conclusão - Associação Brasileira de Ensino de Psicologia

Propaganda
O IMPACTO DAS DISFUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS NO
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO-LINGÜÍSTICO NA QUALIDADE DE
VIDA DE SUJEITOS EM CONDIÇOES PSICOSSOCIAIS ATÍPICAS.
The Impact of disorders Neuropsychology in Cognitive-Linguistic development in
quality of life in conditions of subject psychosocial atypical.
______________________________________________________________________
Dra. Maria de Lourdes Merighi Tabaquim I
Amanda Cristina FiorettoII
Ana Vera NiqueritoII
I
Professora Doutora do Curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração
Alunas do Curso de Psicologia da Universidade do Sagrado Coração.
______________________________________________________________________
II
Resumo
A aprendizagem envolve sistemas de informação relacionados às áreas de recepção,
processamento e expressão, principalmente com relação à linguagem, memória, e
afetividade. Quando as condições relacionadas à saúde mental encontram-se
prejudicadas, ocorrem prejuízos em diversas áreas de ajustamento psicológico e social
do indivíduo. O objetivo deste estudo foi obter um perfil psicológico de crianças com
alterações cognitivas e psicossociais. Participaram 44 sujeitos na faixa etária de 7 a 12
anos de idade, ambos os sexos, freqüentando escola especializada e regular, em níveis
pré-escolar e fundamental até a 4ª série. A análise das respostas teve base na teoria
cognitiva e comportamental. Os resultados nas provas de ajustamento mental
demonstraram que 86,4% dos sujeitos tiveram classificação abaixo da média esperada
para a idade. Os níveis cognitivos espaço lógico-temporal, atencional e da memória
operacional importantes nas tarefas acadêmicas de leitura, escrita e aritmética, foram
identificados com prejuízo, com escores abaixo do esperado para a faixa etária e
escolaridade, evidenciando dificuldades relacionadas ao domínio espaço-temporal e
generalização de informações. Os resultados permitiram também evidenciar
comportamentos adaptativos disfuncionais, com recursos mentais limitados para o
processamento de estratégias, para o planejamento e escolhas sociais e afetivas, que
poderiam caracterizar adequação no julgamento moral. Os recursos cognitivos
incipientes mostraram condições desfavoráveis ao processamento, retenção e
generalização de informações, conseqüenciando em perdas na produtividade dos
sujeitos. O estudo concluiu a existência de alterações cognitivas e psicossociais
relacionadas aos recursos escassos neuropsicológicos para o ajustamento afetivo-social
e qualidade de vida dos sujeitos.
Palavras chaves: avaliação neuropsicológica; cognição; desenvolvimento; psicossocial
Abstract
The learning involves information systems related to areas of reception,
processing and expression, especially with regard to language, memory and affection.
When the conditions are related to mental health is impaired, losses occur in various
areas of psychological and social adjustment of the individual. The aim of this study
1
was to obtain a psychological profile of children with cognitive and psychosocial
changes. Participated in 44 subjects aged 7 to 12 years of age, both sexes, attending
regular school and specialized in pre-school and key until the 4th grade. The analysis of
responses was based on behavioral and cognitive theory. The results in tests of mental
adjustment showed that 86.4% of subjects had below-average rating for the expected
age. The logical level cognitive space-time, attention and memory in major operational
tasks of academic reading, writing and arithmetic, were identified with injury, with
scores lower than expected for age and education, highlighting difficulties related to the
field and space-time generalization of information. This result also show dysfunctional
adaptive behaviors, with limited resources for mental processing strategies, for planning
and social and emotional choices that could characterize moral fitness in the trial. The
resources were developed cognitive conditions unfavorable to the processing, retention
and generalization of information, consequences in loss in productivity of the subject.
The study concluded that there are psychosocial and cognitive changes related to
neuropsychological scarce resources for the social-emotional adjustment and quality of
life of individuals.
