495 Levantamento dos Insetos Presentes em Espigas de Milho em

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Levantamento dos Insetos Presentes em Espigas de Milho em Cultivo de Segunda Safra
Alexandre de S. Pinto, Henrique Swiech Filho, Vinícius L. Lopes e Vinicius Pedrão
Instituição Universitária Moura Lacerda, Campus, C.P. 63, 14076-510, Ribeirão Preto, SP. Email: [email protected].
Palavras-chave: Noctuidae, Euxesta, Lepidoptera, Diptera, pragas agrícolas.
No Brasil, a cultura do milho (Zea mays) é atacada por diversas pragas (PINTO;
PARRA; OLIVEIRA, 2004), e dentre elas destacam-se a lagarta-do-cartucho, Spodoptera
frugiperda (J.E. Smith), e a lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea (Boddie) (Lepidoptera:
Noctuidae), que são predominantes também nas espigas (MATRANGOLO; CRUZ; DELLA
LUCIA, 1997).
Muitos estudos foram realizados no Brasil e no mundo sobre a flutuação populacional
destas duas espécies de noctuídeos e suas relações com inimigos naturais. Entretanto, as
variedades e os híbridos utilizados na agricultura moderna são pouco conhecidos quanto ao
ataque de pragas, havendo necessidade de novas investigações para melhor conhecer os
hábitos dos noctuídeos pragas.
Além disso, pouco se sabe sobre as pragas que ocorrem na cultura do milho na fase de
secamento dos grãos no campo. Sabe-se que algumas espécies de carunchos e de traças
atacam os grãos secos, mas outros insetos também ocorrem nessa fase. A lagarta-do-cartucho
é citada atacando grãos secos (PINTO; PARRA; OLIVEIRA, 2004) e a lagarta-da-espiga é
citada causando grandes prejuízos quando ocorrem nessa fase (ARCHER; BYNUM, 1998).
Archer e Bynum (1998) comentam que os grãos foram mais suscetíveis à perda de qualidade
quando estavam endurecidos e recomendam que o controle da lagarta-da-espiga seja
prolongado, para se evitar essas perdas.
A mosca-da-espiga Euxesta spp. (Diptera: Otitidae) tem sido relatada como uma praga
secundária no milho (BRANCO et al., 1994). As larvas, geralmente em grupos, atacam os
grãos de milho-doce situados na ponta da espiga, podendo acarretar um processo de
putrefação da espiga e favorecer o ataque de pássaros e outros insetos (PINTO; PARRA;
OLIVEIRA, 2004).
São quase escassas as informações sobre insetos que ocorrem em espigas de milho na
fase de secamento em campo. Sabe-se que Spodoptera frugiperda (PINTO; PARRA;
OLIVEIRA, 2004) e Helicoverpa zea (ARCHER; BYNUM, 1998) ocorrem nessa fase e
podem causar prejuízos consideráveis (ARCHER; BYNUM, 1998).
Euphoria lurida (Fabricius) foi registrada pela primeira vez em milho por Cunha et al.
(2007), em março de 2006, atacando 15% das plantas em estágio reprodutivo. Os autores
relataram que orifícios transversais e longitudinais foram encontrados nos colmos abaixo da
inserção da espiga e que a espécie também se alimentou de estilos-estigmas e de grãos em
formação. Tiba, Marques e Nakano (2007) relataram a espécie Carpophilus dimidiatus (Fabr.)
(Coleoptera: Nitidulidae) ocorrendo em espigas de milho úmidas, danificando os grãos.
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As larvas de Euxesta spp. são relatadas ocorrendo no ápice de espigas, na fase inicial de
desenvolvimento destas (LINK et al., 1984; MATRANGOLO; CRUZ; DELLA LUCIA,
1997), e não são mencionadas na fase de secamento. Entretanto, tem-se verificado a presença
destas em espigas prestes a serem colhidas.
Desta forma, este trabalho teve por objetivos avaliar as espécies ou grupos de insetos
que ocorrem nas espigas na fase de secamento no campo e determinar as suas flutuações
populacionais em milho de segunda safra, em Ribeirão Preto, SP.
Material e Métodos
O presente trabalho foi conduzido no Centro Universitário Moura Lacerda, campus de
Ribeirão Preto, SP. O milho utilizado foi semeado em 10/02/2010. Foi semeado o híbrido
DKB175, utilizando sete plantas por metro e espaçamento de 90 cm entre linhas. A cultura foi
conduzida de forma convencional, exceto pela não aplicação de inseticidas/fungicidas. A
cultura foi adubada com 500 Kg/ha da formulação 4-14-8 (NPK).
