o papel do enfermeiro relacionado ao cuidado humanizado

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Curso de Enfermagem
Artigo de Revisão
O PAPEL DO ENFERMEIRO RELACIONADO AO CUIDADO HUMANIZADO COM O
PACIENTE IDOSO EM AMBIENTE HOSPITALAR
THE NURSES' ROLE RELATED TO HUMANIZED CARE WITH THE ELDERLY PATIENT IN HOSPITAL
ENVIRONMENT
Suzanne Ruscaya de Souza1, Yasmin de Oliveira Carlos1, Elias Rocha de Azevedo Filho2
1 Aluna do Curso de Enfermagem
2 Professor do Curso de Enfermagem
Resumo
Introdução: Sabe-se que o processo de humanização envolve sensibilidade, afetividade, preocupação e solidariedade. Portanto, o
tecnicismo e a preocupação exacerbada com o tratamento da doença podem dificultar as relações interpessoais entre o enfermeiro e
paciente. Normalmente, os idosos são acometidos por doenças crônicas que requerem um acompanhamento médico constante,
fazendo o uso de medicação contínua e internação, gerando assim uma dificuldade na adaptação ao ambiente hospitalar. O enfermeiro
deve estimular a sua equipe a quebrar o paradigma cultural de que o idoso é um ser dependente. É necessário respeitar o processo de
envelhecimento e fornecer tratamento individualizado a estes clientes, estimulando sempre que possível à participação ativa dos idosos
no controle e tratamento da saúde. Objetivo: O presente estudo tem por objetivo explanar as ações de humanização em ambiente
hospitalar, relacionado a pacientes idosos, destacando a importância do papel do enfermeiro. Materiais e Métodos: Foi realizada uma
Revisão da Literatura por meio de consultas a revistas e periódicos em base de dados como SCIELO, BIREME, PUBMED, com os
descritores: enfermeiro; humanização; idoso; ambiente hospitalar. Conclusão: O processo de humanização não é tão simples e fácil.
Essencialmente, o que importa são as atitudes humanas. O cuidado humanizado não é somente considerar o paciente como um corpo
biológico, e sim, compreender que o paciente precisa ser escutado. O planejamento adequado dentro dos padrões de qualidade e
princípios bioéticos promovem uma assistência humanizada.
Palavras-Chave: Enfermeiro; Humanização; Idoso; Ambiente Hospitalar.
Abstract
Introduction: It is known that the process of humanization involves sensitivity, affection, concern and solidarity, so, the technicality and
the heightened concern about the treatment of the disease may hinder interpersonal relationship between nurse and patient. Usually
they are affected by chronic disease that requires constant medical care, making use of continuous hospitalization and medication, thus
creating a difficulty in adapting to the hospital. Nurses should encourage their team to break the cultural paradigm of the elderly as a
dependent being, so it is necessary to respect the aging process and provide individualized treatment to these customers by stimulating
whenever possible, the active participation of the elderly in the health control and treatment. Objective: This study aims at explaining
the humanizing actions in hospitals related to elderly patients, highlighting the importance of the nurse's role. Materials and Methods:
A Literature review was conducted by means of consultation to magazines and journals in databases such as SCIELO, BIREME and
PUBMED, using the descriptors: nurse; humanization; elderly, hospital environment. Conclusion: The humanization process is not as
simple and easy, essentially what matters is the human attitudes. Humanized care is not only considering the patient as a biological
body, but understanding that the patient needs to be heard. Proper planning within the quality standards and bioethical principles
promote humanized care.
Keywords: Nurse; Humanization; Old man; Hospital environment.
Contato: [email protected]
Introdução
Segundo Beck et al (2007), a humanização
é uma mudança no gerenciamento dos sistemas de
saúde que ascendeu cada vez mais, sabendo que
não se restringe somente às técnicas ou artifícios,
mas que fornece um melhor cuidado no
atendimento envolvendo a vivência e gerando
melhorias, tanto para o paciente como para os
profissionais de saúde. Sabe-se que o processo de
humanização envolve sensibilidade, afetividade,
preocupação, interação, amor e solidariedade,
portanto, o tecnicismo e a preocupação exacerbada
com o tratamento da doença podem dificultar as
relações interpessoais entre o enfermeiro e
paciente (AYRES, 2004).
A Política Nacional do Idoso foi criada em
1994, regida pela Lei nº 8.842, gerando mecanismo
de assistência à saúde do idoso e de implantação e
organização de redes estaduais de saúde.
