enfrentando mudanças no estilo de vida no processo de

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ENFRENTANDO MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA NO PROCESSO DE
VIVER A CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA1
CALLEGARO, Giovana Dorneles2; KOERICH, Cintia3; LANZONI, Gabriela
Marcellino de Melo4; BAGGIO, Maria Aparecida5; ERDMANN, Alacoque
Lorenzini6
RESUMO
Introdução: A contemporaneidade representa a era da tecnologia e da informatização, por
sua vez, o ser humano usufrui cada vez mais de sofisticados e avançados tratamentos e
intervenções de saúde. Tão logo, as evidências científicas apontam a cirurgia de
revascularização do miocárdio (CRM) como um importante recurso cirúrgico para o
tratamento da doença arterial coronariana, resultando em maior sobrevida e melhor
qualidade de vida dos pacientes.Objetivo: compreender como os pacientes significam seu
processo de viver após experiência cirúrgica de revascularização miocárdica. Métodos:
Trata-se de um Estudo de natureza qualitativa, fruto de um projeto ampliado, intitulado:
“Significando a experiência cirúrgica e o processo de viver do paciente submetido à
revascularização do miocárdio” Participaram da coleta de dados doze pacientes, seis
profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, educador físico, técnico de enfermagem) e
cinco familiares, constituindo três grupos amostrais. As entrevistas foram semi-estruturadas
e ocorreram no período de outubro de 2010 a agosto de 2011 Os dados foram analisados e
interpretados pela teoria fundamentada nos dados (TFD). Resultados e discussão: Após a
análise dos dados encontrou-se uma categoria com sete subcategorias. As mudanças
significadas relacionam-se aos aspectos da vida social e sexual, trabalho, alimentação,
atividade física e tratamento medicamentoso. Conclusão: a experiência cirúrgica de
revascularização incita o refletir e o (re)pensar o estilo de vida, apresenta limitações e
dificuldades que desafiam adaptações nos hábitos cotidianos dos pacientes e familiares
para um processo de viver mais saudável.
Descritores: Cirurgia Torácica; Revascularização miocárdica; Enfermagem; Estilo de vida.
1
Trabalho de Pesquisa. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Grupo de Estudos e
Pesquisas em Administração e Gerência do Cuidado em Enfermagem e Saúde (GEPADES).
2
Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pelo Programa de Pós Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina (PEN/UFSC). Bolsista CAPES. Brasil. E-mail:
[email protected].
3
Acadêmica de Enfermagem da UFSC. Brasil. E-mail: [email protected]
4
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina (PEN/UFSC). Bolsista CAPES. Brasil. E-mail:
[email protected]
5
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Bolsista do CNPq. Brasil. E-mail: [email protected]
6
Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora Titular do Departamento de
Enfermagem e PEN/UFSC. Pesquisadora do 1A CNPq. Coordenadora do GEPADES. Brasil. E-mail:
[email protected]
1
FACING LIFESTYLE CHANGES IN THE PROCESS OF GOING THROUGH A
CORONARY ARTERY BYPASS GRAFT
ABSTRACT:
Introduction: Contemporary world conveys the era of information technology, thus, the
human being enjoys increasingly sophisticated and advanced treatments and health
interventions. Scientific evidence points to coronary artery bypass graft (CABG) as an
important resource for the surgical treatment of coronary artery disease, resulting in longer
survival and better quality of life for patients. Objectives: Understanding the way patients
realize their experience process of living after coronary artery bypass graft. Methods: It has
been a qualitative study, resulting from an extension project, entitled: "realizing the surgical
experience and the process of living in patients undergoing coronary artery bypass graft"
Twelve patients have taken part in data collection, six health professionals (doctors, nurses,
physical educator, nurse technician) and five family members, comprising three different
sample groups. The interviews were semi-structured and took place from October 2010 to
August 2011. Data were analyzed and interpreted by grounded theory (GT). Results and
discussion: After analyzing the data, a category with seven subcategories have been found.
The changes meant to relate to aspects of social and sexual life, work, diet, physical activity,
and drug treatment. Conclusion: Coronary artery bypass surgery experience encourages
reflecting and (re)considering the lifestyle, points out limitations and difficulties that challenge
adaptations in daily habits of patients and families for a process of living healthier.
Descriptors: Thoracic Surgery; Myocardial Revascularization; Nursing; Life Style.
1. INTRODUÇÃO
A contemporaneidade representa a era da tecnologia e da informatização, por sua
vez, o ser humano usufrui cada vez mais de sofisticados e avançados tratamentos e
intervenções de saúde. Tão logo, as evidências científicas apontam a cirurgia de
revascularização do miocárdio (CRM) como um importante recurso cirúrgico para o
tratamento da doença arterial coronariana, resultando em maior sobrevida e melhor
qualidade de vida dos pacientes(1).
