Mulher latina padece diante do vírus HPV

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Saúde&Ciência
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Opinião do leitor I POSSIBILIDADE DE CURA DA AIDS
s consideráveis progressos alcançados na pesquisa para a cura da Aids
privilegiam um percentual modesto dos infectados em nível
mundial. Atualmente, morre-se mais de Aids na Africa do
que na década de 90. Logo, o
O
DOMINGO
19 DE AGOSTO DE 2007
JORNAL DO BRASIL
otimismo só tem sentido se
abstrairmos das estatísticas
sobre os progressos na cura da
doença amplas camadas da população mundial
Belkiss Guidi
pelo JB Online
[email protected]
CÂNCER I A cada semana, 1.400 apresentam lesões cervicais e outras 600 morrem pelo mal
REUTERS
Mulher latina
padece diante
do vírus HPV
A cada semana, 1.400 mulheres
latino-americanas
desenvolvem
câncer de colo de útero e outras 600
morrem devido à doença. Tais números, que apresentam tendência
de crescimento em todo o continente – salvo na Colômbia e no Chile –
poderiam ser reduzidos com a melhora da qualidade e cobertura populacional dos exames preventivos, e a
adoção de uma vacina contra o vírus
HPV, envolvido em 99% dos casos.
– Faz mais de um século que sabemos como tratar; o papanicolau
tem 60 anos – pondera Eugenio
Suarez Pacheco, vice-presidente da
Sociedade Chilena de Obstetrícia e
Ginecologia. – É um absurdo que as
taxas continuem altas. Até 2050, esperamos 1 milhão de novos casos.
Cecília Maria Roteli-Martins, ginecologista membro da Associação
Médica Brasileira e da Sociedade
Brasileira de Colposcopia, revela
que 30% dos preventivos apresentam resultados falso-negativo.
– Ao receber um falso-positivo, a
mulher fica angustiada, mas é submetida a novas avaliações. No falso-negativo, ela vai para casa sem
ser diagnosticada – alerta.
Entre os fatores que influenciam
na qualidade do exame estão a coleta
e manuseio adequado das células
Mulheres descuidam da própria saúde: no Brasil, menos de 35% fazem preventivo regularmente
I
Vacinas a caminho do mercado brasileiro
Já foram identificados cerca de
100 tipos de HPV, dos quais 15 são
considerados cancerígenos. Os tipos mais importantes para o câncer
de colo de útero são o 16, o 18, o 31
e o 45 – juntos, respondem por
quase 80% das manifestações.
O mercado brasileiro conta desde janeiro com uma vacina para os
tipos 16 e 18, além do 6 e 11, responsáveis pelas verrugas genitais
e lesões cervicais benignas. Fabricada pelo laboratório Merck Sharp
& Dohme, a Gardasil – primeira a
ser eficaz contra o HPV – deve ser
aplicada em três doses com intervalo de dois e quatro meses e custa,
em média, R$ 450 a dose.
A proteção para os vírus 31 e
45, além do 16 e 18, criada pela GlaxoSmithKline (GSK), está sendo
avaliada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária e deve ter a
venda autorizada até o fim do mês.
– Minha esperança é que a vacina não fique restrita à rede privada.
Sendo universal, o medicamento
permitirá colhermos bons frutos
para a saúde da mulher – revela
Cecília Maria Roteli-Martins, que
coordenou as pesquisas da GSK no
Brasil para a vacina anti-HPV.
Como a Merck, cujo medicamento pode ser receitado a meninas a partir dos nove anos, a GSK
também pediu autorização para sua
vacina ser dada a crianças.
– Nestas, como o sistema imunológico ainda está hipersensível, conseguimos uma resposta
maior e maior tempo de defesa
pós-dose – justifica Cecília.
O pico de infecção pelo HPV
acontece aos 20 anos e volta a subir
depois dos 50, possivelmente devido ao surgimento de remédios estimulantes e o prolongamento da
vida sexual ativa, especulam Cecília e Edson Fedrizzi. O preservativo oferece proteção relativa, mas
não exclui a chance de contágio.
– A penetração não é exigida
para transmissão do vírus, que
também se propaga pelo contato de mucosa e pele dos genitais – enumera Cecília.
I Comente sobre as vacinas do HPV
no JB Online www.jb.com.br/24horas
HPV e câncer cervical
Fatores de risco
Fumar e tomar
anticoncepcionais podem
contribuir para o
desenvolvimento de
câncer de colo de útero,
mas a presença do HPV é
tida como necessária para
o surgimento da doença.
Incidência
Estima-se que entre 50% e
80% das mulheres terão
contato com HPV.
O vírus
Estáveis, baseados em
DNA, existem cerca de
100 tipos de HPV. Desses,
40 infectam o trato
genital. Apenas 15 tipos
são cancerígenos. O HPV é
eliminado pelo sistema
imune em até 70% dos
casos, mas não se
conhece os motivos que
tornam a infecção
persistente e perigosa.
Gardasil, vacina
da Merck, já está
no Brasil. Droga
da GSK chega até
o fim do mês para
combater células
infectadas por
HPV (abaixo)
DIVULGAÇÃO
Cyan MagentaYellow Black
Baixa qualidade e
cobertura do exame
papanicolau levam
ao diagnóstico de
tumor no útero
basais, no colo do útero, e o tempo
decorrido até a análise do material.
– O ideal é que não se passem
mais de 48 horas entre a coleta e o
teste laboratorial – sugere Edson
Fedrizzi, professor da Universidade
Federal de Santa Catarina.
Um levantamento do Ministério
da Saúde mostra que apenas 13%
das brasileiras fazem preventivo regularmente na rede pública.
– Ao somar as que buscam a rede
privada, a estatística continua baixa:
não passa de 35% – diz Fedrizzi.
O quadro contribui para a doença
ser descoberta em estágio avançado, no qual a solução é a retirada do
útero, ligamentos e linfonodos pélvicos ou radioterapia – quando não
se fala em cura, só controle, e as
chances de sobrevida caem de 95%
com diagnóstico precoce para 20%.
– É preciso deixar claro, contudo, que nem todas as mulheres que
contraírem HPV vão desenvolver
câncer – explica Cecília. – O vírus é
muito comum, e eliminado pelo sistema de defesa, sem necessidade de
tratamento na maioria das vezes.
O problema está quando o HPV
não desaparece em dois anos – a infecção persistente aumenta em 500
vezes as chances do câncer de útero. Para comparação, Pacheco informa que fumar aumenta em 10 vezes
a chance de câncer de pulmão.
– O HPV faz parte do amadurecimento sexual. Todos tropeçamos.
Durante o desenvolvimento, teremos contato com o vírus – tranqüiliza Eduardo Ortega, diretor de Pesquisas e Desenvolvimento Clínico e
Assuntos Médicos da GlaxoSmithKline para a América Latina e Caribe. – Devemos garantir o acesso aos
meios de prevenção e terapias.
BLOOMBERG
Juliana Anselmo da Rocha
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