Revista Saúde Integrada ISSN 2447-7079 ARTIGO DE REVISÃO NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS NO IDOSO: UMA REVISÃO Francielen Colet da Silva Acadêmica do Curso de Biomedicina- CNEC/IESA. Email: [email protected] Lucinea da Silva Araújo Acadêmica do Curso de Biomedicina- CNEC/IESA. Email: [email protected] Matias Nunes Frizzo Professor do Curso de Biomedicina- CNEC/IESA. Email: [email protected] RESUMO Com o passar dos anos, o organismo humano passa por um processo natural de envelhecimento, gerando modificações funcionais e estruturais. No Brasil houve um aumento da expectativa de vida da população nos últimos anos, provocando assim, um aumento na população idosa e dessa forma, elevando a prevalência das doenças crônicas nesta faixa etária. Entre as afecções neoplásicas hematológicas, incluem-se, mais comumente, as leucemias, os linfomas, os mielomas, policitemia vera, Macroglobulinemia de Waldesnström, mielodisplasia, caracterizadas por alterações no sistema imunológico que, em geral, são resultantes de uma combinação de fatores determinantes da própria doença, bem como do tratamento anti-neoplásico. Dessa forma o presente estudo tem como objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica acerca da incidência das neoplasias hematológicas e alterações laboratoriais na população idosa. Foi realizada uma revisão descritiva da literatura científica, baseada nos artigos publicados nos últimos cinco anos em periódicos indexados. Estudos epidemiológicos demonstram que a idade é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer. Além disso, a cura e/ou sobrevida do paciente é prejudicada pelo diagnóstico tardio que associado a um comprometimento fisiológico e a falta de fármacos específicos para o tratamento destas neoplasias limita significativamente não só a expectativa de vida, mas também a qualidade da mesma. Cabe ressaltar ainda a escassez de estudos e publicações na área de oncogeriatria hematológica, principalmente em âmbito nacional, o que abre perspectivas para novos estudos. Palavras-chaves: Envelhecimento. Câncer. Hematologia. ABSTRACT Over the years, the human body goes through a natural process of aging, generating functional and structural modifications. In Brazil there was an increase in life expectancy of the population in recent years, thus causing an increase in the elderly population and thus increasing the prevalence of chronic diseases in this age group. Among hematologic neoplastic diseases, include, most commonly, leukemias, lymphomas, myeloma, polycythemia Vera, Macroglobulinemia Waldesnström, myelodysplasia, characterized by changes in the immune system that usually result from a combination of determinants the disease itself, as well as antineoplastic treatment. For the diagnosis of hematologic neoplastic diseases it is important to consider in addition to the clinical presentation of the patient, signs and symptoms and the results provided by the laboratory. Thus, the present study aims to conduct a literature search on the incidence of hematological malignancies and laboratory abnormalities in the elderly, being performed a descriptive review of the scientific literature. A descriptive review of the scientific literature was performed. Epidemiological studies have shown that age is a major risk factor for the development of cancer, with the diagnosis of cancer in the elderly; in addition, healing and / or patient survival is hampered by delayed diagnosis. It should also be had stressed the lack of studies and publications on oncogeriatria hematologic area, especially at the national level, which opens perspectives for new studies. Keywords: aging; cancer; hematological. Recebido em: 17/12/2015 Aceito em: 23/02/2016 INTRODUÇÃO Com o passar dos anos, o organismo humano passa por um processo natural de envelhecimento, gerando modificações funcionais e estruturais. As vias responsáveis pelo