SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI
MESTRADO EM TERAPIA INTENSIVA
A Importância da Humanização da Assistência ao Paciente na
Unidade de Terapia Intensiva.
Mestrando: Carlos
Oliveira dos Santos, Enfermeiro, especialista em
Gestão Hospitalar e Sistemas dos Serviços de Saúde,
Artigo científico apresentado pelo
ao Curso de Mestrado em Terapia Intensiva, da
Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, como
requisito para obtenção do grau de Mestre.
Orientador (a): Profª Ms. Dejeane de Oliveira Silva.
BRASÍLIA - BA
2012
SANTOS, Carlos O. dos. A Importância da Humanização da Assistência ao
Paciente na Unidade de Terapia Intensiva. Trabalho de Conclusão de Curso
(Mestrado em Terapia Intensiva) – Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva SOBRATI, 2012, 16 p.
RESUMO
O presente estudo teve por finalidade abordar a importância da assistência
humanizada ao paciente na UTI. Assim, partiu-se para o estudo das relações entre
os preceitos de humanização e sua relação com a gestão hospitalar, na busca pelo
maior envolvimento dos empregados nos processos que estão ligados diretamente
ao seu envolvimento com os pacientes, familiares e ambiente físico na prática
laboral. No contexto de gestão administrativa no âmbito hospitalar com foco na
humanização, torna-se imprescindível o desenvolvimento na área de recursos
humanos. O delineamento do estudo voltou-se para a pesquisa bibliográfica com
método de abordagem indutivo e a forma de abordagem predominantemente
qualitativa do tipo descritiva. Conclui afirmando só ser possível humanizar em UTI’s
a partir da nossa própria humanização. Os profissionais de saúde não podem
humanizar o atendimento do paciente internado em unidade de terapia intensiva
antes de aprender como ser mais altruísta/íntegro consigo mesmo.
Palavras - chave: Humanização, Unidade de Terapia Intensiva, Paciente.
ABSTRAT
The purpose of this study is to highlight the importance of the humanized assistance
to the patient in Intensive Care Unit. Thus, we studied the relation between the
principles of humanization and their relation with hospital management in search of
more employee involvement in the processes linked to the engagement with patients,
family and the environment in working practices. In this context and perspective, the
improvement in the area of human resources is indispensable. This study is focused
on bibliographic research with inductive approach, mainly qualitative of descriptive
type. The results point to the assertion that it's only possible to humanize the
Intensive Care Units through our own humanization. The health care professionals
can't humanize the assistance without learning how to be more altruist and to have
integrity.
Key - words: Humanization, Intensive Care Unit, Hospital Management, Patient.
INTRODUÇÃO
Na década de 1990, os hospitais passaram por dois grandes momentos: o
primeiro, com a introdução de profissionais de outras áreas de conhecimento que
interferiram no processo de reestruturação dos serviços hospitalares, trazendo
novas contribuições, especialmente quando questionam paradigmas como o do
ambiente físico hospitalar, tradicionalmente apresentado num espaço frio com cheiro
de éter, impessoal e, predominantemente, na cor branca, fazendo com que a
imagem do hospital transmitisse algo saudável, infundindo confiança e tranquilidade
aos pacientes e familiares que os acompanham (GODOI, 2004). O hospital a partir
de então, assume um novo perfil, o de que existe não apenas para tratar de doentes,
mas para a produção de conhecimento, saúde e qualidade de vida. O segundo
momento vivencia uma divisão de gênero: toda a tecnologia disponível nos hospitais
modernos e a melhoria nas estruturas físicas hospitalares estão na contramão da
hospitalidade e carinho dispensado aos doentes na grande maioria dos hospitais,
salvo raras exceções (GODOI, 2004). Trata-se da humanização, a preocupação com
o bem-estar do ser humano durante uma hospitalização.
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) carrega um estigma histórico muitas
vezes de finitude da vida, por se tratar de um setor fechado, especializado e
centralizado para o tratamento de pacientes em estado grave, mas tidos como
recuperáveis que necessitam de uma maior observância e tratamento contínuo por
uma equipe multiprofissional, levando os profissionais a atuarem de maneira, por
vezes tecnicista, esquecendo-se da implementação do caráter humano na
assistência.