Keywords: neuropsychological assessment, cognition, development, psychosocial.
Introdução
A trajetória das neurociências vem se desenvolvendo ao longo dos séculos, em
que o avanço do aparato tecnológico e médico-científico possibilita a investigação mais
complexa da atividade cerebral e sua correlação como comportamento humano, e ainda
assim há muito para se descobrir nesse campo da ciência. (ANDRADE, 2004)
A neurociência é um campo interdisciplinar que abrange um conjunto de
disciplinas dentre outras: neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica, neuroimagem,
genética, farmacologia, neurologia, psicologia, psiquiatria. As neurociências procuram
estudar as várias relações entre o comportamento e a atividade cerebral. (ANDRADE,
2004)
Dentro das neurociências, o papel do psicólogo vem conquistando um grande
destaque, que resultou na Resolução nº 02/2004 do Conselho Federal de Psicologia, que
regulamenta a prática da neuropsicologia (diagnóstico, acompanhamento, reabilitação e
pesquisa) como especialidade do profissional psicólogo através de registro e titulação.
(ANDRADE, 2004)
Todas as tarefas que diariamente realizamos necessitam da atividade cerebral.
As principais funções cognitivas são: percepção, atenção, memória, linguagem e
funções executivas. É a partir da relação entre todas estas funções que entendemos a
grande maioria dos comportamentos, desde o mais simples até as situações de maior
complexidade, e que exigem atividades cerebrais mais elaboradas. (ANDRADE, 2004)
2
A atenção é uma função cognitiva bem complexa e diversos comportamentos
resultam de um nível adequado de atenção para serem bem sucedidos, também é um
pré-requisito fundamental para o processo de memorização. O conceito de atenção é
definido pela seleção e manutenção de um foco, seja de um estímulo ou informação,
entre as inúmeras que obtemos através de nossos sentidos, memórias armazenadas e
outros processos cognitivos. A habilidade de manter a própria atenção focada em um
conteúdo mental fica diminuída, ou seja, pode-se ter dificuldade de para se manter uma
seqüência de pensamentos simples, o que invariavelmente compromete a habilidade de
solução de problemas mais complexos. (STERNBERG, 2000)
A memória é uma das funções cognitivas mais utilizadas pelo ser humano em
seu cotidiano. Memória é a capacidade de armazenar informações, lembrar delas e
utilizá-las no presente. O bom funcionamento da memória depende inicialmente de do
nível de atenção. Para que o bom armazenamento aconteça outras atividades cognitivas
como a capacidade de percepção e associação é importante para que as informações
possam ser armazenadas com sucesso. Quanto maior o interesse em aprender algo,
melhor será o armazenamento das informações obtidas nesse processo, assim quanto
maior o número de emoções (sejam elas positivas ou negativas) atribuídas a um evento
mais chances dele permanecer na memória para uma futura recuperação.
(STERNBERG, 2000)
A linguagem é uma função que usamos todos os dias, durante a maior parte do
tempo, seja através da linguagem oral (numa conversa) ou da escrita (ao ler ou escrever
um texto). O conceito de linguagem é definido pelo uso de um meio organizado de
combinar as palavras a fim de se comunicar, embora a comunicação não se constitua
unicamente num processo verbal. As formas não-verbais, como gestos ou desenhos
também são capazes de transmitir idéias e sentimentos. (STERNBERG, 2000)
A linguagem também é caracterizada pela sua constate evolução, pois embora
as pessoas respeitem os limites de sua estrutura (gramática, ortografia), elas podem
produzir novas elocuções a qualquer momento. Basta observar as mudanças ocorridas
na escrita de certas palavras há algumas décadas atrás, por exemplo, “pharmácia”.