Durante e após a formação dos grãos pastosos na espiga de milho (estágio reprodutivo
R4), entre as fases R4 a R6 (FANCELLI; DOURADO NETO, 2000), foram coletadas
semanalmente, durante cinco semanas consecutivas, 100 espigas, ao acaso, numa área
experimental de 16.000 m2.
As espigas foram levadas ao laboratório e foram despalhadas para a observação dos
artrópodos existentes. As quantidades observadas dos insetos encontrados foram anotadas em
fichas próprias. Para pulgões (na palha) e Euxesta spp., foi avaliada a quantidade de espigas
com a presença desses organismos.
A umidade dos grãos foi avaliada em todas as avaliações, pesando-se 100 grãos
retirados ao acaso das espigas avaliadas enquanto úmidos e, após a secagem em estufa a
100ºC por três dias, esses foram pesados novamente. Com a diferença entre os pesos pôde-se
calcular a umidade dos grãos.
Com os dados, foram calculadas as médias, que foram apresentadas em gráficos de
flutuação populacional.
Resultados e Discussão
Foram observados nove grupos de insetos na fase de secamento dos grãos em campo
(estágios R4 a R6), que variou a umidade de 40 a 20%, do primeiro ao último levantamento.
As larvas de Euxesta spp. predominaram nas espigas em secamento (Figura 1), sendo que a
literatura mundial menciona esse inseto ocorrendo em espigas úmidas (MATRANGOLO;
CRUZ; DELLA LUCIA, 1997; GALLO et al., 2002; PINTO; PARRA; OLIVEIRA, 2004).
O pico de ocorrência de Euxesta spp. ocorreu em 29/05/2010, quando as espigas
estavam com umidade superior a 20% (Figura 1). As larvas se concentraram no ápice das
espigas e não estavam associadas com a lagarta de H. zea, como mencionado por Gallo et al.
(2002) e Pinto, Parra e Oliveira (2004). Até 29/05 foram encontradas larvas bem
desenvolvidas nas espigas, não sendo encontradas posteriormente, quando as espigas estavam
mais secas.
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% de espigas com presença
50
40
30
20
10
Euxesta spp.
8/
6
4/
6
6/
6
9/
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11
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13
/5
15
/5
17
/5
19
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21
/5
23
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25
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27
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29
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31
/5
2/
6
7/
5
0
Datas de amostragem
Figura 2. Porcentagem média de espigas com presença de larvas de Euxesta spp. em
levantamento realizado em milho nos estágios R4-R6 (secamento de grãos). Ribeirão Preto,
SP, 2010.
Dentre as lagartas, Spodoptera frugiperda (Figura 2) não foi a espécie mais abundante
como mencionado em anos alternados por Matrangolo, Cruz e Della Lucia (1997). A espécie
predominante foi Helicoverpa zea (Figura 3).
As lagartas de S. frugiperda foram encontradas no milho até os grãos atingirem 20% de
umidade, em 08/06, quando não mais foram observadas. O pico de ocorrência de lagartas
ocorreu em 21/05/2010, com 0,09 lagartas por espiga (Figura 2).
O pico de lagartas de H. zea ocorreu em 14/05/2010, onde foram encontradas 0,29
lagartas por espiga. A partir dessa data, a quantidade de lagartas observada diminuiu, até não
mais ocorrerem em 08/06 (Figura 3).
Um dos únicos predadores encontrados nas espigas foi o percevejo-pirata Orius spp.
Esse predador foi encontrado sempre na parte externa da espiga, na palha. O pico de
ocorrência foi em 07/05/2010, não sendo mais encontrado a partir de 29/05 (Figura 4).
Também na parte externa das espigas, na palha, foram encontradas formigas
(Formicidae), predadoras ou doceiras. Como para Orius spp., as formigas tiveram pico em
07/05/2010, não sendo encontradas em 08/06 (Figura 4).
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Número de insetos/100 espigas
30
25
Spodoptera frugiperda
20
15
10
5
4/
6
6/
6
8/
6
7/
5
9/
5
11
/5
13
/5
15
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17
/5
19
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21
/5
23
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25
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27
/5
29
/5
31
/5
2/
6
0
Datas de amostragem
Figura 2. Número médio de lagartas de Spodoptera frugiperda por 100 espigas em
levantamento realizado em milho nos estágios R4-R6 (secamento de grãos). Ribeirão Preto,
SP, 2010.