(BRASIL, 2003; POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO,
1994).
Em 2003, foi regulamentado pela Lei nº
10.741, o Estatuto do Idoso, e a partir desta data,
houve uma maior discussão relacionada à
humanização, visando programar estratégicas que
promovessem o contato humano entre profissionais
e usuários (BRASIL, 1991).
De acordo com a portaria ministerial nº
2.528 de 1999, que aprovou a Política Nacional á
Saúde do Idoso, foi determinada a criação de
projetos conforme diretrizes estabelecidas e
também a ampliação da Estratégia de Saúde da
Família, A partir daí, notou-se que houve uma maior
procura de familiares e idosos nas Unidades
Básicas de Saúde, um marco importante para a
saúde dos idosos e estratégias inerentes a ela
(SANTOS et al., 2008).
Atualmente, nota-se um crescimento da
população idosa a partir dos 60 anos de idade que,
segundo estimativas de estudos, em 2025 irá
corresponder a 15% da população e cerca de 30
milhões de pessoas (PROCHET, 2011). Esse
crescimento da população idosa está relacionado à
redução da fecundidade e ao aumento da
expectativa de vida dos idosos (IBGE, 2002).
Os idosos são acometidos normalmente por
doenças crônicas devido ao envelhecimento,
necessitando
de
acompanhamento
médico
constante, uso de medicações contínuas e
internações, o que gera estresse e desconforto
quanto á readaptação ao ambiente, justificando,
assim, o processo de humanização na assistência
de enfermagem ao idoso no ambiente hospitalar
visando garantir maior conforto ao paciente (LIMACOSTA, VERAS, 2003).
Tendo como base o envelhecimento
populacional, relacionado principalmente à redução
da mortalidade e à redução da taxa de fecundidade,
nota-se que há uma crescente demanda dos idosos
as Unidades Hospitalares de Saúde e internação
por
tempo
prolongado,
gerando,
assim,
readaptação deste público a um novo contexto
social, trazendo insegurança, estresse, perda de
autonomia e isolamento social, o que justifica a
humanização nos cuidados de enfermagem com o
paciente idoso e a publicação de artigos para
disseminar conhecimento acerca deste assunto.
O presente estudo pretende explanar sobre
o papel do enfermeiro no cuidado humanizado ao
paciente idoso hospitalizado e as suas vertentes
associadas.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma revisão bibliográfica
descritiva de periódicos e artigos inerentes ao papel
do enfermeiro, relacionado ao cuidado humanizado
com o paciente idoso em ambiente hospitalar e
suas vertentes, tendo como base os temas: o
processo de envelhecimento, políticas públicas de
saúde, comunicação, valorização das crenças e
culturas e a necessidade da humanização.
Para critérios de seleção foram utilizados 40
artigos para leitura e compreensão do tema e foram
selecionados 30 artigos publicados no período de
1998 a 2015 para a realização da revisão
bibliográfica.
Foram utilizada base de dados como a
Scielo, Bireme e periódicos, como a Revista Escola
Enfermagem da USP, Revisão Bioética, Revista de
Enfermagem, Revista de Enfermagem da UFSM,
Revista da Escola Ana Nery, Revista LatinoAmericana de Enfermagem e Rev Bras Terapia
Intensiva.
O envelhecimento e a hospitalização
O ato de envelhecer não é um processo
unitário. Não se pode associá-lo a nenhuma doença
específica e nem acontece de uma vez só no
organismo inteiro. Existem fatores diversos que
devem ser levados em conta, em um processo de
integração (SANTOS; ANDRADE;BUENO, 2009).
Apesar de se saber desse fato, nem todas
as pessoas envelhecem da mesma forma, no
mesmo ritmo. Umas pessoas podem envelhecer
mais rapidamente do que outras, tudo dependendo
de como o indivíduo leva a sua vida, quais as suas
condições socioeconômicas e que doenças possui.
Biologicamente falando, estão envolvidos os fatores
moleculares, celulares, tecidulares e orgânicas da
pessoa, entrando em cena as dimensões psíquicas,
cognitivas e afetivas da pessoa, estas que
interferem na personalidade e na forma como o
indivíduo percebe o afeto a ele dirigido. Assim,
envelhecer não é apenas ficar mais velho, mas
antes, representam o cotidiano e as perspectivas
culturais de alguém. (FECHINE;TROMPIERI,
2015).
