o emprego em grandes números - clemente ganz lucio

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O emprego em grandes números
Clemente Ganz Lúcio1
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a julho de 2016,
a população em idade de trabalhar no país é superior a 166 milhões de
pessoas. Desse total, 102 milhões estão no mercado de trabalho - 90,5 milhões
como ocupados e 11,8 milhões como desempregados.
No último ano, 1,5 milhão de pessoas entraram no mercado de trabalho
(aumento de 1,5% a.a.), integrando o estoque de 11,8 milhões de
desempregados, todos à espera de uma oportunidade ocupacional.
No último ano, o IBGE estima que o país eliminou 1,7 milhão de empregos,
ou seja, fez o oposto do que era minimamente necessário para contratar quem
chegou ao mercado de trabalho. Se de um lado chegaram 1,5 milhão de
pessoas procurando emprego e outro 1,7 milhão foi demitido, o contingente de
desempregados cresceu em 3,2 milhões, aumento impressionante de 37,4%
em um ano.
Há sinais de que esta grave crise econômica e política pode ter vida longa.
Com isso, pode haver ainda mais redução da demanda para a produção e
aumento da capacidade ociosa das empresas. Levando em consideração que,
quando há demanda, principalmente em cenário como este, as empresas
tendem a usar o mecanismo de horas extras, a retomada do emprego torna-se
uma possibilidade para um futuro longínquo.
Dos ocupados, 34,4 milhões são trabalhadores com carteira de trabalho
assinada; 11,2 milhões, empregados no setor público (servidores públicos e
militares); 10,2 milhões, assalariados sem carteira de trabalho assinada; 6,2
milhões, trabalhadores domésticos (95% mulheres e a maioria, negras); outros
22,6 milhões, trabalhadores autônomos ou por conta própria. Estimam-se em
3,8 milhões o número de empregadores e em 2,1 milhões os trabalhadores
familiares.
O que se observa no último ano é a queda do contingente de assalariados
sem carteira (-3,9%) e do número de empregadores (-4,6%) e dos empregados
no setor público (-2,1%). Cresce, do outro lado, em 2,4% o trabalho por conta
própria e em 2,1% o emprego doméstico, trabalhos precários e informais.
Cerca de 11,6 milhões estão empregados no setor industrial, onde foi
observada alta queda (-10,6%) no estoque de empregos em 2015
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Diretor técnico do DIEESE.
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(-1,4 milhão de ocupações). Outro agrupamento de atividades que envolve
serviços de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias,
profissionais e administrativas, com 9,7 milhões de pessoas ocupadas, teve
redução de -9,8% no emprego (-1,1 milhão de empregos fechados).
O rendimento médio dos ocupados está em R$ 1.985,00 por mês e caiu
-3,0% no último ano. Enquanto o rendimento médio mensal dos assalariados
com carteira assinada é de R$ 1.900,00, os sem carteira recebem 1.205,00 e
os trabalhadores domésticos, R$ 805,00 por mês. Os empregados no setor
público recebem mensalmente, em média, R$ 3.159,00, e os empregadores,
R$ 4.939,00. O trabalhador por conta própria ganha R$ 1.506,00.
Quando o movimento circular destrutivo da atividade econômica ganha
dinâmica, o desemprego gera queda da renda do trabalho, que provoca queda
do consumo, que causa queda da demanda para as empresas, que diminuiu o
nível de atividade, que leva a demissões e arrocho salarial. O movimento
circular perverso se fortalece, ampliando a recessão. Desemprego e salários
em queda provocam diminuição da massa de salários que, no último ano, caiu
cerca de 4,0% (redução de R$ 183 bilhões para R$ 175 bilhões por mês).
O mercado interno e a força de trabalho coletiva são grandes ativos da
economia brasileira, sempre desvalorizada e criticada pelos neoliberais.
Exatamente o contrário do que eles pensam e propõem, para que a demanda
desse mercado interno seja pujante, é preciso empregar os trabalhadores, que
receberão salários que animarão o consumo que, por sua vez, gerará
demanda. Na crise, o animador fundamental e estratégico para reverter esse
círculo destrutivo é o gasto do setor público, em investimentos em
infraestrutura econômica e social ou com serviços públicos, pois todos se
tornam demanda na veia das empresas, que geram empregos, que aumentam
ainda mais a demanda e fazem a economia voltar a crescer.
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