Número de insetos/100 espigas
30
Helicoverpa zea
25
20
15
10
5
8/
6
9/
5
11
/5
13
/5
15
/5
17
/5
19
/5
21
/5
23
/5
25
/5
27
/5
29
/5
31
/5
2/
6
4/
6
6/
6
7/
5
0
Datas de amostragem
Figura 3. Número médio de lagartas de Helicoverpa zea por 100 espigas em levantamento
realizado em milho nos estágios R4-R6 (secamento de grãos). Ribeirão Preto, SP, 2010.
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As lagartas de gelequídeos (Lepidoptera: Gelechiidae) tiveram pico em 28/05/2010,
ocorrendo apenas 0,03 lagartas por espiga. Só ocorreram também em 07/05 (Figura 4).
O pico de tripes ocorreu em 07/05/2010, com 0,03 insetos por espiga, não aparecendo
mais posteriormente (Figura 4).
Alguns coléopteros, aparentemente de duas espécies, também ocorreram nas espigas em
secamento. O pico foi em 28/05/2010, onde 0,03 adultos por espiga foi encontrado. Os
coleópteros ocorreram em quase todas as datas de avaliação (Figura 4).
Número de insetos/100 espigas
6
5
Orius spp.
Formigas
Tripes
4
3
Coleópteros
Gelechiidae
2
1
8/
6
9/
5
11
/5
13
/5
15
/5
17
/5
19
/5
21
/5
23
/5
25
/5
27
/5
29
/5
31
/5
2/
6
4/
6
6/
6
7/
5
0
Datas de amostragem
Figura 4. Número médio de ninfas e adultos de Orius spp., de formigas, de tripes, de
coleópteros e de lagartas de Gelechiidae por 100 espigas em levantamento realizado em milho
nos estágios R4-R6 (secamento de grãos). Ribeirão Preto, SP, 2010.
Os pulgões também foram presentes em espigas, na parte externa das mesmas ou por
entre as palhas. O pico de ocorrência foi em 21/05/2010, com 12% das espigas apresentando
colônias de pulgões. Os mesmo ocorreram também em apenas mais uma data, em 07/05.
Apesar de ocorrerem coleópteros nas espigas, não foi possível determinar se esses eram
da conhecida espécie C. dimidiatus, comum em espigas de milho (TIBA; MARQUES;
NAKANO, 2007).
Com esse levantamento ficou evidente a importância das lagartas de S. frugiperda e de
H. zea em espigas, inclusive na fase de secamento dos grãos, indicando que esses necessitam
ser controlados até a fase final do período reprodutivo.
Também ficou claro que as larvas de Euxesta spp. ocorrem até a fase de secamento dos
grãos, mas se restringindo à região do ápice, onde se encontravam desde o início. Novos
ensaios precisariam ser conduzidos para ser registrado o avanço dos danos no ápice das
espigas causado pela Euxesta.
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Baseado nas condições em que foi conduzido o experimento, pode-se concluir que: a
lagarta-do-cartucho S. frugiperda, ocorre em espigas na fase de secamento dos grãos (estádio
R4-R6); a lagarta-da-espiga, H. zea, também ocorre nessa fase e é a espécie de lepidóptero
mais abundante; a mosca-das-espigas, Euxesta spp., é o gênero mais abundante e ocorre em
espigas em secamento, e; nos estádios fenológicos R4 a R6 da cultura do milho, também
ocorrem os predadores Orius spp. e formigas predadoras, formigas doceiras, os pulgões, as
lagartas de gelequídeos, os tripes e algumas espécies de coleópteros.
Referências Bibliográficas
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various kernel development stages on food maize. Crop Protection, v.17, n.9, p.691-695,
1998.
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Noctuidae) e Euxesta sp. (Diptera: Otitidae) em linhagens de milho-doce. Anais da
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FANCELLI, A.L.; DOURADO NETO, D. Ecofisiologia e fonologia. In: FANCELLI, A.L.;
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MATRANGOLO, W.J.R; CRUZ, I.; DELLA LUCIA, T.M.C. Insetos fitófagos presentes em
estilos-estigma e espigas de milho e avaliação de dano. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
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PINTO, A. de S.; PARRA, J.R.P.; OLIVEIRA, H. N. de. Guia ilustrado de pragas e insetos
benéficos do milho e sorgo. Ribeirão Preto: A. S. Pinto, 2004. 108p.
TIBA, L.M.; MARQUES, L.H.S.F.; NAKANO, O. Espigas sob ataque. Cultivar, v.102,
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