equilíbrio corporal também sofrem com o processo do envelhecimento, gerando grande impacto para os idosos. No Brasil há um aumento da expectativa de vida da população nos últimos anos, provocando assim, um aumento na população idosa e dessa forma, aumentando a prevalência das doenças crônicas nesta faixa etária. Um reflexo deste quadro são as visíveis mudanças nas pirâmides populacionais brasileiras, do passado, presente e as projeções para as próximas décadas (RUWER, 2005; MOREIRA et al., 2013). O processo de envelhecimento é considerado fisiológico, porém, é retratado pela diminuição progressiva da reserva funcional orgânica. Em situações de sobrecarga, a manutenção do equilíbrio homeostático é prejudicada, tornando o idoso mais suscetível a agravos e doenças (MISRA, 2000). Além disso, o envelhecimento afeta diretamente o estado nutricional do idoso, por todas as alterações que ocorrem no organismo, como redução da visão e do olfato, diminuição da secreção salivar, dificuldade de mastigação, constipação intestinal, diminuição da atividade do sistema imunológico e perda progressiva de inúmeras funções celulares (GARCIA, 2007; BASSLER, 2008). Sendo assim, há uma preocupação com esta população, na qual as neoplasias hematológicas são mais agressivas, pois o sistema imune já está debilitado. A medula óssea já está comprometida, fazendo com que o organismo libere células imaturas e favoreça o aparecimento de doenças hematológicas, não sendo facilmente detectadas no início tornam-se neoplasias (O’BRIEN, 2003). Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 75% das neoplasias ocorrem em indivíduos com mais de 60 anos. O aumento da expectativa de vida não só eleva a exposição do indivíduo aos fatores de risco presentes no meio ambiente e o tempo dessa exposição, como também o envelhecimento oferece a oportunidade do surgimento de neoplasias, que só aparecem mais tardiamente. Entre as afecções neoplásicas hematológicas, incluem-se, mais comumente, as leucemias, os linfomas, o mieloma múltiplo, etc. Estudos mostram que a ocorrência de tais afecções tem crescido com o passar das décadas e mais frequentemente estão associadas com a idade (BULYCHEVA et al., 2015; TOLEDO, 2003). Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo, realizar uma pesquisa bibliográfica sobre as neoplasias hematológicas no idoso. Neoplasias Hematológicas É um grupo heterogêneo de doenças malignas que afetam os precursores hematopoiéticos da medula óssea e que desde o seu inicio já não costumam estar restritas a uma única região do corpo, manifestando-se em várias partes do corpo sem respeitar barreiras anatômicas. Os órgãos mais envolvidos neste processo são: sangue, medula óssea, gânglios linfáticos, baço e fígado (LISANA, 2010). As neoplasias malignas hematológicas, que compreendem principalmente as leucemias, linfomas e mielomas, são caracterizadas por alterações no sistema imunológico que, em geral, são resultantes de uma combinação de fatores determinantes da própria doença, bem como do tratamento anti-neoplásico. A rigor, todos os componentes básicos da defesa do organismo podem ser afetados: a pele, as mucosas, a imunidade celular específica Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 e inespecífica e a imunidade humoral, em particular a síntese hepática da proteína de fase aguda (BURIGO, 2007). Leucemias As leucemias são neoplasias metastáticas originadas de células precursoras hematopoiéticas que provocam a substituição difusa da medula óssea por células neoplásicas imaturas com alta taxa de proliferação. Essas células, na maioria dos casos, extravasam para o sangue, onde são observadas em grande quantidade. De acordo com o tipo celular predominante, as leucemias podem ser classificadas em: Leucemias linfocíticas que afetam os linfócitos imaturos e seus progenitores na medula óssea, e Leucemias mielocíticas que envolvem as células-tronco mieloides