(STERNBERG, 2000)
A percepção é uma função cognitiva que se constitui de processos pelos quais
o sujeito é capaz de reconhecer, organizar e dar significado a um estímulo vindo do
ambiente através dos órgãos sensoriais. (STERNBERG, 2000)
3
As funções executivas compreendem um conceito neuropsicológico que se
aplica às atividades cognitivas responsáveis pelo planejamento e execução de tarefas.
Elas incluem o raciocínio, a lógica, a estratégias, a tomada de decisões e a resolução de
problemas, independente do grau de complexidade do problema, o sujeito precisa estar
apto para analisar a situação (problema), lançar mão de estratégias, e antever as
conseqüências de sua decisão. (MELLO, 2005)
Segundo Tabaquim (2002 apud LURIA, 1981), a Neuropsicologia é uma
ciência interdisciplinar do conhecimento que estuda as relações entre cérebro e
comportamento, investigando o papel desempenhado por sistemas cerebrais individuais
em formas complexas de atividade mental, em condições normais e patológicas. O
conhecimento sobre fundamentos básicos das ciências afins da Neuropsicologia, como a
Neurologia, a Psicologia, a Lingüística e a Inteligência Artificial, são essenciais para a
formação do pesquisador dessa área. (TABAQUIM 2002 apud DAMASCENO, 1997).
E nos últimos vinte anos, os paradigmas da Psicologia Cognitiva e das
Ciências da Computação, deram origem à “Neuropsicologia Cognitiva”.
A Neuropsicologia estuda os distúrbios das funções superiores reduzidos por
alterações cerebrais, e investiga especificamente os distúrbios dos comportamentos
adquiridos, através do qual cada homem mantém relações adaptadas com o meio
(TABAQUIM, 2002).
Segundo Tabaquim (2002 apud LURIA, 1973), a neuropsicologia, tem por
objetivo a investigação do papel de sistemas cerebrais individuais, em formas
complexas de atividade mental. Seus métodos procuram facilitar o diagnóstico tópico,
precoce e mais exato, das lesões cerebrais locais, procurando não apenas estabelecer
programas de ação terapêutica e reeducativa, como também trazer importantes
contribuições para uma mais ampla compreensão sobre a atividade mental, bem como
sobre toda a psicodinâmica humana.
Segundo Tabaquim (2002), a compreensão dos processos da aprendizagem e
seus distúrbios, buscam considerar e conhecer aspectos neuropsicológicos, tendo em
vista que as manifestações são, na sua maioria, reflexos de funções alteradas, ou seja,
disfunções em áreas da recepção, processamento e expressão das informações,
principalmente com a relação à linguagem e ao movimento intencional. O cérebro é o
sistema integrador, coordenador e regulador entre o meio ambiente e o organismo, entre
cérebro e comportamento-aprendizagem.
4
Sabe se que, quanto mais se aprende sobre as relações cérebro-comportamento
e cérebro-aprendizagem, melhor será o nível de compreensão e de intervenção sobre a
criança com dificuldades de aprendizagem, tornando-se possível obter melhores
recursos para o diagnóstico e prognóstico do seu potencial de aprendizagem.
A avaliação neuropsicológica comumente se estrutura em uma série de testes e
subtestes, não se deve duvidar que a organização cerebral está muito mais além das
simplificações e abstrações. O valor dos resultados de uma bateria neuropsicológica
deve realizar-se como um dos conceitos de sistemas ou de redes funcionais.
Na avaliação neuropsicológica pode-se seguir diversas orientações e métodos.
Em geral, dois tipos de abordagens são diferenciados:
1- seguindo uma sistematização definida e estandartizado, aplicando a todos os
pacientes de forma sistemática;
2- utilizando uma forma mais flexível, selecionando um conjunto de provas
que se adapte aos problemas e necessidades especificas de cada caso.
O desenvolvimento cognitivo favorece o desempenho da criança na escola. O
baixo rendimento é um problema educacional e social que restringirá a participação do
aluno na vida acadêmica e particular. É preciso promover o autoconceito do/a aluno/a
respeitando seus diferentes modos e ritmos de aprendizagem para que sintam confiança
na sua capacidade de aprender, ao se perceber aprendendo, quando estimulado a
progredir, cada vez mais, a partir da descoberta das suas potencialidades
(HOWSTUFFWORKS, 2007).
