Sobre o estudo da filosofia

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Sobre o estudo da Filosofia1
Theodor Adorno
1. Que o estudante de filosofia não saiba com que ele deve começar; que ele não encontre
nenhum plano de estudo ordenado; que categorias pedagógicas, como de iniciantes e
avançados, não ajudem na orientação — tudo isso não é indício de falta de organização e
disciplina dessa área de conhecimento, mas expressão de que a filosofia não conhece
propriamente nenhum domínio cognitivo previamente estipulado, que devesse ser
preparado e comunicado progressivamente. Não apenas as filosofias se distanciam umas
das outras — tanto as separadas em termos históricos quanto as contemporâneas —, de
modo que sua apresentação em um sistema de doutrinas é impossível ou leva a uma
tênue abstração, mas também que os próprios conceitos, aceitos tacitamente pela
exigência de um progresso do mais fácil para o mais difícil, são todos problemáticos:
estão sob a crítica filosófica. Filosofias fáceis e difíceis não existem em hipótese alguma;
aquela que é, em princípio, fácil, aproximando-se em sua apresentação à linguagem já
conhecida, contém às vezes o esforço extremo do pensamento, enquanto que, ao
contrário, certos textos terminologicamente obscuros tornam-se claros a quem tenha
compreendido o princípio. Além disso, a idéia de que se deve partir de algo primeiro,
simplesmente certo, sobre o qual tudo mais se construa de forma transparente, prejudica
a decisão das questões que somente podem ser resolvidas na própria filosofia. De resto, o
conceito da ausência de pressupostos é um fantasma e nunca foi banido por nenhuma
filosofia. Quem lida com a filosofia deve deixar de lado a ausência de pressupostos.
Critérios aparentemente esclarecedores, como clareza e compreensibilidade, concretude
da demonstração, remissão do complexo ao elementar, concretude e inteireza dedutiva,
não são nada mais que a herança de uma filosofia histórica, o método cartesiano. Se nos
entregamos cegamente a eles, então já construímos /319/ a concepção sobre o que é
investigado. Desistindo de tais critérios, entretanto, com a caça selvagem pela origem,
perdemo-nos mais ainda em uma situação dogmática. Todos os plausíveis desideratos
com os quais a consciência ingênua se inicia na filosofia partem da idéia de que seu
objeto se esgota em sua estrutura de conceitos e que, por isso, sua apresentação
corresponde a uma hierarquia conceitual: é precisamente sobre isso que é tarefa da
filosofia refletir. Em suma, convém entregar-se à filosofia inicialmente sem crença de
autoridade, mas também sem se apressar perante ela com exigências fixas,
permanecendo, entretanto, dono do próprio pensamento. Para isso não há nenhuma
orientação, no máximo indicações modestas.
2. Quem pretende entender uma filosofia, tem que lhe dar alguma coisa. Nas ciências
particulares isso é óbvio, mas entre os estudantes de filosofia quem é sério tende a recusar
essa exigência. Não existe, entretanto, absolutamente nenhum pensamento que não
contenha elementos que não possam ser fundamentados ou resolvidos, ou que sua
legitimação não ocorra nem em sua totalidade nem em seu início; e é questionável se as
filosofias mais verdadeiras são aquelas em que a equação não deixa resto, as livres de
contradições. Se não se concede a Kant, nem inicialmente, que o conhecimento
propriamente dito consiste nessa concatenação sob leis e possui como critério
universalidade e necessidade, e, além disso, que as ciências naturais matematizadas
contêm realmente tal conhecimento, então não se apreenderá o sistema kantiano; mas
quem o apreendeu, verá também por que a universalidade sob leis possui aquele papel
ADORNO, Theodor Wisengrund. “Zum Studium der Philosophie”. In: Vermischte Schriften I,
Gesammelte Schriften. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1997, pp.318-326. Tradução inédita de
Verlaine Freitas. (Os números entre barras, /##/, referem-se às páginas do texto original.)
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central. O estudo da filosofia exige, portanto, uma espécie peculiar de paciência: ela se
abre apenas a uma compreensão que não procura abarcar tudo de uma vez.