pluripotentes. As leucemias também podem ser subclassificadas de acordo com sua manifestação aguda ou crônica. Assim sendo podemos diferenciar quatro tipos principais de leucemias: Leucemia linfocítica aguda (LLA), Leucemia linfocítica crônica (LLC), Leucemia mieloide aguda (LMA) e Leucemia mieloide crônica (LMC) (ROSA, 2012). A leucemia linfóide aguda (LLA) é uma doença maligna derivada das células linfóides indiferenciadas (linfoblastos) que estão presentes em grande número na medula óssea, no timo e nos gânglios linfáticos. Acumula-se grande quantidade de linfoblastos em diferentes etapas da maturação, pois os mesmos mantêm capacidade de multiplicação, mas não de diferenciação até formas maduras e normais. Embora a LLA possa ocorrer em qualquer idade, sua incidência é maior entre crianças de 2 a 5 anos, numa porcentagem de cerca de 70%, diminuindo entre adolescentes e adultos jovens, entre os quais a incidência das leucemias agudas é de 20%, voltando a crescer após os 60 anos de idade. Entre crianças, a doença é mais comum naquelas de cor branca e do sexo masculino (FARIAS, 2004). A leucemia mielóide aguda (LMA) é uma neoplasia rapidamente progressiva derivada de precursores hematopoiéticos ou das células-tronco mielóides. A LMA acomete as células mielóides na medula óssea, causando anemia, neutropenia e trombocitopenia, que se devem ao acumulo de células blásticas indiferenciadas na medula, com supressão das células progenitoras remanescentes. A LMA corresponde a 90% das leucemias na vida adulta. Afeta, principalmente, adultos com idade mais avançada, porém também é diagnosticada em jovens. Com o advento da imunofenotipagem com anticorpos monoclonais (AcMo) através da citometria de fluxo (CF), o diagnóstico dessas leucemias se tornou mais preciso(VASCONCELOS, 2010). A Leucemia linfóide crônica (LLC) responde por cerca de um terço de todas as leucemias e acomete principalmente pessoas com mais idade, raramente observada em pacientes com menos de 30-40 anos e é extremamente rara em crianças. Caracterizada pelo acumulo de linfócitos monoclonais (CHISESI, 2009). A Leucemia mielóide crônica (LMC) constitui uma desordem mieloproliferativa, na qual há produção excessiva das células granulocíticas, em decorrência da expansão clonal da célula progenitora hematopoiética. A manifestação se da por leucocitose, hiperplasia mielóide, basofilia e neutrofilia. A LMC se caracteriza pela presença de uma mutação adquirida que afeta a célula-tronco hematopoiética. Ela difere fisiopatologicamente de outras leucemias, pois 90% dos pacientes apresentam um "cariótipo marcador" na maioria de suas metáfases em células de medula óssea: o cromossomo Philadelphia (Ph), resultado de uma translocação envolvendo os cromossomos 9 e 22, formando um gene quimérico BCR/ABL que está relacionado à LMC (BARBOZA, 2000). Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 Linfomas São processos malignos com origem nos tecidos linfóides periféricos e constituem um grupo de diversos tumores sólidos, com diferentes aspectos moleculares, fisiopatológico, genéticos e de tratamento. Os linfomas podem ser agrupados em dois grandes grupos: linfomas de Hodgkin (LH) e linfoma não Hodgkin (LNH). O LH envolve uma expansão clonal de linfócitos B, embora um pequeno subconjunto de LH seja derivado de células T. A característica fundamental desses linfomas é a presença de uma célula anormal denominada célula de Reed-Sternberg (RS), célula binucleada (ou multinucleada) com núcleos grandes e eosinófilos. Os LNH são constituídos por neoplasias de células B ou T. Apesar de comumente se originarem nos linfonodos, esses linfomas podem se originar em qualquer tecido linfóide. As células neoplásicas B e T migram para os linfonodos como se fossem linfócitos normais, colonizando esses linfonodos (SPECTOR, 2009). As manifestações do LNH dependem do tipo do linfoma, se ele tem um curso mais agressivo ou mais