Desta forma, cada vez mais são necessários estudos que busquem favorecer a
compreensão das potencialidades da criança e possibilitem estratégias para aprender. As
crianças na faixa etária de 7 a 12 anos, que estão no estágio operacional concreto,
vivenciam um período em que começam a ter a capacidade de pensar de maneira lógica
e entender os conceitos que usam ao lidar com o ambiente ao seu redor. A presente
proposta visa atender a demanda de alunos, ligados à instituições de ensino regular e
especial, que apresentem necessidades de intervenção para minimização do fracasso
acadêmico.
Justificativa
A escolarização fundamental é uma fase sensível para o desenvolvimento
acadêmico e vital da criança, pois envolve inúmeras mudanças que ocorrem
5
simultaneamente, requerendo adaptações nos ambientes, físico, acadêmico, social e
psicológico do aluno.
Frente ao acúmulo das demandas, novas e complexas, algumas crianças encontram
dificuldades para superar os desafios, principalmente quando existem condições prévias de
vulnerabilidade.
A avaliação neuropsicológica oferece suporte conceitual e investigativo ao estudo
das condições que contribuem para a adaptação e aprendizado escolar. A Neuropsicologia
é uma ciência voltada para a expressão do comportamento por meio das disfunções
cerebrais e ampara-se na avaliação de determinadas manifestações do indivíduo para a
investigação do funcionamento cerebral.
No estudo da criança e do adolescente devem-se levar em conta os processos de
crescimento e maturação cerebral, o desenvolvimento cognitivo, neuropsicomotor e
afetivo-social, bem como as variáveis críticas que determinam e interferem nas
habilidades, tais como o ambiente acadêmico.
No processo avaliativo, a compreensão das habilidades e competências referentes
aos recursos neuropsicológicos, possibilita a programação de estratégias reeducativas e a
melhoria de repertórios que favorecem o auto-conceito, o ajustamento escolar e
psicossocial da criança ou do adolescente.
Neste sentido, a literatura tem sido escassa na área do desenvolvimento atípico de
crianças e adolescentes, que freqüentam instituição educacional especializada. Estudos
sobre a aprendizagem e o comportamento adaptativo podem representar referencial
acadêmico-científico contribuinte significativo, na compreensão das dificuldades escolares,
com tão alta incidência nos últimos tempos.
Objetivo geral
O objetivo deste estudo foi investigar as habilidades cognitivas de crianças
com alterações no desenvolvimento e na conduta psicossocial.
Objetivos específicos
Identificar desempenhos relacionados às áreas cognitivas motora, perceptiva
da linguagem, memória e afetividade social;
Correlacionar os desempenhos às funções corticais, através da análise
neuropsicológica.
6
Metodologia
Participaram 44 sujeitos na faixa etária de 7 a 12 anos de idade, ambos os
sexos, da pré-escola à 4ª série, do ensino fundamental de uma instituição educacional
especializada. O critério para a escolha da população alvo foi pelas diversas
dificuldades apresentadas em relação à aprendizagem.
Inicialmente foram realizados os procedimentos formais e éticos junto à
instituição escolar para a realização da coleta de dados.
Os instrumentos de avaliação empregados foram:
- Raven.
Matrizes Progressivas Coloridas. Avalia o nível mental,
independente do conhecimento adquirido. Composto por 35 estímulos visuais,
agrupados em três séries, cada uma com um conjunto de desenhos, dentre os quais falta
um que completa logicamente o conjunto.