Existe uma estimativa de que o período de
vida de uma pessoa seja entre 110 e 120 anos,
com a maturidade biológica, quando sua vitalidade
chega ao ápice entre os 25 e 30 anos. Divide-se os
períodos de vida do indivíduo em: Dos 25 até os 40
o indivíduo pode ser considerado um adulto inicial;
até 65 anos, adulto médio ou de meia idade, dos 65
até 75 anos, adulto tardio na velhice precoce, e
desta idade em diante, vem a chamada velhice
tardia (SANTOS; ANDRADE;BUENO, 2009).
O processo do envelhecimento gera
alterações orgânicas ao idoso, contribuindo para
uma maior dificuldade de manter homeostase e
promovendo o surgimento de doenças crônicas,
que normalmente são incuráveis, e as suas
complicações trazem maior susceptibilidade deste
público ao processo de internação por longos
períodos. Os idosos apresentam alterações
psicológicas e sociais inerentes ao contexto
político, econômico, social e cultural, o que dificulta
o processo de adaptação, bem como, a não
aceitação da internação e limitações (PAZ et al,
2006).
No aspecto fisiológico, a idade avançada
projeta uma série de mudanças nas funções
orgânicas e mentais, a perda das quais faz com
que os idosos percam a capacidade de manter o
equilíbrio homeostático e que todas as funções
fisiológicas gradualmente comecem a declinar. A
característica principal dessas alterações é a
redução da reserva funcional. Isso significa que, em
condições apropriadas, um organismo envelhecido
pode sobreviver por muito tempo, mas caso haja
situações de estresse, seja físico ou emocional,
surgem todas as dificuldades, trazendo para o
organismo uma sobrecarga funcional que
compromete os sistemas endócrino, nervoso e
imunológico, levando o indivíduo a perda de
resistência orgânica e à possível hospitalização
(CANCELA, 2007).
A hospitalização, de modo geral, gera
desconforto, preocupação e medo aos pacientes,
sendo que, especificamente ao público idoso,
normalmente, gera prejuízos às atividades sociais,
perda da autonomia, dificuldade na adaptação a
nova realidade e ambiente, carga emocional,
estresse, sofrimento, fragilidade, limitações além
das pré-existentes, e carências afetivas. Portanto,
faz-se necessário a interação e comunicação com
este público para garantir segurança afetiva e
melhor enfrentamento da nova realidade (BEUTER
et al, 2012).
A importância da humanização
O homem é um ser que necessita de
cuidados, e se não recebê-los, estará sujeito a
perder sua estrutura, definhar, perder a
compreensão do que significa a vida e até mesmo
morrer. Cuidado, então, é uma necessidade básica.
Esta é uma necessidade associada com a
humanização. O ser humano tem em si o senso de
bondade, humanitarismo, entre as quais estão a
benevolência, a clemência e a compaixão. O
humanizar é parte do ser humano, e sendo que
tudo o que se faz visa o bem-estar da humanidade,
seja em caráter individual ou coletivo, isso se
caracteriza como o sentido da humanização
(CORBANI;BRÊTAS;MATHEUS, 2009).
Corbani;Brêtas; Matheus (2009) acreditam
que isto acontece por causa da sujeição do ter ao
ser como valor que existe em cada um. O ter em si
costumeiramente embaça a compreensão de cada
pessoa e compromete o ser humano que existe em
cada um, tornando a pessoa desumana, sem
natureza e cruel. Morrendo o cuidado desaparece o
ser humano, e dessa forma, falar sobre a
humanização na enfermagem significa entrar no
instrumento de trabalho da profissão, o cuidado que
está implícito em uma relação de ajuda.
O enfermeiro na humanização
Para se atender à necessidade de atenção
humana da enfermagem, foi criada em 2001, a
Política Nacional de Humanização no Ambiente
Hospitalar foi criada em 2001, com o objetivo de
capacitar os profissionais de enfermagem para
garantir uma assistência humanizada e holística,
valorizando a vida humana e a cidadania,
aprimorando as relações humanas, resgatando a
integralidade na assistência aos indivíduos e à
população idosa, visto que esta normalmente
constitui-se de um público que necessita
amplamente dos serviços prestados pelas
Unidades de Saúde e de internação devido às suas
condições fisiológicas (Ministério da Saúde, 2001)
Esta política foi criada pelo reconhecimento
de que a experiência diária ao atender pessoas nos
serviços de saúde aponta para uma questão crítica,
que precisa de atenção. Ao avaliar esses pontos, o
público destaca como importante a forma de
atender às suas necessidades, de compreendê-los,
por parte dos profissionais de saúde. Esses fatores
chegam a ser considerados mais importante do que
a própria falta de médicos, de medicamentos, de
espaços nos hospitais (BRASIL, 2001).