3. Em termos práticos, isso significa nada mais do que o melhor a fazer é procurar um
texto filosófico para o qual se tenha uma inclinação e lê-lo mesmo quando não se
entende tudo nele. Muito é explicado através da insistência. Quando se gosta, entende-se.
A inteligência não é uma faculdade isolada da mente, /320/ mas sim entrelaçada com
aquilo que nos move, com aquilo que queremos. A força da persistência perante o
pensamento vai muito além daquilo que fornece a assim chamada formação cultural.
Quando o sociólogo estadunidense Veblen respondeu à questão de como ele aprendeu
todas as línguas estrangeiras possíveis dizendo que olhava para cada palavra até seu
significado lhe vir à mente, vemos nisso um modelo do comportamento filosófico:
através do mergulho no particular, compreender todo o pensamento, e não apenas o
conceito individual. O iniciante defende sua resistência muitas vezes detrás da acusação
à linguagem difícil. A quantidade de termos a serem dominados na filosofia, entretanto, é
pequena; sobre os mais importantes qualquer dicionário pode ensinar, e sua diferença
específica somente se pode obter do texto a ser lido. Onde, entretanto, a insistência não é
suficiente, deve-se prosseguir na leitura, pois na maioria das vezes o obscuro é iluminado
pelo olhar retrospectivo. Em geral devem-se evitar representações estáticas da
compreensão. Textos filosóficos não possuem significados fixos, pois são, semelhante às
obras de arte, campos de força e principalmente inesgotáveis; quanto mais os
conhecemos, mais eles nos oferecem, e a leitura repetida é indispensável. Quando
Nietzsche, que se dedicava ao leitor mais inteligente, valorizava ao mesmo tempo aquele
que era capaz de ruminar, isso não era uma das contradições que o pedantismo costuma
lhe atribuir, mas sim toca exatamente a tensão na qual se pode apropriar da filosofia:
aquela entre a mais clara concentração no instante e o exercício prolongado e
frequentemente não muito consciente.
4. Não é ruim quando não se compreende alguma coisa, e ninguém precisa se
envergonhar disso em um mundo que retira e corrompe, por dentro e por fora, as forças
da concentração, e para o qual se volta a filosofia, um trabalho artesanal arcaico. Ruim é
quando não se nota que não se entendeu alguma coisa. Precisamente a filosofia leva a
substituir a compreensão pelo efeito mágico das palavras. Ordena-se a extrema atenção:
o não compreendido tem que ser notado, deve ser refletido, questionado, em vez de se
tomarem lugares nebulosos como se fossem revelações do verdadeiro céu das idéias. É
bom deixar essas passagens por uns dois dias, esquecê-las e então retomá-las.
Frequentemente, /321/ elas são jogadas violentamente em nosso campo associativo e
então nos fechamos para aquilo que dizem por si mesmas, enquanto elas, consideradas
de modo vivo, mostram-se de outro modo e transparentes. Em Kant, por exemplo, as
dificuldades provêm muitas vezes da arquitetônica e não do conteúdo; não é o caso de se
aterrorizar, mas sim orientar-se pela marcha do grande pensamento. Na filosofia não há
apenas o perigo do vago, indeterminado, por demais distante do pensamento específico,
mas também o do próximo demais. Quem quer aprender, na medida em que produz
novamente a coisa, tem que acrescentar ao rigor sempre um momento da liberalidade,
pois na filosofia tudo é literal, mas não totalmente.
