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Atenção Farmacêutica para Pacientes Pediátricos Portadores de Leucemia Mielóide Crônica em Uso de
Mesilato de Imatinibe
dezembro/2015
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Atenção Farmacêutica para Pacientes Pediátricos Portadores de
Leucemia Mielóide Crônica em Uso de Mesilato de Imatinibe
Francisco George de Oliveira – fgeorge.oliveira@gmail,com
Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Fortaleza, CE, 14 de Abril de 2015
Resumo
O paciente pediátrico pertence a um grupo especial de pacientes, assim como os idosos,
onde, devido características fisiológicas decorrentes da pouca idade ou da idade avançada
do organismo, a terapêutica precisa ser monitorada com atenção especial pelas equipes de
saúde. O Mesilato de Imatinibe é um medicamento oral, da classe dos Inibidores de Tirosina
Quinase (TKIs) utilizado para o tratamento de Leucemias Mielóide, aguda e crônica, com
êxito em pacientes adultos e que teve seu uso aprovado para o tratamento de Leucemia
Mielóide Crônica em crianças e adolescentes desde Fevereiro de 2012. O mesmo é
dispensado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em sua rede especializada.
Portanto, devido a carência de estudos de atenção farmacêutica para pacientes pediátricos e
às características particulares desse grupo de pacientes, faz necessário demostrar a
necessidade de implantação de programas de atenção farmacêutica às crianças e
adolescentes, portadoras de leucemias e usuárias de Mesilato de Imatinibe, como forma de
aumentar a taxa de adesão ao tratamento. A metodologia escolhida para este fim foi a
pesquisa bibliográfica. A partir dessa pesquisa, concluiu-se que se faz necessário a atenção
farmacêutica para esse grupo de pacientes.
Palavras-chave: Atenção Farmacêutica. Leucemia. Mesilato de Imatinibe. Crianças e
Adolescentes.
1. Introdução
O câncer infanto-juvenil é definido como aquele que acomete crianças e adolescentes entre 0
e 19 anos de idade, sendo considerado raro quando comparado às neoplasias que afetam os
pacientes adultos. Nesse faixa etária da população, os tumores apresentam uma melhor
resposta ao tratamento quimioterápico, porém costumam ser mais invasivos nesses pacientes
devido o rápido crescimento das células neoplásicas e apresentarem um menor período de
latência. Devido a essas particularidades, é de suma importância, o diagnóstico cada vez mais
precoce nos pacientes infanto-juvenis, como um dos fatores que contribuem para a sobrevida
dos mesmos (I.N.C.A, 2008:19). De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, em 2012
ocorreram 2.812 mortes de crianças e adolescentes por câncer, sendo que as neoplasias
ocupam a segunda posição, 7%, dos óbitos nesta faixa etária, somente perdendo para óbitos
por causas classificadas como externas, configurando-se assim como a doença que mais mata
nessa faixa etária. Para o ano de 2014, foram estimados 394.450 novos casos de câncer no
Brasil, excluindo-se dessa estimativa os tumores de pele não melanoma. Os tumores infantojuvenis encontram-se próximos de 3% desse total de casos, o que representa um total de
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11.840 novos casos de câncer entre crianças e adolescentes, segundo os registros de câncer de
base populacional. Dentre esses cânceres, a leucemia é o tipo mais comum, chegando a 35%
dos casos, nessa população (I.N.C.A, 2014:53).
Diante deste cenário, o Ministério da Saúde , através da Portaria Nº) 114, de 10 de Fevereiro
de 2012, aprovou as diretrizes diagnósticas e terapêuticas para tratamento da leucemia
mielóide crônica de criança e do adolescente com mesilato de imatinibe, comprimidos de 100
e 400mg, utilizado para pacientes com LMC refratários ou intolerantes ao tratamento com
interferon-α uma droga de uso oral, da classe dos inibidores de tirosina quinase, que já teve
seu uso regulamentado no Brasil desde (BRASIL, 2001 e 2008). Dentre as diretrizes da RDC
114/2012, está a garantia do acesso do paciente menor de 19 anos, com diagnóstico de LMC,
a hospitais habilitados em oncologia com serviço de hematologia ou de oncologia pediátrica
com suporte para diagnóstico, tratamento e monitoramento laboratorial. Além do manejo das
doses para dispensação aos pacientes, logística e controle dos efeitos adversos através de
suporte multiprofissional para adequado atendimento e otimização dos resultados almejados
com a terapêutica (BRASIL, 2012). Para a obtenção desses dos resultados, principalmente a
adesão ao tratemento oral, considerado um dos grandes desafios da equipe multidisciplinar
não só na área da oncologia, mas no âmbito hospitalar e ambulatorial como um todo. A
adesão ao tratamento pode ser influenciada por fatores relacionados ao paciente, ao
tratamento, aos serviços de saúde, crenças e hábitos de vida, não só do paciente, mas dos
familiares e responsáveis, no caso de pacientes pediátricos. O conhecimento desses fatores
pelo profissional farmacêutico torna-se uma importante ferramenta para o acompanhamento
da evolução do doente, em especial o oncológico (MARQUES, 2008:324).