A humanização apresenta vantagens, entre
as quais estão a interação eficaz do profissional de
enfermagem com o paciente através da
aproximação que promove segurança e confiança
maior deste com a equipe, além de atenuar o
estresse
e
sofrimento,
garantindo
maior
colaboração com o autocuidado. Esta aproximação
pode ser realizada no próprio exercício das
atividades de enfermagem através de simples
interação por diálogo sem necessidade de recursos
(SILVA et al, 2014).
Apesar dessas vantagens apontadas, devese levar em conta que os problemas pelos quais
passam os profissionais da saúde não são poucos.
Estes são submetidos a tensões que surgem de
vários lados, que sejam o contato com doentes,
com a dor que estes sentem, com sua condição de
pacientes terminais, o medo de fazer algo errado,
pacientes que não facilitam o relacionamento, e
isso definitivamente dificulta o trabalho de
humanização (MOTA; MARTINS; VERAS, 2006).
Segundo pesquisa realizada por Sousa
(2012), os enfermeiros apontam como principal
desvantagem do processo de humanização no
cuidado com o paciente idoso o tempo escasso,
visto que estes utilizam o tempo voltado aos
cuidados técnicos e ao tratamento do paciente.
Para Almeida e Aguiar (2011), observa-se a falta de
preparo dos profissionais de saúde quanto ás
ações educativas e ao processo de humanização, o
que caracteriza o enfermeiro como tecnicista.
Nem sempre a humanização é facilitada.
Acredita-se que traz benefícios, mas o processo
não
é
rápido,
apresentando
demora
e
complexidade, e por esse motivo, sofre resistência
porque precisa que haja mudança de atitudes, de
comportamento,
mudanças
que
causam
insegurança (MOTA; MARTINS; VERAS, 2006).
Existe um déficit da humanização no
processo de alta e reabilitação do paciente, que
envolve as orientações à família quanto aos
cuidados domiciliares. Desta forma, pode ocorrer
uma recidiva na internação hospitalar por cuidado
ineficaz da saúde do idoso (ALMEIDA; AGUIAR,
2011).
Quanto ao perfil do enfermeiro, nota-se que
ele normalmente trabalha de uma forma tecnicista e
repetitiva, porém, é necessária a comunicação, pois
ela é primordial para o desenvolvimento de
qualquer relacionamento interpessoal, para garantir
o cuidado integral humanizado a partir do
compartilhamento de informações claras aos
pacientes, proatividade, relação de confiança,
ausculta qualificada, compreensão, toque, fala
olhar, estimulação e aconselhamento que juntos
promovem a autonomia do cliente (AYRES, 2004).
A comunicação é um artifício importante
durante o processo de humanização. Nota-se que
ela pode ser verbal ou não verbal, associada a
expressões faciais, gestos, tom de voz adequado,
entonação das palavras, proporcionando a
aproximação do enfermeiro com o paciente e
promovendo mudanças nos sentimentos, atitudes,
pensamentos e percepções (SILVA, 2002).
Então, humanizar é garantir ao que está
sendo dito a dignidade ética. O ser humano que
sofre e que sente dor precisa compreender o que
está sendo dito pelo cuidador profissional de saúde.
É preciso que as palavras usadas sejam do nível do
paciente, usando-se linguagem por meio da qual
possa haver comunicação com o outro sem haver a
desumanização recíproca. Humanizar é saber falar,
ouvir, dialogar com o semelhante de uma forma que
este entenda e reaja positivamente ao que está
sendo dito (CORBANI;BRÊTAS;MATHEUS, 2009).
Durante
a
prática
dos
cuidados
gerontológicos, deve-se observar as implicações
psicológicas, afetivas e físicas, garantindo a
interação, mesmo durante a realização dos
cuidados para a promoção de um vínculo de
empatia entre o idoso e o enfermeiro (WALDOW,
2001).