5. Se não é uma desgraça não entender alguma coisa, não se deve, entretanto, orgulhar-se
de sua incompreensão. A frase de Lichtenberg — de que, quando uma cabeça se choca
com um livro e se ouveum barulho oco, nem sempre a culpa é do livro — é válida
sempre, ao passo que se difundiu a tendência de tomar como julgado aquilo que não se
compreendeu. Comunicação não é um critério, mas um tema da filosofia. Conceitos
como os de místico, de intuição, de irracionalidade, na medida em que desvalorizam não
o falso, mas apenas o inabitual e esforçado, não colaboram com a razão, mas com o
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obscurantismo, mesmo quando se agarram à sua irretocável cientificidade. São atuais as
formulações do velho Kant contra a filosofia popular de seu tempo, cujas heranças hoje
em dia são usadas hipocritamente como proteções para a sinceridade e a sensatez: “a
prática de escrever livros não é um ramo profissional pouco significativo em uma
sociedade já bastante desenvolvida do ponto de vista da cultura: onde a leitura quase se
tornou uma necessidade indispensável e universal. — Essa parte da indústria de um país
enriquece de forma incomum, quando é exercida em série; o que, entretanto, somente
pode acontecer através de um editor capaz de julgar e de pagar de acordo com o gosto do
público e com a capacidade produtiva de cada empresário. — Esse editor não precisa,
para incrementar sua atividade editorial, prestar atenção ao valor e conteúdo internos das
mercadorias produzidas por ele, mas sim ao mercado e às atividades que estão na moda,
para os quais /322/ os produtos efêmeros da imprensa escrita são colocados em
circulação vivamente, e, mesmo que não de forma duradoura, entretanto encontram
passagem rapidamente”.
6. Há 200 anos a grande filosofia rompeu a ditadura das definições verbais, que, herança
escolástica secularizada, ainda dominava a metafísica racionalista. Filosofar criticamente
significa, em sua essência, não concluir a partir de meros conceitos, mas sim refletir sobre
as relações permanentes entre os conceitos e aquilo a que eles se dirigem. A crítica
kantiana da prova ontológica da existência de Deus indica o surgimento dessa intenção
na filosofia alemã, e Hegel, em quem muitos motivos kantianos tomam consciência de si,
explicitou a impropriedade do procedimento definidor na terceira parte da Lógica. A
lógica da ciência atual esqueceu-se disso: desde a cisão funesta das ciências particulares e
a filosofia, a crença nas definições ressurgiu naquelas e é confundida com a exigência de
rigor e pureza. Por isso quem estuda uma ciência particular vem para a filosofia muitas
vezes com uma carência de definições, tal como existia há 300 anos no começo da Ética
de Spinoza, e se decepciona quando elas lhe são recusadas. Isso é reforçado por
tendências do positivismo contemporâneo, que transpõe, sem modificação,
procedimentos científicos para a filosofia, ao passo que precisamente a relação de ciência
e filosofia demanda auto-reflexão. Definições, não sem motivo, estão em casa nas áreas
de conhecimento técnico. Elas se referem sempre a algo já constituído, ao molde
reificado do conhecimento realizado de modo vivo, enquanto é próprio da filosofia não
seguir as regras do jogo da consciência reificada, mas sim fazer as formas conceituais
solidificadas fluírem novamente. Que isso não sancione um arbítrio improvisado, mas
signifique uma liberdade espiritual afirmada pelos conceitos, mas não amarrada a eles, é
o mais difícil de aprender: a unidade do rigor e da fantasia. A mais elevada virtude da
filosofia é a coragem intelectual. Ela nunca deve procurar proteção naquilo que já é
estabelecido, tal como se sedimenta nas definições. A recusa dessa proteção pode, no fim
das contas, ser paga até mesmo com definições. /323/ Somente a filosofia desenvolvida,
entretanto, encaminha-se para a doutrina.
7. A exigência de conceder alguma coisa e ter paciência não é apenas uma afronta a
quem é estranho à filosofia, mas sim tem de fato também seu aspecto duvidoso. Ela pode
levar à prática da filosofia mesma como ciência específica, como área de conhecimento,
e, através do reconhecimento de sua peculiaridade, retirar-lhe seu impulso crítico, sua
própria consistência e autonomia. Se alguém, impressionado pela força quase irresistível
da idéia de Hegel de que o todo é o verdadeiro, adere a ela e reprime, a fim de se
assegurar essa totalidade, as inumeráveis críticas a que todo particular está aí exposto,
então, assim que o todo seja alcançado, a alegria decorrente disso é confundida com a
verdade. Hegel imaginava inicialmente a escolha entre auto-abandono e incompreensão.