Desde o início do século XXI, no Brasil, entre os temas abordados na área de
terapia intensiva, encontramos assuntos relacionados com a humanização dessas
unidades. Assim, falar de humanização parece-nos habitual nos dias de hoje, no
entanto, podemos observar cada vez mais os profissionais da área de saúde
preocupados com o tema. Acredita-se que isso ocorre por que ainda faz-se
necessário de forma urgente, a realização de ações emergentes por parte dos
profissionais de terapia intensiva envolvendo os pacientes, familiares e o ambiente
físico.
Nesta perspectiva, a preocupação com a humanização por parte dos
trabalhadores de saúde e, em particular os de terapia intensiva, implica em uma
tomada de decisão, despontando para o significado da humanização como cuidar do
paciente como um todo, englobando contextos diversos.
Devido ao aspecto negativo que envolve o ambiente, família, equipe
multiprofissional e o paciente, alguns estudos voltam-se para a necessidade de
tornar humanos os serviços que utilizam altas tecnologias para que, a assistência de
excelência
seja
prestada
perpassando,
a
fisiopatologia,
a
terapêutica
medicamentosa e exames de ponta, respeitando o olhar, o toque e a essência da
equipe com o usuário. Acolher o paciente e seus familiares torna humano o
processo de cuidado.
Em maio de 2000, o Ministério da Saúde (MS) regulamenta o Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) e a humanização
passa também a ser incluída na pauta da 11a Conferência Nacional de Saúde,
realizada em dezembro do mesmo ano. O Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar (PNHAH) constitui uma política ministerial bastante singular
se comparada a outras do setor, pois se destina a “promover uma nova cultura de
atendimento à saúde” no Brasil (BRASIL, 2004). O objetivo fundamental do
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) constitui
em aprimorar as relações entre profissionais, usuários/profissionais, hospital e
comunidade, visando à melhoria da “qualidade e à eficácia dos serviços prestados
por estas instituições” (BRASIL, 2004). Atualmente o Programa foi substituído por
uma perspectiva transversal, constituindo uma política de assistência e não mais em
um programa específico provisoriamente intitulada "Humaniza Sus".
A Humanização na assistência ao paciente na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) necessita de uma sensibilização de toda a equipe multiprofissional trazendo-os
para uma visão mais holística do cuidar. É fundamental levar em consideração a
singularidade do sujeito já que o paciente não deve representar apenas uma
patologia ou um número de leito. Cada paciente traz consigo angustias, anseios,
medos e uma história única e individual sendo este por muitas vezes marginalizado,
dicotomizado e não assistido em sua integralidade. Nesse contexto, o paciente se
insere na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), um ambiente considerado mórbido,
frio, onde o limiar entre o viver e o morrer estão muito próximos. As instabilidades
do quadro clínico do paciente levam a sentimentos diversos que vão desde a baixa
auto-estima até a falta de confiança em si próprio, gerando esta escassez de
acolhimento o principal objeto do estudo, a saber: o paciente influenciando o seu
tempo de permanência neste setor.
A realização deste trabalho está relacionada diretamente à natureza das
atividades profissionais desenvolvidas pelo pesquisador durante sua atuação
profissional na área de terapia intensiva há quatro anos. A convivência neste meio
permitiu verificar as dificuldades do setor na sua atuação, principalmente quanto à
conscientização dos funcionários e da organização para o reconhecimento da
importância da humanização tanto para os pacientes quanto para a gestão
hospitalar.
Este estudo justifica-se no aspecto social e organizacional, pois o mesmo poderá
fornecer subsídios para novas e importantes reflexões, indagações e ações acerca
da humanização na UTI, no que diz respeito tanto à equipe de saúde, aos gestores,
ao paciente, ao ambiente físico e aos próprios familiares, itens indispensáveis para o
aspecto de ações importantes na escalada de um trabalho mais humanizado em
UTI’s.
OBJETIVOS
Identificar a importância da assistência humanizada na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI); Abordar a importância da assistência humanizada ao paciente na
UTI; Desenvolver o estudo pautado em pesquisa descritiva com método de
abordagem indutivo; Desenvolver uma percepção da necessidade de se humanizar
a assistência à saúde.