Ressalta-se que as expectativas dos
usuários no ambiente hospitalar devem ser
correspondidas inicialmente pelo processo de
acolhimento eficaz, que compreende uma
abordagem adequada ao cliente, sendo necessário
respeitar sua singularidade e individualizar a sua
assistência. Por isso, o usuário não deve ser
tratado pelo nome da sua doença, ou pelo número
do leito, mas deve ser cumprimentado de forma
cordial e tratado sempre pelo seu nome, fazendo
senti-lo um ser humano integrante da sociedade,
evidenciando
compaixão,
afetividade
e
consideração. Dessa forma, é proporcionado ao
cliente alívio, conforto e apoio, pois essas ações
tornam uma relação de comunicação, cuidado físico
e respeito que são fundamentais para promover o
bem estar, tanto do cliente quanto do enfermeiro
(BECK, 2009).
O enfermeiro deve estimular a sua equipe a
quebrar o paradigma cultural de que o idoso é um
ser dependente e incapaz de tomar decisões
próprias. Portanto, é necessário respeitar o
processo de envelhecimento e fornecer tratamento
individualizado a estes clientes, estimulando,
sempre que possível, à participação ativa dos
idosos no controle e tratamento da saúde,
valorizando as suas capacidades e integrando-o
socialmente. Estes preceitos integram a bioética
estabelecida pelo Código de Ética Profissional do
Enfermeiro (FREITAS; SHRAMM, 2009).
Através da valorização das crenças e
culturas são aplicados os valores humanísticos,
visto que o enfermeiro tem por dever e
responsabilidade a formação de um sistema de
valor através das seguintes ações: prestando
informações, estimulando a fé-esperança, se
colocando no lugar do outro, desenvolvendo ajudaconfiança, promoção da aceitação dos sentimentos
negativos e positivos proporcionando, assim, um
ambiente biopsicossocial e espiritual com aceitação
de forças fenomenológicas (WATSON, 2007).
Observa-se
a
constante
falta
de
conhecimento dos pacientes idosos sobre os seus
direitos e deveres no ambiente hospitalar, o que
resulta em uma postura autoritária e opressora da
equipe de enfermagem com estes clientes de modo
geral. Porém, no contexto da humanização, o
cliente deve ser esclarecido quanto aos seus
direitos, e considerado pela equipe como um ser
com liberdade de tomar suas próprias decisões
relacionadas ao seu tratamento, quando possível,
sobrepondo à sua família (WALDOW, 2004).
De acordo com os princípios do SUS e do
Código de Ética Profissional de Enfermagem
(CEPE), o cuidado humanizado ao paciente idoso
no ambiente hospitalar preconiza a proteção contra
imperícia, negligência ou imprudência, respeito ao
paciente ainda após o óbito e a estimulação da
autonomia deste público (FREITAS; SCHAMM,
2009).
O enfermeiro deve oferecer orientações e
suporte ao paciente idoso hospitalizado e à família,
devido a estes estarem inertes a um ambiente
diferente do cotidiano e cercado de inseguranças
relacionadas à internação. Nota-se que a
integração destes familiares constitui-se um
importante objeto de humanização garantido pela
Política Nacional de Humanização que, através de
novas práticas nos ambientes hospitalares,
assegura o direito do idoso de ter um
acompanhante familiar e visitas abertas, visando
aproximação da família. Porém, as instituições
ainda estão adequando-se para se enquadrarem na
lei, quanto às suas estruturas físicas. Ressalta-se
que, ainda, o enfermeiro pode realizar a escolha do
acompanhante do idoso no cenário hospitalar, o
que reforça a necessidade de conhecer o perfil
individual dos familiares para uma escolha mais
sábia (SQUASSANTE, 2007).
Humanização e desumanização
Estudos de Corbani; Brêtas; Matheus em
2009 apontam para a percepção de enfermeiros
sobre o assunto. Muitos deles passam por
experiências críticas da sua forma de cuidados com
pacientes idosos, e assim relatam:
“Mas o que acontece, humanização é isso: o
bem-estar da pessoa. Está prejudicando uma
pessoa, não vou fazer isso, mesmo ninguém
estando vendo, é fazer toda aquela linha de
cuidado com o paciente... uma vez tratei bem o
paciente – não que eu não trate bem o paciente , fui conversar com ele, que estava com dor e
saber realmente o que ele tinha, que dor que
era, intensidade; enfim, investigar a dor dele. Aí,
certa pessoa me viu conversando com ele e me
disse: ‘você não tem de fazer assim com o
paciente, pegar no colo. Que é isso?’. A pessoa
quis dizer que eu estava mimando o paciente.