indolente, e do estagio da doença. Formas mais indolente da doença podem se transformar em formas mais agressivas de linfomas, ou mesmo de leucemia. Entre os linfomas, é o tipo mais incidente na infância. Por razões ainda desconhecidas, o número de casos duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos (BRASIL, 2010). Conforme descrito na tabela 1, podemos observar algumas alterações laboratoriais encontradas nos linfomas (GOMÉZ, 2012). Mieloma Múltiplo O mieloma múltiplo (MM) é o tumor de células plasmocitárias que corresponde a aproximadamente 10% das neoplasias hematológicas, caracteriza-se pela proliferação neoplásica de plasmócitos na medula óssea; como consequência, ocorre destruição óssea, falência renal, supressão da hematopoese, maior risco de infecções, insuficiência da medula óssea e produção de proteína monoclonal (SILVA,2009). A doença é rara antes dos 40 anos, e mais de 70% dos pacientes são diagnosticados após os 60 anos. Em idosos é um tumor freqüente, responsável por 1% da mortalidade por neoplasias. A prevalência está aumentando paralelamente a longevidade populacional (SOUZA, 2004). O mieloma múltiplo (MM) é uma doença de distribuição mundial. Representa 1% de todos os tipos de câncer, sendo o segundo mais comum entre os hematológicos, ficando atrás apenas dos linfomas não-Hodgkin (MAIOLINO, 2008). Em uma significativa porcentagem de casos, o MM é precedido por uma expansão pré-maligna de plasmócitos secretores de imunoglobulina, denominada Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado (MGUS). A MGUS é observada em aproximadamente 1% da população aos 60 anos e aumenta muito de incidência dessa idade em diante, evoluindo para MM na freqüência de 1-3% ao ano (DA SILVA, 2013). Durante o curso clínico do MM, 15%-30% dos pacientes podem apresentar manifestações hemorrágicas, que variam de acordo com o tipo de MM (15% para IgG e 30% para IgA). São descritas várias causas como responsáveis por esses sangramentos, podendo acometer todos os componentes da hemostasia. Assim, são descritas: a) infiltração vascular pela célula maligna, b) plaquetopenia secundária à infiltração medular ou ao tratamento realizado, c) anormalidades funcionais das plaquetas (incluindo uremia), d) doença ou síndrome de Von Willebrand adquirida, e) deficiências adquiridas de fatores da coagulação secundárias à doença hepática, f) presença de anticoagulantes circulantes do tipo heparina e, g) inibição da polimerização da fibrina (D’AMICO, 2007). Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 O hemograma no MM mostra leve anemia normocítica sem sinais de regeneração, leucograma normal ou com neutropenia, plaquetas normais ou leve trombocitopenia. Notase a agregação excessiva dos eritrócitos; quando a taxa de proteína monoclonal não é muito alta o aspecto é de empilhamento (rouleaux) exagerado (VASCONCELOS, 2013). Os testes laboratoriais para avaliação do componente monoclonal são de extrema importância, pois demonstram a presença, a quantidade e o tipo de proteína anormal presente no soro e/ou na urina, auxiliando no diagnóstico e na avaliação da resposta ao tratamento. A detecção por citometria convencional é difícil; FISH é a técnica apropriada. A imunofenotipagem mostra células com alta expressão de CD38 e CD138. O diagnostico do MM é confirmado pelo exame de medula óssea. O mieloma múltiplo ainda é uma doença incurável. O objetivo principal do tratamento desta doença é aumentar a sobrevida e a qualidade de vida. Se para atingir este objetivo, é melhor tratar a doença tão intensivamente quanto possível, induzindo a remissões mais longas (mesmo não atingindo a cura), ou tornando a doença com um curso mais indolente (HUNGRIA, 2007). Policitemia Vera A policitemia vera (PV) é desordem clonal de células progenitoras multipotentes da medula óssea, caracterizada por hiperplasia das linhagens de células hematopoiéticas e por aumento da