- Avaliação da Personalidade: Fábulas de Düss. Avalia os aspectos cognitivolinguísticos e psicossociais. Na forma verbal, avalia dois aspectos do desenvolvimento:
psicossocial, onde o discurso do examinando é comparado às temáticas e significados
de cada fábula; e o cognitivo, onde as respostas deverão ser construídas com linguagem
coerente e apresentar uma formalidade lógica na estória, adequada. O instrumento é
composto por dez pequenas histórias incompletas, envolvendo as seguintes fábulas: do
passarinho, aniversário de casamento, cordeirinho, enterro ou viagem, medo, elefante,
objeto fabricado, passeio com a mãe ou pai, da notícia e do sonho mau. O Quadro 1
caracteriza as fábulas e os significados, cognitivo e psicossocial.
Item
F1
F2
F3
F4
F5
F6
F7
Fábula
Um papai e uma mamãe pássaros e seu filhote estavam
dormindo no ninho, quando por causa de um vento ele cai
no chão. A mamãe voa para uma árvore, o papai voa para
outra árvore. O que vai fazer o filhote passarinho? Ele já
sabe voar um pouco.
É uma festa de aniversário do papai e da mamãe. Durante a
festa a criança se levanta e vai ficar sozinha do fundo do
quintal. Por quê?
No pasto estão a mamãe ovelha e seu carneirinho. Todos os
dias eles brincam e ela dá um bom leite quente que ele
adora, mas ele já come capim também. Um dia trouxeram
para a mamãe uma outra ovelhinha, e como ela não tinha
leite suficiente para os dois, pede ao primeiro que vá comer
capim. O que o carneirinho vai fazer?
Um enterro está passando na cidadezinha, sabem que é
alguma pessoa da família que mora naquela casa que
morreu. Quem é que morreu?
Uma criança diz bem baixinho: ‘ai que medo’. De que ela
tem medo?
Uma criança tem um elefantinho que ela gosta muito, com
sua trompa bem comprida. Um dia quando ela volta do
passeio percebe que ele está diferente. O que ele tem de
diferente? Por que está diferente?
Uma criança construiu um objeto de argila que ela acha
Psicossocial
Cognição
Independência
Adequado
Inadequado
Sentimento de inclusão
Maturidade x
Egocentrismo
Sentimentos de perda
Adequado
Inadequado
Adequado
Inadequado
Adequado
Inadequado
Fantasias de perseguição
Adequado
Inadequado
Enfrentamento do
desconhecido
Generosidade x
Adequado
Inadequado
7
F8
F9
F10
lindo. Sua mãe pede o objeto de presente, a criança é livre
para dar ou não dar. O que esta criança vai fazer? Por quê?
Um menino(a) faz um passeio sozinho com sua mãe(pai).
Voltando para casa o menino(a) acha que ela(e) está
estranho. Por quê?
Uma criança volta da escola e sua mãe diz que tem uma
coisa para contar. O que a mãe vai lhe contar?
Uma criança acorda e diz que está muito cansada, porque
teve um sonho mau. Com o que ela sonhou?
Possessividade
Adequado
Inadequado
Culpa e afeto parental
Adequado
Inadequado
Adequado
Inadequado
Adequado
Inadequado
Desejo x castigo
Relações antecedentes
positivas
QUADRO 1 – Indicação das fábulas e significados, psicossocial e cognitivo.
- TVIP - Vocabulário por Imagens Peabody (DUNN et al, 1986; CAPOVILLA
et al., 1997). Avalia a linguagem receptiva-auditiva e o repertório lingüístico de crianças
e adolescentes de 6 a 18 anos. Composto por um caderno com 144 itens, com quatro
figuras em cada página, que o examinando deve indicar aquela falada pelo examinador.
A análise dos dados foi feita conforme procedimentos normativos de cada
instrumento utilizado.
RESULTADOS
Os dados foram organizados e categorizados percentualmente. A análise das
respostas de cada instrumento aplicado teve base na teoria cognitiva e neuropsicológica.