Eu pensei e falei:
- Poxa, não estou mimando o paciente. Estou
conversando com ele. Tenho de conversar com
o paciente para saber o que ele tem. Isso para
mim é humanizar. É conversar. Às vezes, se
sente só, solitário. Que acontece? Se você
chegar para conversar com ele, aquele que é
muito velho de casa critica você com o olhar.
Porque você tem de tratar: ‘aqui é o auxiliar, aqui
é o paciente’ (indicando distância)”
O paciente precisa dessa proximidade para
que se sinta à vontade e fale sobre seus
problemas. O interesse do profissional deve estar
presente em todos os momentos, conversando com
o doente idoso, fazendo com que ele se expresse e
se sinta bem (BECK, 2009). Caso não haja isso,
cria-se um sentimento de desumanização. Outro
enfermeiro assim se expressou sobre a
desumanização:
“É não enxergar o outro, está voltado para seus
próprios interesses – é o que trata com descaso.
Eu não suporto isso, entendeu?! É a pessoa
necessitando de uma coisa e você deixar de
fazer por interesse próprio; é você destratar,
ignorar, não valorizar o que é a pessoa, o que
ela faz, entendeu?... desumanização seria
acabar com os seres humanos ou seria acabar
com o lado humano das pessoas, é o que a
gente mais vê, mais ouve....falta de cultura,
respeito, educação, índole está muito decaída
que acaba influenciando em todos os setores,
inclusive no hospital...é uma coisa que maltrata,
agressiva, que prejudica o humano, por
exemplo, um velhinho que não pode se
alimentar e você passa o olho em cima e vai
para lá, distanciando-se dele.” (CORBANI;
BRÊTAS;MATHEUS, 2009).
Certas vezes o enfermeiro carece de ter
mais informações e melhor treinamento. Por causa
disso, sua atuação deixa a desejar no que diz
respeito ao atentar para os problemas do paciente.
A falta de treinamento especializado e humanizado
faz com que este profissional perca a percepção da
necessidade do paciente, deixando de se interessar
por detalhes que parecem pequenos, mas que são
de grande importância no sentimento de bem-estar
do indivíduo (FREITAS; SHRAMM, 2009).
Outro enfermeiro se expressou da seguinte
forma sobre a importância da atenção humanizada:
“Para enxergar o seu indivíduo como um todo e
a partir disso conseguir traçar metas para ele - o
cuidado integral ao seu doente - de humanizar,
desde os pequenos detalhes que você pode
ajudar na assistência, um cuidado básico, por
exemplo, de passar um hidratante, que muitas
pessoas não passam. Querendo ou não, você
ajuda muito. Humanização é você enxergar
aquele ser humano como uma pessoa, e tratar
dela bem. Dar todos os cuidados necessários
para ele. Não a via de administração de
medicamento, é enxergar e observar realmente
as necessidades dele. Tanto que estávamos
conversando com os funcionários que parece
uma coisa mecânica: um mutirão faz a
medicação, outro vê a diurese e cadê o cuidado
integral com o seu paciente, entendeu? De você
olhar e ver se ele está corado ou não, observar.
(...). Você tem de ir primeiro no básico, para
depois tentar dar um cuidado melhor para ele enxergar o paciente. Porque todo mundo está
preocupado em dar banho, preciso fazer aquilo,
às vezes nem olhando para o rosto do paciente.
E, às vezes, só de olhar, você consegue ver se
ele está sentindo dor, se ele está querendo
alguma coisa. Você consegue visualizar isso só
prestando
atenção
nele”.
(CORBANI;
BRÊTAS;MATHEUS, 2009).
A atenção se faz necessária em todos os
momentos de cuidado com o paciente, esteja em
fase terminal ou não. Entretanto, a obrigação
desses cuidados não é devida apenas ao
enfermeiro ou profissional da saúde. A família deve
estar inclusa no processo do cuidar humanizado.
A família nos cuidados ao paciente idoso
A família constitui-se uma parceria com a
equipe de saúde muito positiva para o tratamento
das mulheres idosas, garantido pelo fornecimento
de apoio afetivo e físico nesta fase da vida,
principalmente do público feminino, que, de forma
geral, sofre alterações psicológicas relacionadas ao
processo de envelhecimento. Portanto, o abandono
da família pode ser um agravante no tratamento
destas clientes que, com o rompimento dos laços
afetivos com os familiares, sofre com a solidão
(AIRES, PASKULIN; MORAIS, 2010).