Assim como a adesão ao tratameno, o controle dos efeitos adversos e outros problemas
relacionados ao medicamento através de acões de farmacovigilância durante a terapia podem
previnir, minimizar ou eliminar riscos inerentes à terapêutica (CARDOSO et al. 2013:33).
Dessa forma, o profissional farmacêutico, dentro da equipe multiprofissional, pode lançar
mão de acões, tanto para a melhoria da adesão ao medicamento quanto monitoramento de
reações adversas deste através de um plano de atenção farmacêutica, para a obtenção dos
resultados esperados com a terapêutica e melhoria da qualidade de vida desses pacientes. Os
serviços ambulatorias das farmácias hospitalares apresentam vital importância para essas
atividades, que devem ser implantadas na prática clínica desses profissionais, haja vista que
os pacientes atendidos nesses serviços não possuem a corbetura da equipe muliprofissional
em tempo integral, ao contrário dos pacientes hospitalizados. Porém, devido a outras
atividades desenvolvidas dentro das unidades ambulatorias, existe ainda um pouco contato,
infelizmente, entre o farmacêutico e o paciente na farmácia ambulatorial, contribuindo para a
precariedade no fluxo de informações sobre o medicamento e o tratamento, sendo essa uma
das razões pela qual medicamentos reconhecidamente eficazes sob condições controladas
dentro dos estudos clínicos pré-comercialização se tornam ineficazes total ou parcialmente
quando utilizados habitualmente (AZEVEDO et al. 2011:246)
Dentro do contexto apresentado, percebe-se a importância da atuação ativa do farmacêutico
junto ao paciente ao se aplicar a atenção farmacêutica como forma de orientar o paciente e
pais ou responsávies, que, em muitos casos, quando se tratar de crianças, serão os
responsáveis pela administração do medicamento ao paciente, quanto ao uso correto do
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medicamento, reconhecimento dos principais adversos inerentes à droga, possíveis interações
medicamentosas, adesão e importância do tratamento.
O presente trabalho tem como objetivo analisar a importância da atenção farmacêutica para
pacientes pediátricos portadores de Leucemia Mielóide Crônica em uso de Mesilato de
Imatinibe. Para tanto, visando atender o objetivo desse trabalho, utilizou-se como
metodologia a pesquisa bibliográfica, por meio do que dizem entidades e estudiosos do
assunto em livros, artigos científicos na base de dados Scielo, Pubmed, Medline, Lilacs e
Google Acadêmico, bem como em publicações oficiais.
2. Leucemia Mielóide Crônica
De acordo com Funke (2010), a Leucemia mielóide crônica (LMC) foi descrita inicialmente
em 1845. Porém, apenas em 1960, ou seja, mais de um século após, foi descrito o
cromossomo Filadélfia (Ph), caracterizado como uma translocação entre os cromossomas 9 e
22, resultando num cromossoma híbrido devido a justaposição da região BCR do
cromossomo 22 ao gene c-ABL do cromossomo 9, um gene quimérico conhecido como gene
BCR-ABL. Esse gene, tido como um oncogene, direciona para a síntese de uma fosfoproteína
de 210 KD com elevada atividade de tirosina quinase. Já em 1990, demonstrou-se em um
modelo murinho que presença do gene hibrido induzia uma doença mieloproliferativa muito
semelhante à LMC em humanos, estabelecendo assim uma relação de causalidade entre o
gene quimérico BCR-ABL e a LMC.
A hiperatividade da proteína quinase desencadeia a liberação de efetores da proliferação
celular e inibidores da apoptose, sendo responsável por leucocitose com desvio à esquerda ou
desvio maturativo, isto é, quando da presença de maior quantidade de bastonetes e/ou células
mais jovens da série granulocítica (metamielócitos, mielócitos, promielócitos e mielócitos
(HOKAMA, 1997: 38), imaturidade granulocítica, anemia, basofilia e trombocitose. Na LMC
é possível observar na circulação periférica, leucocitose em níveis maiores que 25.000/mm3
refletindo assim uma singularidade medular, o que vem a ocasionar alguns sintomas
característicos tais como indisposição, astenia, perda de peso, sudorese, plenitude abdominal,
herrorragias e esplenomegalia (BORTOLHEIRO, 2008: 4).
Dada a sintomatologia clínica, o diagnóstico diferencial se dá por citogenética da presença do
cromossomo Ph ou do gene BCR-ABL, por meio de análise por hibridação in situ por
fluorescência (FISH) ou presença do RNA mensageiro correspondente ao gene híbrido por
reação em cadeia de polimerase de transcrição reversa (RT-qPCR).O estudo da translocação
entre os cromossomos 9 e 22 e a alteração molecular que a mesma causa no produto do gene
híbrido foi de grande importância para o diagnóstico da LMC assim como o desenvolvimento
de novas terapias alvo contra esse arranjo molecular (SILVEIRA 2011: 1).
A incidência da Leucemia Mieloide Crônica é de um a dois casos para cada 100 mil
habitantes/ano e representa aproximadamente 15% de todas as leucemias, apresentando
mediana de idade ao diagnóstico de 55 a 60 anos, sendo menos de 10% dos casos em
pacientes jovens e embora essa doença esteja relacionada à presença unicamente da alteração
genética da translocação entre os genes que formam o BCR-ABL, o quadro clínico a ela
associado é bastante heterogêneo no que diz respeito à sintomatologia clínica quanto à
evolução da mesma (BORTOLHEIRO, 2008: 3).