Os resultados das provas de nível mental demonstraram nível mental altamente
prejudicado em 86,4% dos sujeitos, com classificação abaixo da média, conforme
Tabela 1.
Classificação
Superior
Acima da Média
Média
Abaixo da Média
Deficiente
Percentil
= ou > 95
75 e 90
25 a 75
25 a 10
= ou > 5
Qtidade Sujeitos
0
0
Acima de 50 = 2
Abaixo de 50 = 1
Acima de 25 = 3
Igual a 25
=2
Abaixo de 25 = 6
Acima de 10 = 5
Igual a 10
=1
Abaixo de 10 = 1
Igual a 5
=4
Abaixo de 5 = 19
Total Percentual
0
0
13,6
34,2
52,2
Tabela 1 – Representação dos resultados obtidos na prova de nível mental (Raven).
Os dados demonstram níveis cognitivos espaço lógico-temporal, atencional e
relacionado à memória operacional, importantes em tarefas acadêmicas de leitura,
escrita e aritmética, com classificação abaixo do esperado para a média, evidenciando
8
dificuldades relacionadas ao domínio espaço-temporal e generalização de informações
necessárias para a compreensão lógico-abstrata.
Na avaliação das condutas adaptativas, foi constatado que 66% dos sujeitos
demonstraram comportamentos de dependência ao meio afetivo e social; 42,07%
mostraram respostas indicativas de egocentrismo e possessividade em relação a objetos
e pessoas, com dificuldades na expressão de comportamentos cooperativos, de troca e
afinidades nas relações. Foram identificados 41,65% de sujeitos com prejuízo no autoconceito, com sentimentos de insegurança e inadequação na relação com o meio, medos
indicativos de perdas parentais e de figuras com grande valência afetiva. O estudo
identificou que 68,18% dos sujeitos apresentaram fantasias características de fases
primárias do desenvolvimento, tais como, medo do escuro, do “bicho papão”, etc.
A média cognitiva foi de 74%, o que representa um índice satisfatório do
grupo em estratégias de adaptação às situações cotidianas, não relativas à aprendizagem
formal. A média psicossocial foi de 45%, representando escores inferiores quanto ao
comportamento afetivo relacionado à maturidade social. Desta forma, situações
psicológicas, como em conflitos familiares e pessoais, mostraram-se mais dificultosas
para o grupo deste estudo.
Na Tabela 2 são apresentados os percentuais de desempenho cognitivo
adequado à faixa etária estudada e de adequação psicossocial frente à resolução de
problemas adaptativos.
ÍTEM
COGNIÇÃO
F1
84,1
F2
79,5
F3
79,5
F4
68,1
F5
79,5
F6
50,0
F7
86,4
F8
59,1
F9
79,5
F10
75,0
Tabela 2 – Resultados percentuais cognitivos e psicossociais (Duss).
PSICOSSOCIAL
34
2,3
54,5
63,6
18,2
47,7
61,3
47,7
45,4
75,0
Desta forma, os dados sugerem a imaturidade cognitiva e psicossocial dos
participantes, pelas dificuldades em lidar com estímulos novos e reais do ambiente
imediato. Os desempenhos prejudicados relacionados ao comportamento adaptativo,
demonstraram disfunção de áreas neuropsicológicas frontais e límbicas do córtex,
9
responsáveis pelo processamento de informações estratégicas, de planejamento e
escolhas com julgamento moral.
Recursos cognitivos-lingüísticos incipientes caracterizaram condições também
desfavoráveis para o processamento, retenção e generalização de informações,
conseqüenciando em perdas na produtividade dos sujeitos.
A Tabela 3 apresenta os valores referentes aos desempenhos dos sujeitos nas
provas lingüísticas.