Doenças quando não acometem a vida do indivíduo podem ocasionar desordens e
desequilíbrios físicos, orgânicos, fisiológicos, psicológicos, complicações e deficiências, que
implicam diretamente no déficit de produtividade humana, no seu contexto laboral, familiar e
profissional(2). Neste sentido, torna-se importante a compreensão dos processos que
permeiam a doença cardíaca e a experiência cirúrgica de revascularização miocárdica,
2
pelos profissionais de enfermagem e de saúde constituindo-se como um passo importante
para atender o indivíduo nas suas múltiplas dimensões de ser.
2. OBJETIVO:
O estudo tem objetivo de compreender como os pacientes significam seu
processo de viver após a experiência cirúrgica de revascularização do miocárdio,
visando construir um modelo teórico explicativo.
3. METODOLOGIA:
Este estudo, de natureza qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, é fruto de
um projeto ampliado, intitulado: “Significando a experiência cirúrgica e o processo de viver
do paciente submetido à revascularização do miocárdio”.
O cenário para o desenvolvimento da pesquisa foi um hospital do Estado de Santa
Catarina, referência em cirurgia cardíaca, a qual ocorreu no período de outubro de 2010 à
agosto de 2011. Foram entrevistados 23 sujeitos, sendo doze pacientes que realizaram
CRM, seis profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, educador físico, técnico de
enfermagem) e cinco familiares, constituindo três grupos amostrais.. O desenvolvimento do
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos sob o nº
001/2010. Os aspectos éticos foram respeitados em todas as etapas da pesquisa, como
prevê a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde(3).
Os dados foram coletados por meio de entrevista semi-estruturada, sendo o
processo de coleta e análise guiado por amostragem teórica, conforme preconiza a Teria
Fundamentada nos Ddados (TFD). Os códigos foram agrupados e as categorias e
subcategorias definidas e desenvolvidas em termos de suas propriedades e dimensões,
seguindo-se o processo de codificação aberta, axial e seletiva(4) O processo analítico foi
construído na perspectiva paradigmática, constituída por cinco componentes (contexto,
causa, condição interveniente, estratégias e conseqüências) que explicam o fenômeno.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3
No estudo identificou-se o fenômeno Percebendo o processo de viver a cirurgia
de revascularização miocárdica como oportunidade para a manutenção da vida,
associada ao enfrentamento das significativas mudanças no estilo de vida. A seguir
será apresentada e analisada a categoria e suas respectivas subcategorias que compõem
as Consequências do Fenômeno.
A categoria é composta por sete subcategorias. A primeira, denominada “Realizando
mudanças nos hábitos alimentares”, evidencia que após a CRM torna-se salutar para o
paciente mudar seus hábitos alimentares. Ainda que às vezes essa mudança represente
tolher desejos por determinados alimentos, para o benefício da própria saúde cardiológica, o
paciente acaba aceitando os novos hábitos alimentares.
A segunda subcategoria, intitulada “Tendo que parar de trabalhar”, diz respeito ao
ter que abster-se do exercício laboral. A alteração da rotina ocupacional afeta o aspecto
emocional e também a condição econômica e financeira do sujeito, da família, do lar, pois,
muitas vezes, eram provedores financeiros da família. Devido ao risco de morte iminente, o
uso das funções instrumentais do corpo para o trabalho é abolido, uma importante ruptura
concebida como invalidez e perda da autonomia (5).
Tendo limitações físicas geradoras de dependência, a terceira subcategoria,
refere-se a limitações físicas e consequente dependência dos familiares para atividades que
exigem esforço físico, no início da reabilitação. Percebe-se que a maioria não retoma as
atividades laborais, uma significativa ruptura em suas vidas, geradora de sofrimento,
tristeza, desânimo, inutilidade e consequente isolamento social(5).
A quarta subcategoria, Revelando alterações na prática sexual, apresenta outra
limitação, a restrição da atividade sexual, fato que afeta a relação conjugal, a priori quando
não dialogada pelo casal. Identifica-se ser um tema de difícil abordagem para os
profissionais e para os pacientes e seus cônjuges, esses últimos provavelmente por
sentirem-se intimidados frente aos profissionais para questionar sobre quando retomar as
atividades sexuais e que limitações terão que enfrentar e/ou conviver(6)
A quinta subcategoria, nomeada Realizando tratamento medicamentoso, elucida
as razões para o (des)cumprimento da terapia medicamentosa. A medicação quando não
disponível no serviço de saúde público representa custo para o paciente, o que pode
prejudicar a continuidade do tratamento quando a sua renda já está comprometida. Todavia,
mesmo enfrentando dificuldades financeiras, a família prioriza a aquisição de medicamentos
e de alimentos, assegurando o que consideram essencial(7).