Segundo Alvarenga (2010), em se tratando da progressão da doença, a LMC geralmente
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progride através de três fases distintas que se caracterizam pela piora no quadro clínico e
laboratoriais do paciente, de acordo com que a doença evolui: Fase crônica, Fase acelerada e
Crise blástica, ressaltando que a cada fase o tratamento se torna mais difícil e que o
diagnóstico se dá na fase crônica em 85% dos pacientes. É importante salientar que à medida
que, citogeneticamente, a fase crônica se caracteriza por uma única alteração cromossômica, o
cromossomo Filadélfia (Ph). Porém, durante seu curso de evolução, novas alterações
cromossômicas vão sendo incorporadas ao clone do Ph, tais como: a aquisição de um novo
cromossomo Ph, trissomias (8 e 19) e isocromo 17. Essas alterações adicionais contribuem
para um aumento no potencial proliferativo das células, tornando assim, a análise citogenética
um fator importante não só para o diagnóstico, mas também para o prognóstico da doença e
monitorização da terapêutica.
A fase crônica apresenta uma duração que varia de quatro a seis anos, caracterizando-se por
uma grande produção e maturação de células mielóides, com aumento progressivo no número
de leucócitos e plaquetas. Observa-se em grande número de pacientes não tratados, um
aumento no número de leucócitos de 20.000/mm3 para até mais de 500.000/ mm3. O aumento
no número de plaquetas, trobocitose, é encontrado em cerca de 25% dos pacientes, podendo
chegar até a 1.000.000/mm3, o que pode levar a sangramentos. Estas características fazem
com que não seja fácil a diferenciação clínica e hematológica com a leucemia mielóide aguda
(LMA). Clinicamente, os pacientes podem apresentar fadiga e palidez. Porém, grande parte
do paciente não apresenta anemia ao diagnóstico. Alguns pacientes apresentam distensão
abdominal e sensação de inchaço, o que pode ser explicado por esplenomegalia e
hepatomegalia, em alguns casos. Febre, sudorese noturna e perda de peso sem causa aparentes
também estão presentes na clínica. Com o decorrer do tempo, o paciente torna-se refratário ao
tratamento empregado durante essa fase e evolui para a chamada fase acelerada.
Durante a fase acelerada, pela qual nem todos os pacientes passam, já que alguns pacientes
passam da fase crônica direto para a fase blástica, observa-se um aumento de 10 a 30% no
número de células blasticas na medula óssea e sangue periférico, bem como basofilia e
leucocitose não responsiva ao tratamento. Essa fase, possui uma duração de aproximadamente
18 meses, podendo ocorrer também uma rápida progressão para a fase blástica em apenas 06
meses. É também na fase acelerada que ocorre uma menor resposta ao tratamento.
Clinicamente, o paciente apresenta uma maior esplenomegalia, leucocitose, febre,
trombocitopenia, sudorese noturna, anorexia, perda de peso e dores ósseas, ocasionando
fadiga, infecções, lesões de pele e sangramentos (MORALES, 2010: 101).
Como fase posterior, a LMC evolui para a fase blástica ou crise blástica que pode ser
mielóide (70% dos casos), linfoide (20 a 30%) ou indiferenciada. Hematologicamente, a fase
blástica é definida pelo aumento de blastos leucêmicos (linfoides e mielóides) no sangue
periférico e na medula óssea, totalizando cerca de 20% de aumento nessas células. É nessa
fase da doença que muitos pacientes evoluem para o óbito, dentro de três a seis meses. Esses
pacientes são menos responsivos ao tratamento e clinicamente apresentam febres recorrentes,
sudorese, perda de peso e aumento do tamanho dos gânglios linfáticos, fígado e baço,
evoluindo com falência múltipla de órgãos. A sobrevida varia de 3 a 6 meses de tratamento
(BOLLMANN, 2011: 236)
A progressão da fase crônica para as fases acelerada e blástica parece ter relação com a
instabilidade genômica, predispondo ao rearranjo de novas anormalidades moleculares,
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conhecidas como evolução clonal. (BERGANTINI, 2005: 121).
O tratamento inicial da LMC visa a estabilização das células sanguíneas, a resposta
citogenética e hematológica. A resposta citogenética se dá pela redução ou eliminação de
células do cromossom Ph. Já a resposta hematológica é alcançada com a redução na contagem
absoluta de células brancas, eliminação de células mielóides imaturas do sangue periférico e
erradicação dos sinais e sintomas da doença. Essa estabilidade é proporcionada com a
quimioterapia com hidroxiuréia, citarabina em baixas doses e interferon-α. Atualmente,
porém, o transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) é o único tratamento curativo
para a LMC (LOPES; ABREU, 2009: 451).