A família proporciona um ambiente familiar
caloroso garantido pelo fortalecimento das relações
de vínculo familiar, minimizando as dificuldades, as
angústias dos idosos e familiares, constituindo-se
em uma fonte de apoio ao idoso (FELICIANO;
MORAES; FREITAS, 2004). Portanto, a presença
do familiar colabora com a recuperação do doente
hospitalizado devido ao fortalecimento da relação
de confiança (SZARESKI, 2009).
Apesar dos enfermeiros possuírem o
conhecimento técnico científico relacionado ao
quadro clínico do paciente idoso, bem como ao seu
diagnóstico, estes, muitas vezes, responsabilizam a
equipe médica quanto à prestação de informações
relacionadas ao diagnóstico do paciente. Na prática
da humanização as informações devem ser
prestadas sempre que possível ao cliente visando
esclarecer dúvidas e minimizar ansiedade destes
relacionada à falta de informação, porém, ressaltase que a linguagem deve ser adequada e o respeito
às informações sigilosas preservadas. Os
procedimentos devem ser informados quanto a sua
importância anteriormente à sua execução (AYRES,
2004).
Tendo como base diversos artigos, nota-se
que a equipe de enfermagem enfrenta dificuldades
com relação à execução do processo de
humanização aos pacientes idosos no ambiente
hospitalar relacionada à falta de tempo, paradigma
entre o conhecimento técnico científico e a
abordagem, falta de valorização do ser idoso,
inibição deste público e diminuição da autonomia
destes relacionada ao processo de decisão do seu
tratamento (Almeida et al, 2008).
O enfermeiro deve estimular a discussão
acerca do processo de humanização com a sua
equipe, bem como a importância da valorização do
ser humano idoso de forma holística, a estimulação
da participação deste público, integração familiar,
prestação de informações concretas, abordagem
adequada, a fim de garantir uma reflexão e
processo de educação continuada aos enfermeiros
das unidades hospitalares, adequando os
ambientes às novas políticas públicas de saúde
brasileiras (SAKANO; YOSHITOME, 2007).
Organizando de uma forma intersetorial o
enfermeiro poderá promover atenção integral ao
paciente idoso, desta forma, todos deverão
trabalhar em equipe para que o cuidado ao idoso
confira maior dignidade, equidade e integralidade.
Conclusão:
Compreende-se que, para ocorrer o
processo de humanização, é necessária a
conscientização dos profissionais sobre a
importância do cuidado humanizado, com
compromisso para com a saúde do paciente, o seu
bem estar e a manutenção da vida do ser humano
como um todo.
Humanizar não é apenas chamar o
paciente pelo nome, sorrir constantemente, mas,
além disso, compreender suas incertezas,
angústias e medos, dando-lhe apoio e atenção
sempre que necessário.
Uma visão holística do enfermeiro e sua
equipe permite prestar um atendimento mais
humanizado, desde que compreenda o seu real
significado, não esquecendo que o mesmo,
indiferente de sua etnia, raça, religião e padrão
aquisitivo é um cidadão, e seus direitos devem ser
respeitados. Os profissionais devem realizar seus
deveres dentro dos padrões de qualidade, a
responsabilidade da atenção à saúde não é
somente com o ato técnico, e sim, com estratégias
adequadas para se prestar o atendimento de forma
eficiente.
É necessário promover iniciativas para
melhorar o contato humano entre os profissionais
de saúde e os usuários, pois no processo de
humanização, o essencial são as atitudes
humanas, e só se pode dizer que um atendimento
foi humanizado se os profissionais demonstrarem
por todos os clientes, profundo respeito,
solidariedade e compaixão legítima.
Os enfermeiros são responsáveis pelo
planejamento de metas eficazes relacionadas com
a qualidade de vida, interferindo, assim, na ampla
complexidade do ambiente hospitalar,com uma
visão humana e social envolvendo a equipe
multiprofissional no processo de acolhimento do
idoso e na ressocialização.
Agradecimentos:
Dedico a Deus minha força e refúgio e aos
meus pais, que mesmo com toda dificuldade me
educaram com os preceitos de ética e caráter.
Suzanne
Ao nosso orientador, Elias Rocha de
Azevedo, que nos dedicou seu tempo, nos
direcionando e apoiando em cada etapa deste
trabalho com todo carinho e atenção.
Referências:
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regions of Rio Grande do Sul. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 18, n. 1, p. 11-17, Feb.
