento e assimilação, como quem introduz no mercado uma nova cor de tinta
de parede, ficando por conta dos consumidores estabelecerem onde e como aplicála nas suas casas ou edificações.
O sucesso da acolhida do novo produto depende das habilidades e engenhosidade
das técnicas da publicidade (apresentação), do conhecimento das regras do
mercado para a sua comercialização (métodos) e da aceitação e assimilação
(compra) dos consumidores pela qualidade e bondade do produto. A permanência
do produto no mercado vai depender da sua excelência, em primeiro lugar, porém
também, das habilidades e competências publicitárias e mercadológicas dos
agentes inseridos no processo de vendas (Avaliação). Se a analogia é feliz, a
chegada da filosofia à escola pública, assemelha-se a um novo produto, na
sociedade do mercado globalizado. Ela inicia o seu percurso peripatético na
Universidade, instância onde se arquiva,cataloga, confecciona, aprimora e
dissemina o saber histórico cientifico e filosófico da humanidade. Da Universidade
irradia-se para a sala de aula mediada pelos mestres, estagiários, professores, staff
escolar e alunos. Muitos destes alunos irão para o ensino superior, prosseguindo o
ciclo progressivo do conhecimento, escola-universidade,universidade-escola. Neste
trabalho pretende-se entender e conhecer, não somente o impacto que a presença
da filosofia possa oferecer, no currículo escolar, como entrever que possíveis
procedimentos e estratégias poderiam prognosticar uma ditosa implantação.
O ensino aprendizagem escolar, em geral, passa hoje por dificuldades
crônicas diversas; o ensino aprendizagem da filosofia não estará preservado destes
óbices, pelo contrário, sua novidade, como assunto incipiente, na comunidade
escolar, pode acrescentar reiterados engasgos. Se a filosofia vem para ficar na
escola, Departamento de Filosofia, professores e staff educativo escolar terão que
prever o que é “ensinável” e “aprendível” da filosofia (GALLO, 2002, p.199), e se os
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métodos didáticos a serem utilizados na sua transmissão se assemelham ou
diferenciam dos procedimentos que as outras disciplinas curriculares dispõem como
ferramentas de praxe. Seguindo o critério de renomados professores de filosofia da
atualidade, o plano programático a ser proposto, na sala de aula escolar, não
poderia esquecer que a filosofia é um conhecimento e uma sabedoria (SAVATER,
2000, p. 6). Conhecimento que se tem burilado ao longo dos séculos e que se
manifesta no filosofar das diversas filosofias. Como sabedoria ela é um caminho de
permanente aprendizagem. Este processo levado à escola, apresenta uma via de
mão dupla: ensina-se e aprende-se. O professor sente e pensa com os alunos para
que o filosofar se produza neles e, para que se ofereça à filosofia, um espaço
dialogal de renascimento permanente. Deste processo de ida e volta espera-se que
alguma realidade se incorpore nos agentes do processo filosófico (professor-aluno)
e, algo novo apareça.
A primeira impressão recebida pelo adolescente sobre o saber filosófico, é
decisiva, não só para que ele possa abrir-se a um novo conhecimento, como para o
futuro da filosofia na sua inserção e fixação no âmbito escolar. É didaticamente
fundamental, que o ensino-aprendizagem do filosofar seja percebido pelos jovens
como um conjunto de ferramentas indispensáveis que o ajudarão a crescer mental e
psiquicamente, a dar sentido à sua vida e a construir uma cabeça bem feita.
Aprendizado que outras disciplinas e saberes ocasional ou dificilmente oferecem. A
filosofia entusiasmará o coração e a mente dos jovens, se percebem que o seu
discurso vem e pode amadurecer seu caráter, iluminar e nortear sua visão de
mundo, oferecer elementos conceituais e epistemológicos que facilitam o
aparelhamento e a estrutura de suas idéias e pensamento. Mas, também uma
utilidade prática, descobrir, que o raciocinar filosófico subjaze em todo conhecimento
científico e permite e facilita elaborar falas e discursos que respondem aos
pequenos ou grandes problemas da existência humana.
CONCLUSÃO
A presente pesquisa, em andamento, já indica, por um lado, certa satisfação
no ambiente das escolas estaduais, pela presença da disciplina filosófica que induz
os adolescentes a julgar com coerência e pensar crítico, como também, mostra a
necessidade de professores formados e treinados nas competências e habilidades
próprias da sabedoria filosófica e seu ensino-aprendizagem.
O estudo julga que a nova disciplina terá que ser oferecida nas tendências
dos parâmetros do conhecimento e da didática congruentes com as necessidades e
expectativas culturais, científicas e políticas do momento histórico brasileiro para
não cair no desprestigio ou inutilidade curricular.
Conjetura-se que o retorno do saber filosófico à sala de aula do ensino
público, se bem apresentado, com conteúdos, problemáticas, métodos didáticos e
procedimentos pedagógicos delineados, aparelhados e avaliados, com cabeça bem
feita, auguram uma boa saúde e uma definitiva permanência da filosofia na escola
pública brasileira.
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos da Fonseca. LDB passo a passo. São Paulo: Editora Avercamp,
2005.
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GALLINA, SIMONE Freitas da silva. Formação de Professores: a filosofia e o ensino
médio. In: PIOVESAN, Américo et al. (Org.). Filosofia e ensino em debate. Ijui:
Unijui, 2002.
GALLO, Sílvio. A especificidade da Ensino da filosofia. In: PIOVESAN, Américo et al.
(Org.). Filosofia e ensino em debate. Ijui: Unijui, 2002.
PIMENTA, Selma Garrido. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2004
SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
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