Para se livrar de tal aporia, é necessária a presença do espírito: tem-se que pensar no todo
e no instante, na precisão da fala e seu valor posicional na construção — tem-se sempre
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que estar ao mesmo tempo na coisa, como que lançado nela, e fora dela, como alguém
criticamente distanciado. Essa máxima talvez traduza a tese chocante da Fenomenologia
de Hegel de que o movimento dialético ocorre no interior do objeto e na consciência
observadora. O movimento filosófico significa mobilidade: não se deixar emburrecer.
Hoje em dia o controle sobre o pensamento tem efeito na medida em que, com a
disposição da responsabilidade por cada frase, proíbe-se a especulação, e, exatamente nos
lugares onde ela seria necessária, torna-se mais estreita e mais limitada, tal como se seria
em qualquer lugar na existência empírica. O espírito filosófico, entretanto, gostaria que,
mesmo na reflexão sobre os objetos aparentemente mais especializados da lógica e da
teoria do conhecimento, fosse feito todo o esforço por aquilo que a experiência viva sabe
para além da divisão do trabalho; a capacidade de fazer isso é a base do nível
incomparável de Hegel e de Nietzsche, e quem a deixa definhar em si, resigna-se como
especialista. Mesmo a fidelidade filológica permanece mero substituto para aquela
qualidade. A pergunta pela verdade não se deixa adiar através de preparativos
hermenêuticos, caso ela não deva ser esquecida. /324/ Quem filosofa tem que, portanto,
não meramente conceder tudo a filosofia, mas deve, entretanto, não lhe conceder nada.
Assim que os filósofos atribuíram ao espírito a capacidade paradoxal da receptividade
espontânea, entrou em jogo a idéia de que a abertura incondicional do pensamento se
emparelhe com a força irretocável da inteligência.
8. Uma vez que o pensamento filosófico não possui um progresso unívoco e convincente,
tal como as ciências, parece ineliminável a idéia de que a Filosofia apresenta um leque de
sistemas, em que cada um oferece uma explicação do mundo mais ou menos coerente e
satisfatória e no qual se pode procurar para si aquele que melhor se encaixa em seu
mundo natural espiritual. Esta concepção tem muita parcela de culpa no fato de a
Filosofia ter se tornado uma visão de mundo neutralizada, facultativa. A tensão entre
Filosofia e Ciência degenera em dispensa do dever do conhecimento pela verdade; a
Filosofia deve se adaptar a quem confunde a liberdade do pensamento com a esfera
privada do pensamento desregrado. Esse comportamento frente a Filosofia, que
possibilitou que os pronunciamentos nacional-socialistas encontrassem seus adeptos, é
relativista, mesmo quando o conteúdo da filosofia com um determinado ponto de vista é
absoluto. Optar por uma filosofia com compromissos devido a questões políticas, porque
é saudável ter compromissos, reforça precisamente o subjetivismo que se queria superar.
Que, desde Kant, com certeza desde Hegel, os filósofos propriamente ditos não apenas
rejeitaram o pensamento de ponto de vista, mas o convenceram de sua limitação e
parcialidade; que eles demonstraram na história da Filosofia a unidade dos problemas
que ultrapassavam seus sistemas particulares — isso não tem força contra aqueles que
querem se apoiar em algo fixo e não se sentem felizes quando não se inserem em uma
escola aprovada. A tendência reforçada recentemente de subsumir todo fenômeno em
seu conceito genérico vem ao encontro disso; eles determinam com prazer a si mesmos
como expoentes de um linguajar afiado e usam o frágil jargão do encontro com o nada
ou o ser. Isso leva, então, à /325/ questão repetida ad nauseam nos últimos anos de se
Kant ainda é atual, se ele teria algo a dizer a nós, quer dizer, àqueles, como se ele tivesse
que se adaptar às exigências intelectuais de uma humanidade preparada pelo cinema e
jornais ilustrados e não que esta tivesse que desistir dos hábitos que lhe foram impostos,
antes de se atrever a julgar a vitalidade daquele que escreveu o tratado da paz perpétua.