4
Na sexta subcategoria, Percebendo o distanciamento da vida social, os
depoimentos ilustram que, gradualmente, os familiares percebem o afastamento do
indivíduo revascularizado do convívio familiar, dos filhos, dos netos, dos amigos. Torna-se
importante a necessidade de atenção dos profissionais de enfermagem e de saúde junto ao
paciente após cirurgia revasculatória, para identificar alterações como ansiedade,
depressão, nervosismo que podem prejudicar a recuperação do paciente(8).
A sétima subcategoria Necessitando de exercício físico contempla a dificuldade
por parte do paciente cardíaco em aceitar a necessidade de realizar atividades físicas. Uma
dos maiores obstáculos do paciente cardíaco revascularizado consiste em aderir à prática
de atividade física moderada, como a caminhada, como hábito de vida. Torna-se importante
diminuir o sedentarismo e tornar a prática de atividade física um hábito cotidiano no
processo de viver do paciente revascularizado(6)
Para os pacientes cardiopatas, a CRM tornou-se como uma possibilidade concreta
para o prolongamento do viver dos pacientes cardíacos coronariopatas, significando
aumento da expectativa de vida desses indivíduos, que ao viverem mais precisam buscar
melhores práticas que agreguem ao seu cotidiano hábitos mais saudáveis e de qualidade,
que promovam seu bem estar
5. CONCLUSÃO
A partir dos dados analisados, destaca-se que a – alimentação adequada, tratamento
medicamentoso, atividade física – caracteriza uma possibilidade para a manutenção e
prolongamento do viver de indivíduos revascularizados. No entanto, adequar esses hábitos
ao cotidiano parece ser o maior desafio desses indivíduos. Por essa razão, é necessário
haver uma reflexão por parte do paciente e de sua família, assim como dos profissionais, em
especial os da enfermagem, a fim de reforçar os cuidados e orientações em saúde,
minimizando os riscos para novos eventos da doença e contribuindo com a melhoria do
processo de viver dos indivíduos revascularizados.
Neste sentido, pode-se afirmar que existe uma lacuna na produção de estudos
voltados à apreensão da experiência e das mudanças no estilo de vida após a CRM sob a
perspectiva dos que a vivenciam. Por sua vez, a enfermagem pode contribuir para a
construção deste e de outros estudos que visem o aprimoramento do cuidado humano,
contemplando a complexidade e a totalidade do ser nas suas múltiplas dimensões.
5
REFERÊNCIAS
1.Fox K, Garcia MAA, Ardissino D, Buszman P, Camici PG, Crea F, et al. Guidelines on the
management of stable angina pectoria:executive summary: The task force on the
management of stable angina pectoris of the european society of cardiology. Eur Heart J.
2006; 27(11):81-134.
2. World Healt Organization. Health in the Americas, Scientific and Technical Publication,
[internet].
2007.
[citado
2011
out
24].
Disponível
em
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/salud_americas_v1_p1.pdf
3. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. (1996) - Resolução 196, de 10
de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres
humanos. Brasília (DF).
4.Strauss A, Corbin J. Pesquisa qualitativa: técnicas e procedimentos para o
desenvolvimento de teoria fundamentada. 2 ed. Porto Alegre: Artimed, 2008.
5.Teich V, Araujo DV. Estimated Cost of Acute Coronary Syndrome in Brazil. Rev Bras
Cardiol. 2011; 24(2):85-94.
6.Vila VSC, Rossi LA, Costa MCS. Heart disease experience of adults undergoing coronary
artery bypass grafting surgery. Rev Saúde Pública. 2008; 42(4):750-6.
7.Lima FET, Araujo TL. Prática do autocuidado essencial após a revascularização do
miocárdio. Rev Gaúcha de Enferm. 2007; 28(2):223-32.
8.Mansano NG, Vila VSC, Rossi LA. Conhecimentos e necessidades de aprendizagem
relacionadas à enfermidade cardíaca para hipertensos revascularizados em reabilitação.
Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2009; [citado 2011 out 14];11(2):349-59. Disponível em:
http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n2/v11n2a16.htm.
9. Luttik MLA, Jaarsma T, Sanderman R, Fleer J. The advisory brought to practice Routine
screening on depression (and anxiety) in coronary heart disease; consequences and
implications. European Journal of Cardiovascular Nursing. 2011 ; 10(4): 228-33.
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