A hidroxiuréia ainda é utilizada como droga de escolha para pacientes que são intolerantes ou
refratários ao interferon-α e embora a mesma proporcione resposta hematológica em mais de
90% dos pacientes tratados, não se evidencia com o seu uso a resposta citogenética, que é
raramente observada, sendo, por esse motivo, considerada terapia paliativa. Já o interferon-α é
mais indicado para a fase crônica, onde, ao contrário da hidroxiuréia, um percentual mais
elevado de pacientes apresenta resposta citogenética, podendo a chegar até 38% dos casos.
Porém, este tratamento apresenta uma toxicidade muito elevada, onde cerca de 80% dos
pacientes apresentam reações gerais de autoimunização, incluindo febre, coriza e fadiga,
sintomas psíquicos como depressão e insônia, disfunção renal e pancitopenia, o que faz com
que muitos pacientes precisem abandonar o tratamento (ALVARENGA, 2010: 117).
Apesar do TCTH se, atualmente, o único tratamento que possibilita a cura para desses
pacientes, proporcionando uma sobrevida de 5 anos em 40 a 70% dos pacientes que
receberam transplante durante a fase crônica da LMC, o transplante de medula óssea está
associado com um aumento da mortalidade e da morbidade devido às intercorrências que
podem ocorrer nos períodos pré e pós transplante tais como doença do enxerto contra o
hospedeiro, imunossupressão e toxicidade de múltiplos órgãos (ALVARENGA, 2010: 117).
3. Mesilato de Imatinibe
No início dos anos 90, mais precisamente em 1992, iniciou-se uma segunda revolução no
tratamento da LMC, se considerarmos o transplante de medula óssea alogênico como sendo a
primeira, pois foi nesse ano que foi sintetizada a molécula que atua inibindo os receptores da
enzima tirosina quinase BCR-ABL. Chamada inicialmente GCP571 e em seguida STI57148B
(DEININGER,1998: 306).
O Mesilato de Imatinibe (MI), cujo nome químico é derivado de 2-fenil-amino-pirimidina,
compete com o ATP (Adenosina Trifosfato) pela ligação ao substrato da tirosino-quinase
BCR-ABL inibindo a tradução do sinal celular e consequentemente, as reações da enzima
alterada, ocorrendo inibição seletiva da proliferação e indução de apoptose nas linhagens
celulares BCR-ABL positivas (Cromossomo Philadelphia). Os receptores da tirosino-quinase
também são inibidos para o fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) e fator
estimulante das células germinativas pluripotentes (SCF), assim como os eventos celulares
mediados pelos mesmos. O MI, geralmente, é bem tolerado por via oral, principalmente
quando comparado a terapia com interferon-α e citarabina que são injetáveis (NOVARTIS,
2015: 13).
Diversos estudos demostraram a atividade do Mesilato de Imatinibe (MI) em pacientes
portadores de LMC em comparação à outras drogas disponíveis até então, dentre esses
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estudos, o IRIS (International Randomized Study of Interferon and STI-571), que compara o
interferon-α associado a citarabina e mesilato de imatinibe em pacientes recém-diagnosticados
com LMC. Nesse estudo foram randomizados 1.106 pacientes, um total de 553 em cada braço
do estudo, ou seja 553 eram tratados com interferon-α associado à citarabina e os outros 553
eram tratados com MI. Depois de um seguimento mediano de 19 meses, a taxa estimada de
resposta citogenética maior (RCM) foi de 87,1% para o grupo do MI e de 34,7% para o grupo
que recebeu interferon-α e citarabina (p < 0,001). As taxas estimadas de resposta citogenética
completa (RCC) foram de 76,2% para o MI e 14,5% para o interferon-α e citarabina (p <
0,001). Em 18 meses, a sobrevida livre de doença (SLP) para a fase acelerada e crise blástica
foi de 96,7% e 91,7%, respectivamente (p < 0,001). Em relação à eventos adversos de graus
três ou quatro, apenas 79 pacientes (14,3%) do grupo do MI abandonaram o estudo ou
mudaram o tratamento inicial, em comparação a 493 (89,2%) do grupo do interferon-α
associado à citarabina, demonstrando como vantagem desse medicamento a menor incidência
de efeitos colaterais e maiores respostas clínica e hematológica (FUNKE, 2010: 72). Embora
alguns estudos mostrarem que doses iniciais de 800mg/dia, estudo TOPS, e 600mg/dia,
estudo SPIRIT, quando comparadas com doses de 400mg por dia, atingiam mais rapidamente
a resposta citogenética completa (RCC), não se demonstrou que essas doses maiores
apresentavam vantagem na sobrevida dos pacientes (BOLLMANN, 2011: 238).
A Portaria nº 431 SAS/ MS de 3 de Outubro de 2001 aprovou o uso do MI para pacientes
adultos com LMC no Brasil, tornando esta droga de primeira linha para pacientes com LMC
em fase crônica, com a utilização de uma dose 400mg/dia (BRASIL, 2001). Porém, o uso em
pacientes pediátricos somente seria aprovado em 2012 através Portaria Nº 114 SAS/ MS de
10 de Fevereiro de 2012, que aprova as diretrizes diagnósticas e terapêuticas para o
tratamento da LMC em crianças e adolescentes com Imatinibe (BRASIL, 2012).