METODOLOGIA
Quanto aos procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento
deste artigo, utilizou-se como método de abordagem o indutivo. A forma de
abordagem foi predominantemente qualitativa e o tipo de pesquisa utilizada é
classificado como descritiva
Esta pesquisa, como procedimento técnico, utiliza dados secundários, por
meio de uma pesquisa bibliográfica dos assuntos teóricos que se pretende enfatizar.
Assim, foram consultados livros, documentos, revistas, periódicos, teses e redes
eletrônicas, onde se pretendeu levantar uma série de informações e experiências
para melhor identificar o problema.
Os dados, juntamente com a análise, foram interpretados por meio de referenciais
teóricos.
REVISÃO DE LITERATURA
ATENDIMENTO HUMANIZADO EM CENTROS DE TERAPIA INTENSIVA
Diferencia-se a UTI de Centro de Terapia Intensiva (CTI), uma vez que a
primeira refere-se a unidades especializadas no atendimento a pacientes com
determinadas patologias, distinguindo-se as UTI´s coronarianas, neurológicas,
pediátricas, neonatais, dentre outras. Já o CTI é destinado ao atendimento a
pacientes com diversas patologias, podendo ser considerado como uma unidade
geral. No entanto, geralmente, na prática diária em Terapia Intensiva e, no presente
estudo, utilizar-se-á os termos UTI e CTI como sinônimos.
A história e o desenvolvimento da terapia intensiva estão fortemente
vinculados ao avanço tecnológico alcançado pela medicina contemporânea, que
permitiu a extensão do tempo de vida dos pacientes críticos que necessitavam de
cuidados intensivos. Isso ocorreu em virtude da prevenção de circunstâncias
identificadas graças a evolução dos meios diagnósticos e terapêuticos.
Ao abordar o nascimento desses Centros de Tratamento Intensivo (CTI´s),
não se pode deixar de ressaltar a contribuição que Florence Nightingale
proporcionou para esse acontecimento. Segundo Lino e Silva (2001, p. 25), Florence
Nightingale, a partir de 1800, deu os primeiros passos para a elaboração desses
centros, quando “durante a Guerra da Criméia, selecionava os pacientes mais
graves, colocando-os uma situação que favorece o cuidado imediato e a observação
constante”.
As autoras ainda referem que, ao longo do tempo, desenvolveram-se tentativa
de organização do cuidado médico e de enfermagem a pacientes com alto grau de
complexidade, como a colocação do paciente próximo ao posto de enfermagem, a
criação de quartos especializados de acordo com as patologias, até serem
elaboradas as Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s), como são denominadas na
atualidade.
Assim, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) surgiu da necessidade de
proporcionar melhores condições para o atendimento ao paciente de alto grau de
complexidade, centralizando-os numa área hospitalar adequada, requerendo a
disponibilidade de equipamentos e materiais próprios, bem como a capacitação de
recursos humanos para o desenvolvimento de uma assistência qualificada,
promovendo com isso a diminuição da taxa de morbimortalidade dos pacientes.
Simão et al e Barbosa apud Lino e Silva (2001), citam três fases diferentes de
evolução da UTI, relacionando-as com os avanços tecnológicos. A primeira dessas
fases foi marcada pelo aparecimento das salas de recuperação pós-anestésicas, no
final da década de 1940, onde eram executados os cuidados clínicos e,
particularmente, os respiratórios aos doentes da II Guerra Mundial e da Guerra da
Coréia. A segunda fase foi marcada pelo desenvolvimento da ventilação mecânica,
como consequência da epidemia de poliomielite ocorrida nos EUA no final do ano de
1940, que conduziu à morte um grande número de pacientes jovens e crianças
acometidos por falência do sistema respiratório. A última fase foi decorrente do
desenvolvimento de sistemas de monitorização eletrocardiográfica contínua e a
desfibrilação elétrica contínua, que permitiram a recuperação de pacientes que antes
evoluíam para o óbito.
Com a criação dessas estruturas e equipamentos, recursos considerados
necessários à integração e funcionamento dos Centros de Tratamento Intensivo
(CTI´s), tornou-se possível a criação das unidades de choque em 1958 e,
progressivamente, das unidades coronarianas, respiratórias, de diálise renal,
cirúrgicas, centros ortopédicos, pediátricos, neonatais e de hemorragia digestiva.