massa eritrocitária, leucocitose e trombocitose. As manifestações clínicas são variadas; sua terapêutica é direcionada para a redução de volume e viscosidade sanguíneos e do número de plaquetas, por meio de flebotomia, administração de fósforo radioativo e outros agentes quimioterápicos (MOREIRA, 2009). A PV incide preferencialmente em pacientes na sexta/ sétima décadas de vida (0,7 a 2,5: 100.000 habitantes/ano), com média de sobrevida, após o diagnóstico, de aproximadamente 15 anos. É mais freqüente em homens que em mulheres. Trombose costuma ser a causa mais comum de morte e, na fase tardia da doença, há risco de fibrose medular ou transformação em leucemia aguda. Segundo a OMS, para o diagnóstico de PV há a necessidade do preenchimento de dois critérios maiores e um critério menor ou a presença simultânea de um maior e dois menores. Critérios maiores: Hemoglobina >18,5g/dL para homens, >16,5g/dL para mulheres ou outras evidências de aumento de massa eritrocitária; presença da mutação JAK2 V617F ou outra funcionalmente similar (ex., éxon 12); Critérios menores: BMO demonstrando hipercelularidade para a idade com panmielose (proliferação proeminente das séries eritroide, granulocítica e megacariocítica); eritropoetina sérica abaixo do valor de normalidade; formação in vitro de colônia eritroide endógena (CHAUFFAILLE, 2010). Não há terapias curativas para PV e seu tratamento tem o objetivo de reduzir os sintomas e o risco de trombose, e evitando a transformação hematológica para leucemia aguda. Os pacientes cujas contagem periférica dos eritrócitos está sob controle adequado têm baixas taxas de mortalidade, com 80% deles sobrevivendo por mais de 12 anos. As terapias disponíveis atuais são flebotomia e medicamentos mielossupressores (LINARDI, 2008). Macroglobulinemia de Waldesnström A macroglobulinemia de Waldenström (MW) é uma doença rara das células B, caracterizada pela produção monoclonal de imunoglobulinas M (IgM). Afeta pessoas idosas, manifesta-se com fadiga, astenia, perda ponderal, sangramento purpúrico, Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 linfoadenomegalia, hepatoesplenomegalia e alterações neurológicas (PIMENTA, 2008). Foi descrita pela primeira vez em 1944, por Jan Gösta Waldenström, que descreveu dois doentes com hemorragia oro nasal, adenopatias, anemia, trombocitopenia, velocidade de sedimentação eritrocitária e viscosidade sérica elevada, radiografia óssea normal e medula óssea infiltrada por células linfóides (COIMBRA, 2014). A MW é uma doença com um percurso clínico normalmente indolente, atingindo principalmente os indivíduos com idades entre 63 e 68 anos. O diagnóstico diferencial com outros linfomas é essencial para a avaliação do prognóstico e a abordagem terapêutica (MACRO, 2011). Mielodisplasia Um termo empregado para descrever diversas doenças clonais cuja principal característica é a inabilidade intrínseca das células de passar pelo processo normal de diferenciação e maturação da medula. Devido a essa inabilidade de maturação, embora a medula esteja, na maioria das vezes, cheia de precursores, ocorre citopenia no sangue periférico. Essa citopenia pode ser de uma linhagem apenas eritróide, ou afetar as linhagens megacariocítica e neutrofílicas (BULYCHEVA et al., 2015; PALODETTO et al., 2013). Dessa forma, na avaliação do sangue periférico observa-se anemia macrocítica, reticulocitopenia, ferritina aumentada associada a uma trombocitopenia que pode requerer transfusões frequentes. Além disso, o paciente pode apresentar neutropenia propiciando risco elevado de infecções (MELCHARDT et al., 2013). A história natural da mielodisplasia varia muito, na dependência da alteração citogenética, do numero de linhagens envolvidas, da porcentagem de blastos, podendo lentamente levar a uma progressão fulminante para LMA. Dentre as alterações citogenéticas mais comuns são deleções do cromossomo 5 e 7e trissomia do