Critérios
Não aplicável
Abaixo de 55
55 – 69
70 – 84
85 – 114
115 – 130
131 – 145
Classificação
crítico
extremamente
baixo
moderado
média
moderadamente
alto
extremamente
alto
Nº Sujeitos
03
16
14
Percentual/Sujeitos
6,9
36,2
31,9
06
05
0
13,7
11,3
0
0
0
O repertório cognitivo-lingüístico foi extremamente baixo para 31,9% dos
sujeitos, tendo o grupo um léxico básico, receptivo e expressivo, principalmente em
falas objetivas e do cotidiano da criança.
Da amostra, somente 11,3% atingiram a média lingüística compatível com a
faixa etária. Desta forma, os recursos de linguagem mostraram-se em níveis primários,
sendo a competência receptiva superior a expressiva.
DISCUSSÃO
Os sujeitos que compuseram a amostra do estudo demonstrou repertórios
relacionados ao desenvolvimento mental com prejuízos em todas as áreas corticais
superiores cerebrais, tendo em vista os valores médios obtidos nas tarefas
instrumentadas no processo avaliativo.
Indivíduos com atraso no desenvolvimento cognitivo comumente apresenta
alterações na linguagem, tanto a receptiva quanto a expressiva. Para algumas crianças,
10
no entanto, a habilidade de se comunicar é influenciada por fatores relacionados não
somente ao desenvolvimento, mas a fatores ambientais.
Quando a criança apresenta um grau eficiente de socialização, tende a
desenvolver mais rapidamente a linguagem do que crianças que apresentam o
isolamento como forma de comportamento padrão.
Outro fator a ser considerado é da criança que não apresenta malformação
severa, pois estão muito mais propensas a adquirir habilidades expressivas de
linguagem do que outras que não se enquadram neste critério.
O estudo constatou, confirmando os dados da literatura, que crianças com atraso
cognitivo, cujas habilidades de comunicação e socialização estão menos prejudicadas,
apresentam um melhor perfil de desenvolvimento e melhor performance em tarefas
dirigidas.
O comportamento dependente em tarefas do cotidiano, relacionadas ao
autocuidado ou mesmo a mobilidade, são mais freqüentes em crianças que apresentam
atraso cognitivo, pois teriam maior dificuldade em se relacionar e socializar. Os
resultados obtidos no presente estudo mostraram que as áreas relacionadas à
socialização e autocuidado apresentaram escores prejudicados.
A falta de estimulação adequada, a acomodação ou desmotivação da família,
atrelados a limitação do indivíduo e às características de personalidade, podem fazer
toda a diferença quando considerada a faixa cronológica e de desenvolvimento.
Dependendo da extensão, grau e tipo de deficiências associadas ao
desenvolvimento, a criança pode acomodar-se em uma condição desfavorável de
11
dependência, levando a família, por extensão, adotar os mesmos princípios, o que
poderá refletir na qualidade de vida e na baixa otimização de recursos tróficos do
sujeito.
CONCLUSÃO
O repertório de habilidades e competências cognitivas, lingüísticas e
psicossociais das crianças participantes do estudo mostrou-se defasado com relação à
idade e escolaridade, sugerindo recursos neuropsicológicos limitados ao ajustamento
afetivo-social e qualidade de vida.
12
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, F.H.S. (org.) Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas,
2004.
MEYERHOFF, M (trad. HowStuffWorks). Desenvolvimento cognitivo e
social de um recém-nascido. Ed.D. ".
(atualizado
em
19
de
Publicado em 13 de julho de 2006
março
de
2007).
Acesso
em:
http://saude.hsw.uol.com.br/compreendendo-o-desenvolvimento-cognitivo-e-social-deum-recem-nascido3.htm, dia 08 de Nov. 2007.
TABAQUIM, M.L. Avaliação Neuropsicológica: Estudo Comparativo de
crianças com paralisia cerebral hemiparetica e distúrbios de aprendizagem. Tese
(Doutorado Ciência Medicas) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.
2002.
MELLO, C.B. (org.) Neuropsicologia do desenvolvimento. São Paulo:
Memnon, 2005.
STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
2000.
13
Download