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ANEXO A: PERCEPÇÃO DOS ENFERMEIROS SOBRE A HUMANIZAÇÃO
1
Ser humano
“Eu acho que é um privilégio [ser humano-virtude], porque não são todas as pessoas, não é? O homem é
um ser humano [pessoabio], mas saber se realmente ele é humano [virtude], entendeu? Então eu acho
assim: acho que ser humano são as pessoas que nasceram para ter raciocínio, para ter amor, para dar
amor uns para os outros, para entender, para cuidar. Para mim, isso é ser humano. É diferente do animal. É
racional.”
Humanização
“É o que sempre falo: você tem de tratar ele como você gostaria de ser tratado. Fique na posição do
paciente. Você não gostaria de receber um banho de água fria. Então, se você não desperta isso no
funcionário, ele vai fazer de qualquer jeito.”
“As pessoas precisam voltar [a cuidar de forma humana]. O cuidado da gente às vezes é muito técnico. Ou
você fica muito no físico, não dá atenção às necessidades biológicas. Só pensa na doença, nos aparelhos,
vamos nos especializar. Você não pode esquecer que está cuidando de um ser humano. Então tem de ver
tudo, as necessidades, se está carente, a necessidade religiosa, a família que vem”.
“Acho que é uma prática diária. “Todos os dias você tem de lembrar que é humano, porque se esquece
desse detalhe.”
Falta de compromisso
“Falta de compromisso, responsabilidade dentro da enfermagem no cuidado com o paciente. Vem aqui, bate
o cartão, cumpro seis horas e vou embora. (...). Eu acho assim: às vezes, como a paciente hoje que estava
se queixando que não evacuava, não evacuava. Isso é detalhe? Eu acredito que eles não tenham
conversado com ela, porque ela falou para mim e eles não passaram para mim. Acho que é falta de eles
conversarem, de tentar puxar as informações dos pacientes, de realmente se comprometer com o paciente,
dar cuidado integral, suprindo as necessidades que ele precisa, entendeu? Além da técnica: é enxergar seu
paciente.”
Cuidado
“Cuidado é o que eu faço com os meus pacientes: assistência de enfermagem. Por exemplo, pôr tala para
evitar pé eqüino, curativos, higiene oral, banho no leito, exame físico”.
“Cuidar para mim é cuidar bem. É ver a carência da pessoa e fazer pelo outro o que ele não pode fazer
sozinho, fazer com carinho, com amor, é tratar bem, é manter, proteger. Todo mundo precisa de cuidado, de
carinho, de atenção”.
“Passar um hidratante, medicação, ver a diurese, banho, explicar o procedimento para o paciente entender,
não ter ansiedade e colaborar até.”
“Para enxergar o seu indivíduo como um todo e a partir disso conseguir traçar metas para ele - o cuidado
integral ao seu doente - de humanizar, desde os pequenos detalhes que você pode ajudar na assistência,
um cuidado básico, por exemplo, de passar um hidratante, que muitas pessoas não passam. Querendo ou
não, você ajuda muito. Humanização é você enxergar aquele ser humano como uma pessoa, e tratar dela
1
FONTE: CORBANI NMS; BRÊTAS, MCP; MATHEUS. MCC. Humanização do cuidado de enfermagem: o
que é isso? Rev Bras Enferm, Brasília 2009 maio-jun; 62(3): 349-54
bem. Dar todos os cuidados necessários para ele. Não a via de administração de medicamento, é enxergar
e observar realmente as necessidades dele. Tanto que estávamos conversando com os funcionários que
parece uma coisa mecânica: um mutirão faz a medicação, outro vê a diurese e cadê o cuidado integral com
o seu paciente, entendeu? De você olhar e ver se ele está corado ou não, observar. (...). Você tem de ir
primeiro no básico, para depois tentar dar um cuidado melhor para ele - enxergar o paciente. Porque todo
mundo está preocupado em dar banho, preciso fazer aquilo, às vezes nem olhando para o rosto do
paciente. E, às vezes, só de olhar, você consegue ver se ele está sentindo dor, se ele está querendo alguma
coisa. Você consegue visualizar isso só prestando atenção nele”.
“O enfermeiro, começando da gente. Precisamos estar muito bem cuidados para cuidar dos outros. Quando
fala de funcionário que não cuida, que é descaso, às vezes eles não estão bem para cuidar dos outros como profissional, como ser. A gente próprio. Se a gente não está bem, não vai cuidar bem de ninguém.
Não vai ver o paciente direito. Não vai ter a capacidade de perceber”.
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