O MI diminui a proliferação celular das células que expressam BCR-ABL in vitro, possuindo
mínimo efeito em células normais. A grande parcela dos pacientes em fase crônica de LMC
responde ao tratamento inicial com este. Porém, é comum observar-se a reincidência do
quadro, por isso faz-se de extrema importância o controle do padrão de resposta ao tratamento
em intervalos regulares, para que possam ser identificados pacientes que estejam resistentes
ao tratamento, que não respondem de forma adequada à terapêutica ou aqueles que
simplesmente falham ao tratamento mesmo após uma resposta inicial satisfatória. Dessa
forma, novos critérios de resposta e monitoramento surgiram com o objetivo de padronizar as
condutas no manejo da LMC (NUNES, 2013: 7).
A ação do MI no tratamento da LMC com MI na fase crônica é avaliada pela resposta
hematológica completa (RCH), que constitui o desaparecimento dos sintomas, da
esplenomegalia e a normalização do hemograma, a resposta citogenética, como citado
anteriormente, medida pela contagem de células Ph-positivas residuais na medula óssea. A
resposta citogenética pode ser completa (ausência de células Ph+), parcial (Ph+ presente em 1
a 35% das células), menor (Ph+ presente em 36 a 65% das células), mínima (Ph+ presente em
66 a 95% das células) ou sem resposta (Ph+ presente em mais de 95% das células). A resposta
molecular maior (RMM), que, por sua vez, quantifica o número de transcritos, através de
reação em cadeia da polimerase por transcriptase reversa em tempo real quantitativa (RTPCR). A RMM é definida pela redução de três logs de transcritos de BCR-ABL e corresponde
a BCR-ABL/ABL ≤ 0,1%. Já a resposta molecular completa (RMC) é definida pela ausência
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de transcritos BCR-ABL em duas amostras consecutivas (CHAUFFAILLE, 2009: 62).
Resposta Hematológica
Completa
(RHC)
Parcial
(RHP)
Normalização do sangue periférico:
Leucometria <10.000/µL; Plaquetas
<450.000/µL;
Ausência de células imaturas,
mielócitos, promielócitos ou blastos
no sangue periférico;
Ausência de sinais e sintomas da
doença com desapareciemento do
baço palpável
Idem ao anterior, exceto:
Presença de células imaturas;
Plaquetas > 450.000/µL, mas 50%
menor que a contagem prévia ao
diagnóstico;
Persistência de esplenomegalia,
mas 50% menor que o diagnóstico
Resposta Citogenética
Completa (RCC)
Ausência de Ph
Maior (RCM)
0 a 35% de metástases com Ph
Parcial (RCP)
1 a 34% de metástases com Ph
Menor
35 a 90% de metástases com Ph
Resposta Molecular
Completa
Maior (RMoM)
Ausência de transcritos BCR/ABL
Redução transcritos BCR/ABL > 3
log
Tabela 1 – Tipos de resposta hematológica, citogenética e molecular.
Fonte: Dados produzidos por CHAUFFAILLE (2009)
Como relata Alvarenga (2010), após analisar estudo clínico da análise de prontuários de 51
pacientes adultos, com idade mediana de 47 anos, portadores de LMC em uso de MI, os
eventos adversos mais comuns relatados por pacientes em uso de MI são eventos
considerados leves ou moderados como cefaleia, náuseas, vômitos e edemas em membros
inferiores. Doses mais altas, 800mg/dia apresentam associação com efeitos adversos mais
graves do que as doses preconizadas no tratamento da fase crônica da doença. Porém estas são
necessárias devido ao avanço do curso natural da fase crônica para a fase acelerada. A dose
limite de toxicidade do MI é de 1.000 mg/dia e apresenta como principais efeitos edema,
erupções de pele e citopenias. Como distúrbio de gravidade superior às demais, podemos citar
a mielodepressão. Em uma quantidade relativamente elevada de casos, os pacientes
apresentaram neutropenia, trombocitopenia e anemia, sendo esta última a alteração
hematológica mais frequente, o que sugere investigação para exclusão de outras causas como
a anemia ferropriva.
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Distúrbio
Hematológicos
Psiquiatricos
Neurológicos
Oculares
Auditivos e Labirínticos
Cardíacos
Trato gastrointestinal
Pele e mucosas
Músculo-esqueléticos
Estado geral
Manifestações Clínicas
Neutropenia
Anemia
Trombocitopenia
Depressão
Cefaleia
Insônia
Conjuntivite
Fotofobia
Hiperlacrimação
Edema Periorbital
Vertigem
Insuficiência cardíaca
Taquicardia
Náuseas
Vômitos
Diarreia
Dor abdominal
Odinofagia
Plenitude gástrica
Dermatite
Mancha hipercrômica
Prurido
Petéquia
Mucosite
Edema Facial
Edema Palpebral
Dor articular
Dor óssea
Cãimbra muscular
Dor muscular
Febre
Edema periférico
Fadiga
Fraqueza
Calafrio
Mal-estar
Número de
Pacientes
2
15
7
1
19
3
4
1
2
3
7
2
2
19
17
9
15
5
4
13
3
7
3
4
7
10
1
11
9
6
17
17
10
10
2
5
Tabela 2 – Principais manifestações clínicas observadas em pacientes com LMC tratados com Mesilato de
Imatinibe.