cromossomo 8. Estudos recentes demonstram que a doença pode ser consequência de fatores exógenos relacionados aos hábitos de vida (BABUSHOK, 2015; L'ABBATE et al., 2014). Do ponto de vista do tratamento, lamentavelmente, na maioria dos casos, as respostas a varias drogas usadas é apenas temporária. Devido às transfusões frequentes, os pacientes acabam evoluindo com refratariedade a transfusão, sobrecarga de ferro, disfunção hepática e cardíaca ou progressão para leucemia aguda (TABAK, 2002). Avaliação Laboratorial Na avaliação laboratorial um dos principais exames é o hemograma. É um dos primeiros exames analisados na doença crônica, avalia quantitativamente e qualitativamente os elementos celulares no sangue, analisando todos os parâmetros do sangue: Hemácias, Volume Corpuscular Médio (VCM), Celldistributionwidth (RDW), Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM), Hemoglobina Corpuscular Média (HCM), Volume Plaquetário Médio (VPM), Plaquetas (PLT), leucócitos (WBC), neutrófilos, segmentados, bastões, monócitos e eritroblastos, com avaliação medica se os índices não encontrarem-se dentro da normalidade devem ser investigados (JÚNIOR, 2001). Para a realização do diagnóstico de doenças neoplásicas hematológicas é importante levar em consideração além da apresentação clínica do paciente, sinais e sintomas, os resultados oferecidos pelo laboratório: hemograma, VHS (Velocidade de Hemossedimentação), marcadores tumorais (β-2-microglubulina), analíticos bioquímicos, Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 como albumina, DHL (Desidrogenase Lática), PCR (Proteína C Reativa), testes de função renal (Uréia, Creatinina, Ác. Úrico, Cistatina C) e hepática (GGT, FAL, TGO, TGP), ressaltando que o diagnóstico final é obtido a partir de uma biópsia do local onde há suspeita de envolvimento pelo tumor (GREGORJ, et al., 2007). É necessária ainda em algumas ocasiões, para classificação definitiva da doença e identificação da população celular transformada, a submissão da amostra histopatológica a imuno-histoquímica (IHQ) (SEITER, 2013). Esta técnica é útil para diferenciação dos linfomas de grandes células anaplásicas, como os LNH’s ALK (AnaplasticLymphomaKinase )positivo, sendo que a distinção é realizada pela expressão da oncoproteína, ou seja, proteínas codificadas unicamente por células neoplásicas. A utilização da IHQ no diagnóstico de linfomas se faz necessário para diferenciação de neoplasias com origem em células B, T e NK, quando não é possível a realização da citometria de fluxo, método que analisa os marcadores presentes na membrana citoplasmática das células sanguíneas, refletindo diretamente o grau de diferenciação e maturação de cada população celular (VON SUCRO, 2009). Alterações Laboratoriais Hemograma: Geralmente alterado Leucocitose / Anemia Elevados Enzima DHL Marcadores tumorais: β-2-microblugulina Marcadores inflamatórios: Geralmente elevados PCR VHS Marcadores Hepáticos: Normais ou elevados TGO / TGP GGT / FAL Marcadores Renais: Normais ou elevados Ureia / Creatinina Ác. Úrico / Cistatina C Figura 1. Alterações laboratoriais encontradas nos linfomas. Fonte: Adaptado de GÓMEZ, 2012. MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizada uma revisão descritiva da literatura científica, a qual foi realizada através de uma busca na base de dados eletrônica no ano de 2015, utilizando os descritores “Neoplasias hematológicas”, “idoso”, “Leucemias”, “Mielodisplasias” e “Mieloma”. Conforme ilustrado na figura 2, foram encontrados o total de 262artigos, estes passaram por uma análise de titulo e resumo para então selecionar os que estavam relacionados ao tema pesquisado “incidência de neoplasias hematológicas no idoso” e que foram publicados a partir do ano de 2000. Após essa análise foram selecionados 74artigos. Após a leitura na integra, foram selecionados 51 artigos. Os demais artigos foram excluídos por não abordarem neoplasias hematológicas referentes à população idosa e por data em que foram publicados. Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 DESCRITORES: Neoplasias hematológicas, idoso, Leucemias, Mielodiaspalsias, Mieloma Scielo LILACS MEDLINE 41 artigos 15 artigos 206 artigos 262 ARTIGOS ENCONTRADOS 74 ARTIGOS INCLUÍDOS POR TÍTULO E RESUMO INCLUÍDOS POR LEITURA NA ÍNTEGRA 51artigos 188 ARTIGOS EXCLUÍDOS POR TÍTULO E RESUMO EXCLUÍDOS POR LEITURA NA ÍNTEGRA23 ARTIGOS 51 ARTIGOS SELECIONADOS 26111 22 22 Figura 2 - Fluxograma de descritores. RESULTADOS E DISCUSSÃO Entre as doenças mais freqüentes em pessoas idosas destacam-se as neoplasias como importante causa de morbidade e mortalidade. As neoplasias representam hoje, no Brasil, na mortalidade geral, a segunda ou terceira causa com 10% dos óbitos, em média, na maioria das capitais (TOLEDO, 2003). A transição demográfica e o envelhecimento populacional introduzem desafios às políticas públicas em atender às novas demandas. Ao incluírem-se, nesta fase etária os graus de pobreza, desigualdades, baixa escolaridade, arranjos familiares e domiciliares amplia-se a necessidade de intervenções em repostas mais ágeis e equânimes a essas novas demandas para uma atenção adequada a saúde do idoso (MCSWEENEY, 2001). Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 Estudos epidemiológicos demonstram que a idade é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer, pois indivíduos com idade mais avançada apresentam, geralmente, um aumento na probabilidade de mutações, ou de acúmulo de substâncias com potenciais mutagênicos, predispondo assim, o aparecimento de células tumorais (BRASIL, 2015). O aumento na incidência de leucemias, mielomas e mielodisplasias no idoso tem se mostrado bastante significativo, principalmente na região sul e sudeste do Brasil, nesse sentido encontra-se no aumento da expectativa de vida da população uma das principais causas para o aumento nas doenças crônicas não transmissíveis, assim como as mudanças na sociedade, como os hábitos de vida da população, exposição cada vez maior as substâncias tóxicas de caráter oncogênico (SHAMAH-LEVY et al., 2008). Com relação ao diagnóstico da neoplasia no idoso, um dos maiores problemas que afetam a cura e/ou sobrevida do paciente é o diagnóstico tardio. Tais limitações, muitas vezes, da não valorização das queixas dos pacientes, da escassez desde recursos para custear exames clínico-laboratoriais, bem como, da falta de estudos na área de oncogeriatria hematológica contribuem para que os diagnósticos das neoplasias do idoso sejam tardios os que acabam provocando menor capacidade tanto no tratamento, quanto na expectativa de vida do idoso (SAMPAIO, 2014). Entre as afecções hematológicas, incluem-se as leucemias, os linfomas, o mieloma múltiplo e, em menor freqüência, a macroglobulinemia de Waldesnströn. Quanto às neoplasias hematológicas mais comumente encontradas, as leucemias e o linfoma não Hodgkin, apesar de geralmente não serem considerados doenças de idosos, obtiveram um aumento significativo, e correspondem a mais de 50% das ocorrências destes tumores nesta faixa etária (AMADA, 2007). Segundo BOZZETTI (2015) o risco de desenvolvimento de câncer em pessoas com mais de 65 anos é cerca de 11 vezes maior do que em pessoas com idade inferior. De acordo com os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 75% das neoplasias ocorrem em indivíduos com mais de 60 anos, sendo que o aumento da expectativa de vida não só eleva a exposição do indivíduo aos fatores de risco presentes no meio ambiente e o tempo dessa exposição, como também o envelhecimento oferece a oportunidade do surgimento de neoplasias genéticas, que só apareceriam tardiamente (BRASIL, 2010). O meio ambiente é o maior responsável pelas mutações genéticas que acarretam no surgimento de células neoplásicas. É possível que as alterações celulares específicas da idade possam