Sinusite crônica como fator de mascaramento do diagnóstico clínico de neurocisticercose Chronic sinusitis as a masking factor for clinical disgnostic of neurocysticercosis Novakoski, Eduardo1, Sperotto, Rita Leal2, Martinez-Pereira, Malcon Andrei3 1 Biomédico, Laboratório de Anatomia, Centro de Ciências da Saúde e Agrárias, Universidade de Cruz Alta; 2 Docente Curso de Farmácia Centro de Ciências da Saúde e Agrárias, Universidade de Cruz Alta; 3 Docente Curso Medicina Veterinária, Centro de Ciências da Saúde e Agrárias, Universidade de Cruz Alta; Resumo A Neurocisticercose (NCC) foi descrita pela primeira vez no século XVI e continua representando um problema de saúde pública na atualidade. Isto se deve, essencialmente, a dificuldade na realização do diagnóstico clínico da doença, que, muitas vezes, é tardio devido à semelhança sintomática com outras enfermidades. Dentre as doenças que podem mascarar os sintomas da NCC, destaca-se a sinusite crônica,devido às semelhanças entre as manifestações clínicas de ambas.A utilização de técnicas de diagnóstico por imagem, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada, podem auxiliar na determinação precoce do acometimento de NCC, contudo, em alguns casos, as imagens geradas são pouco precisas ou mal interpretadas. Desta forma, o presente trabalho apresenta um relato de caso sobre o acometimento de NCC em paciente humano, cujo diagnóstico foi mascarado por um quadro concomitante de sinusite crônica. Palavras-chaves: Neurocisticercose. Sinusite crônica. Diagnóstico por Imagens. Abstract The neurocysticercosis (NCC) was first described in the sixteenth century and continues to represent a public health problem today.This is due mainly to difficulty in performing the clinical diagnosis of the disease, which often is slow due to symptomatic similarity to other diseases.Among the diseases that can mask the symptoms of the NCC, there is chronic sinusitis due to similarities between the clinical manifestations of both. The use of diagnostic imaging techniques such as MRI and CT, may aid in the early determination of the involvement of NCC, however, in some cases, the generated images are inaccurate or misinterpreted.Thus, this paper presents a case report on the involvement of NCC in human patient, whose diagnosis was masked by a concomitant framework of chronic sinusitis. Keywords:Neurocysticercosis. Chronic sinusitis. Diagnostic imaging. Introdução Correspondência para: Rita Sperotto – CCSA UNICRUZ Telefone: 3321 2596 email: [email protected] Universidade de Cruz Alta – Unicruz Campus Universitário: Dr. Ulisses Guimarães – Rodovia Municipal Jacob Della Méa, Km 5.6 Distrito Parada Benito CEP - 98005-972 Cruz Alta / RS Neurocisticercose (NCC) é a infecção do Sistema Nervoso Central (SNC) causada pela forma larvária (Cysticercus cellulosae ou C. racemosus) deTaenia solium, que constitui um grave problema de saúde pública nos países em condições desenvolvimento, devido sanitárias e às socioeconômicas precárias (Del Brutto, 2005). É uma doença pleomórfica e de caráter patogênico, resultando em formas de apresentação e evolução clínicas variadas, dependendo do Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.2, p 25-29, 2016 número, localização, tamanho, fase evolutiva Van, 1999). Considerando as diferentes e tipo de cisticerco, além da reação imune apresentações clínicas da sinusitecrônica, individual do hospedeiro (Medeiros et al, cuja duração do quadro é superior a três 2008). Os critérios diagnósticos da NCC, meses (Clement et al, 1998), nem sempre restritos a meros achados macroscópicos, até apresenta o conjunto típico de sintomas, o início do século XX, evoluíram com o podendo estes acontecerem de forma isolada surgimento dos métodos sorológicos e com o (Lew, Southwick e Montomery, 1983). Por advento da tomografia computadorizada esta razão, com frequência são erroneamente (TC) e do exame de ressonância magnética estabelecidos diagnósticos de sinusite em (RM), que tornaram viável o diagnóstico dos pacientes com enxaqueca, distúrbios visuais pacientes ainda em vida (Takayanagui, e 1990). 1998). Assim como na NCC, a RM, a TC e Entretanto, dada a natureza inespecífica da quadros nasoscopia psicossomáticos são ferramentas (Ejzenberg, de grande sintomatologia da NCC não é incomum a importância para o diagnóstico preciso da ocorrência de falhas no seu diagnóstico. Isto sinusite (Sotelo, 1996). Neste sentido, o é decorrente do fato que algumas patologias objetivo do presente estudo foi relatar um crânio-cefálicas podem apresentar sinais caso de NCC, em que houve mascaramento clínicos semelhantes aos observados nos do diagnóstico clínico e radiológico devido estágios iniciais desta enfermidade, sendo ao acometimento concomitante de sinusite que a realização de diagnóstico diferencial é crônica, ocasionando o agravamento do determinante para eliminar outras patologias quadro. que tendem a mascarar a presença de NCC (Takayanagui, 2001; Agapejev, 2003; Brasil, 2010). Dentre estas,encontra-se a sinusite, uma inflamação paranasais seios etmoidal área urbana do município de Indaial (SC), deu entrada no hospital apresentando fortes difícil cefaleias, dor facial e pressão sinusal, sendo a comprovação e avaliação fisiopatológica e suspeita inicial