Fonte: Adaptado de ALVARENGA (2010)
É importante salientarmos que os trabalhos encontrados na literatura científica brasileira
foram realizados com pacientes adultos, já que o uso do MI para pacientes adultos com LMC
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no Brasil foi aprovado desde 2001, tornando esta droga de primeira linha para pacientes com
LMC em fase crônica, com a utilização de uma dose 400mg/dia (BRASIL, 2001). Porém, o
uso em pacientes pediátricos somente seria aprovado em 2012 através Portaria Nº 114 SAS/
MS de 10 de Fevereiro de 2012, que aprova as diretrizes diagnósticas e terapêuticas para o
tratamento da LMC em crianças e adolescentes com Imatinibe (BRASIL, 2012).
3.1 Uso do Mesilato de Imatinibe em Pediatria
Seguindo-se as diretrizes terapêuticas e diagnósticas da Portaria Nº 114 SAS/MS de 10 de
Fevereiro de 2012, o esquema de administração de doses de M I deve ser iniciado após a
obtenção do controle hematológico com Hidroxiuréia, via oral, na dose de 30 a 40mg/Kg/dia
até redução da leucometria global à valores de aproximadamente 20.000/mm3, onde este
deverá ser administrado conforme as posologias indicadas para a fase da LMC em que o
paciente se encontra, assim como a avaliação das definições de resposta ótima, resposta subótima e de falha ao fármaco, conforme ilustrado nas tabelas abaixo (BRASIL, 2012):
Fase da LMC
Crônica
Acelerada
Blástica
Posologia do M I
2
300mg/m /dia (Arredondar para a centena mais
próxima e dose máxima diária de 400mg via oral,
após a maior refeição do dia
400mg/m2/dia (Arredondar para a centena mais
próxima e dose máxima diária de 600mg via oral,
após a maior refeição do dia
500mg/m2/dia (Arredondar para a centena mais
próxima e dose máxima diária de 800mg via oral,
após a maior refeição do dia
Tabela 3 – Posologia do Mesilato de Imatinibe para crianças e adolescentes conforme recomendação do
Ministério da Saúde.
Fonte: Dados retirados de BRASIL (2012)
Definição de
Resposta
Ótima
Sub-Ótima
Falha ao tratamento
Tempo de Tratamento
Em 3 meses
Em 6 meses
Em 12 meses
Em 18 meses
Em 3 meses
Em 6 meses
Em 12 meses
Em 18 meses
A qualquer momento
Em 3 meses
Em 6 meses
Em 12 meses
Em 18 meses
A qualquer momento
Dados de Resposta Hematológica, Citogenética e
Molecular
Atingir RHC e RCM (Ph+ < 65%)
Atingir pelo menos RCP (Ph+ <35%)
Atingir RCC
Atingir RMoM (BCR/ABL < 0,1%)
Sem Resposta citogenética (Ph+ >95%)
Não atingir RCP (Ph+ > 35%)
RCP (Ph+ <35%)
Menos que RMoM (BCR/ABL >0,1%)
Perda da RMoM
Não Atingir RHC
Sem resposta citogenética (Ph+ >95%
Não atingir RCP (Ph+ > 35%)
Não atingir RCC
Perder RHC e RCC e aparecimento de alterações
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cromossômicas
Tabela 4 – Definições de resposta ao Mesilato de Imatinibe para crianças e adolescentes conforme recomendação
do Ministério da Saúde.
Fonte: Dados retirados de BRASIL (2012)
Preconiza-se que os pacientes pediátricos sejam mantidos no tratamento com M I durantes
dois anos de remissão molecular completa. A suspensão após dois anos exige controle mensal
por exame de biologia molecular no sangue periférico. Em casos de recidiva os pacientes
serão novamente tratados com imatinibe, já que a sensibilidade ao medicamento é mantida, o
que sugere que a interrupção não leva ao fenômeno da resistência adquirida (MAHON, 2010:
1029-1035).
A suspensão do tratamento se dá nas condições de resposta sub-ótima, falha ao M I ou falta de
adesão ao tratamento. A ocorrência de intolerância indica a suspensão temporária do
medicamento em uso, tentando-se o retorno a este em dose menor do que a anteriormente
utilizada. Caso a dose menor ficar aquém da dose mínima terapêutica, deve-se realizar a
suspensão definitiva do medicamento, passando-se para outra linha terapêutica (BRASIL,
2012).
4. Atenção Farmacêutica
A prática da atenção farmacêutica foi definida por Hepler & Strand (1990) como “a provisão
responsável da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados terapêuticos definidos
na saúde e qualidade de vida da população”. Desde então, a atenção farmacêutica tem sido
objeto de inúmeras pesquisas e modelos de prática no Brasil e no mundo, propondo um
modelo de prática centrada no paciente e que tem o objetivo de detectar, prevenir e resolver
os problemas relacionados ao uso de medicamentos (PRM), prevenindo assim a morbidade e
mortalidade provocadas pelo uso destes insumos. Com essa nova prática, o profissional
farmacêutico passa a ter o paciente como o centro de suas ações visando a melhoria da
terapêutica medicamentosa como objetivo final, ou seja, focar no paciente para otimização da
terapia farmacológica, devendo esse profissional atuar com uma visão holística (COSTA,
2012: 287-288).
