Raízes mediterrânicas da civilização europeia – cidade

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1. O modelo ateniense
Módulo 1
Raízes mediterrânicas da civilização
europeia – cidade, cidadania
e Império na Antiguidade Clássica
A Civilização Grega foi uma das mais brilhantes civilizações que floresceram na bacia do Mediterrâneo
durante toda a Antiguidade Clássica. Muito embora partilhassem a mesma identidade racial, linguística,
religiosa e cultural, os Gregos nunca lograram alcançar uma união política. Pelo contrário! Ciosos da sua
autonomia, permaneceram divididos numa pluralidade de pequenas cidades-estado – as Pólis –, autónomas
e independentes entre si, quando não mesmo rivais. Foi neste mundo fracionado que, no século V a. C., a
cidade-estado de Atenas conquistou um lugar de destaque. Ficou a devê-lo à prosperidade económica
entretanto alcançada, a qual, para além de proporcionar um clima social único, acabou, ao mesmo
tempo, por criar as condições propícias ao aparecimento de valiosos contributos intelectuais para a história da cultura europeia – na filosofia, na política, nas letras e nas artes.
Razão de ser
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1. O modelo ateniense
independente dos Gregos e com as profundas rivalidades que dividiam as
várias cidades-estado, e que com frequência as lançavam em guerra.1
A fragmentação política da Grécia em 2000 pólis é habitualmente considerada
uma falha desta civilização. Porque não conseguiram os Gregos alcançar uma
união política? Porque, para os Gregos, a pólis era a circunscrição territorial
com a dimensão ideal – se fosse muito pequena não se bastava; se fosse muito
grande não se governava; lá, bem melhor do que nos grandes impérios, o cidadão podia desenvolver a sua dimensão moral, estética, política e intelectual.
1 Ex.: Guerra do
Peloponeso
(431-404 a. C.) que opôs
Esparta a Atenas. A
derrota desta acarretou o
declínio da cidade e o fim
das suas instituições
democráticas.
Acrópole: Principal lugar de culto da cidade (local elevado onde se erguiam os
templos e realizavam as procissões, oferendas, meditações) – função religiosa.
[Primitivamente tinham sido praças-fortes, onde os camponeses se acolhiam
em caso de ataque; foi a partir desse núcleo, onde se situavam os principais templos e as residências de reis e nobres, que nasceram as primeiras cidades.]
Ágora : Praça pública das cidades-estado gregas, em geral situada na parte
mais baixa e com várias funções.
Função económica: era lá que se realizava o mercado, todas as manhãs.
Função política: funcionava como espaço para convívio e discussão dos assuntos da cidade, em geral nos pórticos dos edifícios governamentais (stoas).
Função administrativa: albergava os mais importantes edifícios públicos,
destinados ao funcionamento dos órgãos de governo da cidade.
Função religiosa: a religiosidade obrigava a que templos e altares estivessem
em toda a parte; a ágora não era exceção.
Em redor da ágora, e já como expressão do racionalismo grego, as construções
estavam organizadas geometricamente.2 Mas o requinte e a beleza dos templos
e edifícios públicos contrastavam com a simplicidade das habitações particulares. A verdade é que era ao ar livre que o homem grego passava a maior parte
do seu tempo.
Organização do
espaço urbano
Ágora: Praça pública
das cidades gregas.
1.1 A democracia antiga
Foi na Grécia, mais concretamente na cidade-estado de Atenas, que no século V a. C. nasceu a democracia. Era uma forma de governo totalmente nova, que os seus criadores acreditavam ser mais justa
e conforme à dignidade do Homem.
A. Um mundo de cidades-estado
Aparecimento
das pólis
1 Helenos, por se
julgarem descendentes
de Hélen, filho de
Deucalião e Pirra, únicos
sobreviventes de um
dilúvio universal. O nome
“gregos” foi-lhes dado
pelos Romanos.
Grécia Antiga: composta por Grécia Continental (península Balcânica), Grécia
Asiática (Ásia Menor), Grécia Insular (ilhas do Egeu) = Divisão territorial.
Território montanhoso e disperso, omnipresença do mar. Resultado: Dificuldades de comunicação.
Séculos XX a XVI a. C., invasões sucessivas de povos indo-europeus: Aqueus,
Jónios e Dórios. Resultado: Isolamento das Populações.
Embora conscientes da sua língua, cultura e religião comuns, os Gregos [helenos]1 nunca se constituíram numa unidade política. O modelo político por
eles adotado foi o de cidade-estado.
2 Hipódamo de Mileto,
arquiteto e urbanista
grego, precursor da
organização racional do
espaço citadino.
B. A democracia ateniense
Origem
Pólis: vide texto
central
Características
de uma pólis
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O mundo helénico era constituído por um conjunto de pólis – termo pelo
qual os Gregos designavam as comunidades independentes/autónomas em
que viviam, organizadas em torno de um núcleo urbano, e que se autoadministravam de forma livre. Em sentido restrito significa cidade.
Território próprio, constituído por uma zona urbana e por uma zona rural
(ex.: à cidade-estado de Atenas pertencia uma vasta região: a Ática).
Corpo cívico: conjunto dos cidadãos a quem eram reconhecidos direitos civis
e políticos; em número reduzido, o corpo cívico era essencial para a condução
dos negócios públicos, para a feitura das leis, assim como para a organização
das cerimónias religiosas. Nele não se incluíam as mulheres, os escravos nem
os estrangeiros – estes últimos, gregos oriundos de outras Pólis.
Leis próprias.
Autarcia: princípio segundo o qual uma pólis tinha que ser autossuficiente –
bastar-se a si própria; só assim a sua sobrevivência enquanto comunidade
autónoma estaria assegurada; este ideal prendia-se com o espírito orgulhoso e
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Conceito
de pólis
De entre todas as cidades gregas, Atenas foi a mais importante, não só pelo seu
poderio económico e militar mas sobretudo pelo seu exemplo cultural e político. Um dos aspetos que mais contribuíram para o prestígio da cidade foi a
sua original forma de governo. Os atenienses chamavam-lhe Democracia e
orgulhavam-se de terem lutado bastante tempo por ela. Ainda assim, a sua
implantação não fora fácil. Desde sempre, o governo da cidade ou estivera
reservado em exclusivo a uma minoria (Aristocracia, Oligarquia), ou fora
exercido autocraticamente por um só homem (Monarquia, Tirania), com uns
e outros a não abdicarem facilmente do seu poder. Assistiu-se então a um
longo processo de revoltas populares e instabilidade social, mas também de
reformas ousadas, que conduziram, no século V a. C., à igualdade política de
todos os cidadãos e ao atenuar das diferenças entre ricos e pobres. Algo só
conseguido com o trabalho de sucessivos legisladores, e em resposta a sucessivas reivindicações sociais – que apareciam de modo mais violento em ocasiões
de crise económica ou guerra.
Ação de Clístenes: considerado o fundador da democracia ateniense (508 a. C.):
dividiu administrativamente a Ática em 10 circunscrições – tribos; e cada uma
delas em 10 demos (100 no total), de onde eram sorteados os cidadãos que iam
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