colaborar para a exponencial elevação do número de neoplasias do idoso. Mais de 80% das mortes por câncer surgem a partir de mutações somáticas conseqüentes de efeitos ambientais como raios UV, tabagismo, vírus, metais pesados, hábitos alimentares etc. Estas mutações somáticas promovem um desequilíbrio entre a apoptose celular e a replicação acentuada do DNA, sendo consideradas como um ponto chave da carcinogênese (CERVATO, 2005). Frente à sintomatologia clínica pouco distinta, o diagnóstico diferencial é realizado por meio dos exames de hemograma e análise química do sangue periférico, incluindo avaliação das funções renal e hepática, estudos com marcadores de superfície, eletroforese de proteínas e, ainda, identificação da proteína de Bence-Jones na urina, exames radiológicos bem como biópsias ganglionares e da medula óssea (REGO, 2009). Além disso, a idade m dia de acome mento das doenças crônico-degenerativas, linfoproliferativas e mieloproliferativasé de 65 anos. Tratando-se de neoplasias Rev. Sau. Int., v.8, n. 15-16 (2015) ISSN 2447-7079 hematológicas os tratamentos com maior eficiência como os transplantes de medula óssea são descartados, restando na maioria das vezes tratamentos quimioterápicos que são de caráter paliativo a esse paciente, principalmente nas leucemias linfóides, já no caso das mielóides a família de fármacos inibidores da tirosinoquinase permitem um tratamento com menos efeitos degenerativos do que a quimioterapia convencional (VERAS, 2003). As principais estratégias no tratamento das neoplasias hematológicas envolvem quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e transplante de células tronco-hematológicas (TCTH). Este pode ser alogênico, quando ocorre a transferência de células da medula óssea de um doador para outra pessoa, ou autólogo que envolve o uso da medula óssea do próprio paciente visando restabelecer a função das células hematopoiéticas após administração de quimioterapia em alta dose. No entanto, tratandose de neoplasias do idoso estes tratamentos específicos podem normalmente serem realizados até os 65 anos de idade, dessa forma descartando a possibilidade da maior parte de tratamentos curativos para essas doenças no idoso. Esse quadro reflete-se na avaliação clínico-laboratorial que uma vez realizados os diagnósticos de neoplasias hematológicas nos idosos apenas podem ser utilizados tratamentos paliativos, mas sem a possibilidade da cura da doença (SILVA, 2013). No idoso, apesar de ser objetivo primário da quimioterapia e da radioterapia destruir células neoplásicas, preservando as normais, a maioria dos agentes quimioterápicos e grande parte da radioterapia realizada, não atuam de forma específica, lesando tanto células malignas quanto as normais, particularmente as células de rápido crescimento, como as gastrointestinais, capilares e as do sistema imunológico. Sendo assim, nestes pacientes os protocolos clínicos devem ser muito bem avaliados devido à toxicidade a qual o idoso estará submetido, o que explica a ocorrência de graves efeitos colaterais, tais como mucosites, imunossupressão, náusea, vômitos, diarréia, absorção diminuída de nutrientes, e consequente comprometimento do estado de saúde como um todo do paciente, o que limita a expectativa de vida de idosos bem como de adultos acometidos por neoplasias hematológicas (QUAGLIA, et al., 2015). CONCLUSÃO O aumento no número de neoplasias hematológicas, principalmente no idoso é fruto da associação entre os aspectos genéticos e do estilo de vida moderno no qual tais doenças são cada vez mais prevalentes, no entanto o diagnóstico tardio associado a um comprometimento fisiológico falta de fármacos específicos para o tratamento destas neoplasias limita significativamente não só a expectativa de vida, mas também a qualidade da mesma. REFERÊNCIAS AMADA, T. F., ARRUDA, I. G., FERREIRA, R. R. 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