Considerando que a atenção farmacêutica tem o paciente como eixo central na tomada de suas
ações e que para tanto o farmacêutico deve ser dotado de uma visão holística do sujeito
durante o acompanhamento, a aplicação dessa prática no ambiente da saúde e a relação da
mesma com as demais ações assistenciais torna-se crucial e para que isto ocorra, o
profissional deve dispor de uma maior disponibilidade nos serviços e maior
comprometimento com a farmacoterapia do paciente, já que a melhoria da qualidade de vida
do paciente é uma de suas metas e, portanto, exige desse maior envolvimento na função de
cuidador, como forma de contribuir para a prevenção da morbimortalidade por meio da
identificação, resolução e prevenção de problemas farmacoterapêuticos (COSTA, 2012: 288).
No âmbito do tratamento da LMC, ou seja tratamento quimioterápico, o farmacêutico pode
melhorar os resultados obtidos com esses medicamentos através da atenção farmacêutica
adequada, através de um seguimento sistemático da terapia medicamentosa utilizada, no caso
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desse estudo, a terapia com Mesilato de Imatinibe, identificando os problemas relacionados a
esta terapêutica e auxiliando o paciente e os pais, no caso de crianças, a entender melhor o
tratamento e suas adversidades, principalmente em relação às reações adversas. No caso de
crianças com leucemia em uso de M I, um seguimento personalizado é fundamental, haja
vista a adesão ao tratamento oral, as inúmeras reações adversas dose-dependentes e a
probabilidade de refratariedade no decorrer tratamento.
O tratamento de crianças com LMC por via oral já se mostrou eficaz com o uso do M I e
também mais acessível depois da disponibilidade do medicamento pelo Ministério da Saúde,
contudo, este mesmo fato pode se transformar em um problema relevante caso não haja
adesão do paciente, o que pode ser mais relevante ainda no caso de crianças e adolescentes
que ainda não possuem total consciência da gravidade da doença e da importância do
tratamento.
4.1. Adesão à Terapia Farmacológica com Antineoplásicos Orais
A facilidade de administração da via oral contrasta com a via intravenosa, que frequentemente
provoca relativo desconforto e ansiedade para o paciente, podendo ser um obstáculo à
qualidade de vida do doente, sendo também associada a toxicidade, alterações psicológicas,
dificuldades econômicas, aumento do número de admissões e longos períodos de
internamento, submetendo o doente a viagens mais frequentes e ausência familiar. Em
contrapartida, a administração oral pode proporcionar qualidade de vida aos pacientes,
principalmente oncológicos, tendo ainda a vantagem de poder ser administrada em locais que
não sejam apenas o ambiente hospitalar. Dessa forma, a via oral torna-se preferida por muitos
doentes, já que provoca uma sensação de controle da doença, por não ter que ir
frequentemente ao hospital para fazer uso do medicamento, e interferir menos em sua vida
social. Contrariamente aos ciclos de infusão dos quimioterápicos orais, os antineoplásicos
orais são, em sua maioria, administrados por meses ou anos, permitindo uma associação mais
efetiva com a radioterapia, nos casos em que é realizada juntamente com o tratamento com
drogas citostáticas, ocasionando também uma redução do volume de trabalho, economia dos
custos de reconstituição e administração intravenosa, assim como diminuição dos custos de
hospitalização, salários, dispositivos de infusão , fluidos intravenosos e custos de produção
(GILBAR, 2005: 195).
Apesar das vantagens da farmacoterapia oral frente à intravenosa, a primeira carece de um
maior acompanhamento do paciente pediátrico no tangente à adesão ao tratamento e
prevenção de problemas relacionados à medicamentos (PRM). O menor contato com a equipe
multiprofissional e, principalmente o curto ou nenhum contato com o profissional
farmacêutico, que muitas vezes, muito envolvido com atividades administrativas, acaba
delegando a dispensação dos medicamentos aos técnicos, pode conduzir a um frágil
acompanhamento, essencial para que o paciente, ou os pais, possam reconhecer os efeitos
adversos que podem levar a retirada do medicamento ou o manejo clínico das mesmas como
maneira de se evitar a suspensão da droga (GILBAR, 2005: 195).
Segundo Partridge (2002), a adesão ao tratamento do paciente em ralação à quimioterapia oral
é variável e pouco previsível, apresentando taxas que variam de 20 a 100%, sendo o problema
particularmente incidente em certas populações, como crianças e adolescentes. Diversos
fatores foram identificados como não determinantes dessa não-adesão, como complexidade
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posológica, comunicação falha com a equipe de saúde, suporte social inadequado, história de
doença mental e a perspectiva do paciente em passar um longo período de tempo fazendo uso
do medicamento.