Dentre esses recursos são mencionados os tubos endotraqueais, respiradores
artificiais, eletrocardiograma, desfibriladores e marca-passos (LINO; SILVA, 2001).
A partir do desenvolvimento desses recursos, Simão apud Lino e Silva (2001)
referem que a UTI surgiu no final da década de 1960, quando foi fundada a
sociedade de tratamento intensivo, por pesquisadores ingleses e americanos.
Quanto ao surgimento das UTI´s no Brasil, Lino e Silva (2001) relatam que as
mesmas foram instaladas a partir da década de 1970, coincidindo com o período do
desenvolvimento da tecnologia de ponta e do desenvolvimento de métodos de
diagnóstico e terapêutico.
Após o surgimento das UTI´s no Brasil, conforme relato de Nascimento e
Martins (2000), as mesmas difundiram-se rapidamente e, nos dias de hoje, a maior
parte dos hospitais dispõem desses serviços especializados, para atendimento aos
pacientes graves ou de risco que exijam assistência médica e de enfermagem
contínua.
As autoras supracitadas, afirmam ainda que desde a época do surgimento
desses centros nos EUA, os aspectos humanísticos da assistência ficavam em
segundo plano. “O indivíduo na UTI era visualizado como homem máquina, ou seja,
a atenção estava voltada para os aparatos tecnológicos e procedimentos invasivos a
que este estava submetido”, (NASCIMENTO; MARTINS, 2000, p. 27).
Para Silva (2000, p. 1-2), apesar da existência de tantas discussões e
considerações sobre humanização, ainda hoje é marcante a “quase universal,
constante e flagrante violação dos direitos do homem e de sua dignidade em nossos
dias”. Continua afirmando que “os fatos testemunham esse aspecto e, como é de se
esperar, refletem-se também nas UTI´s”.
Para Knobel, Novaes e Bork (1999), a humanização do CTI deve ser
resgatada através da preocupação com três diferentes aspectos: no cuidado do
paciente e seus familiares, na atenção ao profissional da equipe de saúde e, no
ambiente físico.
O ambiente da UTI é considerado como um dos mais tensos, agressivos e
traumatizantes do hospital, em virtude, da quantidade de procedimentos a que são
submetidos os pacientes internados nesses centros e, ao grande aparato
tecnológico existente. O paciente que se encontra internado na UTI se vê despojado
de tudo, de sua identidade, de sua subjetividade, de suas emoções e,
principalmente, de sua família (NASCIMENTO; MARTINS, 2000).
Ressalta-se aqui a importância desses centros como local onde o
desenvolvimento e aperfeiçoamento tecnológico possam ser colocados à disposição
da manutenção da vida humana, porém, faz-se necessário aplicar a tecnologia de
forma adequada, a fim de permitir e promover o crescimento e a harmonização das
pessoas. “A tecnologia deve ser usada de forma criativa e humana, servindo para
melhorar a nossa qualidade de vida” (SILVA, 2000, p. 2).
Nascimento e Silva (2000) abordam que no atendimento aos pacientes
internados no CTI deve ser enfocado não somente o aspecto da competência prática
dos profissionais de saúde para manusear a tecnologia utilizada para o tratamento,
como também a qualificação desses profissionais para atender de maneira mais
humana aos pacientes e seus familiares.
Silva (2000) afirma que o CTI necessita e deve utilizar-se dos recursos
tecnológicos cada vez mais avançados, porém, os profissionais de saúde desses
centros devem recordar sempre que jamais a máquina substituirá a essência
humana.
Dessa forma, para humanizar o CTI, é necessário que os profissionais de
saúde voltem a refletir sobre ser humano, iniciando pela própria vida, dos seus
parceiros, sua equipe, seus pacientes e, também, dos familiares. “Cuidar de quem
cuida é essencial para se poder cuidar terapeuticamente de outros” (SILVA, 2000, p.
4).
A respeito da atenção que deve ser dispensada ao profissional da equipe de
saúde para o alcance da humanização no CTI, Knobel, Novaes e Bork (1999, p.
1308) nos afirmam que “deve-se valorizar o aspecto humano dos próprios
profissionais que estão cuidando da vida de pessoas”.