de sinusite crônica. O etiológica (Arruda, Mimica e Sole, 1990; diagnóstico foi confirmado com a realização Barden et al, 1998), por apresentar sinais de radiografia dos seios paranasais que clínicos como cefaleia, dor facial, pressão caracterizou um quadro de rinossinusite sinusal, edema localizado e algumas vezes, crônica. dor nos dentes da arcada superior (Parsons e amoxicilina 500 mg e ácido clavulânico 750 que frontal, dos Paciente masculino, 26 anos, residente da e esfenoidal), (seio bacteriana Relato de caso apresenta Para o quadro foi prescrito Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.2, p 25-29, 2016 mg pelo período de quatro semanas. Passados do parasito ao tratamento. Passados 90 dias, dois dias de o paciente uma nova RM demonstrou uma discreta cefaleias, vômito, diminuição do cisto, que passou a medir 0,6 evoluindo para perda de consciência e cm. Após um ano de tratamento foi realizada sentidos, acompanhados de crise convulsiva. uma nova RM que revelou a presença de Levado novamente ao hospital foi realizado imagem nodular, sugestiva de processo hemograma, inflamatório apresentou tratamento, fortes glicemia, ácido úrico, granulomatoso, localizada eletroencefalograma, não esquerdo, não sendo observado edema demonstraram alterações compatíveis com o vasogênico, mostrando sinais de calcificação. quadro apresentado, estando todos dentro dos Atualmente o paciente apresenta-se livre de padrões normais. Dada à complexidade do sintomas, sem déficit motor ou de linguagem, quadro, o paciente foi encaminhado para um entretanto permanece a administração de centro de atendimento maior, onde foi oxcarbazepina 600 mg duas vezes ao dia. realizada uma RM do crânio. Esta revelou a Esse estudo foi submetido e aprovado pelo presença de uma lesão nodular cística Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade intraparenquimatosa medindo 0,7 cm, situada de Cruz Alta, estando cadastrado no Sistema no lobo occipital direito. A lesão apresentava do Comitê Nacional de Ética e Pesquisa extenso (08237012.8.0000.5322), edema quais vasogênico em suas adjacências, realce periférico pelo contraste base do lobo vez lipidograma e cálcio sérico, VDRL e os na desta não occipital havendo conflitos de interesse. e, no seu interior, observava-se a presença de escólex indicando a ocorrência de Discussão neurocisticercose em sua fase coloidal. O O complexo teniose-cisticercose acomete o paciente iniciou o tratamento com albendazol homem de três formas: teniose intestinal, 400 mg e oxcarbazepina 600 mg, euma cisticercose sistêmica e neurocisticercose segunda RM realizada 12 dias após mostrou (Takayanagui et al, 2001). As manifestações discreta redução do edema vasogênico, sendo clínicas no SNC se dividem em: epiléticas, indicada hipertensivas, pseudo-tumorais e psíquicas continuidade do tratamento farmacológico. Contudo, uma terceira RM (Del em um intervalo de 60 dias após o segundo epidemiologia da NCC têm demonstrado que exame, demonstrou novo aumento no edema os pacientes acometidos são de procedência vasogênico localizado no córtex calcarino rural (30 a 63%), do sexo masculino (51 a esquerdo, indicando uma possível resistência 80%) e estando na faixa etária entre 21 a 40 Brutto, 2012). Estudos sobre a Rev. Ciência e Tecnologia, Rio Grande do Sul, v.1, n.2, p 25-29, 2016 anos (Albuquerque e Galhardo, 1995; Sousa et al, 1998). Contudo, Patel et al. (2006) demonstraram um predomínio dos casos urbanosem países desenvolvidos(53 a 62 %) e do sexo feminino (53 a 75%) no acometimento da NCC (Patel, Sanjeev e Yadar, 2006). Para se diagnosticar a NCC são necessárias algumas correlações de diferentes critérios tais como:anamnese do paciente, avaliação clínica, exames de neuroimagem e exame de Arruda, L. K.; Mimica, I. M.; Sole, D. Abnormal maxillary sinusradiographs in children: do they represent bacterial infection. Pediatrics, v.85, p. 553558, 1990. Barden, L. S.; Dowell, S. F.; Schwartz, B.; Lackey, C. Currentattitudes regarding use of antimicrobial agents: results from physicians and parents focus group discussions. Clinical Pediatric Philadelphia, v. 37, p. 665-671, 1998. Bittencourt, P. C.; Silva, N. C.; Figueiredo, R. 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Este relato de caso mostra que doenças de etiologias distintas concomitantemente podem no diferencial Ejzenberg B. Epidemia radiológica sinusites.Pediatria, v. 20, p. 4, 1998. de ocorrer organismo, ocasionando sintomas semelhantes, sendo o diagnóstico Del Brutto, O. H. Neurocysticercosis actualizacion en diagnostico y tratamiento. Neurologia, v. 20, p. 412-418, 2005. Del Bruto, O. H. Neurocysticercoses: A review. The Scientific Word Fourmal, v. 12, p. 8, 2012. essencial na preconizar o tratamento eficaz. ReferênciasBibliográficas Agapejev, S. Aspectos clínico-epidemiológicos da neurocisticercose no Brasil. Arquivos de NeuroPsiquiatria, v. 61, p. 822-869, 2003. Albuquerque, E. S.; Galhardo, I. Neurocicticercose no Estado do Rio Grande do Norte: relato de 8 casos. Arquivos de Neuropsiquiatria, v. 53, p. 464470, 1995. Garg, R. K. Neurocysticercosis: Classic diseases revisited. Postgraduate Medice Journal, v. 74, p. 321326, 1998. Lew D.; Southwick, F. S.; Montomery, W. W. 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