A adesão pode ser definida como a medida em que o comportamento de um doente
corresponde às recomendações de um profissional de saúde. Normalmente é medida durante
um determinado período de tempo e apresentada em percentagem, sendo considerada 100%,
se o paciente cumpre o esquema de tratamento previsto sem perda de doses dentro do tempo
previsto de tratamento, isto é, o paciente vai toma todas as doses prescritas de acordo com a
posologia dentro do intervalo de tempo proposto para o tratamento, sem sobras ou falta de
medicamentos ao fim deste. Ainda não existe um consenso para o que seja uma adesão
adequada. Alguns estudos consideram taxas de 80% como aceitáveis, enquanto outros
consideram apenas taxas superiores a 95% como uma taxa de adesão adequada (FOULON,
2011: 66). A não-adesão é classificada como intencional e não intencional, sendo a
intencional aquela que ocorre quando o paciente decide de forma consciente a não tomar o
medicamento. Já a não intencional é a aquela que ocorre quando o paciente não adere à
terapia por causa de fatores que este não controla, como esquecimento, falta de compreensão,
barreiras linguísticas e incapacidade física para administração das doses (HORNE, 2006: 265)
Existem diversos métodos utilizados para avaliar se um paciente não está aderindo a um
regime terapêutico e dentre eles podemos citar aqueles em que os pacientes descrevem como
seguiram a terapêutica prescrita, já que são baratos e de fácil aplicação pelos responsáveis
pela administração dos medicamentos, quando tratamos de pacientes pediátricos. Também os
pacientes, ou os pais podem preencher diários ou tabelas de medicação, fornecidos pelo
farmacêutico, que são mais precisas que as informações verbais, já que o paciente registra as
administrações diariamente nestes cadernos (FOULON, 2011: 166).
Pode-se utilizar também a contagem de comprimidos para medir a adesão, o que permite o
cálculo de doses perdidas. Porém esse método tem como desvantagem não fornecer os
horários em que os medicamentos foram administrados. Neste modelo de acompanhamento os
pacientes são obrigados a devolver os comprimidos não utilizados em cada visita seguinte,
que pode resultar em falsas taxas de adesão bem sucedidas, quando os pacientes descartam
doses perdidas para que não sejam considerados como não-aderentes ou quando os pacientes
simplesmente deixam os medicamentos em casa estocados com medo de um
desabastecimento na farmácia onde os recebe (RUDDY, 2009: 59).
A adesão ao tratamento depende de vários fatores, não existindo explicações simples para
justificar a não-adesão ao tratamento. Dentre os fatores determinantes para a adesão ao
medicamento podemos citar os relacionados ao doente, assim como os fatores relacionados
com a doença e também os relacionados ao sistema de atenção ao paciente. No que diz
respeito às características do paciente, fatores sóciodemográficos como a idade, etnia,
educação e nível de rendimentos parecem influenciar a adesão. A família, amigos e
cuidadores são de suma importância para a promoção da adesão ao tratamento (GIVEN, 2011:
94).
Dentre os fatores para a não-adesão relacionados à doença, a baixa adesão relacionada à
terapia oral em pacientes com câncer variam entre 16 e 100%, sendo o estágio da doença um
determinante para a adesão. A incidência frequente, severidade e os tipos de reações
adversas também podem influenciar na adesão, onde pode ocorrer uma diminuição à medida
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que esses efeitos ocorrem. A complexidade do regime posológico também apresenta-se como
um fator a ser considerado, pois a adesão é inversamente proporcional à frequência de
administração do medicamento (GIVEN, 2011: 95). Baixas taxas de adesão ou uma adesão
sub-ótima à terapia antineoplásica oral pode levar a inefícácia terapêutica e tem sido
associada a um aumento do consumo de recursos do sistema de saúde, incluindo visitas mais
freqûentes aos serviços hospitalares e maior tempo de internamento, já que quando o médico
desconhece que o paciente não toma o medicamento da forma como está prescrita, pode
atribuir a progressão da doença a uma falta de eficácia ou refratariedade ao antineoplásico e
mudar o regime posólogico, levando também a prescrição de mais exames e hospitalizações
desnecessárias (GIVEN, 2011: 95).
O acompanhamento do paciente e a sua concordância com o plano terapêutico proposto é
fundamental para o a adesão, pois sabe-se que o menor contato do paciente com a equipe
multiprofissional pode conduzir a uma frágil comprenssão do tratamento proposto, essencial
para que o paciente possa reconhecer os efeitos adversos que podem levá-lo a interrupção do
medicamento. Portanto, a comunicação efetiva com os profissionais de saúde, incluindo a
atenção ao doente por parte do profissional farmacêutico durante a dispensação do
medicamento a cada visita à farmácia, como forma de fazer com que o paciente e a família
compreendam mais sobre a doença e o tratamento, já que a percepção sobre a doença
influencia largamente à adesão, afentando a motivação do doente e, em última instância, o
controle eficaz da doença. (PARTRIADGE, 2002: 652).
5. Conclusão
O Mesilato de Imatinibe teve seu uso aprovado para o tratamento de leucemia mielóide
crônica em crianças e adolescentes em 2012, sendo considerado um importante avanço para o
controle desta doença. Contudo, ainda são escassos os trabalhos que mostram o
acompanhamento farmacoterapêutico dos pacientes pediátricos pelo profissional
farmacêutico. Portanto, faz-se necessário que ações de atenção farmacêutica voltadas ao
paciente e familiares para a compreensão da terapia farmacológica e controle dos efeitos
adversos inerentes ao fármaco permitam a promoção de uma maior taxa de adesão ao
tratamento oral nesse grupo de pacientes.
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