Além disso, o desenvolvimento de um espírito de coleguismo ou boas
relações no trabalho precisa ser considerado como uma realidade necessária ao
CTI, o que favorece a melhoria nas relações interpessoais desse centro,
contribuindo para humanização, como se pode perceber na seguinte citação:
“quando nos sentimos respeitados, valorizados e motivados enquanto pessoas e
profissionais podemos mais facilmente estabelecer relações interpessoais saudáveis
e respeitosas com os pacientes, familiares e equipe multiprofissional” (SILVA, 2000,
p. 4).
No que tange a essa relação com os familiares, Stier et al apud Carraro
(2000, p. 54), coloca que, “... o visitante deve ser considerado como parte
contribuinte na recuperação do ser humano quando hospitalizado”.
Segundo Silva (2000), o paciente internado em UTI tem sua autoestima,
autoimagem e sua própria capacidade de recuperação alterada, uma vez que, o
mesmo tem privação sensorial, barreira para sua comunicação verbal pelo uso de
equipamentos utilizados para ventilação artificial, barreiras para tocar o próprio corpo
e, não tem o mesmo contato diário que possuía, geralmente, com a família, antes do
internamento nessa unidade.
A família é de vital importância nas questões referentes ao processo saúdedoença, uma vez que, como “célula mãe”, ela resguarda o indivíduo e tem
contribuições fundamentais a fazer no cuidado e tratamento do seu familiar
internado (NASCIMENTO; MARTINS, 2000). A família deve ser compreendida como
um aliado importante da equipe de saúde do CTI, “podendo atuar como um recurso
por meio do qual o paciente pode reafirmar, e muitas vezes, recuperar sua confiança
no tratamento, de forma a investir nas suas possibilidades de recuperação”
(SANTOS; TOLEDO; SILVA, 1999, p. 28). Dessa maneira, a família deve ser
considerada como um elo importante para o desenvolvimento de um trabalho mais
humanizado nos CTI’s.
Segundo Silva (2000), os familiares nos fornecem informações que podem
nos ajudar a compreender o paciente, suas necessidades, manias, gestos,
favorecendo um atendimento individualizado. Esses dados fornecidos pelos
familiares podem ser essenciais, principalmente, nos pacientes com restrição de
comunicação verbal.
No entanto, para que a família “cumpra seu papel de dar suporte à situação
vivenciada pelo paciente, ela também precisa de suporte nas suas necessidades
físicas e emocionais” (SILVA, 2000, p. 9).
Corroborando Silva (2000), Santos, Toledo e Silva (1999) relatam que,
geralmente, tem conhecimento da importância do papel dos familiares no processo
de internação hospitalar do paciente. Afirmam, ainda, que em se tratando de
internação em UTI, essa importância assume maiores dimensões.
Por outro lado, Nascimento e Martins (2000, p. 26) ao avaliarem a sua prática
diária em UTI, no que diz respeito a atenção ou cuidado dispensado aos familiares
dos indivíduos hospitalizados nessas unidades, perceberam que “muito pouco de
nossas ações está direcionado aos familiares”. As autoras acreditam que essa
atitude seja consequência de alguns fatores, entre os quais destacamos: “o
conhecimento limitado dos profissionais que ali trabalham no que se refere às
necessidades da família, do indivíduo hospitalizado e da importância que a família
tem na sua recuperação”.
Ciosak; Sena apud Nascimento e Martins (2000) relatam que para
humanização da assistência do CTI, faz-se necessário que alguns dos integrantes
da equipe de saúde desse centro, oriente e esclareça ao paciente e seus familiares,
sobre o que é a unidade, o tratamento, o tipo de assistência, o prognóstico do
doente e as possibilidades de visitas.
O
PROCESSO
DE
HUMANIZAÇÃO
NAS
ORGANIZAÇÕES
HOSPITALARES
Humanizar em saúde é resgatar a importância dos aspectos emocionais
indissociáveis dos aspectos físicos, mais do que isso, humanizar é adotar uma
prática em que profissionais e usuários consideram o conjunto dos aspectos físicos,
subjetivos e sociais que compõem o atendimento à saúde (PNHAH, 2004 APUD
BERTIN, 2005).