Eles estão sempre prontos para a expressão “do meu ponto de vista”. Enquanto esta
admite a possibilidade conciliadora de um outro, ela se arroga ao mesmo tempo de modo
vergonhoso o direito de produzir qualquer absurdo, porque se tem porventura esse ponto
de vista e cada um poderia permanecer em seu próprio: paródia do momento liberal no
pensamento. Não serve mais o conceito de estilo do pensamento importado da história
da arte pelos sociólogos atuais. Ele desloca a substância histórica de Leibniz para a
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suposta semelhança de sua teoria com os de perucas longas e desconsidera, além disso, a
posição do pensamento perante a objetividade. Já na arte o conceito de estilo engana
muitas vezes acerca da coerção imanente da coisa; na filosofia, entretanto, o estilo
linguístico de um autor pode revelar o quanto ele tem a ver com a verdade, mas não seu
estilo de pensamento, que rebaixa de antemão a verdade ao momento subjetivo do
pensar. É tarefa da filosofia, não assumir um ponto de vista, mas liquidar os pontos de
vista.
9. Pertence à filosofia do ponto de vista o momento de exclusão, que aumenta com a
consciência da contingência do próprio ponto de vista. Este é meu ponto de vista, o que
significa sempre também: o outro eu não posso tolerar. O espírito que teme se perder em
seu próprio arbítrio e contingência expande-se, precisamente por isso, à totalidade. Isso
atinge a relação com a filosofia: o pensamento, que é rico e fértil na medida em que
acolhe em si a força do contraditório, definha em uma precária alternativa do a favor ou
contra. Muitos estudantes esperam ansiosos pela posição que o professor toma, entram
em movimento quando ouvem uma palavra afirmativa ou polêmica e antecipam a
posição da reflexão. É aconselhável a maior atenção com toda falsificação das nuances
filosóficas, nas quais muitas vezes se esconde o /326/ mais importante, a diferença
específica. A necessidade por demais valorizada de anotar o que é ouvido, por exemplo,
reduz o que é apresentado a teses e rejeita como acessório ornamental aquilo de que o
pensamento propriamente vive, quando não alimenta rancor contra reflexões que
renunciam à tese ou a superam. A dialética como escola de filósofos ainda deve ser
permitida, mas o pensamento que procede dialeticamente numa ação livre é recebido
com irritação, algumas vezes simplesmente como algo que dificulta a preparação para o
exame. Mas precisamente o compromisso com teses, a expectativa de que se diga
diretamente o que pensar e fazer é o propriamente não-filosófico, até mesmo o
simplesmente não-espiritual, pois a filosofia não se apóia em nada heterônomo. Ela
consiste na mediação através do espírito pensante e não aceita nada como resultado
pronto. A dificuldade mais fatal, que hoje é apresentada aos que estudam filosofia, é,
assim, contornada. Mudanças socialmente delineadas, que descem até a antropologia,
abalam a ideia de autonomia no próprio ser humano; fracos demais para ser ser ainda
um Eu, espertos demais devido às desvantagens de quem é bloqueado por uma forte
consciência do Eu, famintos por prêmios a que um Eu fraco pode aspirar: milhares estão
pronto a esquecer o melhor, que unicamente os faz ser sujeitos, e se entregar ao que
reconhecem para si mesmos com orgulho como ideologia. A filosofia não está imune a
isso, e seu programa pode sempre resultar em seu oposto. Muitos ainda a vêm sempre
como aquilo a que foi degradada na época da extrema humilhação: como um simples
curso. Aos que procuram nela mais do que metologia e lógica científica, apresenta-se
como um substituto da religião. A nenhum dos indecisos – a quem a época não garante
mais um líder [Führer] e que mostrou o que significam líderes [Führern] – cabe fazer uma
reprovação por pobreza e carência de seus espíritos. Quem, entretanto, trabalha com a
filosofia, tem que se desfazer da ilusão autoritária que obscurece tanto o mundo quanto
os pensamentos.
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