Assim, pode-se dizer que a humanização busca constituir para uma prática a
ser exercida em benefício mútuo de usuários e profissionais inseridos neste
contexto, contribuindo, dessa forma, para a melhoria das condições de trabalho e a
qualidade do atendimento (SELLI, 2003, p.249; FAIMAN et al., 2003, p. 257 APUD
BERTIN, 2005).
O processo de humanização nas instituições hospitalares pressupõe
primeiramente a compreensão do significado da vida do ser humano em suas
diversas dimensões. No entanto, para qualificar humanamente esse processo,
supõe-se que os profissionais de saúde, os administradores e todos aqueles que
desempenham papéis na instituição, estejam qualificados para exercer a
humanização nas relações que se estabelecem com o paciente (SELLI, 2003 p.250
APUD BERTIN, 2005).
Ao abordar a humanização hospitalar, Mezomo (2002, p.315) apud Bertin,
2005 comenta que o hospital humanizado é aquele que, em sua estrutura física,
tecnológica, humana e administrativa, valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a
serviço dela, garantindo-lhe um atendimento de alta qualidade e personalizado,
possibilitando que as expectativas e necessidades do paciente sejam atendidas e
precedidas pela consulta aos seus interesses.
Embora a humanização do serviço em saúde seja um trabalho personalizado
e, portanto, com uma complexidade própria, devemos trabalhar com um conjunto de
iniciativas fundamentadas não só aos pacientes, mas aos profissionais envolvidos
no
processo,
considerando
o
desenvolvimento
técnico
e
emocional,
e
proporcionando condições de trabalho adequadas, visto que a ideia de humanização
hospitalar supõe o redimensionamento da compreensão de seu significado, em que
todos os membros da coletividade se sentem beneficiários (MS, 2004a; SELLI, 2003,
p. 249 APUD BERTIN, 2005).
Por outro lado, em muitos hospitais é a falta de condições técnicas, de
capacitação, de materiais que põem em confronto, muitas vezes, profissionais e
usuários, tornando a qualidade do atendimento desumanizada (NOGUEIRA –
MARTINS, 2004 APUD BERTIN, 2005).
Dentro desses preceitos, a humanização no ambiente hospitalar visa
fortalecer o comportamento ético relacionado ao cuidado técnico-científico, cuidado
que incorpora a necessidade de explorar e acolher o imprevisível, o incontrolável, o
diferente e o singular (PNHAH, 2004 APUD BERTIN, 2005).
As mudanças que vêm ocorrendo na assistência à saúde mostram uma
realidade hospitalar com práticas distantes das que deveriam ser desenvolvidas em
instituição que atende aspectos vitais e da saúde de uma população (DUMKE, 2003,
p.7 APUD BERTIN, 2005).
Buscar subsídios fundamentados na humanização para modificar este
cenário, tem sido o objetivo de várias instituições hospitalares e também do próprio
governo.
O Ministério da Saúde (MS) em junho de 2001 criou o Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar – PNHAH, visando mudar substancialmente
o padrão de assistência nos hospitais públicos que integram o Sistema Único de
Saúde (SUS), melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços hoje prestados por
estas instituições (PNHAH, 2004 APUD BERTIN, 2005).
A unidade de saúde, como instituição prestadora de serviços à comunidade,
tem como objetivo oferecer atendimento de qualidade à população. Para tanto faz-se
necessário pensar em um conjunto de ações que atendam a três dimensões: a
humanização do atendimento ao usuário; a humanização das condições de trabalho
do profissional de saúde; o atendimento da instituição hospitalar em suas
necessidades básicas administrativas, físicas e humanas (PNHAH, 2004, p.32 APUD
BERTIN, 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Um novo panorama se estabelece na gestão dos estabelecimentos de
assistência a saúde: a busca pela qualidade. Dentre vários aspectos, a qualidade no
atendimento a pacientes e visitantes tem recebido especial atenção.
Falando sobre ética, nenhum programa de melhoria no atendimento terá
sucesso se as pessoas envolvidas não absorverem os conceitos da nova política de
trabalho. Neste sentido é fundamental o comportamento ético no ambiente de
trabalho. A atitude ética e humanizada no atendimento aos pacientes e visitantes
devem fazer parte do comportamento de cada colaborador. Pode-se dizer que a
ética não se ensina, está associada ao caráter do indivíduo.
Sobre
a
questão
do
mau
atendimento,
atualmente
a
sociedade
escandaliza‐se com as notícias sobre descaso e negligência no atendimento a
pacientes e visitantes, e quando o ocorrido se estabelece no atendimento de
emergência, UTI´s e CTI’s, a repercussão é ainda maior e talvez isso ainda aconteça
por uma herança de tempos antigos quando os pacientes eram isolados em
hospitais e os doentes eram considerados estorvo para a sociedade. Esse contexto,
apesar de recorrente e, de certa forma corriqueira, são inadmissíveis quando se
pensa em uma gestão eficiente. Como agentes de mudanças, visando uma melhoria
no atendimento a essas questões, temos como principais motivadores:
A Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar ‐ PNHAH;
Como já mencionado, expressa a preocupação do Ministério da Saúde (MS) com a
qualidade do serviço que se presta. Tem como objetivo o resgate do respeito à vida
humana, considerando as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas,
presentes em todo o relacionamento humano; A busca pela certificação da
qualidade aborda várias questões dentre elas a qualidade do atendimento.
No contexto de gestão administrativa no âmbito hospitalar com foco na
humanização, diversos autores mostram que é imprescindível o desenvolvimento na
área de recursos humanos. O desenvolvimento de programas e políticas de
qualidade, melhoria na estrutura e nos serviços serão em vão caso não haja
investimento no recurso humano.
Os estudos demonstram que pacientes e familiares encontram-se fragilizados
e inseguros e, a última coisa que desejam é sentirem‐se desassistidos, ou sem
importância, principalmente quando na UTI. O bom relacionamento entre
profissionais, pacientes e familiares deve ser resgatado e mantido no seu melhor
grau.
O treinamento e capacitação no contexto de RH visa desenvolver no
colaborador a habilidade de desempenhar suas funções considerando os princípios
do atendimento humanizado. Além de capacitar o recurso humano, é preciso avaliar
e monitorar os resultados desta capacitação.
As condições de trabalho também constituem aspectos importantíssimos a
serem analisados. O desempenho dos colaboradores é extremamente afetado pelas
condições de trabalho, tais como a estrutura física, equipamentos e instrumentos
adequados, relação número de pacientes x número de colaboradores, remuneração
e outros.
Outro aspecto se refere à relação humana entre colaboradores. Pesquisas
confirmam que o trabalho de humanização no atendimento hospitalar deve ser
entendido como filosofia de trabalho, e, portanto, praticado em todas as relações
humanas dentro do ambiente hospitalar, incluindo entre colaboradores, de qualquer
nível hierárquico. A Humanização no atendimento é a busca constante da harmonia
e relacionamento cada vez melhor, dos funcionários entre si e destes com a
administração visando sempre o atendimento integral do paciente (TRIGUEIRO,
2011).
Para evitar problemas futuros se faz necessário identificar e selecionar
profissionais que apresentem perfil adequado, que sejam capazes de motivar os
colegas para o desempenho do bom atendimento, com respeito e amor ao próximo.
Para o gestor, é preciso estar atento a este comportamento, considerando que estes
preceitos devam fazer parte do cotidiano dentro do estabelecimento administrado.
Quando se fala em humanização do atendimento em hospitais públicos,
concluímos que administrar estabelecimento público de assistência à saúde significa
gerir recursos escassos, trabalhar com número insuficiente de profissionais e lidar
com a insatisfação dos colaboradores e com a falta de infraestrutura. É importante
ressaltar que na grande maioria dos casos o mau atendimento, descaso com a vida,
descuido com materiais e equipamentos, entre outros episódios que contribuem para
o caos do sistema público de saúde acontecem sobre a base da negligência da
administração.
Para melhorar este quadro, os problemas observados na saúde pública
podem ser desagravados pela atuação responsável, atenta, cuidadosa e ética da
administração destes estabelecimentos. Portanto os gestores devem ter plena
consciência de suas obrigações e fazer valer sua autoridade.
Em qualquer situação, o atendimento humanizado é uma vocação, portanto
devemos despertar o que há de melhor nas pessoas (funcionários, pacientes,
familiares).
REFERÊNCIAS
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